Plastificantes detectados nos óvulos de aves do remoto Ártico

Fulmar Flying

Cientistas detectaram ao estudarem ovários de Pardela-do-Ártico, no norte de uma ilha canadense da região de Lancaster Sound ( Getty/iStock )

https://www.independent.co.uk/environment/plastic-bird-eggs-pollution-arctic-ocean-chemicals-phthalates-research-a8783061.html

Josh Gabbatiss Washington DC  @josh_gabbatiss

Sunday 17 February 2019

‘Detectamos múltiplos contaminantes originários dos produtos plásticos, transferidos pelos corpos das fêmeas, para seus óvulos. Isso é realmente trágico’

Substâncias químicas (nt.: tecnicamente denominadas de plastificantes) originários dos produtos plásticos (from plastics) vem sendo encontrados nos óvulos de pássaros marinhos que vivem em remotas colônias do Ártico, o mais longínquo sinal da poluição contaminando os confins do planeta.

Os cientistas ficaram preocupados com a detecção de vestígios de ftalatos, que são disruptores endócrinos e banidos dos brinquedos infantis devido a seus efeitos potenciais sobre a “determinação de gênero”.

Estas substâncias são rotineiramente agregadas a muitos produtos comerciais de plástico (nt.: são estes plastificantes que dão as ‘qualidades’ e especificidades aos produtos no mercado) e provavelmente sejam oriundas das tampas plásticas descartáveis das garrafas ou das bitucas, baganas de cigarros que estas aves marinhas muitas vezes confundem e os comem por alimentos.

Estes óvulos foram coletados de fêmeas de Pardelas do Ártico, ou fulmares, que vivem numa ilha da região norte canadense denominada Lancaster Sound, a mais de 160 quilômetros de proximidade de um assentamento humano.

Em um estudo preliminar, a Dra. Jennifer Provencher, do Canadian Wildlife Service, testou os óvulos de cinco fulmares/Pardela-do-Ártico e encontrou ftalatos em um deles, mas alertou que o problema provavelmente está muito mais difundido.

“Estas são algumas das aves (birds) que possuem os níveis mais baixos de plástico acumulado”, explicou o Dr. Provencher.

Se colônias destes pássaros, fulmares, fossem testadas no Mar do Norte, onde os níveis de consumo de plástico são muito maiores, diz ela que os resultados poderiam ser bem mais dramáticos.

“Agora, a coisa é olhar para outras populações e vermos se elas têm os mesmos produtos químicos ou mesmo outros”, disse ela.

Em outro estudo, a cientista com seus colegas examinaram os óvulos tanto de fulmares como de gaivotas de pernas pretas, encontrando vestígios de mais produtos químicos conhecidos como estabilizadores de UV e antioxidantes.

“Nós temos encontrado múltiplos contaminantes originários dos produtos de plástico que estão sendo fisiologicamente transferidos para os óvulos,” disse ela.

“Isto é realmente trágico.”

Uma vez que as aves tenham consumido itens de plástico, muitas vezes eles são grandes demais para passarem através de seus sistemas digestivos, significando que ficam em seus estômagos, liberando substâncias químicas que podem passar para os óvulos em desenvolvimento.

Discutindo seu trabalho num estágio inicial na American Association for the Advancement of Science, em Washington DC, a Dra. Provencher disse que agora é importante estabelecer-se o quão disseminado está este problema – e se os produtos químicos vêm causando danos às aves.

O Dr. Alex Bond, biólogo conservacionista do Museu de História Natural que não esteve envolvido no trabalho, disse que esses dados fornecem “outro exemplo dos impactos frequentemente invisíveis que os plásticos podem ter sobre a vida selvagem”.

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, maio de 2019.