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Florestas

Fatos Florestais: caem mitos que opõem produção à conservação no Brasil

30 de abril de 2019 por Luiz Jacques

Em formato de conversa entre o engenheiro florestal Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, e a atriz Camila Pitanga, o filme Fatos Florestais é uma parceria entre o Observatório do Clima, a Produtora Imaginária e o cineasta Fernando Meirelles, da O2 Filmes.

Em 13 minutos, o vídeo Fatos Florestais expõe dados sobre uso da terra e conservação no Brasil a partir do cruzamento de duas grandes bases públicas de informações: o projeto MapBiomas, que mapeou todas as alterações da cobertura vegetal no país nos últimos 35 anos, e o Atlas da Agropecuária Brasileira, criado pela Esalq-USP e pelo Imaflora, que mapeou a situação fundiária do país inteiro.

Fatos Florestais também recorre a dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), da Embrapa e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

FICHA TÉCNICA

Produção: Fernando Meirelles, Observatório do Clima e Produtora Imaginária

Com: Tasso Azevedo e participação de Camila Pitanga

Direção: Gisela Moreau

Roteiro: Oswaldo Braga de Souza, Claudio Angelo, Tasso Azevedo e Fernando Meirelles

Assistentes de direção: Fred Rahal Mauro e Danila Bustamante

Animação: Marina Quintanilha

Ilustrações: Marina Quintanilha e Gisela Moreau

Câmera: Tiago Laires

Edição: Fred Rahal Mauro e Danila Bustamente

Musica, sound design e finalização de áudio: Quincas Moreira

Assistentes de estúdio: Lucca Carvalho e Heitor Peres

Agradecimentos: O2 Filmes, ISA, Luiz Bolognese, Carlos Rittl e Raul Telles do Valle

Arquivado em: Agricultura, Biodiversidade, Ecologia, Sustentabilidade, Vídeos Marcados com as tags: Ciência da Vida, Florestas

A maior diversidade de plantas do mundo

25 de março de 2016 por Luiz Jacques

A maior diversidade de plantas do mundo. Botânicos registram 46 mil espécies e identificam em média 250 por ano no Brasil.

 

 

http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/10-a-maior-diversidade-de-plantas-do-mundo/

 

 

 

 

Depois de sete anos de trabalho, um grupo de 575 botânicos do Brasil e de outros 14 países concluiu a versão mais recente de um amplo levantamento sobre a diversidade de plantas, algas e fungos do Brasil, agora calculada em 46.097 espécies. Quase metade, 43%, é exclusiva (endêmica) do território nacional. O total coloca o Brasil como o país com a maior riqueza de plantas no mundo – a primeira versão do levantamento, publicada em 2010, listava 40.989 espécies. Esse número não vai parar de crescer tão cedo porque novas espécies são identificadas e descritas continuamente em revistas científicas. Em média, os botânicos apresentam cerca de 250 novas espécies por ano.

Os cinco artigos detalhando a segunda versão da Lista de espécies da flora do Brasil foram publicados em dezembro do ano passado na Rodriguésia, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), como forma de prestigiar a revista, que completou 80 anos em 2015. Dali também brota um alerta para as perdas contínuas de variedades únicas de plantas. Enquanto o levantamento era feito, um grupo de botânicos identificou uma espécie nova de bromélia com uma inflorescência vermelha, a Aechmea xinguana, em uma área de mata já coberta pela água do reservatório da usina de Belo Monte, em construção no norte do Pará. “Alguns exemplares dessa espécie foram resgatados e estavam na casa de vegetação do reservatório, mas as populações naturais se perderam na área alagada”, disse Rafaela Campostrini Forzza, pesquisadora do JBRJ e coordenadora do levantamento.

O trabalho não terminou. Neste mês de março os especialistas em cada grupo de plantas devem começar a incluir as descrições, distribuição geográfica detalhada e outras características de cada espécie no banco de dados on-line Flora do Brasil (floradobrasil.jbrj.gov.br) para servir de base para o Flora do Brasil Online, que deve estar concluído até 2020 para integrar o World Flora Online, com informações sobre todas as plantas conhecidas do mundo. Na trilha dos botânicos, os zoólogos se organizaram e apresentaram também em dezembro de 2015 a primeira versão do Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil (CTFB), resultado do trabalho de cerca de 500 especialistas, que começaram a detalhar as informações sobre 116.092 espécies, a maioria artrópodes, com quase 94 mil espécies ou 85% do total (fauna.jbrj.gov.br/fauna/listaBrasil).

Elaborado a pedido do Ministério do Meio Ambiente, com financiamento do governo federal, instituições privadas e fundações estaduais como a Fapesp, o Flora do Brasil indica que a Amazônia abriga a maior diversidade do grupo das plantas sem frutos e com sementes expostas, as gimnospermas, que predominaram de 300 milhões até 60 milhões de anos atrás, quando os dinossauros circulavam pela Terra. Seus representantes mais conhecidos são árvores em formato de cone típicas do clima frio do sul do País, como a araucária, com uma única espécie no Brasil, e quatro espécies de Podocarpus. Dispersas nas matas da região Norte, porém, vivem seis espécies de cipós de folhas largas do gênero Gnetum, que crescem sob o clima quente e úmido ao redor de árvores. Suas sementes vermelhas ou lilases são tão parecidas com frutos que já confundiram até os botânicos.

