Panela errada = queda na masculinidade




Written by Dr. Joseph Mercola, December 19, 2018

https://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2018/12/19/perfluorinated-compounds-health-risks.aspx


Resumo da história

  • A disfunção hormonal gerada pelos químicos perfluorados (nt.: em inglês: perfluorinated chemicals/PFCs ou PFAS/Perfluoroalkyl ) começa antes do nascimento, conforme medido por estudo recente; impacta significativamente sobre a saúde dos espermatozoides, sobre a fertilidade e o comprimento e o grossura do pênis no homem adulto.
  • A exposição a estas substâncias fluoradas, os PFCs, em utensílios culinários, tecidos, pipocas de microondas e caixas de embalar alimentos para levar (delivery) também impactam fígado e rins, o metabolismo dos lipídeos, geram hipotiroidismo, obesidade e colite ulcerativa.
  • Décadas antes disso se tornar público, a corporação DuPont já sabia dos perigos tóxicos destes compostos perfluorados, os PFCs (nt.: hoje conhecidas como PFAS – Perfluoroalkyl Substances) — um resíduo tóxico da produção do Teflon, aplicado às panelas e tecidos como película anti-repente à gordura e água.
  • A transnacional DuPont é um claro exemplo de como as companhias químicas são relapsas em sua auto-regulação. Ficamos nós, os consumidores, incumbidos de montarmos estratégias para reduzirmos nossa exposição a estes produtos, incluindo evitar tecidos, alimentos fast food e utensílios domésticos que tenham sido pré-tratados para serem repelentes a manchas e água, além de terem agregados os chamados retardadores de chamas.


O ácido perfluoroctanoico (nt.: perfluorooctanoic acid/PFOA) é uma substância química criada pelo ser humano usado tanto no processamento como na produção do Teflon. Também é chamado de ‘C8’. Foi desenvolvido na década de 30 e entrou em produção na década de 40.1 O PFOA é um dos químicos da família dos perfluorados, um grande grupo de químicos empregados para reduzir o atrito em utensílios culinários e para tornar os tecidos à prova de manchas e água (nt.: outro emprego para eliminar atrito é o seu uso nas máquinas de tecelagem… aumentam a velocidade do tear… mas e as roupas de algodão orgânico sairão contaminadas por este químico).2

Num esforço de assegurar seu próprio sucesso financeiro, a DuPont, a fabricante do ‘C8’, tornou-se a mestra na enganação e nas estratégias manipulativas das relações públicas. Mesmo que soubesse sobre os efeitos do PFOA tanto na saúde humana como no ambiente, por décadas, repetidamente mentiu para as agências reguladoras tanto federais como locais, para os consumidores e mesmo para seus próprios funcionários, quanto à sua toxicidade.3 

Os utensílios culinários anti-aderentes (Nonstick cookware) tornam-se tremendamente populares em razão de sua conveniência e facilidade de limpar. O mesmo é verdade para as roupas que repelem manchas e água, bem como carpetes e tecidos em geral, todos tratados com substâncias perfluoradas para atingirem estes resultados. Mesmo com estas conveniências e popularidade, eu comecei a advertir sobre os perigos sobre a saúde do ‘C8’ há mais de 15 anos e como resultado fui ameaçado com uma ação judicial movida pela DuPont.

Hoje a evidência está clara e os perigos inegáveis. Em estudo recente publicado no periódico Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, os dados revelaram que menininhos expostos aos PFCs antes do nascimento experimentaram redução nos seus níveis de testosterona (nt.: lembrar de que é este hormônio que faz o feto passar de, biologicamente, feminino a masculino), resultando em órgãos masculinos menores.4

Panelas de Teflon Reduzem o Tamanho e o Diâmetro do Pênis

Em 2017, a DuPont aceitou pagar $670 milhões de dólares para liquidar 3.500 ações judiciais, nos estados de Ohio e West Virginia, impetradas pelos residentes que acreditam ter sido envenenados ao beberem água contaminada com PFOAs liberados com o conhecimento da companhia, nas águas superficiais.5

Em estudo contínuo constatou-se de como esta substância química vem afetando tanto os seres humanos como a vida selvagem, sendo que os dados foram coletados de 383 jovens homens estudantes do ensino médio (média de idade: 18 anos) da cidade de Pádua, na Itália, incluindo 212 que haviam sido expostos a altos níveis de PFCs na água de beber. A área é conhecida como tendo altos níveis do PFC pela poluição ambiental devido ao esgotamento de uma fábrica química e de uma estação de tratamento de água de esgoto.6

