
Em humanos, a cafeína bloqueia um sinal celular específico para nos manter acordados, mas os pesquisadores descobriram que os produtos químicos do plástico parecem ativá-lo rapidamente. (Crédito da foto: Getty Images para Unsplash+)
https://usrtk.org/healthwire/plastics-may-disrupt-circadian-rhythm/
14 abr 2025
[NOTA DO WEBSITE: Mais uma pesquisa que coloca as resinas plásticas e seus plastificantes, junto com a emergência climática, no topo daquilo que a humanidade deveria estar lutando contra. Nunca essas guerras egoicas, infantis e devastoramente desumanas. Mas esse é o nosso tempo e o nosso legado para o futuro, muitíssimo próximo de nós do que poderíamos imaginar].
Novas pesquisas mostram que produtos químicos encontrados em embalagens plásticas comuns de alimentos, como filme plástico (nt.: sempre lembrar que os chamados filmes plásticos utilizados no Brasil são de PVC e seu monômero é considerado cancerígeno pela IARC/OMS e o que torna o filme maleável é o disruptor endócrino ftalato) e sachês de salgadinhos, podem interferir no ciclo natural de sono e vigília de 24 horas do corpo, aumentando o risco de distúrbios do sono, diabetes, problemas imunológicos e até câncer.
Publicado este mês na Environment International, o estudo da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia é o primeiro a mostrar que os plásticos de poliuretano (PUR) e cloreto de polivinila (PVC) do dia a dia, contêm compostos que podem interromper o relógio interno do corpo (ritmo circadiano) ao interferir rapidamente em um sinal celular específico (A1R) ligado ao sono e à luz (nt.: vê-se que o filme de PVC que está em tudo o que é verduras, frutas e gordurosos nos super mercados, mesmo orgânicos, além de interferir nos hormônios e ser cancerígeno também interfere no sono. E nós comprando sem termos a mínima noção do que estamos fazendo!).
Ao contrário de pesquisas anteriores que se concentravam em efeitos lentos relacionados a hormônios, este estudo revela um impacto mais rápido e direto nos principais “genes do relógio” por meio de um tipo diferente de via biológica. Isso significa que os produtos químicos plásticos podem contribuir para problemas de saúde graves, como diabetes ou câncer, de mais maneiras do que os cientistas sabem atualmente, afirmam os pesquisadores.
“Todas as nossas células seguem um ritmo circadiano, e as substâncias químicas encontradas nos plásticos podem alterar esse ritmo. É importante ressaltar que essas substâncias químicas estão causando mudanças rápidas em nossas células que podem se transformar em mudanças sustentadas por períodos mais longos”, afirma a autora principal, Molly Young McPartland. “Os ritmos circadianos são um dos resultados afetados pela via biológica iniciada pelo A1R, mas não o único. Este trabalho realmente demonstra o quanto ainda temos a aprender sobre como exatamente as substâncias químicas do plástico podem afetar nossas células.”
Produtos químicos plásticos podem desequilibrar nosso relógio biológico
Compostos plásticos presentes em tudo, de brinquedos a produtos de higiene pessoal, podem ser prejudiciais à saúde quando contaminados pelo meio ambiente e pelo corpo humano. PVC e PUR estão entre os tipos mais comuns de plástico, encontrados em quase todos os lugares de nossas casas, escolas e escritórios.
Por exemplo:
- O PVC é usado em embalagens de alimentos, como bandejas transparentes, cartelas blister (por exemplo, para goma de mascar) e filmes plásticos retráteis, especialmente para carnes e produtos hortifrutigranjeiros.
- O PUR é normalmente encontrado em embalagens flexíveis multicamadas como um adesivo ou revestimento — como em sachês para lanches e embalagens de alimentos revestidas com papel alumínio — e, às vezes, em inserções de espuma para proteger itens delicados, como chocolates.
O relógio interno de 24 horas do nosso corpo controla o sono, o metabolismo, a função imunológica, o reparo celular e outras funções essenciais. O ritmo circadiano é influenciado por sinais ambientais, como luz solar, temperatura e oxigênio, bem como por sinais internos, como hormônios e metabolismo.
No entanto, quando o ritmo está desequilibrado, isso contribui para o desenvolvimento de sérios problemas de saúde a longo prazo, como diabetes, câncer ou doenças cardíacas.
