Transmitido pela rede de tevê alemã, WDR/Westdeutsher Radunfuk/Colônia/Alemanha, em 02.11.2015.
Nota do website: COMO O TEMA É POR DEMAIS IMPORTANTE, tivemos a gentileza e a militância do professor paraense de alemão, morador em São Paulo – NATAL MENEZES -, que, com a cooperação de amigos alemães, de nos disponibilizar a tradução abaixo – DAS LEGENDAS ORIGINAIS EM ALEMÃO – para o português.
Com gratidão, abaixo transcrevemos o trabalho que eles fizeram para que nós, aqui no Brasil, pudéssemos ter o conteúdo sempre disponível, não com uma tradução mecânica, nem sempre correta ou clara, mas feita pelo professor de alemão e seus amigos. Abaixo a transcrição das legendas da versão da tevê alemã WDR. Fizemos isso, com estas informações em legendas de acordo em português, para mostrarmos o porquê de darmos tanto destaque para sabermos que veneno é este. Assim, vá com calma, saboreando, apreciando, se apropriando e se conscientizando de que este veneno que se está sendo usando em todos os lugares como se fosse ‘água com mel’, na verdade vem causando todos os prejuízos que se vê lá nos países do 1º Mundo, imagina-se aqui! Assim, ao saber tudo sobre este crime corporativo das transnacionais e das estruturas pérfidas de governo, seja alemãs ou brasileiras, possa tomar decisões sobre estes temas, agora sim, porque sabe! Deixará de ser ‘vaquinha de presépio’ e poderá lutar, como nós, e muitos cidadãos e cientistas do mundo, contra esta visão de mundo que permite que esta molécula – GLIFOSATO – além de outras, esteja – IMPUNEMENTE – destruindo a saúde tanto da humanidade como de todos os seres vivos planetários!
„Gift im Acker: Glyphosat – die unterschätzte Gefahr? “
OU
POISONED FIELDS – GLYPHOSATE, UNDERRATED RISK?
„Campos envenenados: glifosato – perigo subestimado?“
Glifosato
É o mata mato de maior sucesso no mundo.
Em 1964 foi patenteado como um produto químico para limpeza de engrenagens. Cinco anos depois a corporação agroquímica norte americana Monsanto apresenta como sendo um produto patenteado que matava plantas.
Desde então, há mais de 40 anos, é o princípio ativo tóxico presente na maioria dos herbicidas que elimina somente vegetais tipo ervas daninhas, como diz a corporação.
“Nenhuma substância foi tão bem estudada no mundo em áreas para a proteção das plantas como este princípio ativo. É assim que são as coisas, é claro, por ser bastante eficaz tanto em relação às propriedades ambientais como na proteção do consumidor tendo em mente a toxicologia. Então se pode afirmar que ele é tão bom que chega a ser divertido”. Executivo da Monsanto, Alemanha.
[ NOTA DO WEBSITE: Estão à disposição no Youtube, como mencionado acima, duas versões do documentário. Uma com fala em alemão e outra dublada para o inglês. Na versão alemã, é possível como citado acima, conseguir-se a tradução mecânica das legendas para o português, já na versão em inglês não. Assim, procuramos trazer, pelo menos, algumas das diferenças entre as duas para conhecimento dos leitores.
Assim, na versão com legendas em inglês, o documentário continua com estas manifestações:
“Não se pode mais deixar de usar herbicidas na agricultura, como o glifosato, e voltar a outros tempos e eliminar as ervas daninhas com as mãos. É impossível se fazer isso neste momento, tanto a nível de agricultores como de trabalhadores e isso elevaria os custos dos alimentos a um nível que as pessoas não teriam condições de buscá-los.”
E assim elogia o representante da indústria pelo uso do produto há tantos anos, comercializado com sucesso. As indústrias agroquímicas e as associações de produtores estão inquietos com relação ao glifosato e dizem que este produto só atinge as plantas e não os seres humanos e os animais.
No entanto, para os cientistas críticos deste produto, a história é bem diferente.
“Há um efeito negativo sobre os genes. Eu provei isso ‘in vivo’, usando ‘Roundup’.” Dr. Gilles-Eric Séralini, Universidade de Caen, Normandia, França.
“O químico é seguro, forçam certos cientistas em todos os níveis.” Prof.Dr. Chris Portier, IARC/WHO, Ex-Diretor Do Escritório de Avaliação de Risco dos EUA. ]
[ NOTA DO WEBSITE: A versão com legendas alemãs, passa para esta situação: ]
E assim elogia o representante da indústria pelo uso do produto há tantos anos, comercializado com sucesso.
No entanto, para os cientistas críticos deste produto, dentro da Comunidade Europeia, isso parece ser muito diferente.
“Para mim, para minha filosofia a presença química é a mínima possível. Para mim os alimentos devem ser sem esta parafernália, de toxinas e agrotóxicos. Desta forma, não preciso me preocupar com isso. Todo o problema só veio quando começamos com outra visão, e ainda afirmamos que deveríamos substituir as relações ecológicas por produtos químicos já que destruímos a agricultura através destas formas atuais de produção.” Dra. Angelika Hilbeck, ENSSER.
Todos os anos mais de 5 milhões de litros são aspergidos pelas lavouras, gramados e jardins na Alemanha. Seria esta substância assim tão inofensiva? E quem decide isso? Qual a independência dos estudos científicos e qual o papel das experiências que vivem agricultores e pecuaristas?
CAMPOS ENVENENADOS: GLIFOSATO, RISCOS SUBAVALIADOS?
Em 2000 a Alemanha considerou os perigos do glifosato pela primeira vez, dentro Comunidade Europeia.
2015 isso volta a acontecer de novo.
O Instituto Federal de Avaliação de Riscos (em alemão BfR/Bundesinstitut für Risikobewertung), sediando em Berlim, é o setor responsável por esta avaliação. Seu trabalho é determinar se o glifosato representa um risco para os consumidores e se pode ser ainda utilizado.
Roland Solecki e sua equipe examinaram mais de 1.000 estudos. A primeira avaliação, em 2000, estava sob a responsabilidade do BfR. A equipe de Solecki examinou tanto estudos originários das corporações agroquímicas como independentes, quanto à sua aplicabilidade e cientificidade. Excepcionalmente, o Instituto realiza raros estudos próprios.
