BPA em nosso Corpo Pode Ser 44 Vezes Maior do que Reportado

BPA=Bisphenol A … só um nome de vários bisfenóis usados nos produtos do nosso dia a dia

https://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2020/01/22/bpa-exposure.aspx

Analysis by Dr. Joseph Mercola

January 22, 2020

Resumo da história

  • Análises independentes mostram que nosso nível de contaminação com Bisphenol A/BPA (nt.: em português – Bisfenol A) pode ser 44 vezes mais alto do que previamente se reportava;
  • Cientistas argumentam que a FDA/Food and Drug Administration (nt.: setor dos EUA que lida com alimentos e medicamentos) está empregando métodos analíticos inadequados que acabam subestimando os níveis deste químico disruptor endócrino;
  • O governo acredita que há evidência suficiente ao remover o BPA dos itens infantis, no entanto, esta substância permanece em produtos usados por mulheres grávidas;
  • O FDA parece relutante em mudar sua metodologia de análises, apegando-se à ideia de que o BPA não apresenta riscos à saúde, ignorando as evidências crescentes de estudos opostos revisados por pares;
  • A exposição ao BPA e a outros disruptores endócrinos pode ser reduzida usando apenas vidro para armazenar alimentos, ingerindo principalmente alimentos frescos e integrais e testando e filtrando a água da torneira, se necessário.

O BPA foi criado em 1891 (nt.: ver o documentário Homens em extinção para entender toda a complexidade deste tema); lá pelos anos 30, cientistas descobriram que esta substância química mimetiza nos organismos, o hormônio feminizante estrogênio. Nos anos 50, o BPA começa a ser empregado pela indústria petroquímica como um químico usado numa reação química que produziu uma resina plástica forte e muitas vezes transparente (nt.: esta molécula surge pela reação química entre este composto e o gás de guerra mais usado na 1ª guerra mundial, o fosgênio); esta molécula que forma a resina policarbonato, é agora conhecida como um disruptor endócrino (endocrine disruptor).1

Assim foi até 2011 quando a União Europeia bane o BPA em mamadeiras e, em 2012, o FDA lhe segue o exemplo.2 De acordo com a Environmental Protection Agency/EPA, este químico é amplamente empregado com resina plástica policarbonato, integrado em quase todas as indústrias, incluindo as alimentícias (nt.: praticamente todos os faróis, sinaleiras etc dos automóveis, além dos plásticos que embrulham queijos, frios fatiados etc, identificados com a sigla PC-policarbonato- e abaixo do triângulo de reciclável o número 7, todos são policarbonato, com toda a irresponsabilidade dos reflexos citados neste artigo!!).

Grupos de vigilância de cidadãos pediram à FDA que removesse o BPA das embalagens que entram em contato com os alimentos, mas seus esforços foram frustrados.3 Em seu site, o FDA afirma, acreditar 4 “nas informações disponíveis que continuam apoiando a segurança do BPA para os usos aprovados tanto para recipientes como embalagens de alimentos.”

Contrariamente à abordagem da FDA, a EPA 5 acredita que o BPA é um “tóxico sistêmico tanto para o desenvolvimento como para o aparelho reprodutivo, efeitos observados em estudos com animais, sendo fracamente estrogênico; existem dúvidas sobre seu impacto potencial, particularmente à saúde das crianças e ao meio ambiente”.

Pesquisadores observaram em um estudo publicado no website do órgão federal Environmental Health Sciences (nt.: órgão ligado ao setor federal norte americano National Institutes of Health) que se acreditava, anteriormente, que a exposição ao BPA não ocorresse somente de maneira preferencial através dos alimentos, mas que seria rapidamente eliminado do corpo. No entanto, quando estudaram o BPA na urina de indivíduos em jejum, descobriram que sua meia-vida, ou o tempo que leva para que metade da quantidade ingerida seja metabolizada, é muito mais longa do que se cogitava.6

Como os níveis de BPA não caíram tão rapidamente quanto o esperado, eles teorizaram de que o BPA (BPA) tanto se acumula no tecido corporal como pode vir de uma exposição significativa não-alimentar – ou mesmo ambos.

