Altas concentrações de fragmentos plásticos flutuando nos oceanos vêm sendo reportados em suas áreas mais remotas, aumentando a preocupação sobre a acumulação de lixo plástico sobre a superfície dos mares. Desde a introdução das resinas plásticas nos anos 50, a produção global de plástico vem crescendo vertiginosamente e deverá continuar nas décadas vindouras. No entanto, a abundância e a distribuição dos fragmentos plásticos ainda são desconhecidos, apesar dos efeitos sobre os organismos que vão desde os pequenos invertebrados até as baleias. Neste trabalho, sintetizamos os dados coletados ao redor do mundo para formar um mapa global e uma primeira aproximação da magnitude da poluição de plásticos nas águas marinhas superficiais dos espaços abertos dos oceanos.
http://www.pnas.org/content/111/28/10239.abstract
- Andrés Cózara,1 ; Fidel Echevarríaa ; J. Ignacio González-Gordilloa; Xabier Irigoienb,c; Bárbara Úbedaa; Santiago Hernández-Leónd; Álvaro T. Palmae; Sandra Navarrof; Juan García-de-Lomasa; Andrea Ruizg; María L. Fernández-de-Puellesh; e
- Carlos M. Duartei,j,k,l
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Editado por David M. Karl, Universidade de Hawaii, Honolulu, HI, e aprovado em 06 de junho de 2014 (recebido para revisão em 03 de agosto de 2013)
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Resumo
Há uma crescente preocupação com relação aos fragmentos plásticos que flutuam nas áreas abertas e remotas dos oceanos. No entanto, a magnitude e o destino desta poluição são ainda questões em aberto. Usando os dados da viagem de circunavegação da marinha espanhola denominada Malaspina 2010, pesquisas regionais e relatórios anteriormente publicados, nós mostramos a distribuição do plástico por todo o planeta sobre a superfície do mar alto, a maioria acumulando-se, com densidades comparáveis, em zonas de convergência em cada um dos cinco giros subtropicais. No entanto, a carga global de plásticos sobre a superfícies dos oceanos abertos foi estimada ser na ordem de dezenas de milhares de toneladas, e menos do que se esperava. Nossas observações da distribuição do tamanho dos pedaços plásticos boiantes enchiam tanques importantes por serem seletivos nos tamanhos, removendo os fragmentos milimétricos de plásticos flutuantes em larga escala. Este tanque coletor pode envolver uma combinação de fragmentos de tamanho nanométrico de micro-plásticos até partículas mícrons ou menores, havendo sua transferência para o interior dos oceanos pelas cadeias alimentares e pelos processos de lastro dos navios e outros ainda a serem descobertos. Resolver o destino destes fragmentos plásticos perdidos é de fundamental importância para determinar a natureza e a significância do impacto da poluição do plástico nos oceanos.
- 1 Para quem a correspondência deve ser endereçada. E-mail: [email protected].
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Os autores declaram não haver conflito de interesse.
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Este artigo contém informação de apoio online no link: www.pnas.org/lookup/suppl/doi:10.1073/pnas.1314705111/-/DCSupplemental.
Livremente disponível online através do acesso aberto do PNAS.
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PrIMEIRO MapA DESTE TIPO RevelA A ExtenSÃO DO PLÁSTICO OceÂnicO
http://news.nationalgeographic.com/news/2014/07/140715-ocean-plastic-debris-trash-pacific-garbage-patch/
PUBLICADO EM 15 de julho de 2014
Quando o ecologista marinho Andres Cozar Cabañas e sua equipe de pesquisadores, completou o primeiro mapa deste tipo do lixo oceânico, algo não parecia certo.
“Nossas observações mostram grande carga de fragmentos de plástico, que vão de mícrons a alguns milímetros, e considerados desaparecidos da carga superficial”, diz Cozar, que leciona na Universidade de Cádiz na Espanha, por e-mail. “Mas não sabemos o que este plástico está fazendo. O plástico está em algum lugar—na vida do oceano, nas profundezas do mar ou esfarelado em finas partículas indetectáveis pelas redes”.
Qual efeito destes fragmentos plásticos terá sobre o oceano profundo—o maior e o menos explorado ecossistema sobre a Terra—é uma incógnita. “Infelizmente”, diz Cozar, “a acumulação de plástico nas profundezas do oceano poderá modificar este enigmático ecossistema antes que nós pudéssemos realmente conhecê-lo”.
Mas onde exatamente está este plástico inalcançado? E em que quantidade? E como ele se precipitou?
“Precisamos aprender mais sobre o percurso e o destino derradeiro deste plástico ‘desaparecido'”, diz Cozar.
Plástico, Plástico por todos os lugares
Uma razão porque muitas questões permanecem sem respostas é que a ciência de resíduos marinhos é muito recente. O plástico foi inventado na metade do século XIX e teve sua produção massificada depois do final da II Guerra Mundial. Em contraste, o lixo oceânico começou a ser estudado há pouco mais de uma década.
“Isso é novo, principalmente porque as pessoas sempre pensaram que a solução para a poluição era a sua diluição, o que significava que poderíamos entornar nossa cabeça, e uma vez ‘lavado fora de nossa vista, longe do nosso coração'”, diz Douglas Woodring, co-fundador da Ocean Recovery Alliance, um grupo beneficente com sede em Hong Kong que trabalha para reduzir o fluxo de plástico nos oceanos.
O North Pacific Garbage Patch (nt.: considerado o maior lixão marinho do planeta e que se desdobra e que para muitos já teria o tamanho de dois estados do Texas e até mesmo a dimensão dos EUA), a junção de fragmentos dispersos como detritos que se acumula no Pacífico nordeste, foi primeiramente esboçado quando descoberto em 1997 pelo aventureiro Charles Moore assim que velejava de volta à Califórnia depois de participar em um campeonato de iatismo.
O momento transformador começa em 2004, quando Richard Thompson, um biólogo marinho inglês da Plymouth University, concluiu que a maioria destes fragmentos na marinhos era plástico (concluded that most marine debris was plastic).
Pesquisa sobre os detritos marinhos é também complicado face a necessidade por incluir um grupo multidisciplinar de especialistas, variando entre oceanógrafos a engenheiros de gestão de resíduos sólidos.
“Estamos nos primeiros estágios de compreensão de sua contabilidade”, diz Kara Lavender Law, oceanógrafa da Sea Education Association, com sede em Cape Cod, Massachusetts. “Se pensarmos que de dez a cem vezes mais plásticos podem estar entrando no oceano daqueles que estamos podendo captar, então onde eles estão? Nós ainda não respondemos esta questão.”
“E se não sabemos onde eles estão ou como estão impactando sobre os organismos”, acrescenta, “como poderemos clamar para as pessoas comuns nas ruas, quão grande este problema é?”
A oceanógrafa Law, juntamente com o biólogo inglês Thompson, são alguns dos 22 cientistas pesquisando os detritos marinhos para o National Center for Ecological Analysis and Synthesis da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. O grupo está se confrontando com algumas destas questões e pretende publicar uma série artigos no final de 2014.
Uma das contribuições mais significativa feita pelas equipe de Cozar, diz a oceanógrafa Law, foi os dados coletados no Hemisfério sudeste: “Eu nem posso lhe dizer quão extraordinário isso é”.
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2015.