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19 de março de 2024
[NOTA DO WEBSITE: Matéria importante por estar sendo apresentada por alguém da área de saúde. Nada óbvio de que essas informações deveriam ser destacadas e decantadas por todas as formas de mídias para que todos nós soubéssemos do que estamos fazendo individual e pessoalmente. E isso se dá quando simplesmente queremos coisas de plástico e pior ainda, quando as descartamos como lixo. Infelizmente algumas das posições dos médicos, aqui expressadas, não vão fundo na verdadeira realidade: o crime corporativo dos imensos complexos petroagroquímicos que vão desde a agricultura até as UTIs neonatais. Seus tentáculos nos envolvem a todos em todos os lugares onde podem nos contaminar e envenenar].
Em um estudo inédito, pacientes com placas nas artérias carótidas nas quais foram detectados microplásticos e nanoplásticos apresentaram maior risco de morte ou complicações cardiovasculares graves em comparação com pacientes que tinham placas sem a presença dessas partículas.
Este é o primeiro estudo evidenciando a presença de partículas de plástico em placas de ateroma, porém, o achado mais importante é que essas partículas foram associadas a um aumento de quatro vezes no risco de complicações cardiovasculares, disse ao Medscape o médico e coautor da pesquisa, Dr. Antonio Ceriello, vinculado ao IRCCS MultiMedica, na Itália.
“Acredito que demonstramos que o plástico representa um novo fator de risco para doenças cardiovasculares”, acrescentou o pesquisador. “Além disso, embora o plástico tenha facilitado a nossa rotina em muitos aspectos, me parece que o preço pago por isso seja uma redução da expectativa de vida, o que não é uma boa relação custo-benefício.”
O estudo avaliou 304 pacientes submetidos à endarterectomia carotídea por ateromatose carotídea assintomática, cujas amostras das placas removidas foram analisadas quanto à presença de microplásticos e nanoplásticos, os quais foram encontrados em quase 60% dos casos.
Após uma média de 34 meses de acompanhamento, os pacientes com placas ateroscleróticas nas quais foram detectados microplásticos e nanoplásticos apresentaram um aumento de 4,5 vezes no risco relacionado a um desfecho composto por morte por todas as causas, infarto agudo do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC) em comparação com os pacientes nos quais essas substâncias não foram detectadas (razão de risco de 4,53; intervalo de confiança de 95% de 2,00 a 10,27; P < 0,001).
O estudo, liderado pelo médico Dr. Raffaele Marfella, ligado à Università degli Studi della Campania Luigi Vanvitelli, na Itália, foi publicado no periódico New England Journal of Medicine (NEJM) em 7 de março de 2024.
Segundo os pesquisadores, o estudo não prova causalidade, e muitos outros fatores confundidores não mensurados podem ter contribuído para os achados.
No entanto, o Dr. Rafaelle apontou que foram realizados ajustes para diversos fatores de risco importantes, como diabetes, hipertensão e dislipidemia.
“Neste estudo, todos os pacientes envolvidos apresentavam um alto risco de complicações cardiovasculares e recebiam o tratamento recomendado com estatinas e antitrombóticos, portanto, a associação entre a presença de partículas plásticas nas placas e a incidência de complicações cardiovasculares foi vista mesmo com um bom tratamento preventivo”, disse ele.
“Embora não possamos dizer com certeza se demonstramos uma relação causal, encontramos um grande efeito e existem muitas publicações na literatura que corroboram esse achado. Sabemos que as partículas de plástico podem penetrar nas células e agir em nível mitocondrial para aumentar a produção de radicais livres e levar à inflamação crônica, base fundamental da aterosclerose”, acrescentou o Dr. Raffaele.
Segundo ele, só existe uma abordagem para resolver esse problema: reduzir a quantidade de plástico no meio ambiente (nota do website: infelizmente uma posição pouco radical para a radicalidade da situação que o próprio médico detecta. Talvez esteja faltando para todos nós, sermos mais determinados e ousados em nossas colocações para a sociedade. A única abordagem para resolver esse problema é eliminarmos no aqui e agora todos os plásticos. O resto é tergiversar e propiciar que o crime corporativo permaneça impune e incontrolável!)
“O plástico está em todo lugar — no encanamento, no oceano. Esperamos que esse estudo aumente a pressão sobre o governo para que medidas sejam tomadas (nota do website: novamente em nosso entender uma posição limitada do médico. A sociedade e todas as suas instituições, em todos os níveis, deveriam apontar e desmarcarar o crime corporativo que se esconde tanto na ações governamentais como dos indivíduos que são obrigados e constrangidos a consumirem e descartarem esses produtos maléficos). O assunto é ainda mais importante quando consideramos a saúde das nossas crianças no longo prazo, que estarão expostas a elevados níveis de plástico durante toda a vida”, comentou o autor.
