Um rebocador de fogo combate as chamas no rio Cuyahoga, perto do centro de Cleveland, em 25 de junho de 1952. Imagens AP

https://time.com/3921976/cuyahoga-fire/

[NOTA DO WEBSITE: pois se passaram entre 4 a 5 décadas e os incêndios não estão sendo nos rios, mas nos oceados. Ainda em junho desse ano de 2021, houve um incêndio no Golfo do México, quase no mesmo estilo, mas mais espetacular, do rio em Cleveland/Ohio, EUA, um dos fatos geradores da cúpula das nações conhecida como Estocolmo/72. E atualmente, o que esse incêndio da Pemex, empresa estatal mexicana, junto com o da British Petroleum/BP, empresa privada inglesa, em abril de 2010 , no mesmo Golfo, nos mobiliza? Sem falar nos derramentos de óleo dramáticos como o do Exxon Valdez, da empresa privada Esso, na costa do Alaska, em mar/89.]

POR JENNIFER LATSON 

Esse foi o desastre que deu início a uma revolução ambiental. No dia 22 de junho de 1969 o rio Cuyahoga pegou fogo em Cleveland quando as faíscas de um trem que passava incendiaram os destroços encharcados de óleo que flutuavam na superfície da água.

Quando a TIME publicou fotos dramáticas do rio em chamas – tão saturado com esgoto e resíduos industriais que “goteja em vez de fluir”, segundo a história – a preocupação explodiu em todo o país. O flamejante Cuyahoga se tornou uma figura de proa para as crescentes questões ambientais da América e desencadeou reformas abrangentes , incluindo a aprovação da Lei da Água Limpa e a criação de agências de proteção ambiental federais e estaduais.

Mas o episódio em si não correspondeu ao seu faturamento. Não foi o primeiro incêndio, nem mesmo o pior, em Cuyahoga, que acendeu pelo menos uma dúzia de outras vezes antes, de acordo com o Washington Post. As erupções no rio eram tão comuns que este incêndio em particular, que foi extinto em meia hora e causou relativamente poucos danos, mal chegou às manchetes dos jornais locais.

E o lixo industrial já estava melhorando na época do incêndio de 1969. Como o Post aponta, “A realidade é que o incêndio de Cuyahoga em 1969 não era um símbolo de como as condições dos rios do país poderiam se tornar ruins, mas de como eles já foram. O incêndio de 1969 não foi a primeira vez que um rio industrial pegou fogo, mas a última.”

Na verdade, as fotos dramáticas da TIME não eram nem mesmo do incêndio de 1969, que foi apagado antes que alguém pensasse em tirar uma foto. Em vez disso, a revista publicou fotos de arquivo de um incêndio muito maior no mesmo rio 17 anos antes, em 1952. Os pontos da história eram válidos, no entanto, e ainda mais chocantes do que a divulgação da foto. Além de Cuyahoga, em que não havia sinais de vida visível – “nem mesmo formas baixas, como sanguessugas e vermes de lama que geralmente crescem em resíduos” – o despejo não regulamentado contaminou quase todos os rios que passavam por uma grande área metropolitana. O Potomac, observou a TIME, deixou Washington “fedendo com os 240 milhões de galões de resíduos que são despejados nele diariamente” enquanto “os frigoríficos de Omaha enchem o rio Missouri com bolas de gordura animal do tamanho de laranjas”.

Embora a Lei da Água Limpa possa não ter evitado mais incêndios em rios, que já estavam em vias de extinção, de acordo com o Post , ela obrigou as cidades a limparem seu ato e sua água de outras maneiras.

Em 1989, o Cuyahoga não era totalmente imaculado – mas era à prova de fogo, de acordo com o New York Times. Alguns sinais de vida reapareceram, incluindo insetos e moluscos. E o comissário de controle da da água de Cleveland afirmou que o Cuyahoga não gotejava mais, mas “muitas vezes brilha [va] e cintila [va]”. Quase como, bem, um rio.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, junho de 2021.

A incrível história de um rio em chamas que se tornou atração ambiental e turística

12/06/2019 , NYT

THE NEW YORK TIMES

[NOTA DO WEBSITE: e os rios, valões, arroios, ribeirões, lagoas, bejos, pântanos, mangues e lagos brasileiros, quando teremos a realidade, junto com a honestidade da elevação social e educacional da população, de ver nossos mananciais hídricos com essa possibilidade de recuperação da vida?]

O Cuyahoga, em Ohio, nos Estados Unidos, pegou fogo devido à imensidão de lixo tóxico. Hoje é símbolo da proteção ecológica

Um equívoco persiste em Cleveland, nos Estados Unidos, que se resume a três palavras: rio em chamas. De 1868 a 1969, o poluído Cuyahoga, que cruza a cidade de leste a oeste, pegou fogo treze vezes. Há 50 anos, uma foto dramática da revista Time mostrava um barquinho de bombeiros corajosos lutando contra uma cortina de labaredas furiosas (a imagem pode ser vista no site da revista).

Não importava que a imagem, na verdade, fosse de 1952; o artigo chocou a nação, e o rio incandescente se tornou assunto nacional e símbolo do desespero do Cinturão da Ferrugem. James Earl Jones chegou a narrar um documentário sobre ele.