Os quase 50 mil exemplares de espécies nativas colocam o Brasil como o país continental com maior diversidade de espécies do mundo, seguido por China, Indonésia, México e África do Sul. Em número de espécies endêmicas, perde apenas para grandes ilhas como Austrália, Madagascar e Papua Nova Guiné, cujo isolamento favorece a formação de variedades únicas, e para apenas uma área continental, o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. O total de espécies não chega aos 60 mil das estimativas mais otimistas, mas é maior que o da Colômbia, antes vista como o país da América do Sul com maior diversidade, e é mais que o dobro das 22.767 espécies descritas na monumental Flora brasiliensis, coleção de 15 volumes e 10.367 páginas escrita por 65 botânicos de vários países sob a coordenação de Carl Friedrich Philipp von Martius, August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban, e publicada de 1840 a 1906.

Na Flora brasiliensis, o grupo predominante, com 32.813 espécies, são as plantas com sementes protegidas por frutos carnosos ou secos, as chamadas angiospermas. Nesse grupo estão as árvores como o ipê e o jacarandá, a roseira e outras espécies ornamentais, o feijão, o amendoim, o milho e a maioria dos vegetais usados na alimentação. Somente de feijões, pertencentes aos gêneros Vigna, Canavalia e Phaseolus, a flora brasileira registra cerca de 30 espécies nativas e naturalizadas, “a maioria delas com um potencial para a alimentação humana ainda pouco investigado”, comentou Vinicius Souza, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) que participou da produção e organização das informações desse trabalho.

As angiospermas se espalharam quando o clima se tornou quente e úmido, depois da extinção dos dinossauros. As mudanças do clima eliminaram a maioria das gimnospermas, hoje raras em todo o mundo: os botânicos encontraram apenas 30 espécies, sendo 23 nativas, desse grupo no Brasil. Por sua vez, as samambaias e as licófitas – plantas sem sementes e sem flores, que se reproduzem por esporos, também com origem antiga – estão representadas por 1.253 espécies no Brasil​; algumas ​delas ​atingem 20 metros de altura, lembrando as variedades gigantes que marcavam a paisagem terrestre há 300 milhões de anos.

Alegria e inquietação

Os botânicos agora convivem com a satisfação de ver mais uma etapa do projeto concluída e, ao mesmo tempo, uma desagradável inquietação, porque eles sabem que a distribuição geográfica das coletas de amostras de plantas, sobre as quais o trabalho foi feito, não era equilibrada: havia muito mais informações sobre as regiões Sul e Sudeste, onde se concentram as coletas, os grupos de especialistas e as instituições de pesquisa, do que nas outras partes do País. Enquanto no Rio de Janeiro havia 5,8 coletas por quilômetro quadrado (km2) e no Espírito Santo, 3,9 por km2, no Pará e no Amazonas essa relação era de 0,10 e 0,17 por km2.

Provavelmente por causa do número de coletas aquém do desejado pelos botânicos, o estado do Amazonas aparece em terceiro lugar entre os estados com maior diversidade, seguindo Minas Gerais, em primeiro, e Bahia. Os botânicos não estão satisfeitos com esse resultado. “No Amazonas poderia haver pelo menos mais 20 mil espécies ainda não amostradas”, disse Souza.

São Paulo encontra-se em quarto lugar de diversidade. Além de ser um espaço bastante percorrido por expedições botânicas, o estado apresenta uma variedade de relevos, com planícies a oeste e montanhas a leste, e de tipos de vegetação que favorecem a formação de novas espécies. “Tanto as formações vegetais de clima frio que vêm do sul quanto as de clima quente, como o Cerrado, param em São Paulo”, disse José Rubens Pirani, professor do Instituto de Biociências (IB) da USP (ver tabela).

 

 

“Infelizmente, mantivemos a distorção do trabalho de Von Martius, que coletou principalmente na Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado e andou pouco pela Amazônia”, comentou Rafaela. “Precisamos de um plano nacional de mapeamento das espécies de plantas da Floresta Amazônica para resolver o problema da subamostragem do maior bioma brasileiro, que representa metade do território nacional.”

Elaborado com informações mantidas em herbários e em bases on-line como o Reflora, atualmente com 1.390.218 registros de plantas nativas (ver Pesquisa Fapesp nº 229), o levantamento apontou a Mata Atlântica como o bioma com maior diversidade de angiospermas, samambaias, licófitas e fungos, em razão de coletas mais numerosas e da variedade de altitudes, climas e latitudes. Em segundo lugar está a Amazônia e em terceiro, o Cerrado.

“Ainda estamos longe dos prováveis números reais”, observou Souza. “Quanto maior o número de coletas por região ou estado, maior o número de espécies.” Uma evidência de sua afirmação é que, por causa das coletas mais numerosas, a diversidade de plantas do Tocantins aumentou 70% e a do Piauí, 40%, em relação ao registrado na primeira versão da Flora, de 2010. “Não estávamos trabalhando lá e as plantas não apareciam”, comentou Pirani. Em 2013, com sua equipe, ele identificou uma espécie nova de arbusto, Simaba tocantina, em uma área de Cerrado pouco conhecida no interior e nas proximidades do parque do Jalapão, leste do Tocantins, marcada por vastos areais como os descritos no livro Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

Na região Norte, as áreas menos estudadas são as mais propícias ao avanço das novas plantações de soja e cana-de-açúcar. “O desmatamento é muito mais rápido do que nossa capacidade de conhecer a floresta”, queixou-se a botânica paulista Daniela Zappi, pesquisadora do Kew Gardens, de Londres. “É um desespero. Parece que não vai dar tempo de chegar nessas áreas, principalmente no Arco do Desmatamento, entre o norte do Mato Grosso e o sul do Pará.”