Parte disso pode ser devido ao fato de que os produtos químicos plásticos são há muito tempo conhecidos por liberar substâncias químicas disruptoras endócrinas (EDCs) — como ftalatos e bisfenóis — que podem interferir nos sistemas hormonais do corpo.
Agora, este estudo destaca um novo impacto potencial que interrompe o tempo de dois genes importantes que ajudam a controlar o relógio interno do corpo.
Os atrasos são menos intensos do que os que ocorrem após o consumo de cafeína ou a exposição à luz antes de dormir, observam os pesquisadores. Muitos fatores também afetam a sensibilidade de um indivíduo aos sinais internos e externos que controlam o relógio biológico.
No entanto, a exposição frequente e prolongada a produtos químicos plásticos — especialmente por meio de embalagens de alimentos — torna o impacto potencial mais preocupante, afirmam os pesquisadores. Quando repetida diariamente e combinada com outras perturbações ambientais, a exposição pode alterar o ritmo de processos corporais essenciais que contribuem para impactos negativos à saúde ao longo do tempo, afirmam.
A cafeína nos desperta, os plásticos fazem o oposto
Para este estudo, os pesquisadores testaram misturas químicas extraídas de poliuretano e cloreto de polivinila em células de laboratório U20S. Essas células são derivadas de uma linhagem celular de câncer ósseo humano (osteossarcoma), frequentemente usada para estudar o funcionamento dos relógios biológicos no nível celular.
O que eles descobriram envolve um tipo de proteína chamada receptor de adenosina A1 (A1R), que é encontrada na superfície das células por todo o corpo, especialmente no cérebro, dizem os pesquisadores.
O A1R tem uma ligação bem estabelecida com o ciclo sono-vigília e utiliza as mesmas vias do corpo que respondem à luz. Em humanos, a cafeína bloqueia o A1R para nos manter acordados — mas os produtos químicos plásticos parecem ativá-lo rapidamente, descobriram os pesquisadores.
Quando o A1R é ativado, ele reduz os níveis de uma molécula que desempenha um papel fundamental no bom funcionamento do relógio circadiano. Isso, por sua vez, atrasa dois “genes do relógio”, essenciais para a manutenção dos ritmos diários do corpo.
O estudo foi realizado in vitro (fora do corpo, em laboratório), portanto, os resultados podem não se aplicar diretamente a humanos. No entanto, os pesquisadores afirmam que as descobertas “fornecem fortes evidências de que os produtos químicos presentes nos plásticos de PUR e PVC interrompem o relógio molecular”, pois os efeitos mudam com a dose e podem ser revertidos.
Os pesquisadores mediram esses “genes do relógio” a cada 4 horas durante dois dias e descobriram que a atividade desses genes foi atrasada em 9 a 17 minutos. Quando bloquearam o A1R com um medicamento, os atrasos desapareceram.
Um apelo por plásticos mais seguros e controlos mais rigorosos
O estudo observa que ainda existem grandes lacunas na compreensão científica de como os produtos químicos plásticos afetam o corpo em nível molecular. Apenas alguns produtos químicos — como acrilamida, tolilfluanida (nt.: molécula que contém os halogênios cloro e flúor que já sabemos que deslocam o iodo da tiroxina materna e assim impedem o desenvolvimento saudável do sistema nervoso do embrião, podendo gerar pessoas com retardo mental: vide ‘Amanhã seremos todos cretinos?‘) e alguns ftalatos (nt.: notório disruptor endócrino e que feminiza os machos), usados para tornar plásticos mais macios e duráveis — demonstraram perturbar os genes do relógio biológico em mamíferos, mas seus mecanismos permanecem obscuros.
Mais estudos são necessários, juntamente com apelos por plásticos mais seguros e regulamentação mais rigorosa de produtos químicos plásticos, dizem os pesquisadores.
“Este estudo se soma ao crescente conjunto de evidências de que os plásticos contêm compostos que causam uma ampla gama de efeitos tóxicos”, afirmam. “Uma mudança fundamental no design e na produção de plásticos é essencial para garantir sua segurança. Reduzir tanto a quantidade quanto os perigos dos produtos químicos presentes nos plásticos pode diminuir as exposições e atenuar seus impactos na saúde pública.”
REFERÊNCIA
McPartland M, Ashcroft F, Wagner M. Plastic chemicals disrupt molecular circadian rhythms via adenosine 1 receptor in vitro. Environment International. 2025;198:109422. doi:10.1016/j.envint.2025.109422
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, abril de 2025