Durante os últimos três anos, pesquisadores da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, acompanharam o processo de degradação de cinco sacolas plásticas que ficaram expostas à terra, ao ar e à água do mar. O experimento utilizou sacolas convencionais, dois tipos diferentes de biodegradáveis e uma compostável.
O que os cientistas do International Marine Litter Research Unit descobriram é que, apenas a compostável se desintegrou no meio ambiente. Todavia, em tempo maior do que o previsto. Apesar de ter se decomposto em três meses, resíduos dela ainda estavam presentes no solo depois de 27 meses.
Já as sacolas ditas “biodegradáveis” continuaram intactas e resistentes o suficiente para carregar compras após 36 meses.
“Fiquei realmente impressionada com o fato de que qualquer uma das sacolas ainda pudesse carregar compras. O mais surpreendente foi a biodegradável poder fazer isso. Quando você vê algo rotulado dessa maneira, acho que você automaticamente assume que ela iria degradar mais rapidamente do que as convencionais. Mas, depois de três anos, pelo menos, nossa pesquisa mostra que pode não ser o caso”, diz Imogen Napper, uma das pesquisadoras do estudo.
Outro cientista, Richard Thomposon, que também participou do experimento, ressalta que é preciso haver regras mais rígidas para a fabricação das chamadas sacolas biodegradáveis.
“Esta pesquisa levanta várias questões sobre o que o público pode esperar quando vir algo classificado como biodegradável. Demonstramos que os materiais testados não apresentaram vantagem consistente, confiável e relevante no contexto do lixo marinho”, alerta Thompson.
E ele completa. “Me preocupa que esses novos materiais também apresentem desafios na reciclagem. Nosso estudo enfatiza a necessidade de padrões relacionados a materiais degradáveis, delineando claramente a via de descarte apropriada e as taxas de degradação que podem ser esperadas”.
Restrições ao plástico
Um estudo internacional, publicado recentemente – “Limites Legais sobre Plásticos e Microplásticos de Uso Único: Uma Revisão Global das Leis e Regulamentos Nacionais” – , pela ONU Meio Ambiente, em parceria com o World Resources Institute (WRI), revelou que 127 países do mundo já têm leis com restrições ao plástico (o Brasil não é um deles, infelizmente).
Sendo na forma de taxas ou impostos, ou até mesmo, proibições a seu uso, em julho de 2018, 66% dos países analisados já tinham tomado medidas em relação a produtos fabricados com esse tipo de material.
Na Inglaterra, desde 2015, a distribuição gratuita de sacolas plásticas está banida. Existe uma cobrança de 5 centavos de libra, caso o consumidor queira uma. A medida fez com que, em apenas seis meses, os ingleses deixassem de usar 6 bilhões de sacolas de plástico, uma redução de 85% no consumo das mesmas.
Na Austrália, algo bastante parecido aconteceu. Somente em três meses, houve uma redução de 80% no uso das sacolinhas. Bastou esse curto espaço de tempo para que 1,5 bilhão de sacolas deixassem de serem utilizadas. O milagre? A cobrança nos supermercados fez com que os consumidores começassem a usar as suas próprias.
Suzana Camargo – Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
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Fotos: Lloyd Russell/University of Plymouth e divulgação Sainsbury