As cactáceas, um dos grupos em que ela é especialista, apresentam uma elevada diversidade no Brasil – em Minas vivem 103 espécies e na Bahia, 98 –, mas 32% das 260 espécies desse grupo encontram-se em grau variável de risco de extinção. As áreas que ocupam são continuamente substituídas por plantações de eucalipto, agricultura ou mineração. Os cactos são explorados como plantas ornamentais e colhidos para servir como alimento para o gado ou para pessoas, que também os usam como fonte de medicamentos, geralmente sem se preocupar em repor as populações originais. Outro problema é que muitas espécies crescem apenas em áreas específicas. É o caso do Arrojadoa marylaniae, um cacto colunar com anéis de flores vermelhas que cresce apenas sobre uma jazida de quartzo branco de valor comercial no interior da Bahia.

O trabalho de identificação e estudo da distribuição geográfica de cada espécie está atrelado a um plano de ação, de modo a estudar e favorecer a polinização e germinação de espécies em maior risco de extinção. As ações de preservação incluem a participação de pesquisadores não acadêmicos. Gerardus Oolstrom, um criador de cactos comerciais em Holambra, interior paulista, trabalhou com botânicos acadêmicos na identificação de uma espécie nova, a Rhipsalis flagelliformis, que ele viu pela primeira vez cultivada em um sítio que havia sido do paisagista Roberto Burle Marx no bairro de Guaratiba, na cidade do Rio de Janeiro. “Os colecionadores, quando integrados com os grupos de pesquisa, podem ajudar muito no trabalho de localização e preservação das espécies”, observou Daniela.

Rafaela também trabalha com o advogado Elton Leme, um botânico não profissional, na caracterização de três novas espécies do gênero Encholirium, que vivem entre rochas em morros da Bahia e de Minas Gerais. Por sua vez, pesquisadores da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte espalharam cartazes com o título “Procura-se” e fotos e informações sobre o faveiro-de-wilson, uma árvore rara, e conseguiram localizar muitos exemplares com a ajuda de moradores do interior de Minas (ver Pesquisa Fapesp no 235).

“Não precisamos plantar apenas rosas e azaleias”, propôs Pirani enquanto caminhava pelos corredores amplos e ensolarados do herbário do IB-USP no início de janeiro. “Cultivar plantas ornamentais nativas em nossas casas, nas ruas e nas margens de estradas é uma forma de preservar a diversidade.” Em seguida ele apresentou um arbusto de flores azuis, a canela-de-ema, duas bromélias, o gravatá e a macambira, e outras plantas coletadas na serra de Grão Mogol, norte de Minas Gerais, que ele procura adaptar ao clima da capital. “Aqui chove mais do que em Minas, mas, mesmo assim, algumas delas florescem todo ano.”

Artigos científicos
COSTA, D. P. e PERALTA, D. F. Bryophytes diversity in Brazil. Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1063-71. 2015.
MAIA, L. C. et al. Diversity of Brazilian Fungi. Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1033-45. 2015.
MENEZES, M. et al. Update of the Brazilian floristic list of Algae and Cyanobacteria.Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1047-62. 2015.
PRADO, J. et al. Diversity of ferns and lycophytes in Brazil. Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1073-83. 2015.
THE BRAZIL FLORA GROUP. Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1085-113. 2015.

Pesquisa Fapesp

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A URGÊNCIA DE RECOBRIR O BRASIL

8 de março de 2016 por Luiz Jacques

A urgência de recobrir o Brasil. A sobrevivência do país e sua cobertura vegetal, esta é a questão.

http://www.pagina22.com.br/2016/02/04/a-urgencia-de-recobrir-o-brasil/

 

Por SÉRGIO ADEODATO 4 DE FEVEREIRO DE 2016

 

NASCENTES-030

Oportunidades na economia florestal mobilizam investidores, ONGs e academia no rastro dos compromissos climáticos

*Esta é a primeira de uma série de reportagens sobre restauração florestal, em parceria da PÁGINA22 com o projeto MapBiomas

Reza o dito popular, atribuído originalmente ao poeta cubano José Martí, que o ser humano somente se realiza por completo após ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Das três partes dessa missiva, a última, à primeira vista, parece a mais simples. Mas não no caso do cultivo de mudas para recompor ambientes de floresta natural e recuperar áreas degradadas, atividade que se tem mostrado bem mais complexa e cara do que normalmente se imagina.

E agora mobiliza grande esforço por parte de cientistas, ambientalistas e economistas – no País e em várias partes do mundo – para o desenvolvimento de um modelo apto a torná-la viável na escala compatível com a urgência do combate à mudança climática e da conservação de recursos vitais, como a água.

O caminho exige fazer contas e gerar receita mediante o uso sustentável, conforme mostra esta primeira reportagem da série sobre restauração florestal.

No Brasil, os primeiros números da difícil matemática, divulgados em janeiro como resultado de um estudo inédito conduzido pelo Instituto Escolhas, retratam o volumoso custo da empreitada: até 2030 será necessário um investimento total de aproximadamente R$ 52 bilhões (R$ 3,7 bilhões ao ano) para tornar factível o plano de restaurar 12 milhões de hectares, conforme o compromisso brasileiro de mitigar a emissão de gases de efeito estufa, anunciado em dezembro na conferência da ONU sobre clima, em Paris.

O cálculo considera o plantio de 50% da área durante 21 anos com espécies exóticas, como o eucalipto, que deverão ser substituídas por árvores nativas após 25 a 30 anos. Nessas condições, o modelo prevê taxa de retorno financeiro de 4%, mediante exploração de madeira, e disso resultaria a criação de 215 mil empregos. Além da arrecadação de R$ 6,5 bilhões em impostos, o empreendimento permitiria a construção de toda uma cadeia produtiva (coleta de sementes, viveiros de mudas, laboratórios, maquinário, serviços de manutenção) capaz de paralelamente resolver o passivo ambiental do agronegócio.

