Sapos feminizados, no entanto os efeitos da atrazina em humanos ainda é incerto.

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A atrazina, um dos agrotóxicos mais largamente usado nos , vem feminizando os sapos machos e outros animais conforme alguns estudos científicos. No entanto, pesquisas, examinando os efeitos potenciais em pessoas, são relativamente esparsas. Poucos estudos detectaram possíveis conexões entre a atrazina e as taxas mais altas de defeitos congênitos bem como a piora na qualidade dos espermatozoides masculinos (birth defects e poor semen quality in men). Contudo os cientistas dizem que mais pesquisas humanas são necessárias para se chegar a algumas conclusões. “Todos os estudos humanos que eu conheço, têm alguns problemas”, disse Suzanne Fenton do National Institute of Environmental Health Sciences. “A parte mais difícil do trabalho com a atrazina é que ela tem uma meia-vida muito curta nos seres humanos/animais. Assim, torna-se difícil medi-la com precisão”, disse o Dr. Paul Winchester de sua pesquisa “certamente não prova que a atrazina causa defeitos congênitos …. mas nós simplesmente não podemos descartá-la como uma possível causa”. “Não estamos querendo brigar [com a Syngenta]”, disse ele. Estamos somente procurando por respostas”.

 

http://www.environmentalhealthnews.org/ehs/news/2013/atrazine-health

 

University of Georgia

By Brian Bienkowski e Marla Cone
Environmental Health News

17 de junho de 2013.

“É muito pálida a comparação entre a pesquisa humana e a animal”, disse o Dr. Paul Winchester, professor de pediatria da Universidade de Indiana e que estuda este agrotóxico.

Por mais de meio século, os agricultores dos EUA, vêm usando grandes volumes de atrazina para eliminar as ervas nativas, particularmente em cultivos de milho. O foi detectado nos lençóis freáticos e aquíferos que são utilizados como fontes de água potável. A Syngenta, fabricante da molécula, diz que o químico é seguro tanto para humanos como para a vida selvagem nos níveis detectados nos ecossistemas.

OMAFRA
A atrazina é usada na maioria das culturas do milho. Erodida dos campos de cultivo, a substância acaba contaminando os mananciais de água.

Mas, mais ou menos há uma década atrás, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, detectaram de que baixas concentrações – a quantidade esperada próxima das lavouras – levavam os girinos machos a se tornarem sapos fêmeas  (male tadpoles to turn into female frogs).

Estudos continuados em ambiente natural detectaram de que a atrazina tornou girinos machos, feminino ou “desmasculinizou-os”, fazendo com que ovos cresçam em seus testículos, tornando-os incapazes de reproduzirem, disse Tyrone Hayes, professor de biologia da Universidade em Berkeley e que liderou a pesquisa.

A substância química pode gerar disfunção hormonal e alterar os tecidos reprodutivos masculinos quando o animal é exposto à ela, durante seu desenvolvimento. Outros impactos incluem a diminuição do tamanho ao nascer de acordo com estudos de 2005 e 2008 feitos com anfíbios e peixes por pesquisadores da Universidade do Texas.

E não é só os sapos que podem estar sob o risco de serem feminizados. Pesquisa recente (recent research) detectou que a atrazina teve efeitos similares com o salmão, jacarés (caimans) e ratos de laboratório.

Agrega-se “que demonstrou causar comportamento errático nos animais, como padrões estranhos de nadar”, disse Hayes. “Peixes e sapos começaram a nadar impropriamente e que gera consequências – como não conseguirem escapar dos predadores e nem buscar alimentos”.

A Syngenta contrapõe-se a todas estas descobertas. A companhia com sede na Suíça teria tido problemas com a pesquisa de Hayes, afirmando que, através de estudos também continuados, não teve condições de replicar seu trabalho e relata não ter detectado feminização nos sapos. Os estudos da indústria (industry studies), revisados aos pares e publicados, foram conduzidos por dois laboratórios e financiados pela própria Syngenta, depois que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (U.S. Environmental Protection Agency) questionou a companhia, em 2003, para realizar mais testes com sapos.