Os pesquisadores encontraram jovens homens que cresceram na área e que tinham pênis 12,5% menores e 6,3% mais finos do que de homens que não foram expostos a altos níveis dos tóxicos dos PFCs. Esta substância foi detectada em vários itens, incluindo embalagens de fast food, colas, cosméticos, produtos de limpeza e inseticidas .7

As substâncias químicas entram na corrente sanguínea e ligam-se aos receptores da testosterona. Acontece que elas com isso, reduzem os níveis deste hormônio masculinizante, usado pelo organismo (nt.: tanto do feto masculino como depois de seres vivos por toda sua vida).8 O resultado: pênis menores, pobre qualidade dos espermatozoides e menores distâncias entre os testículos e o ânus — um sinal externo de baixa fertilidade (lower fertility). A absorção pode ocorrer através dos intestinos tanto vinda pela alimentação como pela água potável, ambas contaminadas, além de pela própria inalação. De acordo com os pesquisadores:9

“O estudo documenta de que os PFCs têm um impacto substancial sobre a saúde humana masculina já que eles interferem diretamente com as vias hormonais levando potencialmente à infertilidade masculina.

Detectamos que o aumento dos níveis dos PFCs no plasma e no líquido seminal, correlacionam-se positivamente com a circulação da testosterona e à redução da qualidade dos espermatozoides, bem como ao volume testicular, ao comprimento peniano e à distância anogenital [nt.: em inglês – AGD/anogenital distance].

Interessante é que a maioria da população masculina exposta mostrava redução no volume dos testículos, no comprimento do pênis e na distância anogenital, mas não nas medidas antropométricos em homens de 18 a 19.

Como o primeiro relatório sobre contaminação da água com PFCs foi nos idos de 1977, a magnitude do problema é alarmante já que isso afeta uma geração inteira de jovens indivíduos, nascidos de 1978 para cá.”


O que são os PFCs?

Os PFCs são químicos fluorados. Os átomos do flúor criam uma superfície antiaderente, dando ao Teflon sua qualidade única. Durante o processo judicial impetrado contra a DuPont, centenas de documentos internos foram descobertos, mostrando que a companhia sabia sobre o perigo desta substância química tanto ao público como aos seus empregados, possivelmente já desde 1961.

Embora esta informação só tenha chegado recentemente aos tribunais, há mais de uma década a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (nt.: U.S. Environmental Protection Agency/EPA) já havia multado a DuPont em $16,5 milhões de dólares por ter retido por décadas o valor da informação sobre os perigos sobre a saúde. Foi a maior multa aplicada pela EPA. No entanto, ela não atuou como um impedimento e a DuPont continuou não só a fabricar como liberar no ambiente a molécula do ‘C8’.

Dois dos PFCs, o PFOA e o sulfonato perfluoroctano (nt.: em inglês – perfluorooctane sulfonate/PFOS) há algum tempo não são mais fabricados nos EUA, no entanto são detectados em produtos feitos noutros países e importados em bens de consumo como artigos de couro, têxteis, papéis, materiais de embalagem e plásticos (plastics).10 Esta contaminação na região de Veneto, na Itália, onde os participantes do estudo em destaque moravam, está conectada à produção industrial.

A fábrica química começou, nesta área, suas atividades a partir de 1968, fabricando tanto herbicidas como fármacos. Em um abrangente estudo de dois anos, investigando a distribuição e as fontes de PFC na região, altas concentrações de PFOA foram detectados em rios e amostras de água tratada tanto na cidade de Pádua como em Verona.

Isso sugeriu aos pesquisadores de uma fonte comum de contaminação causando os níveis incrivelmente maiores do que os níveis limiares recomendados tanto pela EPA norte americana como pela Comissão Alemã de Água Potável. 11

Os PFCs Associados A Numerosas Outras Preocupações Sobre Saúde

De acordo com a EPA,12 o PFOA e o PFOS causam problemas no aparelho reprodutivo e no desenvolvimento, além dos rins e do fígado, gerando também problemas imunológicos, em animais de laboratório. As descobertas mais consistentes de estudos humanos têm conectado a um aumento nos níveis de colesterol (cholesterol levels), menor peso do nenê ao nascer, câncer e disfunção nos hormônios da tiroide.