‘Forte sugestão de relação causal’
Comentando para o Medscape, o Dr. Philip Landrigan, médico e autor de um editorial que acompanha a publicação do estudo no NEJM, descreveu a associação como “fortemente sugestiva”.
“Como esse foi apenas um único estudo observacional, ele não prova causa e efeito, mas acredito que exista uma forte sugestão de relação causal”, disse ele. “Embora possa haver outros fatores de confusão em ação, acho difícil imaginar que eles sejam responsáveis por uma razão de risco de 4,5 — um aumento expressivo e alarmante em apenas três anos.”
O Dr. Philip, que é diretor do Programa para a Saúde Pública Global e Bem Comum do Boston College, nos EUA, ressaltou que embora não se saiba quais outras exposições possam ter contribuído para os desfechos adversos vistos nos pacientes deste estudo, o próprio achado relacionado à presença de microplásticos e nanoplásticos na placa aterosclerótica já é uma descoberta revolucionária que suscita uma série de questionamentos urgentes, sendo os principais: “A exposição a microplásticos e nanoplásticos deve ser considerada um fator de risco cardiovascular? Quais órgãos, além do coração, podem ser afetados? Como podemos reduzir essa exposição?”
O Dr. Philip disse não ter ficado surpreso com a presença de partículas de plástico nas placas carotídeas. “Estudos anteriores encontraram microplásticos em outros tecidos, como pulmão, cólon e placenta. Agora eles apareceram na parede dos vasos”, disse ele. “Entretanto, o que é realmente surpreendente neste estudo é que ele sugere que a presença dessas partículas de plástico esteja causando danos graves.”
Segundo ele, o achado deve ser visto como um alerta. “O estudo está nos dizendo que precisamos nos preocupar com a quantidade de plástico no meio ambiente. Essa não é uma situação que será um problema no futuro. Isso já está nos afetando agora.”
O Dr. Philip explicou que as partículas de plástico são absorvidas pelo organismo predominantemente pelo trato gastrointestinal, como ao beber em garrafas plásticas ou comer alimentos embalados em plástico. Segundo ele, é especialmente prejudicial usar embalagens plásticas para aquecer alimentos no micro-ondas, pois o aquecimento do plástico leva as partículas para o interior dos alimentos. “Isso aumenta ainda mais a exposição.”
O editorialista apontou que os plásticos muitas vezes já estão nos próprios alimentos, especialmente nos frutos do mar.
“Os plásticos são jogados no oceano, se decompõem (nota do website: equívoco: não se decompõem, fragmentam-se, por isso formam os micro e os nanoplásticos) e são ingeridos pelos peixes. Se você come peixes que estão no topo da cadeia alimentar, como o atum, ou se consome ostras ou mexilhões, que são filtradores, existem grandes chances de ingestão de microplásticos.”
No entanto, o Dr. Philip disse não ser contra o consumo de peixes em geral. “Talvez o atum ou outros peixes predadores possam ser um problema, mas a maioria dos peixes é boa para a saúde, e espécies como o salmão, que têm uma alimentação principalmente vegetariana, são provavelmente mais seguros neste aspecto.” (nota do website: equívoco: a maioria dos salmões que estão no mercado são de criatórios e só isso já é uma tragédia. Acessem esse link e se conhecerá o que são os criatórios e suas rações de soja que saem do desmatamento da Amazônia e da devastação do Cerrado e Pantanal).
A outra via de contaminação é a inalatória, visto que essas pequenas partículas de plástico estão amplamente disseminadas no ar, provenientes de fontes como pneus que se desgastam ao entrar em contato com o asfalto.
Segundo o Dr. Philip, embora seja impossível evitar totalmente a ingestão de plástico, é possível tentar reduzir essa exposição.
“É possível fazer escolhas inteligentes no que diz respeito às compras domésticas individuais e familiares, além de realizar ações nas comunidades locais e nos locais de trabalho para tentar reduzir o uso de plásticos.”
Ele apontou que 40% de todo o plástico fabricado atualmente só pode ser usado uma única vez, e essa porcentagem está crescendo, com previsões indicando que a produção global de plástico deve duplicar até 2040 e triplicar até 2060, estando a maior parte desse rápido crescimento relacionada ao plástico de utilização única.
“Somos todos membros da sociedade em geral e precisamos nos informar sobre a situação do plástico, além de pressionar os nossos parlamentares para elaborarem leis fortes e juridicamente eficazes que coloquem um limite à produção de plástico”, disse o Dr. Philip.
Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape