(Nota do site: Por que trazer este assunto com este destaque? Simplesmente porque esta empresa suíça que já passou por várias reformulações neste país na defesa de suas ações poluidoras, é dona de um dos venenos agrícolas mais discutidos e polemizados nos EUA. Isso sem falar em suas propostas no mundo da transgenia. Ele é nada mais nada menos do que o herbicida Atrazina, amplamente utilizada em milho, tanto nos EUA como no Brasil e aqui também associado com a cana de açúcar. Esse veneno tem gerado grande preocupação, no mundo da saúde global, por ser um disruptor endócrino. Ou seja, leva os machos a serem feminizados! Veja estes links assinalados e saberá o porquê do destaque desta transnacional estar agora sob a égide e ética chinesa!)
Crescimento demográfico e escassez de terras explicam o interesse da na gigante suíça de sementes e agrotóxicos
A compra da gigante suíça de sementes Syngenta pela empresa pública China National Chemical (ChemChina), em um negócio avaliado em 43 bilhões de dólares (170,27 bilhões de reais), não só responde a interesses comerciais. Também tem a ver com uma estratégia nacional da China, um país que precisa abastecer 21% da população mundial com apenas 9% de suas terras aráveis.
Por isso, o Partido Comunista chinês incentivou Ren Jianxin, presidente da ChemChina, a adquirir a Syngenta com a intenção de aproveitar a experiência da empresa suíça no campo dos agrotóxicos e dos organismos geneticamente modificados/OGMs, comumente chamados de transgênicos. A oferta recebeu a recomendação “unânime” do conselho de administração da Syngenta, cujas ações subiram 6,63% na Bolsa de Valores de Zurique.
Reunião de membros do PCC da China
Com 1,4 bilhões de bocas para alimentar, a China precisa de um forte impulso à sua produção agrícola. Por isso, o presidente chinês e secretário-geral do Partido Comunista, Xi Jinping, reiterou a necessidade de utilizar os cultivos transgênicos para aumentar a produção, além da compra ações de empresas agrícolas com o objetivo de garantir o abastecimento de alimentos para uma população mais numerosa e mais rica.
“Com o aumento da demanda de alimentos, a segurança alimentar se torna uma prioridade política para o governo chinês”, disse Nirgun Tiruchelvam, diretor de pesquisa da Religare Capital Markets. “Este acordo tem como objetivo garantir a segurança alimentar da população, por isso é provável que nos próximos anos vejamos operações similares”, acrescenta Tiruchelvam.
A compra da Syngenta atingiu um valor total de 43 bilhões de dólares. A Syngenta tem uma das carteiras de sementes mais importantes da indústria, com 6.800 variedades registradas. Junto com a Monsanto e a DowDuPont – a empresa criada pela fusão da Dow Chemical com a DuPont em dezembro de 2015 –, a Syngenta é líder no campo da pesquisa genética e biotecnológica.
A proposta de compra da ChemChina, que representaria a maior aquisição internacional já feita por uma empresa chinesa, prevê o pagamento de 480 francos suíços por ação da Syngenta, além de permitir que os atuais acionistas recebam em maio de 2016 o dividendo ordinário de 11 francos suíços.
Organismos Geneticamente Modificados
“A China está interessada no desenvolvimento dos organismos geneticamente modificados e especialmente das sementes modificadas, que permitam a redução do uso de produtos químicos e fertilizantes”, diz Wei Ruan, economista do Instituto de Pesquisa Norinchukin de Tóquio. “A biotecnologia vai ajudar a impulsionar a produção agrícola na China e permitir que os produtores possam responder à crescente demanda doméstica”, acrescenta Norinchukin.
Cada vez há menos terra arável, e a biotecnologia e as sementes modificadas vão se tornar um instrumento fundamental para aumentar a produção agrícola, destaca o banco britânico HSBC em um relatório. Embora a China seja o segundo maior produtor de milho do mundo, e está tentando melhorar sua produtividade através dos fertilizantes, sua colheita é 44% inferior à dos Estados Unidos.
China compra Syngenta por uma questão geopolítica
A Syngenta detém 19% do mercado de agrotóxicos, e somando os 5% da ChemChina, tornaria a estatal chinesa a maior produtora de agrotóxicos do planeta.