Análises Independentes Mostram Maiores Níveis de BPA do que já Foi Publicado

Nova informação também demonstra que análises tradicionais empregadas pelas agências governamentais podem estar subestimando nossa exposição ao BPA (exposure to BPA). Um grupo de pesquisadores 7 desenvolveu um novo teste para medir seus metabólitos presentes depois que o organismos começa a metabolizá-lo.

Após a análise dos dados, os autores argumentaram que os testes tradicionais usados para medi-lo no corpo são imprecisos.8 Os testes em uso atualmente pelo FDA medem indiretamente a presença de BPA, convertendo metabólitos de volta ao BPA por meio de uma via enzimática. Em sua pesquisa de base, os cientistas descobriram:

“Estudos experimentais e epidemiológicos fornecem evidências convincentes de um nexo de causalidade entre o aumento da exposição a substâncias químicas desreguladoras do sistema endócrino (contaminantes ambientais com potencial de perturbar o desenvolvimento e a função do sistema endócrino) e o aumento de doenças não transmissíveis, incluindo a maioria dos aspectos da síndrome metabólica.”

Um especialista da Universidade Estadual de Washington disse ao Gizmodo que a suposição sempre foi de que o método original seria acurado. No entanto, a equipe de pesquisa encontrou consistentemente níveis mais altos de BPA usando seu método de testes. Alguns níveis foram medidos 44 vezes mais alto do que o estimado por testes governamentais das mesmas amostras.

Um dos pesquisadores relatou ao Gizmodo, dizendo que as implicações são especialmente preocupantes naquelas onde a exposição é potencialmente alta, já que é possível que nos atuais programas de avaliação estejam completamente ausentes daqueles de alto risco.

Isso poderia fazer ainda mais difícil a descoberta dos impactos extensos à saúde pelo BPA. Embora o impacto de níveis mais altos ainda esteja sob investigação, as garantias da FDA de que há pouco com o que se preocupar, são questionáveis, pois a escala de exposição pode estar sendo drasticamente subestimada.

Implicações do Novo Método de Análise Vai Muito Além do BPA

O BPA pode ser considerado o ícone de produtos químicos tóxicos na mídia convencional, mas o novo método de análises revela que podem haver implicações adicionais para outros produtos químicos. Após uma investigação de um ano, foi publicado pela porta voz da ONG Chartered Institute Environmental Helath/CIEH, inglesa, Environmental Health News/EHN, ter se percebido uma “cegueira intencional” 9 por parte da FDA ao lidar com a ciência por trás do BPA.

Concluíram 10 que os reguladores podem estar “operando à margem da integridade científica, possivelmente com a intenção de manter intactos tanto as análises atuais como o regime regulatório, evitando assim pesquisa minuciosa”. A EHN leu centenas de emails obtidos através da lei de liberdade de informação (nt.: em inglês – Freedom of Information Act). E, após analisar os dados, escreveram:

  • “Os cientistas da FDA e da indústria continuam a usar métodos de avaliação de décadas atrás que falham na detecção de efeitos conhecidos que estão associados à exposição ao BPA;
  • E-mails entre funcionários federais sugerem um esforço para ignorar evidências de danos;
  • Métodos tendenciosos de interpretação de dados pelo FDA;
  • Divergência acentuada entre os reguladores da FDA e as autoridades de saúde dos Institutos Nacionais de Saúde (nt.: órgão federal de saúde norte americano National Institutes of Health/NIH) tanto sobre a segurança do BPA como sobre quais informações seriam transmitidas ao público.”