“Estamos na largada da corrida e precisamos de atletas para isso”, adverte Roberto Kishinami, um dos coordenadores do estudo, ao reforçar a importância do investimento em qualificação técnico-profissional neste momento preparatório. De acordo com o pesquisador, o Brasil cultiva atualmente 350 mil hectares de floresta por ano, o que corresponde a pouco mais de um terço do necessário para o País cumprir a atual meta, e, dessa área, menos de 1% com árvores nativas.

O quadro requer rapidez para romper a defasagem: “O próximo passo, em 2016, será refinar os dados e mapear os métodos de plantio de floresta ambiental, social e economicamente mais vantajosos, em regiões prioritárias na Amazônia e Mata Atlântica, biomas abrangidos pelo estudo”. A modelagem incluirá outras fontes de receita, como o aproveitamento de produtos não madeireiros e a remuneração por serviços ecossistêmicos dentro do conceito de  ecologia da paisagem [1].

[1] Método que considera não apenas as reservas legais das propriedades rurais isoladamente, mas os benefícios ambientais, econômicos e sociais obtidos pela conexão delas com outras áreas de mata, em uma perspectiva mais ampla

O fator  mudança no uso da terra [2] tem sido apontado como a bola da vez no debate climático global, o que poderá significar aumento do fluxo de recursos para soluções, entre as quais está a restauração florestal. “O engajamento do setor financeiro na reunião de Paris foi notório e o Brasil tem tudo para se destacar com investimentos em estoques de árvores que fixam carbono”, ressalta Roberto S. Waack, membro da Coalizão Clima, Florestas e Agricultura, iniciativa que encomendou a modelagem econômica da restauração ao Instituto Escolhas e pretende acessar recursos de fundos internacionais para o tema.

[2] É a principal fonte de emissões da economia brasileira, no total de 486 milhões de toneladas de carbono, segundo dados do Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa (Seeg) – 2015

O capital privado, segundo Waack, tem sido ator relevante no jogo, o que reforça a importância de tornar o plantio de florestas economicamente mais atrativo. Com a redução das incertezas científicas e o aumento das regulações globais e nacionais, a lógica inverteu-se: “Hoje, não investir em tecnologias de baixo carbono é que representa risco ao patrimônio”, diz. Criar sistemas de gestão em land use (uso da terra), incorporando novos modelos de silvicultura, é estratégico para a competitividade das empresas.

Uma das iniciativas brasileiras mais recentes é o projeto MapBiomas, que em 2016 começará a divulgar mapas anuais de cobertura do solo em todo o Brasil de forma barata, rápida e atualizada, com possibilidade de comparar dados históricos desde 1985. A principal inovação é o processamento de imagens de satélite tendo como base a plataforma Google Earth Engine. A tecnologia disponibiliza dados em nuvem para fácil acesso a pesquisadores nas diferentes regiões, eliminando barreiras que antes tornavam o trabalho inviável.

“A ideia foi preencher a lacuna de informação sobre a dinâmica do uso da terra no Brasil para melhorar as estimativas de emissões de gases de efeito estufa”, explica Carlos Silva, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e um dos coordenadores do projeto, promovido pelo Seeg/Observatório do Clima em cooperação com ONGs, universidades e empresas. O mapeamento facilitará a aplicação do  Novo Código Florestal [3], além de monitorar áreas protegidas e apontar oportunidades para restauração.

[3]  O passivo ambiental a ser restaurado nas propriedades, após a implementação do Cadastro Ambiental Rural, é estimado em 20 milhões de hectares

“O País precisa achar os meios para aumentar a cobertura florestal, porque não poderá voltar atrás no compromisso registrado na ONU”, afirma Maurício Voivodic, diretor-executivo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), organização que auxilia pequenos produtores de cacau e eucalipto a recuperar a mata nativa.

Em sua análise, “faltam condições políticas e econômicas ao País para desatar esse nó”. O Plano ABC — Agricultura de Baixo Carbono previu em 2010 a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2020, parte mediante plantios florestais, mas até agora atingiu-se apenas um quinto da meta, segundo Voivodic.

Avanços mais expressivos são esperados após a aprovação do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) – marco legal que definirá como as reservas legais poderão ser exploradas economicamente, hoje no Ministério do Meio Ambiente para ajustes após consulta pública entre janeiro e agosto do ano passado. No horizonte de 20 anos, o plano prevê a recuperação de 390 mil hectares nos primeiros cinco anos e estabelece medidas para sensibilização da sociedade, aumento da quantidade e qualidade de sementes e mudas, fomento ao mercado de produtos e serviços de restauração florestal, desenvolvimento de mecanismos de incentivo e expansão de assistência técnica.

“O desafio está em mudar a visão dos tomadores de decisão, mostrando que plantar árvores pode gerar mais renda do que as atividades que as destroem”, destaca Rubens Benini, coordenador da agenda de restauração da TNC Brasil. A ONG iniciará estudos econômicos da restauração em 2016, tendo até hoje contribuído para repor 11 mil hectares de vegetação nativa em dez Estados, com um total de 29 milhões de árvores.

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Para Benini, uma importante questão a ser resolvida é a estruturação de uma base genética para espécies nativas, repetindo o esforço empreendido para o eucalipto. “Não estamos falando apenas de clima, mas de segurança alimentar, garantia de água e redução da pobreza.” Em razão desses fatores, e também dos benefícios de outros insumos básicos que podem ser obtidos de árvores, como a geração de energia, o tema da restauração florestal compõe a agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecida pelas Nações Unidas no ano passado com metas para 2030.

