Ativista Inuk do Círculo Ártico: por que as vozes indígenas, do clima, precisam ser ouvidas agora mais do que nunca

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Inuk

Em setembro, Ashley Cummings fez seu primeiro discurso no Fórum Mundial sobre Climática na Universidade Caledonian de Glasgow. Foto cedida por Ashley Cummings

https://www.nationalobserver.com/2021/10/26/news/inuk-activist-ashley-cummings-why-indigenous-climate-voices-need-be-heard-now-more

Cloe Logan

26 de outubro de 2021

Quando Ashley Cummings pensa em casa, ela visualiza belas montanhas. O tipo majestoso coberto de neve, de onde ela cresceu em Pangnirtung, Nunavut.

“Eles sempre foram uma parte muito importante da terra para mim, por causa de sua beleza e como são majestosos e reconfortantes”, disse ela.

A ativista Inuk de 23 anos agora mora em Whitehorse, onde ela é estudante da Universidade Yukon cursando governança indígena. Cummings desempenhou muitos papéis como ativista enquanto servia no Conselho da Juventude do Primeiro Ministro, como co-presidente do Conselho Consultivo Indígena do Kids Help Phone e como ex-membro do conselho da Apathy is Boring, uma instituição de caridade que educa os jovens sobre a .

Ultimamente, a mudança climática tem estado mais em seu radar, especialmente no contexto de como ela se cruza com outras partes de seu ativismo, como a saúde mental indígena. Tanto que, em setembro, Cummings fez seu primeiro discurso no Fórum Mundial sobre Justiça Climática na Glasgow Caledonian University, destacando como a mudança climática afeta os Inuit e outras comunidades indígenas, e por que uma maior inclusão de vozes indígenas é vital para ajudar na crise climática .

O Observador Nacional do Canadá conversou com Cummings para perguntar sobre seu discurso e como ela deseja que as conversas sobre mudança climática se tornem mais inclusivas.

Você tem sido uma defensora em muitos espaços diferentes, mas diz que a mudança climática é relativamente nova para você. O que lhe interessou?

Por ser muito ligada ao bem-estar dos povos indígenas. Por morar aqui em Whitehorse e ser bastante ativa na comunidade, percebi como o é profundamente impactante para as pessoas tanto aqui como para as da minha comunidade. Muito do nosso bem-estar está relacionado com a terra, com o tempo que passamos nela e também com o aprendizado das histórias que aconteceram nela – sejam mitos e lendas ou histórias de caça de parentes.

Parece uma grande responsabilidade – ter certeza de que estamos cuidando do meio ambiente, para que possamos realmente começar a cuidar das pessoas. Porque, francamente, os grupos indígenas em todo o Canadá não são tão apoiados quanto deveriam. Enfrentar a mudança climática é um bom lugar para começar a apoiá-los.

Em seu discurso, você fala sobre como a mudança climática afetou desproporcionalmente as comunidades indígenas, especialmente as do Norte. Que exemplos se destacam?

Nesta primavera em Whitehorse, tivemos uma enchente horrível que fez com que muitas pessoas fossem evacuadas de suas casas. Normalmente temos um clima seco e tivemos muita neve no inverno passado, especialmente nas montanhas, e então o que derreteu, desceu e inundou tudo.

Assim, há, em Nunavut, muita instabilidade devido às . Crescendo em Pangnirtung, uma tempestade incrível acabou favorecendo o derretimento de boa parcela do (nt.: os solos em regiões próximas ao Polo Norte, estão assentados sobre camadas de gelo que se chama de ‘gelo permanente') ao redor do rio, o que o fez desbarrancar. Quebrou a ponte e dividiu nossa cidade em duas partes. Ainda me lembro daquele dia, vendo o deslizamento de terra e ouvindo pedras rolarem no rio parecendo um trovão. Mas, é claro, não havia nenhum.

Um fiorde em Pangnirtung. Foto cedida por I saw_that via Flickr

Que impactos esses eventos têm?

Tem os mesmos impactos que comunidades não indígenas lidando com desastres – é horrível ver sua casa sendo destruída e não ser capaz de fazer nada a respeito.

E então, em termos de cultura, aqui em Whitehorse, por exemplo, muitas das Primeiras Nações ao redor desta área fazem acampamentos para captura de peixes todos os anos. Eles descem, defumam grandes volumes de salmão e o processam. Essa parte da cultura em Whitehorse está tendo que mudar muito por causa da diminuição do número de salmões – você nem sempre pode contar com o salmão sendo capaz de correr, subindo os rios, mesmo que seja uma parte tão importante da identidade e da experiência do nosso dia-a-dia aqui .

Com a COP26 no horizonte, tem havido muita conversa sobre equidade e inclusão nas conferências sobre o clima. A seu ver, qual é o nível da participação indígena nesses espaços?

Precisamos apenas de muito mais representação. Somos pessoas que vivem tão intimamente com e na terra, e temos essas outras fortes vozes interessadas que estão incluídas em vez das nossas, e que não são permeáveis às sugestões que temos, mesmo não havendo escassez de ativistas indígenas nessa área do clima.

Tudo parece repetitivo e exaustivo – estamos vendo sempre as mesmas coisas. Por exemplo, o Conselho Circumpolar Inuit vem convocando esforços e representação da mudança climática desde seu documento inicial em 1977. Estamos pedindo essas mesmas coisas agora, porque claramente o que se está fazendo não está funcionando. Precisamos tomar medidas drásticas para salvarmos o planeta, e as vozes indígenas têm ampla visão e conhecimentos para dar em termos de soluções climáticas.

Qual foi a sua conclusão da conversa? Com que sentimento você saiu?

Fiquei tão aliviada. Fiz uma fala que venho preparando há meses e meses. Esse foi definitivamente o sentimento inicial.

Mas também saí com bastante esperança, porque fiz algumas conexões significativas com as pessoas envolvidas. E também tive esperanças de que vozes indígenas, independentemente de onde vierem, serão mais incluídas nessas discussões e que conversas mais difíceis e desagradáveis ​​acontecerão. Certamente fiquei aliviada por ter podido encerrar minha fala, como também muito orgulhosa de que existem maneiras concretas de avançarmos.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2021.

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