Najar Tubino
A estatal chinesa ChemChina fez uma oferta pela suíça Syngenta por US$43 bilhões, um negócio a ser concretizado até o final do ano, por uma oferta pública de aquisição nos Estados Unidos e na Suíça (nt.: esta aquisição se deu em fevereiro do ano em curso, 2016). A Syngenta detém 19% do mercado de agrotóxicos no mundo, e somando os 5% da ChemChina, tornaria a estatal chinesa como a maior produtora de agrotóxicos do planeta. O jornal espanhol El País publicou matéria sobre o assunto analisando a compra como uma necessidade dos chineses em aumentar a produção de alimentos, por intermédio da transgenia, em função das milhares de patentes de propriedade da Syngenta.
Esse é o retrato da versão mentirosa da mídia. Vamos aos fatos: existe uma queda nos preços agrícolas nos últimos três anos. A FAO anunciou esta semana uma queda de 1,9 no índice de preço dos alimentos, que envolve desde leite, óleos vegetais e grãos, a maior em sete anos. A renda agrícola dos Estados Unidos, segundo o próprio Departamento de Agricultura, caiu 26,6% em 2015, a maior desde 2006 – foi de US$95,8 bilhões, sendo a maior queda com a receita do milho com redução de quase US$11 bi. Em 2013, a renda agrícola estadunidense foi de US$130,5 bilhões.
Governo chinês quer reduzir o plantio de milho
O argumento do aumento da produção de alimentos: o governo chinês anunciou que nos próximos cinco anos pretende reduzir a área de plantio do milho, um dos alimentos básicos, em 25%, e quer estabilizar a produção em 175 milhões de toneladas. A expectativa para a safra 2015/16 é uma produção de 229 milhões, a segunda maior do planeta, atrás dos Estados Unidos, que supera os 300 milhões. Outro dado: os chineses perdem 35 milhões de toneladas de grãos por ano em função de problemas de armazenagem e transporte. A informação é do escritório da Confederação Nacional da Agricultura que tem escritório em Pequim. A área de plantio médio na China, no caso do milho, é de 0,5 ha por produtor, algo impossível para implantar sistemas transgênicos e agro-químicos. Por fim: os chineses querem aumentar o preço do milho doméstico, porque tem estoques suficientes para o consumo de um ano – algo como 180 milhões de toneladas.
Outro ponto: o milho transgênico para cultivo é proibido legalmente na China, embora a importação para processamento de alguns tipos esteja liberado. Entre 2013 e 2014, a China devolveu mais de um milhão de toneladas de milho dos Estados Unidos, porque a semente transgênica da Syngenta não estava aprovada no país. A Associação dos Exportadores de Grãos dos Estados Unidos disse que os produtores tiveram um prejuízo de US$2,6 bilhões. Em janeiro de 2016, o Greenpeace, que mantém oito escritórios na China fez uma denúncia depois de oito meses de pesquisa na província de Liaoning, uma das maiores produtoras do país, e denunciou que os cultivos estavam impregnados de transgênicos das sementes conhecidas no mercado – Monsanto, Dupont, Dow e Syngenta.
Estados Unidos podem vetar a compra dos chineses (nt.: fato que não se concretizou)
Em consequência da crise econômica mundial os lucros das corporações transnacionais do agronegócio também diminuíram. A Syngenta teve uma redução de 17% em 2015 no comparado com 2014 e pretende pagar um dividendo de 11 francos suíços por ação em 2016, que é o mesmo de dois anos atrás. No ano passado a Monsanto fez uma oferta para compra da Syngenta que foi rejeitada pela empresa. O Fundo Henderson Global Trust, um dos maiores acionistas da Syngenta decidiu retirar metade dos investimentos na corporação. Porém, os suíços não se interessaram porque a fusão não passaria pelos órgãos de controle dos Estados Unidos – significaria monopólio das sementes transgênicas e dos agrotóxicos.
O governo chinês declarou que entre as mudanças na economia em curso, as empresas chinesas precisam fortalecer sua presença no mundo, ou comprando o controle, ou através de participação acionária. Em 2015, os chineses investiram mais de 100 bilhões de dólares em compras – caso da Pirelli italiana, da fabricante alemã de equipamentos Kraussmaffei e da corretora suíça Mercuria. Mas esta é uma estratégia que vem se aprofundando nos últimos anos. A maior compra de um ativo estrangeiro pela China foi a canadense Nexen por US$15,1 bilhões.