A questão, antes restrita ao círculo ambientalista e às universidades, chegou aos bancos e tende a ser considerada, por exemplo, na liberação de crédito rural. Márcio Macedo, gerente da área de meio ambiente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tem a expectativa de significativo aumento da demanda porfinanciamento [4] de plantios de floresta: “Após o acordo climático de Paris, o tema ganhou importância global e o fluxo de recursos para a atividade deverá crescer”. O banco está estruturando um fundo ambiental de R$ 1 bilhão a partir de recursos captados lá fora – “um plano ambicioso, que dependerá de qualificação técnica e bons projetos”.

[4] Lançado em 2015, o BNDES Restauração Ecológica já recebeu 78 projetos para restauração de 20 mil hectares na Mata Atlântica, totalizando R$ 281 milhões

Em plantios florestais de menor escala com espécies nativas, o custo chega a R$ 14 mil por hectare, mas no caso de áreas regeneradas naturalmente, sem cultivo de mudas, o valor cai para R$ 3 mil a R$ 5 mil por hectare. Experimentos de campo têm chegado a modelos mais baratos. “Na Mata Atlântica e na Amazônia, a redução de custo atingiu 50%, em média, com uma combinação de espécies nativas e adubação verde”, revela Ricardo Rodrigues, pesquisador da Universidade de São Paulo/Esalq, em Piracicaba (SP). E o retorno financeiro com a exploração de madeira superou as expectativas. “Queremos agora medir o valor dos ganhos com os serviços ecossistêmicos da restauração.”

Os negócios podem ser favorecidos pelo surgimento de mecanismos de mercado, como a  compra e venda de Cotas de Reserva Ambiental (CRA) [5], em desenvolvimento no Instituto BVRio. O presidente executivo, Pedro Moura Costa, é otimista: “A ficha está caindo; é maior o engajamento de produtores rurais e tudo indica que o setor deslanchará quando a situação econômica melhorar”.

[5] Mecanismo previsto no Código Florestal, no qual um proprietário sem Reserva Legal pode compensar o passivo comprando “cota” de floresta em outra área

Outro mecanismo, recém-lançado pela instituição, é a bolsa de comércio de madeira, com plano de movimentar US$ 200 milhões até dezembro. Como suporte às transações foi criado um aplicativo para que compradores (construtoras, serrarias, fabricantes de móveis, atacadistas e exportadores) possam rastrear a origem do produto ao passar o telefone sobre o código de barras da guia que o acompanha.

O Serviço Florestal Brasileiro estima que menos da metade das toras extraídas na Amazônia tem origem legal e sustentável. Mudar o cenário de competição desleal do produto predatório, que não paga impostos, é uma condição para a chegada de investimentos. Para o suprimento da demanda brasileira, estima-se a necessidade de multiplicar por dez a atual área de produção de madeira rastreada, até 2030. Plantar árvores é uma das soluções.

Arquivado em: Água, Biodiversidade, Destaques, Ecologia, Saúde Marcados com as tags: Conservação da natureza, Devastação florestal, Ecologia, Florestas, Reconstrução ambiental

O futuro das florestas brasileiras ainda é uma incógnita.

20 de maio de 2015 por Luiz Jacques

Quem não se lembra dos tensos e acirrados confrontos no Congresso Nacional que há três anos convulsionava o País nas discussões sobre como deveria ser novo Código Florestal? Parecia um barril de pólvora prestes a explodir. Na época, só não havia dúvida quanto à necessidade de atualiza-lo, já que a lei havia sido concebida ainda na ditadura, no ano de 1965. De lá pra cá, certamente o país mudou muito e, portanto, a lei de florestas também precisaria ser alterada.

 

 

http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/o-futuro-das-florestas-brasileiras-ainda-e-uma-incognita-7360.html

 

Aprovação do Código Florestal completa três anos, mas persistem as incertezas e a difícil tarefa de cumpri-lo

Welington Pedro de Oliveira
Desmatamento

Crise hídrica é apenas uma das muitas razões para termos uma lei florestal capaz de proteger mananciais, nascentes e rios

Como sabemos, os ruralistas conseguiram, na ocasião, fazer passar boa parte de suas demandas, entre elas, algumas bastante questionáveis como a anistia aos desmatadores graças ao artifício das áreas consolidadas com produção antes de 22 de julho de 2008 e a redução nas áreas de proteção.

Pois bem, de lá pra cá, após tantas turbulências, era de se esperar que fosse um pouco mais suave o processo de implementação do Código. Mas, infelizmente, não é bem isso o que estamos assistindo. A importante meta de mapear e cadastrar todas as propriedades rurais brasileiras por meio do Cadastro Ambiental Rural ao longo desses três anos de vigência do Código está longe de ser alcançada.

As informações recentes fornecidas pelo governo federal dão conta de que em torno de 1,4 milhão de um total de 5,5 milhões de propriedades rurais já fizeram o CAR. Desse montante já regularizado, 87% são de pequenas propriedades.

Diante de um número tão pequeno e com tantos proprietários ainda em desacordo com a lei, o governo decidiu prorrogar o prazo por mais um ano, portanto até maio de 2016. Veremos então o que vai acontecer, pois a tarefa não parece ser das mais fáceis, não só pelo fato de muitos ainda precisarem se cadastrar, mas também pelos obstáculos a serem transpostos.

Podemos até dizer que possam existir proprietários que não estejam fazendo muito esforço para preencher o CAR, mas como ainda persiste a falta de informação é preciso também entender o problema desses agricultores.

Técnicos da Iniciativa Verde, organização que atua em projetos de recomposição florestal, principalmente no estado de São Paulo, têm procurado ajudar produtores rurais a preencher o cadastro e, o que eles encontram com frequência, são muitas dúvidas e um desconhecimento generalizado.

