Pênis e espermatozoides encolhendo: a química ameaçando a humanidade

Espermatozoides Colorida

https://www.theguardian.com/commentisfree/2021/mar/18/toxic-chemicals-health-humanity-erin-brokovich

Erin Brockovich

 18 Mar 2021

Os produtos químicos responsáveis ​​por nossa crise reprodutiva são encontrados em todos os lugares e em tudo

É o fim da humanidade? Pode estar chegando mais cedo do que pensávamos, graças aos produtos químicos, disruptores endócrinos, que imitam hormônios e que estão liquidando com a fertilidade humana, em um ritmo alarmante, em todo o mundo. Um novo livro chamado “Count down”, de Shanna Swan, epidemiologista ambiental e especialista em reprodução, da Icahn School of Medicine no Mount Sinai em Nova York. Mostra que descobriu que a contagem de espermatozoides caiu quase 60% desde 1973

Seguindo a trajetória em que estamos, a pesquisa de Swan sugere que a contagem de espermatozoides pode chegar a zero em 2045. Zero. Respire e deixe isso penetrar em ti. Significaria nada de bebês; sem reprodução; nada mais de seres humanos. 

Perdoe-me por perguntar: por que a ONU não está convocando uma reunião de emergência sobre isso agora?

Os produtos químicos responsáveis ​​por esta crise estão em tudo, desde recipientes plásticos e embalagens de alimentos, a roupas à prova d’água e fragrâncias em produtos de limpeza. De sabonetes e xampus, a eletrônicos e carpetes. Alguns deles, chamados PFAS, são conhecidos como “forever chemicals” (nt.: são os conhecidos ‘produtos químicos para sempre), porque não se degradam no meio ambiente ou no corpo humano. Eles apenas vão se acumulando, se acumulando, indefinidamente – causando mais e mais danos, minuto a minuto, hora a hora, dia a dia. Ao que parece, a humanidade estaria agora chegando a um ponto de ruptura.

O livro de Swan é surpreendente em suas descobertas. “Em algumas partes do mundo, a mulher média de vinte e poucos anos, hoje, é menos fértil do que sua avó era aos 35”, escreve Swan. Além disso, Swan descobre que, em média, um homem hoje terá metade dos espermatozoides que seu avô tinha. “O estado atual dos assuntos reprodutivos não pode continuar por muito mais tempo sem ameaçar a sobrevivência humana”, escreve Swan, acrescentando: “É uma crise existencial global.” Isso não é uma hipérbole. Isso é apenas ciência.

Como se isso não fosse assustador o suficiente, a pesquisa de Swan descobriu que esses produtos químicos não estão apenas reduzindo drasticamente a qualidade do sêmen, eles também estão diminuindo o tamanho do pênis e o volume dos testículos . Isso é nada menos que uma emergência em grande escala para a humanidade.

O livro de Swan ecoa pesquisas anteriores , que descobriram que o PFAS (nt.: substância fluorada que se emprega para a produção dos materiais anti-aderentes) prejudica a produção de espermatozoides, interrompe os hormônios masculinos e está relacionado a uma “redução da qualidade do sêmen, do volume testicular e do comprimento do pênis”. Esses produtos químicos estão literalmente confundindo nossos corpos, fazendo-os enviar mensagens que geram confusão e ficarem caóticos.

Considerando tudo o que sabemos sobre esses produtos químicos, por que mais não está sendo feito? No momento, existe uma medíocre colcha de retalhos de legislação inadequada em resposta a essa ameaça. As leis e regulamentos variam de país para país, de região para região e, nos Estados Unidos, de estado para estado. A União Europeia, por exemplo, restringiu vários ftalatos em brinquedos e estabeleceu limites para os ftalatos considerados “reprotóxicos” – o que significa que prejudicam a capacidade reprodutiva humana – de serem usados na produção de alimentos.

Nos Estados Unidos, um estudo científico descobriu que a exposição ao ftalato está “disseminada” em bebês e que os químicos foram detectados em suas urinas daqueles que entraram em contato com xampus, loções e talcos para bebês. Ainda assim, falta regulamentação agressiva, principalmente por causa do lobby de gigantes da indústria química.

No estado de Washington, legisladores conseguiram aprovar a Lei de Prevenção da Poluição para Nosso Futuro , que “direciona as agências estaduais a abordarem as classes de produtos químicos e não uma abordagem de avalirar químico por químico, o que historicamente resultou em empresas mudando para igualmente ruim ou pior substitutos (nt.: nunca esquecer que, com as denúncias contra o BPA/Bifenol A, a indústria cinicamente, substitui por um mais tóxico, o BPS/Bisfenol S). As primeiras classes químicas a serem abordadas em produtos incluem ftalatos, PFAS, PCBs, etoxilato de alquifenol e compostos de bisfenol e retardadores de chama de organohalogênios (nt.: não esquecer que aqui eles são: cloro, flúor e bromo que, tragicamente substituiem o halogênio iodo, na tiroxina, hormônio que auxilia o desenvolvimento do sistema cerebral dos fetos nas primeiras semanas embrionárias. Ao substituir, gera crianças com retardo mental e/ou a síndrome do autismo)”. 

O estado tomou medidas importantes para lidar com a extensão da poluição química, mas, em geral, os Estados Unidos, como muitos outros países, estão lutando uma batalha perdida por causa de uma legislação fraca e inadequada.

A morte rápida e o declínio dos espermatozoides devem ser tratados, e devem ser resolvidos agora

Nos Estados Unidos de hoje, por exemplo, não se pode comer carne de cervo capturado em Oscoda, Michigan, já que o departamento de saúde de lá emitiu um aviso “não coma” cervos capturados perto da antiga base da força aérea por causa dos alto níveis de PFOS (nt.: esse é da mesma família dos químicos para sempre -PFAS- que estão produtos como Scotchgard, Goretex e outros que impedem a entrada de água em produtos de couro ou nas lonas das barracas e das roupas militares) na carne desse animal.

E, na outra semana, centenas de residentes que vivem perto da base aérea de Luke, no Arizona, foram aconselhados a não beber água, quando os testes detectaram altos níveis de produtos químicos tóxicos. Os cientistas encontraram essas substâncias no sangue de quase todas as pessoas que testaram nos Estados Unidos. Nenhum país ou região do planeta é intocado pela contaminação de PFAS. É um problema global. Esse químico (nt.: presente em produtos como as panelas ‘teflon’) foi encontrado em todos os cantos do globo. Ele está virtualmente presente no corpo de cada ser humano. É encontrado em peixes no fundo do mar e pássaros voando alto no céu.

E está nos matando, literalmente, ao prejudicar e atacar a própria fonte da vida: nossas capacidades reprodutivas. A morte rápida e o declínio de espermatozoides devem ser resolvidos, e devem ser resolvidos agora. Simplesmente não há tempo a perder.

Erin Brockovich é uma defensora ambiental e autora do novo livro, Superman’s Not Coming: Our National Water Crisis and What We the People Can Do About it . e Suzanne Boothby contribuiu com pesquisas e relatórios para este artigo.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, março de 2021.