Área central da bacia do Tapajós tem de ser preservada, diz estudo.

Certa vez em uma reunião a presidente Dilma Rousseff teria perguntado à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, qual era o planejamento da pasta para áreas na que precisavam ser conservadas. Não há resposta fácil para esse tema, e todas são polêmicas. Quais são os ecossistemas aquáticos e terrestres imprescindíveis de serem preservados na Amazônia? Pesquisadores de duas ONGs, o WWF e a TNC, desenvolveram um modelo espacial que procura dar foco ao planejamento da conservação. No caso da bacia hidrográfica do Tapajós, por exemplo, a conclusão do estudo é que o bloco central deveria ser preservado de qualquer modo.

 

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A reportagem é de Daniela Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 16-05-2013.

Significaria traçar alvos de conservação na bacia do Tapajós capazes de preservar pelo menos 93 ecossistemas terrestres, 46 espécies de aves, 17 espécies de mamíferos, 37 espécies de peixes, 20 tipos de habitats aquáticos – tudo isso conforme indicação de especialistas.

O modelo de computador, batizado de Sistema de Apoio à Decisão na Amazônia (SAD) foi baseado no software australiano Marxan. “É top no mundo”, diz Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). “Estamos usando este modelo para fazer cenários e ver a combinação entre conservação da biodiversidade versus exploração do potencial hidrelétrico”, explica Tolmasquim. “Existem várias combinações de cenários possíveis. Isso auxilia a tomada de decisão.”

No fim de 2010 foi criado o Grupo Estratégico de Acompanhamento de Empreendimentos Energéticos Estruturantes entre os ministérios das Minas e e do Meio Ambiente. Os pesquisadores do WWF deram consultoria ao governo capacitando técnicos dos dois setores.

O SAD dá, nesta primeira etapa, uma visão ecológica de preservação da Amazônia, considerando apenas fauna e flora, sem examinar ainda aspectos sociais, das pessoas que vivem na floresta. “Se tivéssemos fauna e flora bem mapeadas poderíamos montar um plano de salvar grupos de espécies”, diz Pedro Bara, líder da estratégia de infraestrutura da Amazônia do WWF-Brasil.

Trabalhando com toda a extensão da floresta, considerando todos os países do bioma, o modelo de computador concluiu que, se a intenção for de se conservar a Amazônia no futuro, é preciso preservar uma amostra de 299 classes de ecossistemas aquáticos e 423 classes de ecossistemas terrestres. “É uma representação do todo. É como montar um quebra-cabeças. Existe um determinado número de espécies que tem que estar representado no quebra-cabeças”, explica Bara.

“Mas há uma enorme dificuldade de dados e estudos, não se sabe muito”, reconhece. Segundo ele, o pouco que se conhece da biodiversidade amazônica está concentrado nas proximidades de Manaus e Belém. Os estudos costumam examinar os ecossistemas terrestres, há muito pouco sobre ecossistemas aquáticos.

A solução foi buscar respostas de forma indireta, chegando às espécies pelos mapeamento dos ecossistemas. O eixo do estudo foi considerar dados que explicam a heterogeneidade do ambiente. No caso dos ecossistemas aquáticos, por exemplo, foram considerados aspectos como declividade, escoamento e vazão, cobertura vegetal, erosão e até a origem da água – ou seja, se o rio amazônico nasceu no Planalto Central brasileiro, nos Andes ou no escudo guianense.

No estudo do WWF “Hidroeletricidade na Amazônia: é possível estabelecer um diálogo?“, o modelo avançou sobre uma lógica econômica. Foram consideradas as obras de infraestrutura que estão no planejamento do governo – estradas e hidrelétricas, os planos de mineração, o impacto da agropecuária. “Queríamos descobrir quais áreas custam menos conservar. Qual a melhor relação custo-benefício na conservação, como em qualquer decisão econômica”, explica o ambientalista.

Usando dados públicos, com estudos de pesquisadores e rodando o modelo em computadores, o trabalho do WWF indicou áreas prioritárias para serem preservadas na bacia hidrográfica do Tapajós. “As 42 usinas dos inventários produziriam 28 Gigawatts de potência, mas inundariam 1 milhão de hectares, 22 dessas hidrelétricas tocam em terras indígenas”, diz Bara. Trata-se de uma bacia que é 6% do território nacional, onde vivem cerca de 1 milhão de pessoas. “Quisemos fazer um exercício do que é necessário preservar no Tapajós se quisermos conservar uma amostra expressiva de sua rica biodiversidade”, diz. “Nosso exercício é o de ter uma abordagem do que conservar. É uma proposta de diálogo. Temos planos de mineração, de ferrovia, de hidrelétrica. Temos que ter um plano de conservação também.”