Entretanto, os Estados Unidos vetaram a compra da Unocal, uma petrolífera, que seria adquirida pela gigante chinesa CNOOC por US$18,5 bilhões. Esta história poderá se repetir novamente, porque 25% do mercado da Syngenta se concentra nos Estados Unidos. A compra terá que ser aprovada pelo Comitê de Investimentos Estrangeiros. A China chegou a comprar cinco milhões de toneladas de milho dos produtores estadunidenses. Agora as exportações não chegam a 3,8% – chegaram a 97% poucos anos atrás. Os falcões estadunidenses não engoliram a rejeição dos chineses e podem dar o troco.
Mercado de transgênicos e agrotóxicos em queda
No teatro global a recessão é que dá o tom: os acionistas das corporações em sua maioria são fundos de investimentos que querem lucros crescendo e não diminuindo, os chineses estão empanturrados de milho nos estoques estatais e a recessão diminuiu o consumo de rações. O mercado global de sementes transgênicas e agrotóxicos está em queda – o faturamento da Syngenta com a Divisão de Proteção de Cultivos, como eles chamam os agrotóxicos, caiu 12% em 2015. A Monsanto teve uma queda no faturamento de 23%, principalmente com vendas de sementes de milho transgênico – 19,7% e um prejuízo líquido no primeiro trimestre fiscal de 2016 de US$253 milhões. Foram demitidos 2.600 funcionários em 2015 e outro mil serão dispensados em 2016.
A Dupont e a Dow Chemical se fundiram recentemente e deverão dividir a corporação em três partes. A outra ponta do conglomerado agroquímico está na Alemanha – Bayer e Basf -, que são pressionadas pelos acionistas a se fundirem. Sobrou a Syngenta, que os chineses compraram. O mundo está em recessão, mas a China tem mais de dois trilhões de dólares em reservas. E direcionou as compras de milho para a Ucrânia, Rússia, Bulgária e Brasil.
Empresa chinesa compra a Syngenta por US$ 43 bilhões
ChemChina supera a norte-americana Monsanto, que vinha tentando adquirir a companhia suíça de sementes e defensivos
(Nota do site: a Globo usando ainda hoje a expressão ‘defensivo’, palavra que não é mais a denominação legal desde a Constituição de 1988!! Irônico, não?)
Por Raphael Salomão
A Syngenta informou nesta quarta-feira (3/2) ter aceito uma oferta de compra de US$ 43 bilhões feita pela chinesa ChemChina. O valor equivale a US$ 465 por ação da companhia. A expectativa é que o negócio seja concluído até o fim do ano.
“O quadro de diretores considerou que a proposta respeita os interesses de todas as partes interessas e recomendou sua aceitação por unanimidade”, informa a nota publicada no site oficial, acrescentando que os bancos Goldman Sachs, J.P Morgan e UBS atuaram como consultores financeiros.
Conforme o comunicado, a operação permitirá uma presença maior em mercados considerados emergentes, especialmente a China. O nome da companhia deve ser mantido, bem como sua sede na Suíça. As mudanças no quadro executivo envolvem a inclusão do atual presidente da ChemChina, Ren Jianxin, e a manutenção de pelo menos quatro dos atuais diretores.
“A Syngenta é líder global em proteção de cultivos e vem ampliando de forma significativa sua participação no mercado global nos últimos dez anos. O negócio nos permite manter e expandir essa posição”, disse, no comunicado, o executivo-chefe da Syngenta, John Ramsay.
O presidente da ChemChina, Ren Jianxin, avaliou que as discussões sobre a aquisição foram feitas de forma “amigável, construtiva e cooperativa” e que o trabalho continuará com o foco na manutenção da competitividade da Syngenta no mercado global. “Nossa visão não está restrita aos ganhos mútuos, mas também em maximizar os ganhos de agricultores e consumidores ao redor do mundo”, disse.
A compra da Syngenta pelos chineses é um revés para a norte-americana Monsanto, que tentava adquirir a companhia suíça de sementes e defensivos (sic!!!). Uma das propostas chegou a US$ 46 bilhões. Marca também um importante passo na consolidação no setor de agroquímicos. Em dezembro passado, DuPont e Dow Chemical anunciaram a intenção de se unir.