Agora em junho faz meio século que o Cuyahoga se incendiou pela última vez. E a revolta com o desastre levou à criação de agências de proteção ambiental estadual e federal, além da aprovação do projeto da Lei da Água Limpa.

Graças a essas salvaguardas e à formação de um núcleo de saneamento regional, a face pública de Cleveland está se redefinindo, a ponto de fazer o turismo crescer. Em 2017, o Destination Cleveland, órgão que cuida da atividade, anunciou um aumento de quase 550 mil visitantes por ano desde 2009.

E há também o exemplo de como um rio que já foi tão tóxico, a ponto de borbulhar e destilar fedor feito um caldeirão, hoje produz vida marinha comestível: a Ohio EPA anunciou em março que os peixes do Cuyahoga, incluindo o peixe-gato e a carpa, são seguros para consumo.

— A população local leva o rio muito a sério, e é por isso que esse aniversário é tão importante para a cidade; afinal, é uma história de sucesso — afirma David Stradling, um dos autores de Where the River Burned: Carl Stokes and the Struggle to Save Cleveland.

Para comemorar a recuperação fluvial, centenas de organizações ambientais e de arte se uniram para a Cuyahoga50, uma série de eventos, exposições, espetáculos e conferências que serão realizados este ano com o objetivo de apresentar o rio aos visitantes ou refamiliarizá-los com ele. Para completar, a organização nacional de defesa e conservação American Rivers nomeou o Cuyahoga como Rio do Ano em abril.

— É realmente a pérola da cidade — orgulha-se Bob Irvin, presidente e CEO da instituição.

Os maiores eventos da Cuyahoga50 usam a arte para refletir sobre o rio – e o maior destaque será revelado só no dia 22 deste mês, quando os pedestres terão um raro acesso ao antigo nível do bonde na Ponte Detroit-Superior, onde a coletiva britânica Squidsoup montará duas imensas instalações de luzes multissensoriais. A mostra é parte da iniciativa Waterways to Waterways da Cleveland Foundation, que reúne artistas locais e internacionais para criar obras que unem o Cuyahoga aos esforços mundiais de limpeza hídrica.

No centro da cidade, compacto e revitalizado, o Cuyahoga serve de cenário para The Flats, bairro residencial e de entretenimento onde a indústria pesada antes gerava o lixo tóxico que fez o rio pegar fogo tantas vezes. Hoje, o que mais se vê por lá são remadores, já que empresas como a Great Lakes Watersports oferecem aluguel de barcos e caiaques. A área também abriga apartamentos novos, um serviço de táxi aquático, um parque de skate e o hotel Aloft, artisticamente pitoresco. Restaurantes populares com belas vistas para a água incluem o Merwin’s Wharf, bar & grill casual administrado pelo sistema Cleveland Metroparks, de 9.300 hectares, e o Collision Bend Brewing Co., uma cervejaria artesanal com vista para os navios imensos carregados de minério de ferro que deslizam nas águas.

Ver atividades recreativas ligadas a um rio que deu início a um movimento ambiental é uma mudança radical para o pessoal da cidade, mas também para quem não é daqui e que já ouviu falar e, de repente, se depara com o Cuyahoga hoje, tipo: ‘Peraí, não era esse o rio que eu tinha em mente’. JIM RIDGE, Fundador do Share the River

The Flats também é um bom ponto de partida para um passeio, caminhada ou pedalada ao longo da Towpath Trail, uma trilha de pouco menos de 140 quilômetros meticulosamente restaurada que segue a rota do Canal Ohio & Erie. Ela serpenteia por áreas residenciais, industriais e florestais de Cleveland e vai até o Condado de Tuscarawas, 112 quilômetros ao sul. As paisagens mais bonitas ao longo do caminho incluem cachoeiras, pontes cobertas e outros pontos do Parque Nacional do Vale do Cuyahoga, que se estende a 35 quilômetros do rio, entre Cleveland e Akron, perfeitos para aquela selfie esperta.

Vale a pena começar no bairro de Tremont, no mirante de frente para o Sokolowski’s University Inn, onde o pessoal local degusta o pierogi amanteigado há mais de 92 anos. Prefere que outra pessoa assuma o comando? A Cuyahoga Valley Scenic Railroad corre paralela à Trilha Towpath e ao Cuyahoga, e oferece excursões o ano todo.

Os moradores de Cleveland falam do rio incandescente com bom humor; bares, restaurantes e outras casas exploram seu passado inflamável. Um exemplo? A popular Burning River Pale Ale da Great Lakes Brewing Co., que tem um pub no badalado bairro de Ohio City. Nos dias 21 e 22 de junho, a cerveja estará à venda no Great Lakes Burning River Fest, festival de música e cerveja artesanal que será realizado na estação histórica da Guarda Costeira de Whiskey Island, na foz do Cuyahoga.

Para Jim Ridge, fundador do Share the River, grupo sem fins lucrativos que trabalha pela conscientização sobre a orla de Cleveland, o Cuyahoga conseguiu algo que poucos consideravam possível há algumas décadas: tornou-se um destino.

— Ver atividades recreativas ligadas a um rio que deu início a um movimento ambiental é uma mudança radical para o pessoal da cidade, mas também para quem não é daqui e que já ouviu falar e, de repente, se depara com o Cuyahoga hoje, tipo: ‘Peraí, não era esse o rio que eu tinha em mente’ — comemora ele.

Por Erik Piepenburg

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, julho de 2021.