Hayes em 2004 escreveu uma réplica contestando os estudos da Syngenta, dizendo que haviam erros, tais como alta mortalidade de sapos e medições inapropriadas dos níveis de hormônios. Disse que devido a estes fatores, estas pesquisas não podem ser comparadas com as suas. “Todos estes estudos que dizem que a atrazina não apresenta nenhum efeito vêm da indústria. Todos temos detectado efeitos reprodutivos, exceto aqueles que vem sendo pagos [pela Syngenta]”, diz ele.

Oregon State University
Tyrone Hayes relatou que sapos expostos à atrazina em seu laboratório foram feminizados.

Estudos de campo com sapos que não puderam replicar as descobertas de Hayes usaram métodos diferentes e menos acurados, disse Krista McCoy, professora de biologia da East Carolina University e coautora de análise de atrazina e a vida selvagem em 2010 (2010 analysis).

McCoy diz que os estudos que não detectaram uma correlação, assumem de que algumas lagoas estavam limpas e que poderiam ser utilizadas como sitio de referência. Quando os pesquisadores detectaram anormalidade semelhantes em sapos de sítio, assim chamados ‘limpos', e de sítios poluídos, não reportavam conexão à atrazina.

No entanto, “não há esta coisa de sítio de controle limpo onde não haveria substâncias químicas sintetizadas artificialmente”, diz McCoy. “Se coletamos amostras de uma lagoa em área agrícola e então atravessamos uma rua para o jardim de alguém, então, os animais [nesta lagoa não agrícola] foram provavelmente expostos às mesmas substâncias químicas devido ao escoamento da erosão agrícola”.

As análises de pesquisa anterior de McCoy concluiu que a atrazina efetivamente afeta o desenvolvimento reprodutivo nos estudos com sapos machos. Mas, não está completamente claro se as populações dos animais teriam decrescido devido aos possíveis efeitos do herbicida.

Jason Rohr, professor de biologia junto à Universidade do Sul da Florida e coautor destas análises, tem algumas preocupações sobre todas as pesquisas com atrazina. “Existem problemas com alguns dos trabalhos de  Tyrone [Hayes], alguns deles são fantásticos”, disse Rohr. Ele almejava saber se todas as variáveis que possam distorcer os resultados, foram introduzidas nos estudos financiados pela Syngenta.

A Europa baniu a atrazina em 2003 em razão de sua ampla dispersão nas fontes de suprimento d'água. Mas a EPA concluiu que a atrazina contida na água estava em 3 partes por bilhão era segura para se beber. A agência, no entanto, iniciou outra revisão de coleta de dados desde 2007 tanto quanto à saúde humana como da vida selvagem. Em uma revisão do químico em 2007, a EPA concordou com a Syngenta e renovou o registro do agrotóxico atrazina, concluindo que não era prejudicial aos sapos nem a outra vida selvagem nos níveis detectados no meio ambiente. “Baseada nos resultados negativos destes estudos, a Agência concluía que é razoável rejeitar esta hipótese … que a exposição à atrazina pode afetar os desenvolvimento das gônadas dos anfíbios”, disse a EPA em sua revisão.

Sob os termos da lei federal, “um agrotóxico não deve demonstrar causar riscos despropositados às pessoas e ao meio ambiente” no sentido de que a EPA permitisse a continuação de seu uso. E a lei também permite à EPA levar em “conta os custos econômicos, sociais e ambientais e os benefícios do uso do agrotóxico” quando avalia os “riscos despropositados”. Os agrotóxicos (nt.: nos EUA) são revistos a cada 15 anos.

Ho-Wen Chen/flickr
Embriões de ‘Zebrafish' (nt.: em português é ‘Dânio' ou ‘Paulistinha') expostos à atrazina exibem mudanças em como alguns genes, relacionados à reprodução, funcionavam.

Um estudo (study) recente oferece pistas para o mecanismo através do qual a atrazina pode prejudicar animais e possivelmente humanos.

