Gratidão ao estado da Califórnia/EUA. Agora as Companhias devem nos informar sobre os componentes de seus produtos. Uma nova lei estadual exige o desvelar dos ingredientes secretos dos produtos de limpeza.
A pergunta agora é essa: quando nós, no Brasil, saberemos que temos que fazer isso??!!!
DEC. 1, 2017 6:00 AM
Perscrute atentamente (nt.: se for preciso vai ao supermercado com uma lente de aumento!) a nominata dos ingredientes do ‘bom ar’, lustrador de pisos ou limpador multiuso e vamos nos deparar com um letra “f”: fragrance/fragrância. Será que sabemos o que significa—não importa o fabricante, é agregado para que nossa casa tenha um ‘cheirinho gostoso’—mas na verdade o que representa isso?
Voltando, esta letra “f” pode representar somente um dos mais de 3.000 químicos usados (3,000 chemicals) para isso. A lei federal dos EUA, na verdade, protege os fabricantes de revelarem os seus “segredos industriais”. Desta forma, as companhias não precisam declarar estes ingredientes, mesmo que sejam reconhecidamente carcinogênicos ou até que afetem o desenvolvimento fetal. No entanto, na Califórnia—e, de fato, no resto do país—isto está prestes a ser mudado.
Em outubro, o governador da Califórnia, Jerry Brown, assinou a lei sobre o Direito de Conhecer os Ingredientes dos Produtos de Limpeza (Cleaning Product Right to Know Act); parte de um pacote de mais de 850 leis assinadas no mesmo dia (more than 850 bills signed on the same day). Ele voou baixo mesmo. A partir de 2020, fabricantes de produtos dirigidos à limpeza, purificadores de ar e produtos usados para limpar carros precisarão divulgar certos produtos químicos tóxicos online. No ano seguinte, eles também terão que listar esses produtos químicos em rótulos e etiquetas dos produtos.
A lei não se aplica a todos os produtos químicos que se usa para dar fragrância aos produtos finais. Alergênicos (known allergens) e ingredientes conhecidos na lista de produtos químicos prejudiciais do Departamento de Tóxico da Califórnia (list of harmful chemicals) – cerca de 2.300 compostos no total – já deveriam ser divulgados. Estes incluem ftalatos e percloroetileno (nt.: como é conhecido o tetracloroetileno; ver https://hypescience.com/27903-percloroetileno-lavagem-a-seco-lavanderia/), ambos conhecidos, há décadas, como causadores de câncer (which have been known for decades to cause cancer), e ambos são produtos químicos de fragrância extremamente comuns (are extremely common fragrance chemicals) nos produtos de limpeza diários. Os ingredientes de fragrância remanescentes que não são conhecidos como prejudiciais só precisam ser listados se estiverem presentes em quantidades, pelo menos, de 0,01% do total do produto.
“Vemos isso como um primeiro passo para uma formulação mais segura”, diz Samara Geller, analista do Environmental Working Group, que co-patrocinou o projeto de lei. Saber o que há em um produto, diz ela, é necessário para “avaliar as exposições, as formas como esses produtos químicos estão entrando em nossos corpos e como afetam o ambiente.”
O legislador estadual Ricardo Lara, que foi o autor do projeto de lei, diz que sua mãe o motivou a conduzi-lo. Depois de imigrar do México para os Estados Unidos, ela fez faxinas em casa de família para viver. “Lembro-me de ela me contar de como se sentia adoentada e tonta depois de um dia de trabalho de limpeza na casa dos outros,” diz ele. “Nunca questionou que poderia haver uma conexão entre este seu estado com os produtos que usava.”
A nova lei pode afetar produtos não apenas na Califórnia, mas em todo o país. Aqueles que criaram o projeto de lei dizem que é improvável que os fabricantes criem dois rótulos diferentes para seus produtos – um para a Califórnia, outro para o resto do país – e, de qualquer forma, os consumidores poderão encontrar os ingredientes online.
A Consumer Specialty Products Association (nt.: Associação de Consumo de Produtos Especializados) , o grupo de comércio de algumas das maiores empresas de produtos de limpeza do mundo, inicialmente se opôs à legislação. Mas, depois de negociar compromissos com os grupos envolvidos em sua aplicação, resultou em ficar a favor (it came around in favor). Steve Caldeira, chefe da CSPA, chegou a chamar a nova lei de um “modelo nacional.” Os ambientalistas e os grupos defensores da saúde dizem que a protelação de dois anos para a divulgação completa dos ingredientes – dando tempo para os fabricantes reformularem seus produtos – foi crucial para obter a parceria delas.
E como ficam os outros tipos de produtos que têm estas fragrance/fragrâncias – como shampoos, maquiagem, perfumes, colônia e desodorante? Esses produtos não são cobertos pela lei da Califórnia, mas a lei pode servir como um trampolim para os esforços no sentido de divulgação de seus ingredientes quando com fragrâncias, em outros produtos.
Janet Nudelman, diretora do programa e de política da entidade Breast Cancer Prevention Partners, outra co-patrocinadora desta nova lei, diz que espera que isso aconteça. “Não podemos ir de setor em setor para vermos os produtos e exigirmos que diferentes fabricantes adotem estas mudanças. Nós temos o direito de saber e ponto final,” diz ela. “Mas, infelizmente, essa não é a maneira como o mundo funciona.”
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2017.