Para Roberto Resende, presidente da Iniciativa Verde, uma das principais questões está relacionada ao Programa de Regularização Ambiental: “a falta de definição do PRA deixa sem diretrizes os processos legais, administrativos e econômicos para a enorme tarefa da recomposição florestal e da adequação ambiental de tantos imóveis. Em paralelo com a consolidação do CAR é fundamental definir as regras da próxima etapa”.

Ele compara: “é como se após a entrega da declaração do Imposto de Renda (o preenchimento do CAR) os contribuintes não soubessem como, quanto e quando devem pagar de imposto ou receber de restituição (a ausência de definições claras do PRA). Para resumir, se persistem dúvidas quanto ao preenchimento do Cadastro Ambiental Rural, são ainda mais obscuras as contrapartidas a que o proprietário rural terá de cumprir no Programa de Regularização Ambiental”.

A situação não é muito diferente Brasil afora, o Observatório do Código Florestal tem acompanhado a situação. Conforme afirma Aldem Bourscheit, da organização ambiental WWF-Brasil e membro do Observatório, questões políticas estão entre os principais fatores que emperraram o cadastro (CAR), um dos passos para a regularização ambiental das propriedades. “A lei florestal (12.651/2012) foi aprovada em um processo onde sociedade e academia foram pouco ouvidos e sua regulamentação ocorre em um processo lento e pouco claro, tanto em nível federal quanto estadual”.

Ele ainda destaca que “falta muita transparência, uma comunicação efetiva para disseminação da lei e a definição de incentivos econômicos. Sem eles, podemos ter aumento no desmatamento em propriedades com excedente florestal”. Todas questões que deixam os agricultores inseguros e confusos quanto ao que fazer. Para Aldem, será preciso também que, neste ano de prorrogação dos prazos de cadastramento de propriedades e posses rurais, Governo Federal e Estados trabalhem juntos e o setor produtivo incentive seus fornecedores a respeitar e aderir ao novo Código Florestal.

A atual crise hídrica enfrentada com maior gravidade por estados da região Sudeste, mas que aflige também outras localidades do País, é apenas uma das muitas razões para termos uma lei florestal capaz de proteger mananciais, nascentes e rios, além de nossa riquíssima biodiversidade. A convivência equilibrada entre preservação ambiental e produção agrícola é o que irá garantir o nosso futuro.

O Cadastro Ambiental Rural é fundamental para que tenhamos uma radiografia fidedigna do meio rural brasileiro. Um panorama preciso sobre as áreas de vegetação natural que deverão ser preservadas e também as terras a serem exploradas, o que irá contribuir para que o país saiba onde investir, o que priorizar e o que necessita ser recuperado e preservado. Enfim trazer luz para um setor que ainda possui muita sombra e pouca transparência.

*Nesta semana diversos eventos organizados pelo Observatório do Código Florestal em todo o país vão debater o atual estágio e o futuro da implantação do Código. Em São Paulo, um encontro no dia 21/05, próxima quinta-feira, vai reunir governo, iniciativa privada, organizações da sociedade civil e academia.

* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.

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Desmatamento amazônico agrava crise energética no Brasil.

11 de abril de 2015 por Luiz Jacques

No Brasil, água e eletricidade seguem unidas, assim, dois anos de chuvas escassas deixaram dezenas de milhões de pessoas à beira do racionamento hídrico e energético, fortalecendo os argumentos contra o desmatamento da Amazônia. Dois terços da energia elétrica nacional provêm de rios represados, cujos fluxos baixaram a níveis alarmantes. A crise reativou preocupações sobre a mudança climática, a necessidade de reflorestar as margens fluviais e novas teses sobre o sistema elétrico.

 

http://envolverde.com.br/terramerica/terramerica-desmatamento-amazonico-agrava-crise-energetica-no-brasil/

 

por Mario Osava*

Aldeia dos indígenas araras na chamada Grande Volta do Rio Xingu, que não será inundada mas verá seu fluxo reduzido com o desvio de grande parte da água por um canal que servirá à central hidrelétrica de Belo Monte, encravada na Amazônia brasileira e que será a terceira maior do mundo. Foto: Mario Osava/IPS

Rio de Janeiro, Brasil, 30 de março de 2015 (Terramérica).- “É preciso diversificar as fontes e reduzir a dependência de centrais hidrelétricas e termoelétricas movidas por combustíveis fósseis, para enfrentar eventos extremos do clima que são cada vez mais frequentes”, afirmou ao Terramérica o vice-presidente do não governamental Instituto Vitae Civilis, Delcio Rodrigues.

A fonte hidráulica fornecia quase 90% da geração elétrica até o apagão de 2001, que forçou a um racionamento durante oito meses. Desde então a termoeletricidade avançou, mais cara e contaminante, para compensar instabilidades hídricas. Atualmente, as centrais térmicas, operadas majoritariamente com petróleo, alcançam 28% da capacidade nacional de geração, contra 66,3% das hidrelétricas. As demais fontes continuam marginais.

Partidários da energia hidráulica defendem um retorno às grandes represas, com capacidade para resistir a secas prolongadas. Eles argumentam que a insegurança de fornecimento se deve às centrais de passagem, com pequena capacitação de retenção de água, impostas por razões ambientais.

“Mas o maior reservatório de água é a floresta”, contrapõe Rodrigues, para explicar que sem o desmatamento, que afeta todas as bacias, haveria mais água retida no solo sustentando a corrente fluvial. “As florestas constituem fonte, meio e fim do fluxo, porque produzem a umidade atmosférica continental, a infiltração da chuva no solo acumulando água e a proteção das represas”, afirmou Antonio Donato Nobre, pesquisador de temas climáticos.