“A nossa ampla análise do glifosato demonstrou que ele provoca forte irritação nos olhos – e quanto a isso são feitas advertências – e verificamos também que seu uso como herbicida não representa risco de causar câncer ou que tenha efeito tóxico sobre o sistema reprodutivo (nt.: em alemão, agrotóxico é definido como ‘substância que protege as plantas’. Mesma tentativa no Brasil de chamá-los de ‘defensivos agrícolas’. O mesmo proselitismo da indústria química assumido pelos burocratas governamentais, os defensores do agronegócio, a mídia comprometida e todos os desavisados pelo bilionário investimento das transnacionais agroquímicas de tentarem tergiversar e enganar os consumidores, buscando gerar outra percepção sobre aquilo que é veneno, que mata seres vivos, incluindo os seres humanos). Não tem efeitos neurotóxicos ou imunotóxicos e nem efeitos sobre o sistema endócrino (nt.: aqui o burocrata quer afirmar de que ele não é um disruptor endócrino, será que sabe o quê é isso? Se sabe, pode estar sendo conivente com o crime corporativo da Monsanto. Caso contrário, não poderia estar num posto tão importante para a defesa pública da saúde dos alemães, a não ser que está ali para defender os interesses corporativos) quando utilizado conforme as normas (nt.: novamente o burocrata transfere a responsabilidade para o agricultor caso ajam efeitos nefastos. Os célebres: ‘uso adequado’ e ‘uso indiscriminado’. Nunca é a molécula ou o produto comercial. Assim, as indústrias não são responsáveis pelos envenenamentos. E então vem a pergunta: qual foi mesmo o agricultor que fez este ‘uso’ fora das normas?? Ou seja, como responsabilizar o envenenamento público? Esta foi a saída para afastar a identificação da contaminação gerada pela substância da corporação!) Isso, naturalmente, de acordo com nossa análise de estudos amplos e detalhados.” Roland Solecki, diretor do Departamento de Segurança dos Agrotóxicos/BfR.
São, aproximadamente, setenta mil páginas; a maior parte escrita pela própria indústria.
Dra. Angelika Hilbeck, da rede de cientistas ENSSER/European Network of Scientists for Social and Environmental Responsibility, expressa seu ceticismo.
“Nenhuma agência tem de avaliar dados brutos, não é o papel deles e nem têm como fazer isso, senão não fariam nada além de analisar estes dados. Elas examinam os estudos, do jeito que os recebem. Nós também os examinamos, verificamos os dossiês, eu mesma faço isso regularmente. Não há dados brutos neles, o que há são informações pré-processadas, internas, de relatórios, dados, tais como a Monsanto os fornece. Ou seja, valores médio e dependendo se tivermos sorte, virão com ou sem estatísticas.” Dra. Angelika Hilbeck, ENSSER.
Em outubro de 2015 deveria ter sido concluída a fase de testes. No entanto, em meio ao processo de reavaliação da concessão de autorização de seu uso, a informação de especialistas em câncer da OMS, sobre o glifosato, estourou (nt.: foi em março deste ano de 2015 que o International Agency for Research on Cancer-IARC/OMS, fez esta declaração). Ele passa a ser considerado como sendo ‘provavelmente cancerígeno para humanos” (nt.: por que deve ser dito ‘provavelmente’ e não ‘efetivamente’? Porque para se afirmar efetivamente, representaria que teria havido experimentos com seres humanos. E como não há isto, por uma questão ética, a conclusão vem das pesquisas usuais em animais, por isso constar então ‘provavelmente’).
Conforme relatou à Comissão de Agricultura do Parlamento Alemão em setembro (nt.: de 2015, data deste documentário), Chris Portier, consultor da OMS junto ao IARC (nt.: Agência Internacional de Pesquisa do Câncer/OMS) e ex-diretor do National Institute of Environmental Health Sciences/NIEHS/NIH (nt.: Instituto de Ciência de Saúde Ambiental, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA).
Nunca duas agências reguladoras de saúde haviam entrado em contradição, de forma tão direta.
“O Instituto Alemão de Avaliação de Risco (BfR) não levou em consideração o estudo epidemiológico existente. Caso contrário, teriam notado que a diferença entre os efeitos negativos do uso pelos produtores rurais, com o uso profissional que é muito menor. Além disso, nosso grupo da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC/WHO) constatou uma correlação dos casos de câncer com danos no material genético. O processo para avaliação de risco de câncer deveria de ter sido completamente diferente, porque para o BfR, todos os testes com animais foram negativos para o câncer. É tão difícil avaliar a ‘análise de câncer’ porque não era uma análise de risco de câncer.” Prof.Dr. Chris Portier, IARC/WHO, Ex-Diretor Do Escritório de Avaliação de Risco dos EUA.
Para os representantes da Monsanto e da Syngenta que estavam presentes, trata-se do futuro de um mercado de bilhões de dólares na Europa.
“Não há necessidade de pânico. O glifosato é seguro. Existe há quarenta anos e vem sendo avaliado por autoridades de todo o mundo. Acreditamos portanto, firmemente, que apesar desta reavaliação da classificação ter sido feita pelo IARC, ainda poderá ser alterada.” Dr. Thoralf Küchler, Grupo de trabalho sobre o glifosato, Monsanto/Alemanha.
Nas planícies de Magdeburgo (Magdeburber Börde, Alemanha), Peter Gottschalk administra uma moderna empresa familiar, sobre uma área de aproximadamente 3.500 hectares, e com 34 funcionários. Para a empresa, a agricultura sustentável é de alta prioridade.
Para não ter que lavrar o solo repetidamente, há vinte anos Peter vem utilizando herbicidas como o glifosato. Dessa forma, a vegetação morta impede a erosão pluvial e eólica do solo.
“Se fôssemos fazer uma outra lavoura agora, este material teria se transformado numa camada protetora, ainda mais ao ser incorporado dando ao processo de degradação da matéria orgânica da palha um impulso e evitaríamos a erosão. Por isso aplicamos glifosato. Ele mata toda a camada mais superficial da vegetação rasteira. Inclusive estas que germinaram aqui e são da cultura anterior.” Peter Gottschalk, AgriCo Lindauer Naturprodukte AG, Alemanha.
Através da aplicação de herbicida antes da semeadura, protege-se o solo de todas ervas indesejáveis e doentes, o que, de outra maneira, só seria possível através do custoso processo da lavração. Esta é a técnica agrícola chamada de ‘plantio direto’, protegendo o solo da erosão, economizando tempo, diesel e custos de maquinário (nt.: técnica também bastante empregada no Brasil quando se mata plantios prévios como aveia, por exemplo, na entressafra, para esta finalidade, impedindo ervas indesejadas e dando estrutura ao solo). Para Gottschalk, a ideia é obter as vantagens de seu uso, ao mesmo tempo em que se aplica o mínimo possível de glifosato, o que se consegue com o auxílio da computação.
“Podemos observar aqui no monitor que a mistura de água com glifosato que utilizamos, está em dois litros e meio por hectare, que é a metade da quantidade recomendada.” Peter Gottschalk, AgriCo Lindauer Naturprodukte AG, Alemanha.
Até 2014, aspergia-se as culturas pouco antes da colheita – a finalidade era reduzir os custos de secagem (nt.: esta prática agrícola, chamada de dessecação, ainda é recomendada no Brasil pelas áreas técnicas de pesquisa, a ser feita algum tempo antes de colher, para vários tipos de grãos secos, incluindo feijão, trigo, aveia, soja e outros. Homogenizam todos os grãos por estarem todas as plantas mortas e secas, ao mesmo tempo, facilitando a colheita mecânica e a secagem. Importante frisar: em grandes monoculturas do agronegócio ). Conforme se pôde verificar, resíduos de glifosato acabavam nos alimentos. Tal prática foi restringida na Alemanha, mas não em outros países da União Europeia.
