Argentinas e brasileiras são protagonistas de frentes de resistência ao modelo de agricultura industrial. Elas se autodescrevem como camponesas. São agricultoras, meeiras, sem-terra, boias-frias, assentadas, extrativistas… Em sua maioria, índias, negras e descendentes de europeus. Para a jornalista e pesquisadora da Unicamp Márcia Maria Tait Lima, que estudou este grupo de mulheres no Brasil e Argentina, as camponesas dos dois países são, hoje, protagonistas da luta contra o modelo de agricultura industrial, contra as sementes transgênicas e pela soberania alimentar na América Latina.
Biotecnologia
A biologia sintética poderia abrir outra caixa de Pandora.
Haiti, o país mais pobre do ocidente, é o principal produtor mundial de vetiver e é impossível ignorar sua presença no sudoeste da nação caribenha. Porém os agricultores que o cultivam com dificuldades poderiam receber um duro golpe com a chegada de uma nova indústria: a biologia sintética. No caminho de Les Cayes, uma das maiores cidades do sul haitiano, ficamos maravilhados com os campos de vetiver de ambos os lados da estrada. E o mesmo sucede quando vamos daí para Port Salut.
Equivalência substancial – um conceito mais comercial que científico.
Mostrar que um alimento geneticamente modificado é quimicamente similar ao seu equivalente natural não constitui evidência adequada de que ele é seguro para o consumo humano. E é com base neste enfoque da equivalência substancial que as plantas transgênicas vêm sendo liberadas em diferentes países, inclusive no Brasil. Para além da “equivalência substancial”.
“Nunca o agronegócio foi tão bem tratado no Brasil como hoje”.
Nunca o agronegócio foi tão bem tratado no Brasil como hoje, constata Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura durante o Governo Lula. O setor, que representa 23% do PIB, tem sido a âncora econômica do país nos últimos anos. Por isso, os presidenciáveis têm feito a corte às lideranças rurais. “Eu tenho 50 anos de agronegócios, e posso te dizer que nós sempre procuramos os candidatos a presidente da República para pedir algo. Desta vez, tem sido ao contrário”, conta o ex-ministro.
20 anos de transgênicos: há o que comemorar?
Vinte anos após a aprovação do primeiro alimento geneticamente modificado do mundo – um tomate com maior durabilidade criado na Califórnia -, o mercado de transgênicos atinge a maturidade com números expressivos, ainda que cercado de polêmicas. A cada 100 hectares plantados com soja hoje no planeta, 80 já são de sementes com os genes alterados. No caso do milho, são 30 para cada 100, o que significa que a chance de encontrar essas matérias-primas na dieta alimentar humana e animal cresceu substancialmente.
Os transgênicos e a fome: a revolução fracassada.
Parecem ter sido dissipadas as dúvidas sobre a sua periculosidade para a saúde e para o ambiente (sob condições específicas), enquanto – ao contrário das promessas – eles não resolveram a chaga da desnutrição. A única certeza é que as plantas geneticamente modificadas são fonte de enormes negócios para poucas multinacionais e de grandes problemas para os pequenos agricultores. O padre Paolo Fontana, professor de bioética do Seminário Teológico do Pontifício Instituto das Missões Exteriores (Pime) de Monza, na Itália, analisa a questão a 40 anos da criação em laboratório do primeiro transgênico “moderno”.