“A Amazônia já tem 47% de sua floresta impactada, somando o corte total que chega a quase 20% e a degradação”, destacou Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia e do Instituto Nacional de Estudos Espaciais. Isso favorece os incêndios. “Antes não penetravam em áreas úmidas de florestas ainda verdes, agora penetram, avançam floresta adentro, queimando imensas extensões”, ressaltou ao Terramérica. “As árvores amazônicas não têm tolerância ao fogo, ao contrário das existentes na ecorregião do Cerrado, adaptadas a incêndios periódicos. As florestas amazônicas demoram séculos para se recompor”, acrescentou.

O cientista teme que o desmatamento esteja afetando o clima sul-americano, inclusive tirando chuvas do sudeste brasileiro, a região mais povoada e que mais hidreletricidade gera no país. “Faltam estudos para quantificar a umidade transportada para diferentes bacias”, para precisar a relação climática entre a Amazônia e outras regiões, explicou Nobre. E ressaltou que na região amazônica oriental, onde se concentram a destruição e a degradação florestal, já são visíveis as alterações climáticas, como a redução das chuvas e a ampliação do período de estiagem.

Na bacia do rio Xingu, este pode ser o ano com menor precipitação em 14 anos de medição em Canarana, município que fica em sua cabeceira, segundo o Instituto Socioambiental (ISA), que desenvolve um programa de sustentabilidade para povos indígenas e ribeirinhos da bacia. Se isso se fixar como tendência, afetará a hidrelétrica de Belo Monte, em construção 1.200 quilômetros rio abaixo, que terá capacidade de geração de 11.233 megawatts (MW), o que a converterá na terceira maior do mundo quando estiver plenamente operacional, a partir de 2019.

Mas sua geração efetiva poderá cair 38% até 2050, com relação ao previsto, se o desmatamento prosseguir no ritmo atual, segundo um estudo realizado por oito pesquisadores brasileiros e norte-americanos, publicado em 2013 pela revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Esse ano, o desmatamento na bacia do Xingu já atingiu 21,3% de seu território, estimou o ISA.

A hidrelétrica de Santo Antônio, durante sua construção em 2010. Quando estava praticamente concluída, no ano passado, a obra foi afetada por uma cheia excepcional do rio Madeira, na bacia amazônica brasileira, em um fenômeno atribuído, ao menos em parte, ao desmatamento.

Na Amazônia são construídas outras grandes hidrelétricas que também poderão sofrer perdas. No rio Madeira, fluxos torrenciais de seus afluentes da Bolívia e do Peru submergiram em 2014 a zona onde estão as centrais de Jirau e Santo Antonio, afetando suas operações recém-iniciadas.

A tendência na parte sul da bacia amazônica é de “eventos mais intensos, com estiagens e cheias mais fortes”, como as intensas secas de 2005 e 2010 e cheias anormais em 2009 e 2012, pontuou Naziano Filizola, hidrólogo da Universidade Federal do Amazonas. “Além de alterar o fluxo, o desmatamento se vincula à ocupação agrícola que lança pesticidas no rio, como ocorre no alto Xingu. A água perde qualidade, segundo notam os indígenas”, afirmou o especialista ao Terramérica.

Filizola afirmou que o mesmo projeto energético realimenta esse processo, ao atrair trabalhadores migrantes, aumentando a população local sem oferecer condições adequadas. De todo modo, o impacto energético mais intenso por chuvas insuficientes ocorre, no momento, na região do Planalto Central, onde predomina o Cerrado, um bioma de savana e o segundo mais extenso do Brasil, atrás da Amazônia. Ali nascem as principais bacias com aproveitamentos hidrelétricos.

A do rio Paraná, que corre para o sul e concentra a maior capacidade geradora do país, recebe do Cerrado metade de suas águas, o que sobe para 60% na bacia do rio Tocantins, que flui para o norte amazônico, afirmou Jorge Werneck, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Mapa da bacia do rio Xingu, na Amazônia brasileira. O verde das terras indígenas e áreas oficiais protegidas está cercado por zonas desmatadas e apresenta pontos vermelhos. A bacia tem 511.149 quilômetros quadrados, mais do que a Espanha, e sua parte desmatada, de 109.166 quilômetros, iguala-se a Cuba. Foto: Cortesia do Instituto Socioambiental

Esses rios impulsionam as duas maiores hidrelétricas brasileiras atuais: Itaipu, compartilhada com o Paraguai, e Tucuruí. Ambas estão entre as cinco maiores do mundo. Outro exemplo é o rio São Francisco, principal fonte elétrica da região Nordeste, com 94% de seu fluxo hídrico proveniente do Cerrado.

Em seu campo de observação, os arredores de Brasília, onde nascem vários rios, Werneck, especialista em hidrologia da Embrapa Cerrados, notou uma tendência geral ao prolongamento da estiagem. “Mas faltam dados e estudos para comprovar a relação entre desmatamento amazônico e mudanças no regime de chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil”, afirmou.

Em 2014, houve seca nessas regiões, que compreendem a maior parte do Cerrado, mas “não faltou umidade na Amazônia e, de fato, choveu muito nos Estados de Rondônia e Acre”, na fronteira com a Bolívia e o Peru e vítimas de fortes inundações, argumentou.

As florestas prestam variados serviços ecológicos, mas ainda assim não se pode afirmar que produzem e conservam água em grande escala. Suas copas “impedem que 25% da chuva chegue ao solo” e sua evapotranspiração retira do solo a água que deixa de alimentar os rios, “onde a necessitamos”, acrescentou Werneck, concluindo que “avaliar a hidrologia das florestas continua sendo um desafio”.

