Saúde: Pesquisador proeminente de alimentos ultraprocessados ​​deixa o NIH e alega censura

O pesquisador de nutrição do Instituto Nacional de Saúde, Kevin Hall, disse estar cético de que conseguirá realizar sua pesquisa sem interferência política. (Mark Schiefelbein/AP)

https://www.washingtonpost.com/health/2025/04/17/ultra-processed-foods-nih-resignation/

Rachel Roubein e Anahad O’Connor

17 abr 2025

[NOTA DO WEBSITE: A pesquisa do Dr. Hall não nos surpreende porque esse fato: relação alimentos industrializados como ultraprocessados, já do conhecimento público desde 2013, por uma longa matéria do New York Times. Tem o sugestivo título de “A Extraordinária Ciência de Viciar em ‘Junk Food’, ou seja, ultraprocessados. Mas o interessante é conhecer, pela leitura do texto, como isso tudo começou e mais triste: a reação dos CEOs quando souberam, em 1999, a sustentação técnico do que suas corporações estavam fazendo com a sociedade. Qual foi a reação? Alegando de que qualquer mudança no que faziam, poderia comprometer os lucros das corporações, simplesmente abandonaram a reunião e tudo continuou como estava. E mais, provavelmente foi muito mais ampliada a artificializarão dos produtos ‘alimentícios’. E agora o que vemos abaixo é efetivamente a realidade que se sabe desde 1999!].

Kevin Hall, um dos principais especialistas em alimentos ultraprocessados, levantou preocupações sobre o futuro da pesquisa e da ciência nutricional no NIH.

Seis anos atrás, Kevin Hall liderou um estudo histórico que forneceu as evidências mais convincentes até o momento de que alimentos ultraprocessados ​​são prejudiciais à saúde dos americanos (nt.: destaque dado pelo website pela profundidade da pesquisa).

Então, quando o movimento Make America Healthy Again de Robert F. Kennedy Jr. — um esforço para combater doenças crônicas e doenças infantis — ganhou força, Hall tinha esperança de que a agência de pesquisa biomédica do país priorizasse mais de seus estudos para entender as causas básicas das doenças metabólicas.

Mas, apenas dois meses após o início do mandato de Kennedy como a principal autoridade de saúde do país, o veterano pesquisador dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) disse estar cético quanto à possibilidade de exercer seu trabalho sem interferência política. Essas preocupações o levaram a aceitar a oferta de aposentadoria antecipada do governo federal, afirmou ele nas redes sociais esta semana, abandonando o que chamou de 21 anos em seu “emprego dos sonhos”.

Em uma entrevista, Hall disse estar preocupado que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos pudesse tentar suprimir descobertas futuras de sua pesquisa sobre alimentos ultraprocessados ​​se elas não se encaixassem na agenda política do governo Trump.

“Eu tinha esperança de que teríamos mais recursos e oportunidades para fazer o tipo de coisa que eles discutiram”, disse ele. “Mas, com base em tudo o que vi até agora, acho que eles claramente vão interferir em nossa pesquisa e na divulgação dos nossos resultados.”

A decisão de Hall ocorre no momento em que Kennedy fez da reforma do abastecimento alimentar do país uma de suas principais prioridades — um plano que encontrou apoio tanto da direita quanto da esquerda. Mas Kennedy continua sendo uma figura polarizadora, e especialistas em e democratas estão alarmados com seu 
expurgo da força de trabalho federal da saúde e sua resposta ao surto de sarampo.

Em uma declaração, o HHS rejeitou as alegações de Hall.

“É decepcionante que esse indivíduo esteja fabricando alegações falsas”, afirmou o departamento em um comunicado por escrito. “Continuamos comprometidos em promover pesquisas de alto padrão e avançar nas prioridades de saúde pública.”

Em todo o mundo, alguns países publicaram diretrizes alimentares incentivando explicitamente as pessoas a evitar alimentos ultraprocessados. Nos Estados Unidos, legisladores de ambos os lados da política culparam os alimentos ultraprocessados ​​pelas epidemias de obesidade e doenças crônicas e pediram ao governo federal que os regulasse mais rigorosamente. Mas é oneroso e caro estudar os produtos industrializados e hiperpalatáveis ​​que compõem mais da metade das calorias que os americanos consomem diariamente.

Em uma entrevista, Marion Nestle, professora emérita de nutrição, estudos alimentares e saúde pública na Universidade de Nova York, disse que a saída de Hall do NIH é um golpe devastador para a pesquisa em nutrição e saúde pública.

“Estou chocada”, disse ela. “Acho que ele está fazendo um dos trabalhos mais importantes já feitos em nutrição nas últimas décadas. Alguém como ele deveria ter total apoio do pessoal da MAHA — e o fato de não o apoiarem coloca tudo em questão.”

Hall está em meio a outro estudo para identificar os mecanismos precisos que tornam os alimentos ultraprocessados ​​prejudiciais — pesquisa que ele está transferindo para outro pesquisador e cuja conclusão está prevista para este ano. Mas suas reservas quanto à permanência no governo pareciam estar se formando há várias semanas.

