
https://www.thelancet.com/journals/landia/article/PIIS2213-8587(25)00139-1/fulltext
The Lancet Diabetes e Endocrinologia – Editorial
09 mai 2025
[NOTA DO WEBSITE: Tema que já vem sendo tratado, mesmo dentro das Big Foods por alguns de seus técnicos e com o desprezo dos CEOs, desde 1999. Ou seja, há quase trinta anos. Assim, se pode imaginar quantas gerações vêm sendo prejudicadas e que poderiam estar sendo, minimamente, respeitadas se tivéssemos todos ouvido o que os técnicos das próprias corporações da ‘alimentação’ já estavam prevendo que iria acontecer. Agora, com a sociedade literalmente viciada, quase todos os cientistas e sua respeitosas publicações, clamam pelo banimento desta maneira cínica de se dizer que o ultraprocessado/junk food é um alimento].
A classificação NOVA define alimentos ultraprocessados (AUPs) como “formulações de ingredientes, principalmente de uso industrial exclusivo, que resultam de uma série de processos industriais”. Frequentemente ricos em açúcar, sal e gordura (nt.: SEMPRE LEMBRAMOS DE LER NA ÍNTEGRA O ARTIGO DO NYT ‘A Extraordinária Ciência de Viciar em Junk Food QUE ELUCIDA TUDO ISSO DEFINITIVAMENTE); pobres em fibras, proteínas e micronutrientes; e contendo aditivos, emulsificantes, estabilizantes, corantes e adoçantes artificiais, os AUPs geralmente apresentam um perfil nutricional ruim. Fortemente associados a resultados de saúde ruins (aumento do risco de doenças crônicas relacionadas à dieta, como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer), os AUPs raramente saem das notícias. Não mais do que recentemente, dada a promessa de Robert F. Kennedy Junior (Secretário de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) de remover os AUPs de programas federais nos EUA, como o Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP/Supplemental Nutrition Assistance Program), como parte do movimento “Make America Healthy Again”.
Pesquisas recentes sugerem que o consumo de AUPs também pode estar ligado à morte prematura (entre 30 e 69 anos) com base na análise de dados sobre dieta e mortalidade de oito países (Austrália, Brasil –destaque da tradução-, Canadá, Chile, Colômbia, México, Reino Unido e EUA). Cada aumento de 10% na proporção de AUPs na ingestão calórica total aumentou o risco relativo de mortalidade por todas as causas em 3%. Nos países com maior consumo de AUPs (Reino Unido e EUA), onde os AUPs representaram quase 55% da ingestão calórica total, estimou-se que o consumo de AUPs foi responsável por 14% das mortes prematuras em 2018 (correspondendo a 18.000 mortes no Reino Unido e 124.000 mortes nos EUA). Em contraste, na Colômbia, onde os AUPs representaram apenas 15% da ingestão calórica total, estimou-se que o consumo de AUPs foi responsável por apenas 4% das mortes prematuras em 2018 (3.000 mortes). Embora não seja surpreendente, dada a ligação entre AUPs e doenças crônicas, a descoberta de morte precoce relacionada ao consumo de AUPs envia mais um lembrete claro sobre os perigos da (excessiva) dependência de AUPs e dietas nutricionalmente pobres.
O consumo de AUP é uma grande ameaça à saúde pública, afetando países de baixa, média e alta renda, alimentando diretamente as epidemias em curso de doenças crônicas, como obesidade e diabetes tipo 2. Uma forte resposta nacional e internacional aos AUP é necessária na forma de políticas de saúde e alimentação para limitar o consumo e, portanto, sua proporção na ingestão total de calorias. Até o momento, a abordagem mais eficaz para conter o consumo de AUP tem sido por meio de impostos, como o imposto sobre bebidas açucaradas adotado em muitos países, o que resultou em reduções significativas nas compras de bebidas taxadas. A adoção de impostos sobre uma gama mais ampla de produtos AUP é claramente justificada, mas a tributação sem subsídios paralelos para alimentos saudáveis para populações em situação de insegurança alimentar (falta de alternativas disponíveis, acessíveis e mais saudáveis) não beneficiará a todos. Além da tributação, a redução do consumo de AUP só será alcançada por meio da melhoria da rotulagem frontal da embalagem para ajudar os consumidores a identificar os AUP e desencorajar sua compra; fortalecimento das políticas de alimentação escolar para limitar os AUP; bloqueio do marketing agressivo de junk food direcionado a crianças; abordar as disparidades de preços entre alimentos saudáveis e não saudáveis; e combater agressivamente a interferência da indústria alimentícia na formulação de políticas de saúde.
Dado o vasto número de AUPs (com perfis nutricionais amplamente variáveis), a proibição generalizada ou a implementação de um imposto universal não é realista. A quantificação e a classificação dos AUPs devem ser aprimoradas para permitir que as políticas alimentares nacionais visem os mais nocivos. Além disso, mais pesquisas são necessárias para compreender completamente os riscos dos AUPs — ou seja, aqueles introduzidos pelos processos de fabricação, aqueles devidos ao alto teor de açúcar, sal e gordura, e aqueles devidos à presença de aditivos. Ao mesmo tempo, as mensagens de saúde pública sobre os malefícios dos AUPs não devem dar a impressão de que todos os não AUPs são saudáveis. Longe disso, o excesso de qualquer alimento é indesejável; por exemplo, o maior consumo de carne vermelha e aves não processadas está associado a um risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2, embora um risco menor do que o da carne vermelha processada.
Além de questões de acesso, disponibilidade e custo, as escolhas alimentares (e a tomada de decisões saudáveis) são complexas, ditadas por hábitos e normas culturais e religiosas, tendências alimentares, preferências pessoais, paladar, conveniência e restrições de tempo da vida profissional e familiar moderna. Dado o quão incorporados os AUPs se tornaram em nosso sistema alimentar e em nossa vida cotidiana, reduzir o consumo de AUPs não é uma tarefa fácil. No entanto, os benefícios para a saúde são claros e o mantra “alimentação saudável, vida saudável” deve ser um objetivo para todos.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, maio de 2025