“Tenho que ponderar o quão prejudicial é seu uso. É um uso para beneficiar o produtor. Eu já vejo que o uso do glifosato se a aplicação for cuidadosa, como por exemplo fazemos aqui, realmente faz sentido. É um meio muito experimentado e testado onde o dano relativo, se é que se falar dele, é extremamente pequeno.” Peter Gottschalk, AgriCo Lindauer Naturprodukte AG, Alemanha.
Sozinha a Alemanha aplica glifosato em cerca de 35 % de todas as terras agrícolas.
Ele é realmente tão inofensivo, sem efeitos a longo prazo, como se presume?
Universidade de Ciências Agrárias de Hohenheim, Sttutgart. O fisiologista vegetal Günter Neumann está com problemas nas raízes e em sua absorção de nutrientes. Há mais de vinte anos especializou-se nesta área. Sua pesquisa está relacionada às interações do crescimento do sistema radicular, tanto em laboratório como em trabalho de campo.
“Sim, aqui podemos ver as radicelas, densamente cobertas por pilosidades ainda menores, responsáveis por absorverem nutrientes do solo, para fazerem este processo com a máxima eficiência possível.” Prof. Dr. Günter Neumann, Instituto de Plantas Cultivadas, Universidade de Hohenheim, Sttutgart/Alemanha.
Ele foi convocado pelo setor agrícola da cidade de Tübingen, cidade próxima à Universidade. Aí acontecem danos misteriosos nos campos dos agricultores locais. Qual seria a causa?
Pela vista aérea, vê-se o problema de forma particularmente contundente: as faixas com verdes mais escuro, receberam aplicações de glifosato por dois anos. Já as com o verde desmaiado, por onze anos. O mesmo fenômeno se manifesta em outras cinco lavouras da região.
“No mesmo campo, nas áreas cultivadas há muito tempo, foram encontradas raízes com crescimento muito prejudicado, muito menos radicelas, e raízes finas. E se evidencia pelo crescimento da planta acima do solo. Um problema foi constatado, pela análise comparativa de resíduos remanescentes nessas terras, conduzida através de financiamento público municipal (nt.: da cidade de Tübingen), para detecção de glifosato, outros herbicidas e agrotóxicos. No caso do glifosato, os bancos de dados indicaram sempre as maiores concentrações de resíduos, nas áreas de cultivo mais antigas. Em alguns casos, tão altas, que mesmo após seis meses da aplicação, apresentavam quantidades de resíduos que se esperaria encontrar logo após o uso, enquanto que, a apenas uns dois metros ao lado dali, os resíduos, mesmo após aplicações recentes, estavam abaixo do nível de detecção.” Prof. Dr. Günter Neumann, Instituto de Plantas Cultivadas, Universidade de Hohenheim, Sttutgart/Alemanha.
Se as áreas doentes e sadias não estivessem em contato direto, lado a lado umas das outras, o aumento de doenças e a queda de fertilidade do solo não teria chamado a atenção de forma alguma, pois tal queda só se torna perceptível ao longo de bastante tempo. Primeiramente, os agricultores procuraram obter um melhor retorno financeiro por meio de maiores quantidades de fertilizante, mas não ajudou. Um agricultor prejudicado, que não quer ser identificado, recebeu uma ligação anônima, com uma ameaça: ele não deveria falar diante de câmeras de televisão nada que depreciasse o glifosato.
“Voz modificada do agricultor que foi ameaçado: O que constatei, desde que comecei a utilizar o glifosato foi que uma virose se alastrou muito severamente; de modo extremo em anos mais secos, até a perda total de algumas safras. Fiquei sem colher absolutamente nada. E teve anos em que trilhei apenas 50% da colheita, o mesmo que no ano anterior.”
“Porém, curiosamente, isso se deu particularmente nestas faixas de lavoura, que receberam aplicação por mais tempo, e não naquelas que vinham recebendo por apenas dois, três anos.” Prof. Dr. Günter Neumann, Instituto de Plantas Cultivadas, Universidade de Hohenheim, Sttutgart/Alemanha.
O professor de fisiologia vegetal constatou mais um efeito, até agora despercebido, nas plantas.
“Claro que com os novos métodos de alcance biomolecular pode-se examinar mais detalhadamente quais genes se acham “desregulados”, e verificou-se que há, sem nenhuma dúvida, distúrbios nos padrões hormonais das plantas. Fora isso, notam-se também distúrbios em processos fisiológicos relacionados à defesa contra o estresse, estando os processos claramente desregulados nas plantas afetadas. Também havia genes desregulados, em menor atividade do que o normal, entre aqueles que são responsáveis pela absorção de água, que também tem papel importante no desenvolvimento das radicelas.” Prof. Dr. Günter Neumann, Instituto de Plantas Cultivadas, Universidade de Hohenheim, Sttutgart/Alemanha.
A versão oficial da indústria é: o glifosato inibe somente uma única enzima. Este é o efeito desejado, que faz com que a planta morra (nt.: sim, este é o processo. O glifosato gera um distúrbio numa via metabólica que só acontece em vegetais, e esta via chama-se shikimato. É uma rota metabólica usada por bactérias, fungos, algas, parasitas e plantas para a biossíntese de aminoácidos aromáticos. Ou seja, elimina esta via em todos os vegetais! Assim, a pergunta poderia ser: não estaria o veneno atacando todos os vegetais do solo, incluindo aqueles que se precisa para a harmonia ecológica para decompor as plantas mortas para a sustentabilidade e o ‘plantio direto’ mencionados acima pelo grande proprietário alemão?).
Entretanto, Günter Neumann provou que o glifosato e seus metabólitos ou produtos de decomposição (nt.: o mais conhecido é o AMPA/ácido aminometilfosfônico) também alteram genes imprescindíveis para o crescimento da raiz, a absorção de água e resistência (nt.: ou seja, vai além do dogma industrial de que só afetaria um aspecto dos vegetais, a via metabólica shikimato). Em laboratório, os pesquisadores descartam possíveis fatores que possam causar distúrbios nas pesquisas, mas o panorama permanece o mesmo.
“Aqui se vê, muito lindo, o sistema saudável de uma raiz de trigo, com muitas dessas ramificações mais delicadas, que vimos antes em separado. Já este exemplar da mesma espécie, é de uma planta afetada. É possível ver, muito claramente, que há muito, muito, mas muito menos destas raízes finas.” Prof. Dr. Günter Neumann, Instituto de Plantas Cultivadas, Universidade de Hohenheim, Sttutgart/Alemanha.
Isso significa que as plantas absorvem menos água. Apesar disso, os fabricantes continuam anunciando que o glifosato ajuda a tornar as lavouras férteis por mais tempo, de modo sustentável, mesmo em regiões secas.
Dois anos após a publicação dos dados de Hohenheim, o presidente da Associação dos Agricultores Alemães posiciona-se sobre o tema glifosato: nunca ouviu falar desse estudo e dos seus resultados.