Nobre, pelo contrário, defende as grandes florestas como “bombas bióticas”, que atraem e produzem chuvas. Em sua opinião, não basta evitar o desmatamento da Amazônia, sendo urgente reflorestá-la, para recuperar seus serviços climáticos. Um exemplo a ser seguido é o de Itaipu, que reflorestou sua área de influência direta na bacia paranaense, revitalizando afluentes, mediante seu programa Cultivando Água Boa.

* O autor é correspondente da IPS.

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Por que desmatar 79% da área de mananciais secou São Paulo.

19 de outubro de 2014 por Luiz Jacques

Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica divulgado com exclusividade pela revista Época constatou que a cobertura florestal nativa na bacia hidrográfica e nos mananciais que compõem o Sistema Cantareira, centro da crise no abastecimento de água que assola São Paulo, está pior do que se imaginava. Hoje, restam apenas 488 km2 (21,5%) de vegetação nativa na bacia hidrográfica e nos 2.270 km2 do conjunto de seis represas que formam o Sistema Cantareira.

 

 

http://envolverde.com.br/ambiente/por-que-desmatar-79-da-area-de-mananciais-secou-sao-paulo/

 

 

por Marcia Hirota*

sistema cantareira Por que desmatar 79% da área de mananciais secou São Paulo

O levantamento avaliou também os 5.082 km de rios que formam o sistema. Desse total, apenas 23,5% (1.196 km) contam com vegetação nativa em área superior a um hectare em seu entorno. Outros 76,5% (3.886 km) estão sem matas ciliares, em áreas alteradas, ocupadas por pastagens, agricultura e silvicultura, entre outros usos.

O estudo teve como base o último Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que avaliou a situação da vegetação nos 17 Estados com ocorrência do bioma, no período 2012-2013. O Atlas, que monitora o bioma há 28 anos, é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com patrocínio de Bradesco Cartões e execução técnica da Arcplan.

Com base em imagens de satélite, o Atlas da Mata Atlântica utiliza a tecnologia de sensoriamento remoto e geoprocessamento para monitorar os remanescentes florestais acima de 3 hectares. Neste estudo sobre o Sistema Cantareira, realizado pela SOS Mata Atlântica e Arcplan, foram identificadas as áreas de até 1 hectare.

As análises foram avaliadas em nível municipal, indicando os municípios com total de áreas naturais mais preservados. As cidades observadas foram: Camanducaia (19,6% de vegetação nativa), Extrema (15,2%), Itapeva (7,9%) e Sapucaí Mirim (42%), em Minas Gerais; Bragança Paulista (3,2%), Caieiras (50,2%), Franco da Rocha (40,8%), Joanópolis (18,8%), Mairiporã (36,6%), Nazaré Paulista (24,7%), Piracaia (17,7%) e Vargem (17,9%), em São Paulo.

As florestas naturais protegem as nascentes e todo fluxo hídrico. Com esses índices de vegetação, não é de se estranhar que o Sistema Cantareira opere, atualmente, com o menor nível histórico de seus reservatórios, já que para ter água é preciso ter também florestas.

E o que fazer diante deste quadro?

O primeiro desafio é proteger o que resta de Mata Atlântica e manter, com rigor, o monitoramento e a fiscalização dessas áreas para evitar a ocorrência de novos desmatamentos.

Importante lembrar que Minas Gerais, Estado que reúne não apenas as nascentes de rios que formam o Sistema Cantareira, mas também das bacias dos rios Doce, São Francisco e Paraíba do Sul, entre outros, é o recordista do desmatamento da Mata Atlântica pelo quinto ano consecutivo, de acordo com os últimos dados do Atlas da Mata Atlântica.

O segundo ponto é promover a recuperação florestal nessas regiões, incluindo-se aqui investimentos públicos e privados para restauração florestal e programas de Pagamentos Por Serviços Ambientais (PSA) voltados aos proprietários de terras, municípios e Unidades de Conservação que as preservarem.

Com o objetivo de estimular esse esforço, a Fundação SOS Mata Atlântica lançará ainda neste mês um novo edital do programa Clickarvore, com apoio do Bradesco Cartões e Bradesco Capitalização, para a doação de 1 milhão de mudas de espécies nativas para restauração na Bacia do Cantareira. Essas mudas possibilitarão a recuperação de até 400 hectares de áreas, que por sua vez podem promover a conservação de 4 milhões de litros de água por ano. A ideia é que os projetos selecionados colaborem para conservar e proteger os recursos hídricos conectando, nessas regiões, os poucos fragmentos de mata que hoje encontram-se isolados.

Pode parecer pouco, tendo em vista o tamanho do desafio, mas é um primeiro passo para trazer de volta as florestas e a água ao Sistema Cantareira. Esperamos que essa iniciativa contribua para o fortalecimento de políticas públicas efetivas e que possa marcar o início de esforços conjuntos da sociedade, iniciativa privada e do poder público para a recuperação desse importante manancial. Afinal, a grave escassez que enfrentamos neste ano reforça a necessidade do Estado promover a proteção dos mananciais e a gestão integrada e compartilhada da água.

A restauração da cobertura florestal nas áreas de mananciais é o pontapé para a recuperação das reservas de água. No entanto, para que traga resultados efetivos, essa iniciativa precisa ser somada a uma ação urgente e firme do Governo do Estado no sentido de implementar efetivamente instrumentos econômicos como o PSA e a cobrança pelo uso da água a todos os usuários, o que garantirá a sustentabilidade do sistema e o acesso à agua em quantidade e qualidade para a sociedade.

* Marcia Hirota é diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica.

* Publicado originalmente no Blog do Planeta e retirado do site SOS Mata Atlântica.

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