A Implacável Luta Contra os Obesogênicos

Será nosso nenê obeso?

https://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2020/02/05/obesogens-create-real-management-struggle.aspx

Analysis by Dr. Joseph Mercola

February 05, 2020

Resumo da história

  • O termo obesogênico é usado para os químicos disruptores endócrinos que provocam mudanças permanentes ou, algumas vezes, transgeracional das células adiposas do nosso organismo;
  • Em pesquisas com animais, aparecem alterações dos obesogênicos que diminuem a taxa metabólica e aumenta o armazenamento de gorduras, podendo ser encontradas até quatro gerações mais tarde;
  • A percentagem de nenês menores de 24 meses que são obesas cresceu significativamente durante o tempo em que os obesogênicos tornaram-se ubíquos no ambiente;
  • O aumento de peso está associado com desafios incapacitantes de saúde e algumas vezes de morte, elevando os gastos de assistência à saúde em 29% de 2001 a 2015;
  • Os químicos obesogênicos são encontrados tanto na casa como no trabalho, mas se pode reduzir sua exposição usando água filtrada, comendo alimentos integrais, abandonando os produtos anti-aderentes e evitando plásticos e alimentos embalados.

Obesogênicos são substâncias químicas que causam efeitos negativos sobre nossas células. Podemos reconhecê-las numa lista em que estejam: o Bisfenol A (nt.: em inglês – bisphenol-A/BPA), os parabenos, os retardadores de chamas e os agrotóxicos.1 A maioria é conhecida por serem químicos disruptores endócrinos (endocrine-disrupting chemicals/EDCs) que podem estar sabotando os esforços de eliminação de peso.

Outros obesogênicos incluem os PFASs,2 comumente detectado em embalagens de alimentos, produtos de limpeza, panelas com antiaderente, espumas de combate a incêndios e carpetes, tapetes e móveis como resistentes a manchas.

A exposição a este único produto químico pode ocorrer através dos alimentos, do ar e da poeira nos ambientes internos, pela água potável e mesmo produtos usados em casa e no trabalho. Além de ser um obesogênico, de acordo com a cultura livre de tóxicos, o PFAS também está ligado à toxicidade hepática e renal, do aparelho reprodutivo, do desenvolvimento fisiológico e do câncer. Este é apenas um produto químico em uma longa lista de compostos usados em materiais do nosso cotidiano.

Apesar do reconhecimento global de que a obesidade é uma pandemia e contínuas campanhas de saúde estão sendo realizadas direcionadas a este desafio, mas a tendência é de um aumento constante (nt.: como as moléculas que geram a continuam no dia a dia de todos e, por serem sintéticas, não se metabolizam, tudo ficará como está). Em 1960, pouco menos de 15% da população era obesa, quando comparada ao 35% em 2005.3 Este número já tinha crescido aos 39,8% em 2016.4

Obesogênicos: Fatores Ambientais Contribuem para a Obesidade

A Professora Emérita Philippa D. Darbre, da Universidade de Reading, U.K, é especialista em disruptores endócrinos (nt.: em inglês endrocrine-disruptors/EDCs). Em seu livro “Distúrbios Endócrinos e a Saúde Humana” (nt.: em inglês ‘Endocrine Disorders and Human Health’), 5 ela descreve as ações que estes químicos executam e que geram disfunções na habilidade que temos de manter ou perder peso.

Os produtos químicos aumentam o acúmulo de gordura e promovem o crescimento das células adiposas, explica ela. Eles também aumentam o número e o tamanho das células adiposas, além de alterem os hormônios que regulam o apetite. Além disso, os obesogênicos alteram a taxa metabólica e favorecem o armazenamento de calorias, em vez de queimá-las.

A ideia sobre este tema foi publicada pela primeira vez em 2002, por um pesquisador da Escócia em um periódico obscuro. No entanto, chamou a atenção de alguns pesquisadores.6 As pesquisas começaram a se desdobrar depois de um comentário sobre o estudo que foi publicado em um periódico sobre toxicologia muito consultado.

Jerrold Heindel Ph.D., do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental (nt.: em inglês – National Institute of Environmental Health Sciences/NIEHS), concentrou-se sobre o fato de que análises toxicológicas das substâncias químicas foram conduzidas para se ver se estavam relacionados perda de peso, considerado como um efeito toxicológico.