“Até agora, não há evidências científicas de que o glifosato cause danos à fertilidade do solo. E, na Alemanha, aplicamos glifosato apenas em partes específicas do campo, em pequenas quantidades.” Joachim Rukwied, Presidente da Associação Alemã de Agricultores.
Rukwied representa, através da Associação de Agricultores, 300 mil produtores rurais alemães. Ao mesmo tempo, é presidente da associação lobista chamada ‘Fórum para Agricultura Moderna’, onde ele também representa fabricantes de agrotóxicos, tipo glifosato, como Syngenta, Monsanto, BASF, Dow Chemicals, DuPont, Bayer e outros.
Dinamarca, cidade de Aarhus. Nas suas imediações, Ib Petersen comanda um moderno complexo de cria e engorda de suínos com quatro mil animais. No início de 2011, ocorreu ao produtor a desconfiança dos porcos estarem adoecendo por causa da ração. Como criador de suínos, ele acompanha meticulosamente a saúde e a fertilidade de seu rebanho. Em uma empresa de criação de suínos, cada porca que não produz filhotes representa um encargo econômico. Normalmente, elas geram ninhadas de cerca de quinze filhotes. No entanto, suas porcas vinham parindo cada vez menos, ao passo em que aumentava a quantidade de abortos e filhotes natimortos.
“Eis aqui um filhote parido ontem. É deformado, tem uma cabeça de elefante. O crânio não se desenvolveu normalmente, permaneceu com esta abertura. Ainda bem que nasceu morto. Vemos mais como este, quando a ração tem níveis mais elevados de glifosato. Vou lhe mostrar. Em casa, tenho mais um freezer inteiro, cheio deles. Este é um porquinho hermafrodita, com testículos e vagina. Por aqui, algo está dando muito errado. Eu sei que, na Dinamarca já nasceram catorze crianças com deformações deste tipo, duas delas com aberturas externas como esta na região da coluna vertebral. Eles realmente me comovem. Porque isso não pára por aqui. Já estamos vendo acontecer em humanos.” Ib Petersen, Pecuarista em Aarhus, Dinamarca.
Então haveria efeitos colaterais em mamíferos? Petersen vem recebendo apoio científico. De acordo com suas observações, quanto maior a concentração de resíduos de glifosato na ração, maior é a ocorrência de abortos.
“Nós contabilizamos quantos porcos nasceram com deformações: com 1,3 mg de glifosato por quilo de ração, deu uma ocorrência a cada 529 filhotes; com 2,6 mg fomos a uma a cada 240. Isso resulta numa linha reta, como que traçada com uma régua. Quanto maior a dose, maior a ocorrência de deformações.” Ib Petersen, Pecuarista de Aarhus, Dinamarca.
Após substituição por ração livre de glifosato, os problemas diminuíram. Para comprovar se havia mesmo correlação entre as deformações e o tipo de ração, ele então reintroduziu agora contendo glifosato.
“Esta soja tem doses mais elevadas de glifosato. Não dá para ver, mas se forem feitos análises, mostrará que contém altos índices de resíduos.” Ib Petersen, Pecuarista de Aarhus, Dinamarca.
Talvez seja exagero, mas seus porcos também parecem gostar menos da ração; eles que, normalmente, são tão comilões.
De imediato, os animais voltam a ter diarreia com mais freqüência, precisando utilizar mais antibióticos.
“Isto aqui é um tipo específico de diarreia. Não tem esse aspecto quando consomem ração que não contém glifosato (nt.: abaixo cientista traz esta ação afetando a flora intestinal dos animais).” Ib Petersen, Pecuarista de Aarhus, Dinamarca.
Pesquisadores da Universidade Dinamarquesa de Ciências Agrárias em Aarhus também expressam preocupação com as grandes quantidades presentes na ração, enquanto na Alemanha são classificadas pelas agências como inofensivas.
Martin Tang Sorensen foi incumbido, pelo governo dinamarquês, de fazer uma leitura crítica do relatório do BfR (nt.: Instituto Alemão de Avaliação de Risco).
“Eles escrevem que glifosato na ração não significa problema algum. Nós acreditamos que a concentração é sim preocupante, já que o glifosato afeta bactérias (nt.: importante se levar em conta a questão do microbioma de todos os seres vivos).” Martin Tag Sorensen, Instituto da Ciência da Nutrição Animal, Universidade de Aarhrus, Dinamarca.
Sorensen também se refere aos casos de diarreia, mostra como um efeito colateral omitido. O glifosato interfere na ação das bactérias úteis no interior dos intestinos dos mamíferos.
“Esta patente sobre o efeito em bactérias é inclusive pública. Qualquer um pode consultá-la no Google. O glifosato prejudica principalmente as bactérias úteis do trato intestinal, enquanto que as causadoras de doenças são mais resistentes a ele. De modo que o equilíbrio bacteriano é modificado em favor das bactérias patogênicas, em detrimento daquelas que são úteis.” Martin Tag Sorensen, Instituto da Ciência da Nutrição Animal, Universidade de Aarhrus, Dinamarca.
Nenhuma resposta é dada às suas considerações, encaminhadas oficialmente.
Embora patenteado como antibiótico, nunca foi aprovado clinicamente. Ele mata principalmente as bactérias úteis, ao passo que as prejudiciais multiplicam-se.
Estas descobertas influenciam os procedimentos de avaliação na Alemanha?
“Finalmente chegamos à conclusão de que todas estas descobertas com base no nosso conhecimento atual de que o glifosato não apresenta nem potencial de toxicidade ao sistema natural de desenvolvimento nem atua com danos sobre o sistema endócrino. Isso também não é refutado pelos resultados isolados de um agricultor na Dinamarca, que conduz um criadouro de alta produtividade, nem os métodos de comprovação de glifosato em seus porcos atendem a parâmetros fidedignos de análise. Não há nenhum tipo de comparação com suínos que não foram alimentados com glifosato, ou considerações de outros fatores, como ação viral, ou até a própria soja que, afinal de contas, contém fitoestrógeno (nt.: conhecido como isoflavona), não foram satisfatoriamente levados em conta nestas avaliações.” Roland Solecki, Diretor do BfR.
Seria mesmo o criador dinamarquês um misterioso “caso isolado”, como fazem parecer?
Centenas de produtores de leite constatam fenômenos semelhantes.
Seriam também casos infelizes que não são acompanhados pelas autoridades?
“Vamos ‘muckele’, vamos ‘muckele’!” Johannes Peter, pecuarista de leite, Allgäu, Baviera.
Johannes Peter conduz, junto com sua família, na idílica região alpina alemã de Allgäu, um laticínio para produção de um queijo típico desta região, com noventa animais.
“Os animais estão bem saudáveis; à primeira vista, não dá para perceber nada de errado com eles. Porém, posteriormente, vacas adultas apresentam problemas de fertilidade, que ameaçam a nós e, claro, também a elas próprias. Já que ao não engravidarem, estão fora do ciclo de produção de leite e por isso levadas ao abate.” Johannes Peter, pecuarista de leite, Allgäu, Baviera.
As vacas recebem principalmente feno natural e pastagem verde. Nada mudou nesta fazenda por gerações.
“Tivemos de inseminar muitas vacas por quatro, cinco, seis vezes, até que a inseminação fosse bem-sucedida, e podemos dizer com certeza que não tivemos nenhum acompanhamento veterinário que fosse fora das normas: tratamento hormonal… que mais?… tratamento de cistos, acompanhamento de novas tentativas de inseminação, vacinas, tudo isso levou a resultados pífios.” Johannes Peter, pecuarista de leite, Allgäu, Baviera.
Doenças foram excluídas como eventual causa, no entanto o criador precisava fornecer aos animais concentrados e rações com soja e grãos importados de outros países.
“Pastagem misturada com concentrados com soja e outros grãos, que utilizamos muito, é impossível se comprar livre de glifosato. Será seguro ver com os diferentes produtores relacionados se eles têm componentes livres ou não de glifosato. Só que ninguém quer comprovar estes fatos, ninguém quer atestar que tem um concentrado livre.” Johannes Peter, pecuarista de leite, Allgäu, Baviera.
Assim, em vez de comprar concentrados pré-misturados, Peter agora compra os componentes da sua ração, produzidos pelos vizinhos.
Após dezoito meses, obteve um resultado que nem ele mesmo esperava.
“No que diz respeito às nossas estatísticas, obtivemos uma excelente experiência com as rações livres ou praticamente livres de glifosato. As taxas de reprodução dobraram. Antes, há um ano e meio, estávamos em 30% de prenhez, agora estamos com cerca de 60%.” Johannes Peter, pecuarista de leite, Allgäu, Baviera.
E assim, o glifosato trafega através da cadeia alimentar, e acaba chegando, no final, às pessoas.
Roterdã, Holanda. Este é o porto que atua como o portal europeu por onde chega a soja de além-mar. Quão confiável é a testagem de resíduos feita em mais de trinta milhões de toneladas por ano?
Solicitamos entrevistas com a autoridade portuária e com o principal importador dos EUA, a ADM, mas sempre recusadas.
Uma rede de especialistas em agrotóxicos conduz investigações por iniciativa própria. No Parlamento de Bruxelas, realiza-se uma audiência pública para tratar de herbicidas que gerem perturbações hormonais.
O holandês Hans Muilerman vem rastreando há anos as rotas dos herbicidas.
“Interpelei as agências nacionais da Holanda a respeito deste mar de soja que chega a Roterdã. Eles me explicaram que os testes davam resultados onde as concentrações de resíduos sempre estavam bem abaixo das quantidades estabelecidas por lei. Assim, haviam feito, nos últimos anos, apenas duas amostras. Então, esta concentração estabelecida na lei é tão alta, que eles não vêem motivos pra realizar mais testes. O que significa que, no futuro, toda soja que chegar em Roterdã, simplesmente não será mais testada.” Hans Muilerman, Rede Europeia de Ação Contra Pesticidas (nt.: PAN/Pesticide Action Network Europe).
Milhares de toneladas de soja tratadas com glifosato, chegam aqui diariamente. Uma grande parte é processada aí mesmo, imediatamente, tanto como grão na forma granular como transformada em óleo de soja. A partir daí será impossível identificá-las e tipificá-la.
Na Universidade de Caen, na Normandia/França, o biólogo molecular constatou, em laboratório, a presença de tumores perceptíveis em ratos. Como ex-especialista da Agência Francesa de Avaliação de Risco, chamou-lhe a atenção o fato de que os testes com ratos feitos pela indústria química internacional levavam apenas três meses. Isso seria curto demais para o reconhecimento de doenças crônicas. Ele deu início a um experimento: observou ratos por mais de vinte e quatro meses, enquanto os racionava com peletes de milho cultivado com o herbicida ‘Roundup‘ (nt.: marca comercial do herbicida com glifosato da transnacional Monsanto). A quantidade de glifosato presente na ração está em dose abaixo da máxima comparável à permitida para seres humanos. Após quatro meses, desenvolvem-se tumores nas fêmeas. E eles crescem cada vez mais. Depois de dois anos, são cinco vezes maiores. Mesmo para animais de laboratório, suscetíveis a câncer, trata-se de um crescimento extraordinariamente significativo.
“O que aconteceu foi que os tumores tornaram-se hemorrágicos e pressionaram órgãos vitais. Por fim, a causa da morte foi o tamanho dos tumores. Posteriormente, constatamos danos no fígado e rins, distúrbios nos hormônios sexuais e na glândula pituitária, assim como todos os outros problemas que surgem com estas substâncias tóxicas.” Gilles-Eric Seralini, Biólogo Molecular, Universidade de Caen, Normandia/França.
O início da formação gradual dos tumores não foi perceptível nos estudos da indústria de três meses. As descobertas desencadearam uma guerra de farpas tanto com a indústria como com o Instituto Alemão de Avaliação de Risco (BfR) acusando-o de proceder de modo anti-científico e de utilizar espécies inadequadas de ratos.
“O problema do estudo de longo prazo de Seralini é que ele utilizou grupos de apenas dez animais para cada dose, além de serem de uma espécie que já apresenta espontaneamente uma alta sensibilidade a tumores. A estatística se mostrou insuficiente e os dados de cada caso não estavam documentados.” Roland Solecki, Diretor do BfR.
Na época, tais acusações saíram em todos os jornais e houve tentativas de aniquilar com sua reputação. No entanto, Seralini nunca procurou detectar especificamente câncer, estava interessado nos efeitos a longo prazo. Ele continuou a utilizar a mesma espécie de ratos utilizados pela corporação Monsanto (nt.: dona da patente do ‘Roundup’=glifosato) e manteve a configuração do experimento da empresa.
“É preciso entender que nosso objetivo nunca foi uma pesquisa formal pra detectar câncer; o que investigamos foram alimentos geneticamente manipulados contendo resíduos de glifosato, aliás, do jeito que eles estão, de fato, disponíveis no mercado. Para tais pesquisas de toxicidade, o monitoramento de todos os órgãos e parâmetros de toxicidade estabelece o uso de dez ratos por grupo, exatamente como fizemos, em conformidade com todas as normas internacionais relacionadas ao tema.” Gilles-Eric Seralini, Biólogo Molecular, Universidade de Caen, Normandia/França.
Enquanto isso, mesmo as conclusões do Instituto Alemão de Avaliação de Risco (BfR), baseadas majoritariamente em estudos da própria indústria, passam a ser alvo de ataque.
“A avaliação da segurança dos agrotóxicos, em todo o mundo, não segue um procedimento transparente. Uma revisão científica independente não pode ocorrer, a não ser que todos os detalhes até de pesquisas críticas estejam disponíveis para o público. Os procedimentos e dados, da mesma forma, não estão acessíveis, senão apenas para o BfR. Ou são criptografados e difíceis de interpretar.” Prof.Dr. Chris Portier, IARC/WHO, Ex-Diretor Do Escritório de Avaliação de Risco dos EUA.
