Receptor de estrogênio de alto rendimento e suas respostas não toxicológicas, mas fisiológicas

http://sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0041008X22003519

Zhenzhen Shi a ; Menghang Xia b ; Shuo Xiao c ; Qiang Zhang a

a Departamento de Saúde Ambiental de Gangarosa, Rollins School of Public Health, Emory University, Atlanta, GA, EUA;

bNational Center for Advancing Translational Sciences, NIH, Bethesda, MD, EUA; ;

cDepartamento de Farmacologia e Toxicologia, Ernest Mario School of Pharmacy, Environmental and Occupational Health Sciences Institute, Rutgers University, Piscataway, NJ, EUA

23 de agosto de 2022

Resumo

Substâncias químicas ambientais (EDCs) interferem no metabolismo e nas ações dos hormônios endógenos (nt.: são aqueles gerados internamente pelos organismos). Tem sido bem documentado em numerosos estudos in vivo e in vitro que os EDCs podem apresentar comportamentos não monotônicos de resposta à dose (NMDR/nonmonotonic dose response)(nt.: ver gráficos abaixo para entender que isso quer dizer que a dose não condiciona se uma substância é tóxica ou não como diz a toxicologia tradicional). Não estando em conformidade com o paradigma convencional de resposta linear ou linear sem limite, esses relacionamentos NMDR representam desafios práticos para a avaliação de risco de EDCs. Enquanto isso, as vias de sinalização endócrina e os mecanismos biológicos que sustentam a NMDR permanecem incompletamente compreendidos. O programa US Tox21 realizou ensaios de triagem de alto rendimento baseados em células in vitro para receptores de estrogênio (ER/estrogen receptors), receptores de andrógenos e outros receptores nucleares, e rastreou a biblioteca de compostos de 10 K para potenciais atividades endócrinas. Usando 15 concentrações em várias ordens de magnitude de faixa de concentração e executados nos modos agonista e antagonista, esses conjuntos de dados do ensaio Tox21 contêm informações quantitativas valiosas que podem ser exploradas para avaliar os efeitos não lineares dos EDCs e podem inferir mecanismos potenciais. Neste estudo, analisamos as curvas de concentração-resposta (CRCs/concentration-response curves) em todos os 8 ensaios Tox21 ERα e ERβ desenvolvendo algoritmos de agrupamento e classificação personalizados para os conjuntos de dados para se identificar várias formas de CRCs. Após excluir as curvas NMDR provavelmente causadas por citotoxicidade, a inibição da luciferase, ou autofluorescência, centenas de compostos foram identificados por exibirem CRCs em forma de sino ou da letra ‘U’. As CRCs em forma de sino são cerca de 7 vezes mais frequentes do que os em forma de ‘U’ nos ensaios Tox21 ER. Muitos compostos exibem NMDR em pelo menos um ensaio, e alguns EDCs bem conhecidos por seus NMDRs na literatura, também foram identificados, sugerindo que seus efeitos não monotônicos podem se originar em níveis celulares envolvendo sinalização de ER/estrogen receptor transcricional. Os métodos computacionais desenvolvidos para identificação de NMDR em ensaios de ER podem ser adaptados e aplicados a outros bioensaios de alto rendimento.

[NOTA DO WEBSITE: abaixo colocamos duas imagens para que fique bem visível a diferença entre as duas curvas. Esse é um momento chave porque mostra que as pequenas doses, como são dos hormônios não obedecem a ideia de toxicidade linear ou não linear de que a dose quanto maior mais venenoso. No entanto as moléculas disruptoras endócrinas imitando os hormônios atuam já em doses infinitesimais como são os hormônios. Daí a figura mais abaixo que mostra essa realidade.].

O quadro mostra os dois tipos de curvas dose-resposta, a curva monotônica e a não monotônica.

[NOTA DO WEBSITE: abaixo fica clara a forma não monotônica na forma de um U invertido onde as doses baixas já causam o que hoje se chama “nível fisiológico” que já difere do “nível toxicológico” conforme ditava o paradigma da Idade Média de Paracelsus. Sem dúvida que para moléculas naturais e as que não imitam os hormônios, a relação dose-resposta leva à visão toxicológica que ainda se usa para agrotóxicos, por exemplo. E esse foi o caso do DDT que sempre foi considerado pouco tóxico, mas hoje se sabe que ele é estrogênico e seu metabólico DDE antiandrogênico. Agora então temos a ‘DOSE FISIOLÓGICA’ quando a molécula imita os hormônios e a ‘DOSE TOXICOLÓGICA’ onde a resposta é monotônica ou linear/não linear].

O quadro mostra a situação típica da curva não monotônica do hormônio feminino estradiol e seus receptores.