Os pesquisadores Kevin Hall e Stephanie Chung, do Instituto Nacional de Saúde, conversam com um participante do estudo no Centro Clínico do NIH. (NIDDK/NIH)

No final de março, Hall escreveu um e-mail para Kennedy, bem como para altos funcionários do HHS e do NIH, com o assunto: “provável aposentadoria de cientista do NIH que estuda mecanismos de alimentos ultraprocessados”. O Washington Post obteve uma cópia do e-mail; não ficou claro se Kennedy viu a mensagem.

No e-mail, Hall escreveu que havia divulgado planos sobre como o governo poderia obter “de forma rápida e eficiente” os dados necessários para entender como a alimentação do país está deixando os americanos doentes. Mas ele não recebeu resposta à sua proposta, escreveu.

Ele também escreveu na mensagem anunciando sua renúncia e no e-mail que havia sofrido incidentes de “censura”. Ele alegou no e-mail que o HHS contatou um repórter do New York Times para minimizar os resultados de seu estudo publicado em março, que sugeria que alimentos ultraprocessados ​​não eram tão viciantes quanto as drogas (nt.: ver o destaque abaixo quando tratamos da matéria sobre os ultraprocessados serem viciantes, feito pelo NYTimes). Ele também afirmou que as respostas escritas enviadas ao repórter haviam sido editadas sem sua aprovação.

“Essas experiências me levaram a acreditar que o NIH pode ser um lugar difícil para continuar a ciência imparcial e de padrão ouro necessária para informar a transformação necessária do nosso suprimento de alimentos para tornar os americanos saudáveis”, escreveu Hall no e-mail.

Uma porta-voz do New York Times remeteu as perguntas à cobertura do jornal sobre a renúncia de Hall. Uma reportagem publicada na quarta-feira afirmou que o pedido do Times para uma entrevista por telefone com Hall sobre o estudo foi negado. Segundo o Times, o NIH permitiu que ele respondesse às perguntas por escrito vários dias depois, e as respostas foram enviadas ao jornal por meio da assessoria de imprensa do NIH. Hall afirmou no e-mail que essas respostas foram editadas sem sua aprovação, de forma a minimizar a importância de suas descobertas.

Na declaração, o HHS escreveu que “qualquer tentativa de retratar isso como censura é uma distorção deliberada dos fatos”.

Antes do estudo de Hall em 2019, muitos pesquisadores especulavam que os alimentos ultraprocessados ​​eram uma força motriz na epidemia de obesidade (nt.: quem tiver interesse de saber como essa realidade já vem de longa data, basta ler o artigo do próprio Times, de 2013, onde mostra que a relação entre obesidade e ultraprocessados é do conhecimento das BIG FOOD, desde 1999. Ou seja, já fazem 26 anos que isso é do conhecimento público incluindo a postura dos CEOs das corporações). Eles argumentavam que alimentos ultraprocessados, como barras de chocolate, batatas fritas, refeições congeladas, cereais matinais açucarados e refrigerantes, não eram alimentos de verdade, mas “formulações industriais” projetadas pelos fabricantes para atingir um certo “ponto de êxtase”, o que faz com que as pessoas os desejem e os consumam em excesso. Esses alimentos normalmente contêm muitos aditivos químicos não comumente usados ​​em cozinhas domésticas, como emulsificantes, adoçantes artificiais, corantes, estabilizantes e conservantes.

Hall era cético quanto à ideia de que alimentos ultraprocessados ​​pudessem levar as pessoas a comer em excesso. Por isso, ele projetou um rigoroso ensaio clínico para comparar o que acontecia quando as pessoas eram alimentadas com uma dieta composta principalmente de alimentos ultraprocessados ​​e uma dieta composta principalmente de alimentos caseiros e não processados. Ambas as dietas eram equivalentes em termos de nutrientes como sal, açúcar, gordura e fibras.

Hall ficou chocado com suas descobertas. Quando as pessoas seguiam a dieta ultraprocessada, consumiam significativamente mais calorias — cerca de 500 a mais por dia em comparação com a dieta não processada. Elas também ganhavam peso e gordura corporal rapidamente.

As descobertas de Hall criaram uma mudança de paradigma no mundo da nutrição, forçando muitos especialistas em saúde a concluir que não é apenas a grande quantidade de sal, açúcar e gordura na dieta das pessoas que as deixa doentes, mas a maneira como os alimentos são processados ​​industrialmente e a quantidade de aditivos que eles contêm.

Hall, no entanto, já havia dito anteriormente que acredita ser um erro demonizar todos os alimentos ultraprocessados. Esses alimentos representam uma grande parte das calorias que as pessoas consomem, em parte porque são saborosos, práticos e acessíveis, disse ele.

Alguns alimentos ultraprocessados, como donuts e refrigerantes, podem ser piores do que outros, como cereais matinais e aveia instantânea, que pelo menos contêm fibras, vitaminas e outros nutrientes importantes, disse Hall. E se os fabricantes de alimentos entendessem exatamente o que torna os alimentos ultraprocessados ​​tão prejudiciais, disse ele, talvez pudessem reformular seus produtos (nt.: por esse ‘otimismo quanto às corporações, pode estar demonstrando que o Dr Hall não leu o artigo do Times, destacado por nosso website).

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, abril de 2025