Os especialistas da OMS agora vêem sérias deficiência no Instituto Federal [Alemão] de Avaliação de Risco (BfR), incluindo violações dos padrões internacionais.
“O material do BfR que eu examinei, ignora por completo experimentos em animais com resultado positivo. Existe um processo estabelecido há mais de quarenta anos, de como tais experimentos devem ser conduzidos. Não se trata de uma ‘ciência de um bicho de sete cabeças’. O BfR desqualifica estudo após estudo, porque as doses seriam irrelevantes para seres humanos. É a primeira vez que vejo uma agência de avaliação de risco proceder dessa forma.” Dr. Ivan Rusyn, Consultor Científico da OMS, Biociências Integrativas Veterinárias, Texas A&M University/EUA.
Os cientistas da OMS estão examinando agora com mais detalhamento alguns dos estudos declarados irrelevantes pelo BfR.
“O câncer tem dez fatores-chave, que podem determinar seu surgimento. Eles são, de um lado, químicos e, de outro, ambientais. Um deles é o estresse oxidativo, que aparece em muitos estudos sobre glifosato. Tudo isso aponta para uma provável ligação com o câncer.” Prof. Dr. Chris Portier, IARC/WHO, Ex-Diretor Do Escritório de Avaliação de Risco dos EUA.
Mas todas estas sugestões são rejeitadas pelo BfR, semelhante ao que Portier já conhece em seu país natal, os Estados Unidos.
“A agência americana de proteção ambiental (EPA) possui os mesmos documentos que nós. A partir deste material, concluíram seus técnicos que, nos experimentos com animais, foi devidamente comprovado que efetivamente havia um efeito cancerígeno sobre eles. Entretanto, seu conselho consultivo externo (nt.: a pergunta é: quem será que são estes ‘consultores externos’ com tanto poder, inclusive acima dos técnicos pagos pela sociedade para lhes ‘defender’?) solicitou que ‘reavaliassem’ este julgamento ‘muito forte’. Após isso, a agência declarou o estudo irrelevante e anunciou que não haveria nele nenhuma comprovação de efeito cancerígeno. Nós, e eu pessoalmente, discordamos disso.” Prof.Dr. Chris Portier, IARC/WHO, Ex-Diretor Do Escritório de Avaliação de Risco dos EUA.
De fato, a avaliação do BfR foi retirada do ‘Grupo Força Tarefa para o Glifosato’, pré-formulada pelas corporações agroquímicas. O BfR meramente resumiu alguns trechos, ou acrescentou comentários em itálico. Eles consideraram os estudos críticos ‘não confiáveis’.
Nos Estados Unidos, os níveis permitidos de resíduos são mais elevados. Aqui, ninguém fala oficialmente sobre efeitos colaterais. O veterinário que atua na área rural, Art Dunhan, cuida há quarenta anos de animais nas fazendas do estado de Iowa. Ele estranhou o fato de que, ao mesmo tempo em que aumentaram os níveis de ‘Roundup’ e resíduos de glifosato na alimentação, suas vacas vinham emprenhando cada vez menos, mesmo com tratamento hormonal. Tais problemas de fertilidade ocorrem em todo o país.
“Não creio que ela vá precisar de prostaglandina (nt.: são sinais químicos celulares, semelhantes a hormônios, que estimulam a ovulação). Ela não se parece com uma fêmea virgem; está larga, não vai emprenhar tão cedo.” Dr. Art Dunham, Veterinário de Iowa/EUA.
Assim como foi com os criadores dinamarquês e alemão, o veterinário também constatou que os problemas de fertilidade regridem quando ele passa a fornecer aos rebanhos alimentação livre de glifosato. Os efeitos colaterais hormonais também aparecem nos Estados Unidos.
“Nós, humanos, temos alguns mesmos tipos de enzimas que têm plantas e insetos. Em função dos herbicidas bloquearem micronutrientes em plantas, afetando seu desenvolvimento, é um absurdo não se investigar isso. Mas faltam também pesquisadores e fundos de financiamentos corajosos para combaterem esta rede política da indústria e da ciência.” Dr. Art Dunham, Veterinário de Iowa/EUA.
O próprio veterinário realiza testes independentes da ração e do feno utilizados na alimentação dos animais.
“A autoridade federal dos CDCs (nt.: Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA ) estão observando este aumento da infertilidade, mesmo em humanos. E, como nos animais da fazenda, os casos apresentam glifosato nos alimentos.” Dr. Art Dunham, Veterinário de Iowa/EUA.
As estatísticas sobre saúde indicam uma correlação do uso do glifosato com o aumento da infertilidade, problemas na tireoide, problemas hepáticos, renais, assim como outras doenças relacionadas ao estilo de vida da população. Mas o governo norte americano não está procurando por uma conexão.
As amostras de rações e concentrados para animais revelam outra surpresa.
“Este é o resultado de análises de 300 amostras para avaliar toxinas fúngicas nas amostras de ração: 32% de todas as amostras apresentam toxinas de fungos do gênero Fusarium spp e 52% do gênero Penicilium spp. E se já ocorrem na silagem (nt.: que se faz normalmente com milho ainda verde e transgênico o que poderá trazer estes fungos e exacerbando sua proliferação conforme se verá abaixo), também vão parar nas fábricas de etanol (nt.: nos EUA feito com milho e não cana de açúcar como aqui no Brasil) e, por fim, nos alimentos que consumimos. A toxina T2 (nt.: micotoxina produzida pelo fungo Fusarium) é um dos venenos mais nocivos, ao lado da aflatoxina (nt.: micotoxina produzida pelo fungo do gênero Aspergillus), da ricina (nt.: citada aqui pela provável presença de torta de mamona nas rações) e do agente laranja (nt.: provavelmente originário pela presença de substâncias que tenham venenos organoclorados e daí dioxina=agente laranja). Mesmo 100 partes por bilhão/ppb (nt.: são nove zeros depois da vírgula) já representam perigo e significam má notícia.” Dr. Art Dunham, Veterinário de Iowa/EUA.
A quantidade de veneno só foi encontrado nesta concentração desde o uso intensivo de glifosato. Porém, até aqui, ninguém examinou oficialmente o fenômeno. Mas ele é real, afirma o reconhecido fitopatologista especialista em biotoxinas, Don Huber. Esteve como presidente, até 2011, do Programa Nacional de Recuperação de Doenças Vegetais e que até hoje presta consultoria a agricultores.
Em vastas áreas do cinturão de milho, nos Estados Unidos, chamam a atenção do fitopatologista alguns padrões amarelados nos campos de milho do Cinturão Verde do meio oeste norte americano – que são, normalmente, áreas de cultivo de soja verde exuberante. Até 40% da soja desta região vêm-se perdendo antes da colheita, nos últimos anos. O motivo: uma nova doença, chamada síndrome da morte súbita, causada por fusariose (nt.: doença radicular provocada pelo fungo Fusarium virguliforme).