Arlene Blum, química da Universidade da Califórnia e diretora executiva do Instituto de Política da Ciência Verde (Green Science Policy Institute), é a autora líder da Declaração de Madri (Madrid Statement),13  assinada por mais de 200 cientistas de 40 países,14 e apresenta o consenso científico sobre os efeitos prejudiciais dos químicos PFAS (nt.: ou PFCs). A declaração revela que:15

“Mesmo que alguns elementos da família química de cadeia longa dos PFASs tenham sido regulamentados ou eliminados, os substitutos mais comuns são (nt.: da mesma família dos PFASs) de cadeia curta, com estrutura similar ou mesmo compostos com segmentos fluorados unidos por ligação de éter.

Enquanto as alternativa fluoradas de cadeia curta pareçam ser menos bioacumulativas, ainda são ambientalmente persistentes como as de cadeias longas, ou apresentam produtos de degradação (nt.: metabólitos) persistentes.

Assim, a troca por cadeias curtas ou outras alternativas fluoradas podem não reduzir as quantidades das PFASs no ambiente. Agrega-se a isso de que algumas das substâncias de cadeias curtas, PFASs, serem menos efetivas, grandes quantidades podem ser necessárias para se atingir o mesmo desempenho.”

Embora os produtos mais antigos estejam fora de produção, como a declaração aponta, as alternativas fluoradas de cadeias mais curtas são persistentes, menos efetivas e podem exigir maiores quantidades para atingir o mesmo resultado. A Declaração de Madri também lista muitos dos efeitos documentados sobre a saúde, associados com as cadeias longas de PFASs, incluindo:

Toxicidade ao fígadoHipotiroidismo (Hypothyroidism)Alto colesterol
Obesidade (Obesity)Mal funcionamento do fígadoColite ulcerativa
Toxicidade ao neonatal e morteTumores em múltiplos sistemas de órgãosRedução do peso e do tamanho do nascituro
Câncer testicular e dos rinsRedução dos níveis de hormôniosPuberdade tardia
Decréscimo da resposta imune à vacinasEfeitos adversos neuro comportamentais Disfunção do metabolismo dos lipídeos e do sistema imune e endócrino

A DuPont Envenenando o Mundo

Por mais de 15 anos, Rob Bilott, um advogado ambientalista e sócio da empresa Taft Stettinius & Hollister, travou uma batalha legal contra a DuPont.16 Sua jornada iniciou ao representar um agricultor de West Virginia que relutantemente vendeu em torno de um 20 hectares de terra à DuPont no início dos anos 80s para que a companhia pudesse estabelecer um aterro sanitário.

A gleba de terra vendida para a DuPont tinha um riacho que corria através dela, indo em direção à uma área onde o agricultor tinha um potreiro para sua vacas pastarem. Não muito depois da venda, seu gado desenvolveu uma estranha enfermidade e mais de 150 cabeças morreram. Foi neste tempo que o agricultor, Wilbur Tennant, contactou Bilott.

A petição inicial foi impetrada em 1999. A DuPont encomendou um estudo da propriedade de Tennant com o auxílio da EPA. Três veterinários foram selecionados pela companhia e três pela EPA. O relatório detecta de que a DuPont não tinha responsabilidade pelos problemas de saúde dos animais; em vez disso, era resultado de mal manejo dos animais, nutrição deficitária e cuidados veterinários inadequados.

Durante a prolongada batalha judicial que se seguiu, Bilott recebeu mais de 110.000 páginas de material da DuPont relacionadas ao PFOA, que datam de quase 50 anos. A documentação demonstrou que a empresa sabia que o produto químico era prejudicial ao meio ambiente e à saúde humana.17

Uma vez de posse destas informações, Bilott contactou a DuPont, que rapidamente estabeleceu um acordo com os Tennant, reduzindo a exposição pública destas informações perante o tribunal. No entanto, foi somente depois de ele impetrar outra ação judicial coletiva contra a companhia, agora representando cerca de 70.000 pessoas de seis distritos que recebiam água destes locais, em que a EPA anunciava de que o PFOA poderia representar um risco à em geral.

Os problemas de contaminação não se limitaram às áreas de Ohio e West Virginia, conforme demonstrado pelo relatório sobre o Teflon liberado pela ONG Environmental Working Group (EWG),18 que detectava a presença de PFOA em 94 distritos de água tratada ao longo de 27 estados. O mesmo relatório enfatiza a pesquisa que demonstrava ser o PFOA perigoso a níveis 1.300 vezes menores do que do que aquele anteriormente reconhecido pela EPA.

