Mercúrio em índios de área Yanomami. Pesquisa revela alto nível deste metal na comunidade indígena, em Roraima.
A reportagem é de Valéria Oliveira, publicada por G1, 05-03-2016.
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre contaminação por mercúrio em índios da Terra Indígena Yanomami, no Norte de Roraima, revela que povos das etnias Yanomami e Ye’kuana têm sido extremamente atingidos, principalmente mulheres e crianças. O nível alto de mercúrio nas pessoas estudadas chega a 92,3%, conforme a pesquisa. Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (3) nas comunidades.
A pesquisa usou amostras de cabelos de índios que vivem nas comunidades Papiú, Waikás e Aracaçá, regiões onde há grande exploração de garimpo ilegal de ouro. Os resultados serão apresentados aos órgãos fiscalizadores, ambientais e aos responsáveis pela saúde indígena.
Das amostras colhidas, o estudo constata que os índios Yanomami que vivem em Aracaçá são os que têm índices mais preocupantes.
Foram estudadas 13 pessoas, dessas, 92,3% estão contaminadas com nível alto de mercúrio. O número aceitável, conforme a pesquisadora Cláudia Vega, é de 6 microgramas de mercúrio por grama de cabelo.
Na comunidade Waikás, onde a população é formada por Ye’kuana, foram colhidas 47 amostras. Os resultados revelam 27% de contaminação entre o número de pessoas estudadas. A região de Papiú foi a que teve o menor índice: de 179 indígenas pesquisados, apenas 6% estavam contaminadas com o mercúrio.
“Estamos associando essa diferença de exposição pela proximidade e interações com as regiões de garimpo. Eles ingerem o mercúrio, na maioria dos casos, comendo o peixe contaminado e a substância passa para o corpo. A contaminação afeta todo o sistema nervoso, principalmente o central”, explica Cláudia.
Ainda de acordo com a pesquisadora da Fiocruz, a contaminação de mercúrio no corpo pode causar problemas neurológicos, neuromotores e sistêmicos. Entretanto, a pesquisa analisou somente os índices de contaminação.
O mercúrio é o único metal líquido em temperatura ambiente que se une facilmente ao ouro, formando uma liga metálica. Esse material, então, é aquecido, o mercúrio se evapora e o ouro se funde sozinho. O excesso de mercúrio restante desse processo é lançado diretamente nos rios e entra na cadeia alimentar, por meio da ingestão de água e peixes.
O líder indígena Reinaldo Rocha Ye’kuana se diz preocupado com a situação. “Ficamos preocupados com o resultado da pesquisa. A contaminação atinge plantas, animais e pode também afetar nossa futura geração”, relatou. Ainda de acordo com ele, haverá um trabalho de conscientização na comunidade.
Pesquisa
A pesquisa sobre a contaminação por mercúrio na Terra Indígena Yanomami teve início em novembro de 2014, após conversas entres os líderes indígenas e o coordenador do Instituto Sócio Ambiental (ISA), Marcos Wesley de Oliveira, sobre a presença de garimpeiros nas comunidades.
“A presença de garimpeiros que usam o mercúrio próximo às comunidades gerou preocupação com a saúde dos indígenas. Com isso, entramos nas regiões e fizemos as coletas de mechas de cabelo e de peixes, para que fossem feitas as análises. Agora, os resultados foram apresentados aos indígenas e serão enviados aos órgãos competentes”, explica Oliveira.
Além dos resultados apresentados nas comunidades, os pesquisadores também devolveram as amostras de cabelos usadas na pesquisa. O trabalho realizado nas comunidades teve ainda o apoio da Hutukara Associação Yanomami e Associação do Povo Yanomami no Brasil (Apyb).
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Por um lado, é desesperador…Por outro lado, sabemos que é uma consequência de um progresso capitalista que, infelizmente, mantém a roda viva da vida. Daí, surge um questionamento, divulgar para a massa o que adiantaria, se a maioria não terá condições técnicas de entendimento? E os que tem, no caso dos agentes sanitários, por que não orientam as pessoas? A verdade é que adquirimos maus hábitos pela facilidade de aquisição e uso dos produtos contaminados…Sem contar tantos outros empecilhos…A população cresce muito, e muito rápido. Penso se isso tudo não teria, propositalmente, ainda, a intenção de redução da população mundial? Se isso tudo é prejudicial por que as instituições responsáveis pela saúde das pessoas não fiscalizam, proibindo a produção e/ou o uso dessas substâncias químicas letais a todos os seres do planeta?