“Eu diria que nos últimos seis a oito anos, o quadro vem se tornando cada vez mais grave, na medida da proporção do uso continuado do glifosato. O Sr. pode explicar por quê?” Keith Schlapwirt, Agricultor de Iowa.
“Pode-se observar aqui, na folha. Esta aqui apresenta sinais de intoxicação causada por fungos Fusarium spp. Mas eles deveriam se restringir às raízes.” Dr. Don Huber, Especialista em biotoxinas e fitopatologista de Idaho/EUA.
O Fusarium spp é um fungo invisível a olho nu, que vive no solo. Ele produz, abundantemente, toxinas quando não é contido por outros fungos e bactérias (nt.: não poderíamos supor que esta afirmativa está baseada na eliminação pelo glifosato de todos os vegetais -algas, bactérias e outros -, gerando este desequilíbrio na vida do solo?).
“Ao se constatarem estes sintomas, o que ocorre logo em seguida é o desfolhamento, daí o processo de deterioração se dá de forma bem rápida. Estas sementes deveriam ter o dobro do tamanho, mas não há mais fotossíntese nem fornecimento de energia. As últimas quatro a cinco semanas, são cruciais para o amadurecimento da planta. Mas aí mais nada funciona.” Dr. Don Huber, Especialista em biotoxinas e fitopatologista de Idaho/EUA.
Parte da soja norte americana também acaba sendo exportada para a Europa e a China, e com todas as doenças presentes nela. Dificilmente alguém sabe algo sobre isso (nt.: outra afirmativa dramática porque há uma nuvem escura que encobre todo o mundo dos agrotóxicos e de todas as moléculas químicas sintéticas produzidas pelas mesmas corporações transnacionais dos venenos, dos medicamentos, dos plásticos, dos diruptores endócrinos, das dioxinas e tantas outras ‘pestes’ que assolam o planeta!).
Bob Streit integra uma força-tarefa que compara as taxas de proliferação de doenças provocadas por fungos em países com alto consumo de glifosato.
“Os agricultores norte americanos vêm utilizando, há mais de dezesseis anos, ininterruptamente, o mesmo herbicida no milho e na soja. É como uma receita para o desastre! Por que fazem isso? Porque é o mais fácil, é barato; e é vendido a eles como uma cura.” Bob Streit, Consultor agrário da Iowa Central Agronomy.
Ele entrevista os agricultores e não é apenas a síndrome da morte súbita que os preocupa.
“Para mim, não há diferença entre esta vagem de soja e o que comemos. Na minha opinião, a nossa agência nacional de alimentos e medicamentos (nt.: a FDA/Food and Drugs Aministration) não disponibiliza esta informação para outros países. Até porque isso prejudicaria nossos negócios, por isso que eles se mantém calados (nt.: todos praticantes de crimes corporativos e de lesa-humanidade, demonstrando o quanto são, infelizmente, canalhas).” Tim Goedken, Agricultor de Iowa.
Certas plantas vêm desenvolvimento, cada vez mais, resistência ao glifosato. E são exatamente elas que se alastram rapidamente. Algumas das primeiras espécies (nt.: ‘guardiãs da biodiversidade’ e contra as monoculturas) já são resistentes a todos os tipos de herbicidas existentes. Aí os Estados Unidos estão um passo à frente dos europeus. Eles têm o conhecimento. Mas não fazem nada a respeito.
“Nenhuma publicação especializada em agricultura, nenhuma outra revista, ou emissora de televisão, ousa abordar o verdadeiro cerne do problema.” Bob Streit, Consultor agrário da Iowa Central Agronomy.
Será que essas constatações que se chegou nos Estados Unidos são levadas em conta na Alemanha? Pelo menos oficialmente, parece que não (nt.: surpreende como um país como a Alemanha em que seus habitantes se autodenominam tão ecológicos, permite que estes burocratas tão reticentes, dominem os organismos de salvaguarda da saúde da população!). Por que as instituições simplesmente não investigam como o glifosato chega na nossa alimentação? Não existe obrigatoriedade de informar ao consumidor, nos rótulos; até porque, afirma o BfR, tais substâncias seriam rapidamente excretadas pelo organismo.
[ NOTA DO WEBSITE: na versão alemã, neste ponto – 37:03 – passa a tratar de um tema que na versão em inglês mostra que nos EUA ainda não tem. No entanto, a versão em inglês tem uma parte que, por sua vez, a alemã é que não tem. O movimento das mulheres como cidadãs. Na decupagem da versão em inglês o tempo é 40:17 e vai até 42:52. Aqui tem a participação de Zen Honeycutt, fundadora e responsável pela ong MOMS ACROSS AMERICA. Relata que, ao não dispor de testes oficiais de glifosato no leite, a própria ong os fez e o que constata é chocante. Questiona o por quê sua organização e não as agência federais, as indústrias de venenos, de alimentos e mesmo as de alimentação infantil, não fazem e sim ela que faz este tipo de testes? Na versão em alemão, o documentário a partir de agora começa a tratar, na Alemanha, do mesmo problema só que noutro nível, a contaminação do leite materno. ]
Em 2015, dezesseis mães lactantes submeteram seu leite a testes, a pedido dos Grünen (nt.: Partido Verde da Alemanha). Maria Lustig participou por acaso dos testes. O resultado causou espanto à ela e ao seu marido, que é médico.
“Eu fiquei sim, bastante surpresa que o teste, neste estudo, tenha detectado glifosato em mim; já que eu procuro, até pelo no meu estilo de vida, ficar bem longe deste tipo de produtos.” Maria Lustig, Parteira e Lactante.
“Eu quero dizer que limite máximo é limite máximo, alguém já estabeleceu este valor. E você está com 0,2 e o limite de segurança é 0,1. Quer dizer, já é para ficarmos preocupados.” Dr. Jonathan Lustig, Médico de Família e Esposo da Lactante.
“Como ele foi atestado no leite, significa que foi absorvido pelo corpo, ou seja, não é completamente excretado.” Maria Lustig, Parteira Lactante.
“Então, estes testes provavelmente não foram conduzidos com tanta precisão assim, estas taxas de glifosato foram atestadas especificamente nesta bateria de exames; então, restando ainda dúvidas, devemos investigar urgente e mais profundamente, com uma base de dados mais ampla, fazer exames fidedignos.” Dr. Jonathan Lustig, Médico de Família e Esposo da Lactante.
Isso que não acontece. Ao contrário, o estudo é posto em dúvida pelo BfR, conforme diz o seu presidente à Comissão para Agricultura no Parlamento Alemão.
“Como se deve então proceder, concretamente? Como se fosse possível fazer medições assim? Vimos nesse episódio com o leite materno, várias centenas de mães preocupadas nos ligando, perguntando se tinham de desmamar seus bebês imediatamente. Isso tudo por causa de um estudo conduzido através de um método que nem fora reconhecido, e que, basicamente, não tem como trazer os resultados alegados.” Prof. Dr. Andreas Hensel, Presidente do Instituto Alemão para Avaliação de Risco/BfR.