Pesquisadores da Purdue University detectaram que os embriões do peixe ‘zebrafish' (nt.: em português é ‘Dânio' ou ‘Paulistinha') expostos à atrazina nos níveis presentes no ambiente mostram alterações em seus genes. “Os genes que foram alterados estavam associados com a função neuroendócrina reprodutiva nos peixes”, disse Jennifer Freeman, professora de toxicologia junto à Purdue University que foi a autora sênior do estudo.

Enquanto o estudo não examina se estas alterações nos genes leva a problemas de saúde, Freeman diz que é plausível que elas possam estar por trás de alguns efeitos sobre o desenvolvimento e a reprodução detectados na vida selvagem. Disse que estes genes trabalham de maneira semelhando em peixes e nos humanos.

A mais forte evidência de possíveis efeitos sobre os humanos está no estudo (study) que compara homens de área rural de Missouri com homens de três áreas urbanas. Os homens de Missouri com grandes exposições à atrazina foram mais propensos a ter a qualidade do sêmen mais pobre, devido provavelmente à habilidade desta substância química de alterar os hormônios sexuais, de acordo com um estudo publicado há dez anos atrás. Efeitos similares foram reportados com espermatozoides de animais de laboratório.

Outro grande estudo (large study), conduzido na França, mostrou que bebês expostos no útero, à atrazina, tinham nascido pesando um pouco menos, numa média de 100 a 150 gramas.

O herbicida também esteve conectado a alterações no tecido de mama e com defeitos congênitos em ratos expostos em laboratório (exposed lab rats), que foram utilizados para determinar se a substância era perigosa para humanos.

A toxicologista Suzanne Fenton, a pesquisadora líder sobre atrazina junto ao National Institute of Environmental Health Sciences, disse que quando ratas mães são expostas a altas doses de atrazina, suas crias têm desenvolvimento retardado em suas glândulas mamárias o que pode incrementar sua suscetibilidade ao de mama.

No entanto, a Agência Internacional para a Pesquisa de Câncer (International Agency for Research on Cancer) concluiu (has concluded) que esta é uma “evidência inadequada” para dizer que a atrazina causa câncer em humanos e a EPA reportou, em 2006, que ela “não é provavelmente carcinogênica para os humanos”.

“Todos os estudos humanos que eu conhecço têm alguns problemas”, disse Fenton. “A parte mais difícil do trabalho sobre a atrazina é que ela têm realmente uma meia vida muito curta em humanos/animais. Sendo então difícil medi-la com precisão”.

Semelhante ao estudo com ratos, a atrazina tem sido conectada a alguns defeitos congênitos em humanos. Um estudo (study) publicado neste ano que revisou os defeitos congênitos arquivados no Texas, detectou “associações modestas, mas consistentes” entre defeitos genitais em meninos e mães que viviam perto de áreas com atrazina. Um estudo de 2007 (2007 study) em Indiana encontrou taxas crescentes de defeitos abdominais em crianças nascidas com altos níveis de atrazina nas águas superficiais. Também bebês norte-americanos concebidos em abril e agosto, quando os agrotóxicos agrícolas, incluindo atrazina, apresentavam quantidades mais elevadas na água, apresentavam mais defeitos congênitos, de acordo com pesquisa (research) feita por Winchester e colegas.

No entanto, todos os três destes estudos de defeito congênito tinham que estimar a exposição à atrazina, tornando-se questionável se o impacto sobre a saúde veio do químico e não de algum outro fator. Por exemplo, os cientistas não sabem a quanto de atrazina as mães foram, na verdade, expostas. Só sabem que elas viviam em áreas onde ela foi detectada em riachos. Também, o estudo na França, mediu a atrazina em mães e não encontrou nenhum aumento de defeitos congênitos em seus filhos.

Winchester disse que sua pesquisa conectou aos meses de atividades agrícolas os defeitos congênitos “certamente não prova que a atrazina causa defeitos congênitos … mas nós simplesmente não podemos descartá-la como uma causa”.

“Nós não estamos procurando por uma guerra [com a Syngenta]”, disse ele. “Estamos procurando por respostas”.

 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, julho de 2013.

 

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