O PFOA está agora sendo encontrado em mais de 99% das amostras de sangue dos norte americanos, de acordo com as análises do órgão governamental de saúde Centers for Disease Control and Prevention (CDC),19 e ambientalmente em locais tão distantes como o Sand Island Wildlife Refuge no Oceano Pacífico Norte, ao sul do Mar de Bering (nt.: no Alasca, nas proximidades do leste da Rússia).20 Esta substância química é ubíqua e não se degrada. De fato, os cientistas especulam que o ‘C8’ permanecerá muito além de todos os humanos terem desaparecido.21  

Reduzir a Exposição a Químicos que Lesam e São Disruptores Endócrinos

Está bem claro que a indústria química não é confiável para se auto regular e a DuPont é um exemplo brilhante disso. Pode levar décadas antes que uma substância química seja reconhecida publicamente como perigosa. Só então a companhia pode simplesmente trocá-la por outra que nem tenha sido testada, ou mesmo regulamentada.

A Declaração de Madri22 recomenda evitar todo e qualquer produto contendo ou fabricado, e que se usou estas moléculas fluoradas – os PFASs -, anotando a inclusão de produtos que sejam resistentes a manchas, impermeáveis e anti-aderentes. Dica úteis podem ser também encontradas no guia da ONG EWGGuide to Avoiding PFCS.”23

Além de lista numerosa de marcas de vestimentas desportivas conhecidas que usam os PFCs – as PFASs – em seus tênis e roupas, o guia também observa que a Apple admite que a pulseira de seu novo modelo de relógio de pulso ‘Apple Watch Sport‘ é fabricado com estas moléculas. Outras sugestões que podem ajudar a que evitemos estas substâncias perigosas, incluem:

Itens pré-tratados com repelente à mancha — Optar por outro tipo de tratamento quando comprar novos móveis ou carpetes.
Roupas impermeabilizadas ou repelentes à mancha — Umas das dicas sobre vestuário que incluiria estes químicos é quando as fibras artificiais são descritas como “breathable” (nt.: em português – ‘respiráveis’). Estas foram efetivamente tratadas com o polytetrafluoroethylene/PTFE (nt.: ou a marca comercial – Teflon – e em português – politetrafluoretileno), um polímero sintético fluorado.
Itens tratados com retardadores de chama (flame-retardant chemicals)— Estes podem inclusive estar numa ampla gama de itens infantis, móveis estofados, colchões e travesseiros.24  Em vez deles, optar por materiais naturais pouco inflamáveis como couro, lã e algodão.
Fast food e ‘para viagem’ — Estes produtos são muitas vezes embalados com materiais que foram efetivamente tratados com os PFCs.
Pipoca de microondas — O ácido PFOA pode não só estar presente na lâmina interior da embalagem, mas também migrar para o óleo para fritar as pipocas e que vem da embalagem durante o aquecimento da pipoca. Em vez disso, usar pipocas no ‘velho estilo’ (popcorn), feitas na panela.
Utensílios culinários anti-aderentes e outros materiais de cozinha com este tratamento — Opções mais saudáveis incluem panelas de cerâmica, de ferro fundido esmaltado, ambas são duráveis, fáceis de limpar (mesmo os alimentos bem cozidos pode ser retirados depois de ensaboar com um pouco de água quente), são completamente inertes, o que significa que elas não liberam nenhum tipo de substância nociva em nossa casa. Enquanto alguns recomendam usar alumínio, aço inox e cobre, não recomendamos estas panelas pelas seguintes razões: o alumínio se tem a suspeita forte de que pode ser fator causal no Alzheimer e o aço inox tem liga contendo níquel, cromo, molibdênio e carbono. Para aqueles que têm alergia ao níquel, isso é relevante. As panelas de cobre não são também recomendadas porque a maioria delas vêm revestidas de outros metais, criando o mesmo tipo de preocupação citada acima. (Devem ser revestidas devido à possibilidade de envenenamento com o cobre).
Fio dental ‘Oral-B’ — Também evitar outros produtos de cuidado pessoal que contenham tanto PTFE/Teflon como ingredientes com “flúor” ou com “perflúor”. A ONG EWG tem um excelente banco de dados chamado “Skin Deep25, onde se pode conhecer bem estas opções mais saudáveis.

Fontes e Referências

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2019