Mas, como reportado pela revista norte americana Newsweek, pesquisadores “negligenciaram exemplos quando os químicos causavam ganho de peso” — o que Heindel observou ser importante, já que “várias das substâncias químicas causavam ganho de peso — e em baixas doses”, tais como as quantidades que um feto ou um nenê poderiam estar expostos.

Heindel também notou que a pesquisa mostrava que expor certas células em um teste em tubo de ensaio a certos químicos, como o BPA (BPA), poderia estimular o crescimento de células adiposas. Escreve que o mesmo poderia também estar acontecendo nos organismos vivos. Ou seja, “o resultado seria um animal [com] tendência a se tornar obeso.”

Apenas dois anos depois, os líderes de um estudo com animais demonstraram que ratos recém-nascidos expostos a um composto que mimetizava hormônios, tinham 36% mais gordura corporal e eram 20% mais pesados do que os usados como controle, ainda informa a revista Newsweek.

De fato, resultados de estudos mais recentes continuam confirmando a hipótese dos obesogênicos.7 Um fato adicional é a mistura de disruptores endócrinos (nt.: em inglês – endocrine disruptors compounds/EDCs) que podemos estar sendo expostos no decorrer do tempo de nossa vida. É por isso que o mapeamento, por anos, do genoma humano pode trazer benefícios.

Pesquisadores experimentais e epidemiologistas estão analisando os níveis de exposição a um único e a múltiplos produtos químicos, empregando pesquisas de exposomas. De acordo com os Centros Para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (nt.: em inglês – Centers for Disease Control and Prevention/CDCs) 8, um exposoma é “definido como a medida de todas as exposições de um indivíduo durante sua vida e como estas exposições se relacionam com sua saúde”. Os pesquisadores esperam que:

Isto informará e orientará futuras abordagens laboratoriais e epidemiológicas que superarão as limitações atuais. Por sua vez, isto nos permitirá avaliar os custos que a exposição ao EDCs trazem à sociedade bem como a exposição aos obesogênicos com maior precisão. Em uma visão otimista, estas informações poderão influenciar os formuladores de políticas públicas a tomarem medidas adequadas para protegerem a .”

Para Rastrear os Químicos e a Obesidade Infantil, Acompanhar as Exposições Em Idade Precoce

Bruce Blumberg, Ph.D., estava na Universidade da Califórnia, Irvine, quando leu o trabalho publicado em 2002. Não ficou muito impressionado pela hipótese, no entanto, decidiu mesmo assim conduzir seus próprios experimentos. Lá por 2006 projetou e executou um estudo com animais no qual ratas grávidas eram alimentadas com um disruptor endócrino conhecido por se imiscuir tanto na cadeia alimentar como na água potável.

A prole nasceu com mais células adiposas do que normalmente e na adultez eram 20% mais pesados do que os que não foram expostos. Através de análises genéticas, ele descobriu que o químico ativava um receptor que muda a direção do desenvolvimento do fibroplasto. A alteração foi tão definitiva que Blumberg cunhou o termo “obesogênico” para descrever o efeito.

Isso desafia a crença de muitos anos de que o ganho ou a perda de peso está baseada somente na calorias ingeridas versus as queimadas. Mas, como o jejum intermitente (intermittent fasting) e a dieta nutricional cetônica (ketogenic nutrition plans) demonstram, há uma diferença em como as calorias podem ser queimadas, eficientemente.

Em outra demonstração de fatores que afetam a perda e o ganho de peso, os resultados de um estudo em animais9 mostraram o que a maioria dos trabalhadores do turno noturno provavelmente sabe instintivamente: que comer à noite agrega mais quilos do que comer a mesma quantidade durante o dia.10

Os autores de uma revisão bibliográfica, publicada em 2018, analisaram pesquisas existentes e estudos com animais e descobriram que “as fontes mais importantes de exposição a obesogênicos em ambientes fechados são: dieta, poeira doméstica e produtos do cotidiano, além de produtos de limpeza, utensílios de cozinha ou cosméticos.”11

Esse padrão ubíquo de exposição está no centro da mesma que acontece na fase pré-natal e infantil a estes químicos que têm esta capacidade de alterar a função celular e diminuir as taxas metabólicas. A população infantil obesa, nas últimas décadas, começou a crescer.