Também aqui, “o estudo seria anti-científico”? Entretanto, não há um único estudo do BfR que analise toda a mistura de fitotoxinas, mas apenas o glifosato isoladamente.
“A análise dos resultados de numerosos estudos levou à conclusão que, de acordo com o conhecimento científico disponível atualmente, a utilização do agente glifosato, se para os fins e conforme os procedimentos de uso recomendados, não tem efeitos cancerígenos, prejudiciais às funções reprodutivas ou com potencial de causar deformação em embriões (nt.: mesmo com a realidade acontecendo na vida prática e não nos gabinetes dos burocratas ou nos laboratórios comprometidos, os organismos de ‘defesa do cidadão’, em vez de ridicularizarem, deveriam colher estas informações e imediatamente fazerem as universidades e outros organismos oficiais de pesquisa verificarem profundamente estes fatos. Mas antes suspenderem a licença destes venenos até que se prove que são ‘inócuos’, como pregam os mercadores da saúde alheia!). E aqui trata-se apenas do agente glifosato e não de agrotóxicos em geral, tal como são empregados (nt.: como se verá abaixo, outro absurdo.).” Prof. Dr. Andreas Hensel, Presidente do Instituto Alemão para Avaliação de Risco/BfR.
Na prática, o glifosato vem sempre, no produto comercial, com um coquetel com mais de vinte outros componentes, os adjuvantes, que são até mil vezes mais tóxicos. O BfR também sabe disso, e até tentou investigar, mas a União Européia não liberou a ordem e também a agência reguladora européia – EFSA – rejeita esta investigação (nt.: surpresa! Mas a Alemanha não teria autonomia, como a Áustria por exemplo, de fazer ela mesma esta pesquisa? Será que não teria ‘dinheiro’ para isso? Como a Universidade de Caen fez, como se vê abaixo?). Nenhum destes adjuvantes aparece indicado nos ingredientes das embalagens dos produtos comerciais. São considerados “segredos industriais”.
Um dos poucos, em todo o mundo, que levam a cabo o trabalho de detetive e também analisou os adjuvantes, é o cientista francês Seralini.
“A indústria não publica, e não diz o que compõe a mistura dos produtos nos agrotóxicos comerciais. Nós os analisamos um a um. Alguns são mil vezes mais tóxicos e também atuam negativamente em baixas doses. Ou seja, eles têm efeitos hormonais que podem levar ao câncer de mama e também a outras doenças de origem hormonal (nt.: será que esta afirmativa não nos leva a crer que este veneno é também um disruptor endócrino?).” Gilles-Eric Seralini, Biólogo Molecular, Universidade de Caen, Normandia/França.
Ironicamente, ele sofre ataques exatamente por que, diferente dos cientistas do governo alemão, que olham apenas o glifosato, ele estuda todos os outros co-agentes no produto comercial, tal como é utilizado de fato.
“Eu não morreria em paz se tivesse que me calar sobre nossas descobertas. Não me importo com a Monsanto ou a Syngenta ou outras corporações. A mim preocupa muito mais as interações entre estas substâncias nocivas; e as muitas crianças em todo mundo que morrerão por causa destas misturas.” Gilles-Eric Seralini, Biólogo Molecular, Universidade de Caen, Normandia/França.
Ao fim do ano, a maior parte da sua equipe será dispensada da universidade. A quantidade de críticos da Monsanto assim cairá.
“Claro que temos substâncias que são tóxicas. Aí é sempre uma questão de ser esta ou aquela substância mais tóxica ainda, ou não. Mas se o glifosato para nós, como empresa, já se acha no nível relativamente mais baixo de toxicidade de uma substância química, então é claro que algo que se ache acima do glifosato é mais tóxico. Naturalmente que, do ponto de vista da química, dizem que é mais tóxico. Ora, se o glifosato figura inferior nos níveis de classificação de toxicidade, então todo o resto é mais tóxico, correto?” Ursula Lüttmer-Ouazane, Diretora Executiva da Monsanto na Alemanha.
[ NOTA DO WEBSITE: neste ponto da decupagem da versão em inglês tem mais uma explanação sobre a relação de ong europeia ‘Corporate Europe Observatory’, com Nina Holland, na luta em Bruxelas quanto aos níveis permitidos de vários agrotóxicos na correlação entre os EUA e a Europa. Mostra a interação e a proximidade, por vizinhança física, dos endereços dos lobbies das corporações agroquímicas internacionais e os escritórios dos setores decisórios das sedes do Parlamento Europeu, em Bruxelas. Da mesma forma, mostra as presenças físicas de todos, mesclados, como do burocrata do BfR nos salões do Parlamento e as decorrentes decisões sobre liberações dos venenos na UE. O ponto da decupagem na versão em inglês é: 48:44 e vai até 51:35. ]
Deve-se reconhecer que o BfR deu o passo inicial, em 2000, com o intuito de analisar os adjuvantes (nt.: são eles que formam a ‘mistura’ citada por Seralini, que acompanham o princípio ativo formando o produto comercial a ser utilizado pelos agricultores e os que querem eliminar as ervas concorrentes), mas a ordem não foi despachada até hoje. Portanto, não há autorização nem recursos financeiros.
“É preciso muita, muita, muita grandeza para que se diga: “Nós nos equivocamos. Estávamos errados. Talvez devêssemos mesmo ter avaliado a situação em contexto.” E cá estamos nós, nesta encruzilhada. É por isso que o BfR tem lutado, ultimamente, mais pela própria reputação; por legitimar as declarações de segurança proferidas anteriormente, do que por esclarecer agora se é nocivo ou não. É uma questão de salvar a própria pele, zelo pela própria imagem, estas coisas, aparência… em todas as esferas. Na verdade, seria necessário ter uma outra visão, uma abordagem completamente diferente da toda a situação… e se trata de muito, mas muito, muito dinheiro!” Dra. Angelika Hilbeck, ENSSER/European Network of Scientists for Social and Environmental Resposability.
O glifosato permanece autorizado, provisoriamente, por mais um ano (nt.: este ano seria 2016, mas nada mudou até este maio de 2020. A informação que se diz oficial, é que será banido da Alemanha no final do ano de 2023. No entanto, na Áustria já é banido.). Enquanto isso, a Monsanto contratou uma empresa científica para lhe assessorar. Ela deverá provar, segundo alguns rumores, que os novos estudos críticos não são nada mais do que junk science, ou seja, nada mais do que lixo.
Roteiro e direção – Volker Barth;
Câmara e imagens – Ingo Mende, Adam Oval, Johanna Richter;
Som – Titus Maderlechner;
Montagem – Evelyn Kuhnert, Adam Oval;
Animação 3D – Michael Weber;
Música – Gabriel Brosteanu, Dan Graham;
Produtora – Johanna Richter;
Produção – Volker Barth;
Redação – Barbara Schmitz.
Uma Produção de Anthro Media.
Em Co-produção com ARD/WDR.
2015.
Cooperação e adequação da tradução das legendas, Luiz Jacques Saldanha, maio de 2020.