Os jornalistas investigativos da EHN acreditam que as análises no estudo em tela confirmam seus argumentos de que as análises da FDA são lamentavelmente inadequados. Laura Vandenberg é uma pesquisadora em saúde da Escola de Saúde Pública da Universidade de Massachusetts-Amherst (nt.: em inglês – School of Public Health at the University of Massachusetts-Amherst). Ela não estava envolvida neste estudo, mas discutiu os resultados com a EHN.

Como a cientista descreve, a avaliação química pode incluir uma avaliação de quanto da substância química pode ser detectada em produtos de consumo ou mesmo na ingestão de alimentos que levam à exposição. Uma avaliação laboratorial é então feita baseada sobre medições da exposição humana.

Vandenberg ressalta que, quando as avaliações de exposição não são precisas, elas podem prejudicar todo o resultado. Este estudo destaca a necessidade de padronizar a medição direta de metabólitos e pode ter um impacto significativo na medição de outros produtos químicos tóxicos no ambiente.

Uma Vez o BPA Foi Considerado Hormônio Farmacológico

Nos anos 30 depois que o BPA foi descoberto como um mimetizador da atividade estrogênica, esteve às portas para ser transformado em um hormônio farmacológico pelas grandes corporações da indústria farmacêutica (nt.: conhecidas nos EUA como Big Pharma).11 Mas, em vez disso, escolheram outro estrogênio sintético (synthetic estrogen), dietilstilbestrol (DES), que foi prescrito para milhões de mulheres grávidas, por mais de trinta anos antes de terem sido descobertos seus riscos sobre a saúde humana.

Mas o BPA foi então empregado noutra área pela indústria química. Em 1963 ele foi aprovado para embalagens de alimentos e de bebidas e classificado como “geralmente reconhecido como seguro” (nt.: em inglês – “generally regarded as safe”/GRAS). O argumento foi de que o químico vem sendo utilizado em produtos de consumo por anos sem obviamente causar danos.

Trinta anos depois, em 1993 — o mesmo tempo que os efeitos danosos do DES fossem documentados — os cientistas descobriram que o BPA estava lixiviando dos tubos de ensaio do laboratório. E assim foi até o ano de 1997 para que os primeiros estudos documentassem os danos à saúde a serem publicados, depois que os cientistas conduzindo um estudo com animais, demonstraram que a exposição a pequenas doses de BPA, alterou o sistema reprodutivo e a próstata em ratos.

Em 2008, o Canadá decidiu de que haviam evidências suficientes que foram apresentadas para demonstrarem de que o BPA é tóxico; não demorou muito para que os fabricantes o removessem das mamadeiras e dos copinhos infantis. No entanto, muitos de seus substitutos (nt.: infelizmente logo a indústria ‘baniu’ o BPA porque substituiu-o pelos BPB, BPF e BFS, tão, ou piores, do que o irmão famoso!), atualmente utilizados em produtos, têm uma química semelhante a ele, apresentando riscos semelhantes.12

Em uma revisão abrangente da literatura, 13 um pesquisador do Colorado descobriu que 75 de 91 estudos apontaram para uma ligação entre o BPA e a saúde humana. Isso teve a ver com efeitos negativos na saúde perinatal e infantil bem como na dos adultos.

O Projeto ‘CLARITY‘ Pode Estar Turvando o Processo

A FDA co-liderou um projeto multimilionário chamado ‘Consórcio Vinculante dos Conhecimentos Acadêmicos e Regulatórios sobre a Toxicidade do BPA‘ (nt.: em inglês – Consortium Linking Academic and Regulatory Insights on BPA Toxicity/CLARITY). Lançado em 2012, o projeto visava vincular dados de pesquisadores independentes a informações toxicológicas mantidas pelo governo.

O objetivo era solucionar a disputa entre cientistas independentes e o governo sobre como o BPA afeta a saúde humana. A EHN descreve o argumento entre os dois campos como:14

“Acadêmicos com métodos modernos e um entendimento sofisticado da fisiologia humana versus cientistas do governo e da indústria que se apoiam numa ciência estabelecida há décadas para a avaliação de produtos químicos industriais.”