Os dados do CDCs mostram que de 1971 a 1974, assim que os plásticos foram se tornando mais populares e o uso de químicos disruptores endócrinos estava crescendo, apenas 6,7% das crianças de 12 a 24 meses eram obesas.12 Nos próximos anos, a porcentagem de nenês obesas com idades entre 6 e 24 meses seguiram uma trajetória ascendente.

Embora a taxa de crescimento tenha variado, em 2000 10,4% de todos os bebês eram obesos já em 2016 foi de 9,9%. Em uma revisão retrospectiva de gráficos13 dos padrões de crescimento infantil, os pesquisadores descobriram que havia padrões significativamente diferentes que se tornaram evidentes tão cedo como aos 2 e aos 6 meses. Os dados mostraram uma correlação entre os valores do índice de massa corporal aos 4 meses e 5 anos.

Uma confirmação posterior a estas descobertas veio da Universidade da Virgínia, mostrando que os bebês que nasceram com sobrepeso provavelmente permanecerão com excesso de peso.14 Outras detecções de pesquisas com animais mostram que diferenças de peso desencadeadas por químicos obesogênicos podem aumentar o potencial de obesidade nas quatro gerações seguintes.15

O Crescente Desafio do Controle do Peso

O desafio da obesidade (obesity) e do controle de peso apresenta um ônus mental, emocional e financeiro. Estar acima do peso ou obeso pode aumentar o risco de um significativo número de problemas de saúde, incluindo certos tipos de câncer, apneia do sono (sleep apnea), doenças cardíacas (heart disease) e diabetes tipo 2 (Type 2 diabetes).16 Durante a gravidez, pode aumentar o açúcar no sangue e a pressão arterial, resultando em um risco aumentado de cesariana.

Os efeitos podem ser duradouros tanto para os indivíduos como para as comunidades.17  Nas pessoas com menos de 70 anos, apenas o tabaco é responsável por um número maior de mortes a cada ano. Indivíduos com excesso de peso ou obesidade também podem sofrer discriminação, menor qualidade de vida e um risco aumentado de depressão.

Usando dados de diferentes estados dos Estados Unidos,18 uma equipe de pesquisa estima que o percentual de gastos com saúde dedicado à obesidade subiu de 6,13% em 2001 para 7,91% em 2015. Isso representa um aumento de 29% nos gastos com condições de saúde relacionadas à obesidade.

Usar o índice de massa corporal/IMC (nt.: em inglês – body mass indez/BMI BMI) para avaliar seus riscos à saúde pode não fornecer as informações necessárias para se fazer escolhas de vida seguras. A falha no IMC é que ele usa o peso total para determinar se se está acima do peso quando a quantidade total de gordura corporal representa o maior risco para a saúde.

Da mesma maneira, supondo que estejamos saudáveis, se estivermos dentro dos limites normais de IMC, não é uma avaliação precisa. Por exemplo, um atleta e um indivíduo fora de forma podem ter o mesmo IMC ou uma pessoa musculosa pode ser categorizada como sobrepeso ou obesidade quando as únicas medidas usadas são peso e altura.

Em vez disso, a proporção cintura-quadril é um indicador muito mais confiável do nosso risco futuro de alguma doença. Uma proporção mais alta sugere que temos mais gordura visceral — ou seja, acúmulo de gordura ao redor das nossas vísceras — que é de longe mais perigoso do que a gordura subcutânea localizada logo abaixo da pele.

Para determinar nossa relação cintura-quadril, peguemos uma fita métrica e registremos a circunferência da cintura e do quadril. Em seguida, dividir a circunferência da cintura pela circunferência do quadril e comparemos a relação com os valores na tabela abaixo.

Ideal0.80.7
Baixo Risco<0.95<0.8
Moderado Risco0.96 – 0.990.81 – 0.84
Alto Risco>1.0>0.85

Onde Estão os Obesogênicos em Casa?

