França: fraldas mais limpas e chocante poluição por agrotóxicos

Postado em 07/07 2020

As autoridades francesas decidiram que testes transparentes e generalizados dos produtos de consumo e do ar são vitais para reduzir a exposição do público em geral, a produtos químicos tóxicos. Seus esforços estão começando a dar frutos. Os resultados dos estudos de monitoramento de fraldas e ar foram divulgados separadamente na semana passada.

Estudo francês sobre fraldas descartáveis ​​mostra redução de produtos químicos tóxicos

O órgão de defesa do consumidor da França anunciou, no início do mês de julho pp, um declínio acentuado no número de produtos químicos tóxicos em fraldas descartáveis, depois de alertar no ano passado que bebês podiam estar sendo expostos a níveis perigosamente altos de vários produtores, informou a AFP.

Os produtos químicos identificados em 2019 incluem dioxinas e furanos, além de compostos aromáticos (nt.: conhecidos como hidrocarbonetos benzênicos como naftaleno, estireno, diclorobenzeno e outros) a partir de produtos de consumo da petroquímica, alguns dos quais provavelmente cancerígenos, e formaldeído, que também demonstrou causar câncer.

A agência de assuntos do consumidor da DGCCRF (nt.: em francês – Direction générale de la concurrence, de la consommation et de la répression des fraudes/Direção Geral da Concorrência, do Consumo e da Repressão às Fraudes do governo da França) disse que seus testes mais recentes mostraram uma “melhoria acentuada” entre os 32 produtos avaliados, em comparação com os resultados divulgados em janeiro de 2019 .

“Nenhum novo resultado mostrou níveis acima dos limites de saúde estabelecidos para a exposição à fralda do bebê”, disse o documento.

Os testes também não encontraram vestígios de resíduos de agrotóxicos, como o glifosato, encontrado nos testes iniciais. No entanto, três amostras, incluindo fraldas Pampers Premium Protection, tinham níveis de formaldeído ainda considerados muito altos.

Dois outros tinham níveis preocupantes de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos/HAPs (nt.: mais conhecidos no meio químico como PAHs/polycyclic aromatic hydrocarbons) que foram associados a cânceres e doenças cardiovasculares.

Um executivo da Pampers, Antoine Giuntini, contestou as descobertas em uma entrevista ao jornal Parisien, dizendo que seus próprios testes internos e independentes não encontraram nenhum formaldeído. “Isso mostra que os traços de formaldeído não vieram de nossas fraldas, mas de algum outro lugar”, disse ele.

O relatório do ano passado foi descrito como o primeiro de seu tipo e levou o governo francês a exigir que os fabricantes tomassem medidas para removerem os produtos químicos.

“A França continua pressionando por uma regulamentação mais rígida no nível da União Europeia/UE, a fim de ter uma estrutura estrita para a presença de compostos químicos nas fraldas para bebês”, afirmou o DGCCRF na divulgação dos dados.

Agência francesa identifica 75 agrotóxicos em estudo de monitoramento aéreo

Um novo grande estudo do governo francês identificou 75 agrotóxicos diferentes no ar em toda a França, incluindo 32 considerados “prioritários para investigar”, estando entre eles o herbicida glifosato e o inseticida lindano, devido à sua potencial toxicidade e conexões com o câncer e distúrbios endócrinos, informou o The Connexion.

O estudo, denominado Campagne Nationale Exploratoire des Pesticides (CNEP, – Campanha Nacional de Verificação de Agrotóxicos), sendo o primeiro desse tipo na França. Foi liderado pela Agência Francesa de Alimentos, Segurança Ambiental e Saúde e Segurança Ocupacional (ANSES/Agence Nationale de Sécurité Sanitaire de l’Alimentation, de l’Environnement et du Travail), o Instituto Nacional Francês de Meio Ambiente e Riscos Industriais (INERIS/Institut National de l’Environnement Industriel et des Risques) e as Associações de Vigilância da Qualidade do Ar Aprovadas (AASQA/Associations Agréées Surveillance Qualité de l’Air).

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O estudo de biomonitoramento para medir resíduos de pesticidas no ar foi realizado de junho de 2018 a junho de 2019. Um protocolo harmonizado tornou possível medir 75 substâncias em 50 locais, cobrindo vários tipos de clima e uso da terra em toda a França.

A coleta de quase 100.000 pontos de dados validados e a análise de 1.800 amostras correspondentes permitiram estabelecer um banco de dados que contribuirá para melhorar o conhecimento dos resíduos de agrotóxicos presentes no ar ambiente, a fim de avaliar melhor a exposição da população em geral. A ANSES afirmou que “em última análise, esta campanha contribuirá para definir uma estratégia nacional para o monitoramento de agrotóxicos no ar ambiente”.

A ANSES acrescentou que os resultados não sugerem “em vista do conhecimento atual, um grande problema de saúde associado à exposição da população em geral ao ar externo”, afirmou que “são necessárias mais investigações” em 32 das substâncias encontradas.

Destes, a primeira prioridade é investigar a “situação Lindane“. A Agência afirma ser este inseticida “considerado uma das substâncias mais perigosas (com efeitos cancerígenos, tóxico e um disruptor endócrino comprovado)”.

Apesar de ser proibido desde 1998 na França, Lindane foi encontrado em 80% das amostras coletadas (subindo para 90% nas áreas urbanas).

O glifosato, o controverso herbicida, foi encontrado em 56% das amostras, apesar de haver ligações claras entre seu uso e o aumento do risco de câncer. O glifosato foi uma das nove substâncias “frequentemente encontradas” – o que significa que estava presente em pelo menos 20% das amostras.

A ANSES agora usará os resultados para investigar por que certas substâncias continuam presentes no ar e também para estimar o possível risco cumulativo de exposição a seres humanos (inclusive via sistema respiratório, alimentos e pele).

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, agosto 2020.