Apesar de todas as evidências e de uma longa lista de produtos químicos sintéticos conhecidos como disruptores endócrinos, a FDA ainda parece relutante em mudar sua metodologia de análises, apegando-se à ideia de que o BPA não apresenta riscos à saúde e ignorando os estudos revisados aos pares que mostram o oposto.

A verdade é que a posição da FDA sobre o BPA ignora os resultados de seu próprio comitê científico criado em 1982, que alertou sobre o potencial de que baixas doses de substâncias químicas que causam desregulação endócrina, ligam-se aos receptores hormonais e que a tecnologia futura poderia revelar que a interferência no sistema endócrino (endocrine system) teria um efeito significativo na saúde humana.

O projeto CLARITY foi um esforço colaborativo entre a FDA e 14 cientistas acadêmicos participantes. É um documento que deve ser usado para decidir sobre quaisquer alterações que possam ocorrer nos regulamentos dos EUA sobre esta molécula.

No entanto, quando um relatório preliminar dos resultados foi publicado em fevereiro de 2018, a FDA disparou com uma declaração pública dizendo que o BPA ainda é seguro para se usar – uma alegação que não caiu bem para os outros colaboradores, que estavam ocupados reunindo, juntos, uma revisão independente de dados.

Cheryl Rosenfeld, bióloga da Universidade de Missouri e investigadora do CLARITY, disse à EHN, “Muitos de nós não estamos nada satisfeitos com a FDA.”

Reduzir a Exposição aos Químicos Disruptores Endócrinos

O BPA é apenas um produto químico tóxico, disruptor endócrino, encontrado em vasilhames de alimentos e lixivia das resinas plásticas utilizadas como embalagens que vai para os alimentos. Como já mencionado em artigos anteriores, pode-se reduzir a exposição ao BPA (reduce your BPA exposure) e potencialmente aos seus riscos à saúde, considerando estas sugestões:

  • Comer principalmente alimentos integrais frescos. Alimentos processados e embalados são uma fonte comum de BPA e ftalatos – principalmente no interior das latas, mas também alimentos embalados em filme plástico (foods packaged in plastic wrap). Armazenar os alimentos e bebidas em vidro em vez de plástico, evitando usar filme plástico;
  • Nunca usar plásticos em microondas (never use plastic in a microwave) já que aumenta a liberação de químicos presentes nos plásticos;
  • Estar consciente de que, mesmo quando assinalado com ‘BPA-free‘, os plásticos normalmente liberam outras substâncias químicas, disruptores endócrinos, que são prejudiciais como o BPA;
  • Procurar produtos feitos por empresas que são conectadas com as questões ambientais, respeitem os animais, sejam sustentáveis, com certificação orgânica e livres de transgênicos;
  • Comprar produtos em garrafas de vidro em vez de plásticas ou latas;
  • Controlar a água encanada da residência quanto a contaminantes e filtrar quando for necessário;
  • Ensinar à crianças a não beberem água de mangueiras de jardim para evitarem os químicos dos plásticos;
  • Tomar cuidado com recibos e notas de caixas registradoras e/ou de cartão de crédito impressas com o calor. Nos comércio conhecidos, incentivar a troca deste tipo de recibos por aqueles que são comprovadamente livres de BPA;
  • Se possível, somente amamentar os bebês, por pelo menos um ano (assim evitará a exposição a químicos disruptores endócrinos presentes em alimentos formulados infantis embalados e também de bicos e mamadeiras plásticas). Se for alimentar com mamadeira, usar de vidro em vez de plásticos;
  • Escolher brinquedos infantis feitos com materiais naturais, evitando os de plástico, particularmente os itens que o nenê leva à boca, no sentido de sugar ou mascar.

Fontes e Referências

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2020.