Programado para ser gordo: químicos do dia a dia conectados à obesidade e diabetes.

Substâncias químicas encontradas em plásticos, cosméticos e na indústria podem estar alterando nossos organismos, fazendo-nos o mais possível ficarmos gordos bem como desenvolveremos também a diabetes. Estamos fazendo o que deve ser feito, mas ficamos cada vez mais gordos.

 

http://www.theecologist.org/News/news_analysis/1191048/programmed_to_be_fat_everyday_chemicals_linked_to_obesity_and_diabetes.html
Tom Levitt; 12 de janeiro de 2012

 

Obese menMais do que 23% dos adultos e 14% das crianças estão classificadas como obesas no Reino Unido

Muitos dos fatores atrás do aumento das taxas de são agora bem conhecidos: dieta, exercícios e estilo de vida.

Entretanto um, químicos ambientais que estamos expostos diariamente através dos plásticos, embalagens de alimentos, agrotóxicos e cosméticos, passa a ser também discutido a fundo.

Embora seja uma área sub pesquisada, mais e mais estudos estão detectando que estes químicos do dia a dia podem causar obesidade.

‘Quando animais são expostos no seu período pré natal a estes químicos, seu metabolismo é reprogramado de tal forma que mesmo que nunca mais venham a ser expostos novamente a eles em suas vidas, continuam ganhando peso’, diz Bruce Blumberg, da Universidade da California.

O professor Blumberg é um dos pesquisadores que, em número crescente nos EUA, estão na observação de como estes químicos de nosso cotidiano podem provocar o aumento da gordura corpórea.

Ele inclusive cunhou um neologismo ‘obesogênicos’ para descrever os químicos detectados como promotores de ganhos dramáticos de peso.

Existem pesquisas que conectam obesidade a um desequilíbrio entre a ingestão de alimentos e a perda de energia. Mas pesquisa sobre obesogênicos sugere que químicos que são alteradores de hormônios podem estar criando mais células adiposas em nossos corpos, permitindo então a existência daquelas que obtêm mais.

De especial interesse para Blumburg é a exposição pré natal quando os obesogênicos podem estar informando ao feto em desenvolvimento para fazer mais células adiposas – criando, ao longo da vida, propensão para acumular gorduras e dai a obesidade.

O Ecologist publicou algo primeira vez sobre este tema em 2006 (nt.: http://www.theecologist.org/investigations/health/268944/the_big_fat_fix.html) e tem continuado a falar sobre ele em meses recentes, mas com um novo documentário, ‘Programmed to be fat‘ (nt.: http://www.splatsin.ca/programmed-to-be-fat-2/), que foi exibido pelo canal de tevê CBC no Canadá no último dia 12.01.2012, este tópico pode finalmente ganhar reconhecimento generalizado.

Nós apenas nos mantemos engordando.

Embora para alguns a questão permaneça, por que devemos focar sobre possíveis impactos dos obesogênicos quando continuamos a nos alimentar com ‘junk food’ (nt.: fast food, comida lixo)?

‘A realidade é que ambas estão acontecendo’, diz o professor Blumberg. ‘Nós estamos sendo expostos ao obesogênicos e comendo péssima comida. Assim o impacto é duplo.  Nos EUA estamos cortando as gorduras e a obesidade ainda dobrou. Estamos fazendo o que supomos o que deve ser feito e estamos ficando cada vez mais e mais gordos.’

Nos EUA, uma série de estratégias governamentais sobre a obesidade nos últimos dois anos tem todo o reconhecimento da necessidade de mais pesquisas sobre os obesogênicos e a sobre exposição a estes químicos.

Um encontro com oficinas patrocinado pelo governo no ano passado, em fevereiro de 2011 (nt.: http://www.niehs.nih.gov/news/newsletter/2011/february/science-ntp-workshop/), reuniu mais do que 135 cientistas para avaliarem a ciência que conecta obesidade à exposição a seis substâncias químicas: arsênicos e outros metais, bisfenol A, organoestânicos e ftalatos, nicotina, agrotóxicos e poluentes orgânicos persistentes.

Eles encontraram boas provas conectando o fumo materno com o aumento do risco da prole ter sobrepeso ou ser obesa. E evidência suficiente para sugerir que outros químicos ‘podem estar  contribuindo para a atual epidemia de diabetes e obesidade’.

Pouco interesse de investigação no Reino Unido.

No Reino Unido o tema ainda tem que ganhar aceitação – nem o departamento de saúde nem o NHS  (nt.: Serviço Nacional de Saúde) listam esta questão como um fator ligado à obesidade (nt.: http://www.noo.org.uk/NOO_about_obesity/causes). Um porta-voz do departamento de saúde diz que as evidências quanto à teoria dos obesogênicos é ‘limitada’. A Agência de Proteção à Saúde do RU (nt.: Health Protection Agency/HPA) reconhece que este é um tema ‘emergente’, mas não planeja nenhuma pesquisa própria.

A Dra. Susan Jebb, da Unidade de Investigação Médica do Conselho de Pesquisa de Nutrição Humana do HNR em Cambridge e uma das principais autoras do maior relatório governamental sobre obesidade em 2007, diz que a idéia de contaminantes e obesogênicos foi somente considerada em seu relatório como um “curinga”.

‘As evidências em relação aos contaminantes químicos no momento são muito limitadas e não mais do que sugestivas, ao passo que as evidências para alguns outros fatores do tipo: quanto de gorduras se ingeriu ou se usamos bicicleta ou carro; são muito mais fortes e têm um efeito claro e de tamanho mensurável’, diz a Dra. Jebb.

‘Não estou regulando-os, mas estamos certas por comerçarmos a tentar entendê-los’, ela acrescentou sugerindo que químicos podem em última análise ser detectados e estarem conectados mais à diabetes do que a obesidade.

‘Se eles afetam o nosso desejo de comer, isso pode ser um mecanismo muito plausível [para obesidade], tendo mais células adiposas somente lhe dá o potencial de estocar gorduras, terá que ainda comer gordura extra’.

‘Acharia mais fácil pensar em mecanismos plausíveis pelos quais estes químicos poderiam afetar suas chances de desenvolver diabetes ou doenças do coração, onde há mais processos específicos metabólicos que podem ser interrompidos. Por exemplo, moléculas químicas podem se ligar a vários receptores e afetarem a absorção da glucose pelas células’.

 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2012.

 

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