O aumento crescente de químicos variados tanto no nosso ambiente como na nossa dieta são, sem dúvida, os grandes contribuintes para a epidemia de obesidade. Existem alguns lugares bem comuns onde podemos encontrar estes químicos em nossa casa (common places you can find these in your home) incluindo: 19,20

  • Água encanada — Agrotóxicos fazem sua trilha através da água encanada (tap water), sendo o primeiro deles a atrazina. Embora tenha sido banido na Europa, ele continua a ser utilizado nos EUA (nt.: e no Brasil). Outro é o tributil-estanho (nt.: em inglês – tributyltin/TBT), um fungicida que estimula a produção de células adiposas. Ele é encontrado em produtos feitos de PVC ou vinil (nt.: em inglês – vinyl) e como conservados de tecidos e de carpetes.
  • Bisfenol A (nt.: em inglês – Bisphenol-A/BPA) e os químicos que a indústria o substituiu — Todos são mesclados nas resinas plásticas e como revestimento interno de todas as latas, da sardinha à cerveja e refrigerantes. Eles podem aumentar a resistência à insulina.
  • Película anti-aderente (nt.: tipo teflon, scotchgard e outras) — Os ácidos PFOAs são usados para criar uma barreira anti-aderente em malas e bagagens, carpetes, panelas Teflon, mochilas e roupas. Também é detectado em embalagens de alimentos (nt.: onde houver o plásticos policarbonato/PC, o nº 7, dentro do triângulo de reciclagem) e mesmo em sacos de pipocas usadas em microondas.
  • Químicos usados como retardadores de chama (nt.: em inglês – flame-retardant. Isso porque muitos colchões têm impressa esta informação como vantagem)— Alguns mais antigos como a família dos PCBs foram banidos nos EUA, definitivamente em 1988, mas ainda permanecem na cadeia alimentar. Os químicos substitutos, como os PBDEs, têm efeitos similares sobre o sistema endócrino (nt.: por isso são conhecidos como disruptores endócrinos). Podem ser detectados através do tratamento de carpetes e mobiliário, tecidos, eletrônicos e mesmo nos automóveis.

Abordagens de Senso Comum para Reduzirem os Riscos

Infelizmente, o número de lugares onde podemos estar expostos aos obesogênicos continuam a crescer. No entanto, embora preocupante, podemos tomar atitudes específicas do senso comum com passos que nos levem a reduzir nosso risco de exposição, como já venho mencionando em numerosos artigos anteriores. Observemos que alguns dos disruptores endócrinos não são estritamente obesogênicos, mas eles têm efeitos sobre nossa habilidade de controlar nosso peso.

Evitar agrotóxicos — Comer produtos orgânicos, carnes e laticínios de animais que patejam e criados com humanidade e não transgênicos. Não usar nenhum tipo de agrotóxicos ou químicos sintéticos nos jardins, gramados, sempre removendo os sapatos quando entrar em casa.
Desfazer-se de todos os produtos anti-aderentes e com retardadores de chamas— Panelas e utensílios culinários liberam químicos presentes nestes produtos quando aquecidos. Em vez disso, cozinhar com panelas e utensílios de vidro ou cerâmica. Adquirir colchões, carpetes e mobiliário que não tenha sido tratado com retardadores de chama.
Evitar alimentos embalados — Eliminar produtos alimentícios enlatados, pipoca para microondas e embalagens de viagem ou de ‘delivery’. Evitar comprar alimentos industrializados e embalados já que eles contêm altas quantidades de frutose e glucose de milho (nt.: tipo karo), adoçantes artificiais, agrotóxicos e outros obesogênicos. Adoçantes artificiais podem também ser encontrados em goma de mascar, refrigerantes e alimentos com alternativas ao açúcar.
Evitar quaisquer tipo de produto com PVC e plástico em geral — Usar cortina do box de tecido e não de PVC, que pode ser levada à máquina de lavar. Ela se mantém mais limpa e é mais resistente do que a de vinil. Trocar bagagens, malas e mochilas por produtos feitos com lonas de algodão, de preferência orgânico. Usar vidro para guardar alimentos e sacolas reutilizáveis em casa e para comprar as mercadorias no mercado.
Filtrar a água — Numerosos tóxicos estão presentes na água encanada tornando a filtragem uma necessidade. Encontrar mais informações no texto: “Why Filtering Your Water Is a Necessity.”
Uso mínimo de antibióticos — Estamos aptos a recusar a maioria das razões para o uso dos antibióticos ao disponibilizarmos de uma flora intestinal saudável e pelo uso de medicamentos naturais. Os antibióticos alteram o nosso microbioma intestinal (antibiotics alter your gut microbiome) que influencia no controle do peso tanto em adultos como em crianças.

Fontes e Referências

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2020.