https://www.medscape.com/viewarticle/fda-removes-harmful-chemical-food-packaging-2024a10003yt

Miriam E. Tucker

29 de fevereiro de 2024

[NOTA DO WEBSITE: É com enorme alegria que vemos enfim uma publicação que trata da área da medicina, focando de forma direta e objetiva sobre os DISRUPTORES ENDÓCRINOS. Aliás tema que gerou nosso website no início dos anos 2000 e desde o final dos anos 80, nossa militância pessoal no sul do Brasil. Mesmo que tenha demorado mais de 30 anos, ou seja, quantas gerações de crianças vem nascendo sob os efeitos maléficos dessas substâncias, pelo menos numa pequena parte, os novos nascimentos terão menos agressões do que as gerações anteriores. Vale a pena se conhecer a índole criminosa dos CEOs, acionistas, cientistas corporativos e reguladores públicos, quando sabiam, desde os anos 50, que essas substâncias, no caso os , gerados por corporações que louvam a meritocracia, eram completamente tóxicos e apesar disso as disseminaram por todo o planeta, através de produtos de consumo corriqueiro.].

A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA anunciou a remoção dos também químicos disruptores endócrinos (EDCs), as substâncias per e polifluoroalquil (PFAS), das embalagens de alimentos.

Emitido em 28 de fevereiro de 2024, “isso significa que a principal fonte de exposição alimentar ao PFAS em embalagens de alimentos, como embalagens de fast-food, sacos de pipoca para micro-ondas, recipientes de papelão para viagem/delivery (nt.: todas de papelão, aparentando serem ‘ecológicas’, têm uma camada de perfluorados, disruptores endócrnos, no seu interior… assim como papéis que não ‘pegam’ gordura, além de todas as outras nessa mesma linha) e sacos de ração para animais de estimação, está sendo eliminada”, disse o FDA em uma resolução.

Em 2020, a FDA garantiu o compromisso dos fabricantes de pararem de vender produtos contendo PFAS utilizados nas embalagens de alimentos para impermeabilização. “O anúncio de hoje marca o cumprimento destes compromissos voluntários”, segundo a agência.

PFAS, uma classe de milhares de produtos químicos também chamados de “químicos para sempre/forever chemicals”, são amplamente utilizados em produtos de consumo e industriais. As pessoas podem ser expostas através de embalagens de alimentos contaminados (embora talvez já não nos Estados Unidos) ou ocupacionalmente. Estudos descobriram que alguns PFAS perturbam hormônios, incluindo estrogênio e testosterona, enquanto outros podem prejudicar a função da tireoide.

Relatório da Endocrine Society soa o alarme sobre PFAS e outros

O anúncio da FDA ocorreu apenas 2 dias depois de a Endocrine Society ter emitido um novo alarme sobre os perigos para a saúde humana causados ​​pelos DISRUPTORES ENDÓCRINOS/EDCs (nt.: nosso website vem fazendo essas constatações desde que foi criando no início dos anos 2000, depois de, particularmente, virmos alertando a sociedade do sul do Brasil, através de palestras desde o final dos anos 80. Inclusive conseguimos que fosse publicado em 1997, o livro ícone desse tema, ‘Our Stolen Future’, eno Brasil, “O Futuro Roubado’. Mas o que importa é que enfim a Sociedade de Endocrinologia dos EUA está tomando essa atitude. E a brasileira, já se posicionou?), incluindo o PFAS, num relatório que cobre os dados científicos mais recentes.

“Produtos químicos disruptores endócrinos” são substâncias individuais ou misturas que podem interferir na função hormonal natural, levando a doenças ou até à morte. Muitos são onipresentes no ambiente moderno e contribuem para uma ampla gama de doenças humanas.

O novo relatório Produtos Químicos Disruptores Endócrinos: Ameaças à Saúde Humana foi publicado em conjunto com a Rede Internacional de Eliminação de Poluentes (IPEN/International Pollutants Elimination Network), uma organização global de defesa da saúde humana e ambiental. É uma atualização do relatório de 2015 da Endocrine Society, que fornece novos dados sobre as substâncias diruptoras do sistema endócrino anteriormente abordadas e acrescenta quatro EDCs não discutidos nesse documento: agrotóxicos, plásticos, PFAS e produtos infantis contendo arsênico.

Num briefing realizado durante a reunião da Assembleia Ambiental das Nações Unidas em Nairobi, Quênia, na semana passada, a principal autora do novo relatório, Andrea C. Gore, PhD, da Universidade do Texas em Austin, observou: “Um corpo bem estabelecido de investigação científica indica que os produtos químicos disruptores endócrinos que fazem parte da nossa vida diária estão nos tornando mais suscetíveis a distúrbios reprodutivos, câncer, diabetes, obesidade, doenças cardíacas e outras condições graves de saúde”.

Acrescentou Gore, que também é membro do Conselho de Administração da Sociedade Endócrina: “Estes produtos químicos representam riscos particularmente graves para mulheres grávidas e crianças. Agora é o momento para a Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente e outros decisores políticos globais tomarem medidas para enfrentar esta ameaça para saúde pública.”

Embora a ciência tenha surgido rapidamente, as políticas globais e nacionais de controle de produtos químicos não acompanharam o ritmo, disseram os autores. Particularmente preocupante é que os EDCs se comportam de forma diferente de outros produtos químicos em muitos aspectos, incluindo que mesmo exposições a doses muito baixas podem representar ameaças à saúde, mas as políticas até agora não abordaram esse aspecto (nt.: cada vez fica mais claro o que já viemos em nosso website defendendo: como imitam hormônios, É LÓGICO, que as doses serão como eles, infinitesimais, e nunca como a toxicologia tradicional defende que a relação tóxica está condicionada à dose, como propôs na Idade Média, Paracelsus que tratava de substâncias naturais).

Além disso, “os efeitos de doses baixas não podem ser previstos pelos efeitos observados em doses elevadas. Isto significa que pode não haver dose segura (nt.: IMPORTANTÍSSIMA CONSTATAÇÃO AFIRMANDO DE QUE DEVE SER ESSA A GRANDE DEFESA DA ELIMINAÇÃO DE TODOS OS DISRUPTORES ENDÓCRINOS) para exposição a EDCs”, segundo o relatório.

As exposições podem vir de produtos domésticos, incluindo móveis, brinquedos e embalagens de alimentos, bem como materiais de construção eletrônicos e cosméticos. Esses produtos químicos também estão no ambiente externo, por meio de agrotóxicos, poluição do ar e resíduos industriais.

“O IPEN e a Sociedade Endócrina pedem regulamentações químicas baseadas na mais moderna compreensão científica de como os hormônios agem e como os EDCs podem perturbar essas ações. Trabalhamos para educar os formuladores de políticas em assembleias governamentais globais, regionais e nacionais e ajudar a garantir que as regulamentações se correlacionem com o conhecimento científico atual”, disseram eles no relatório.

Novos dados sobre quatro classes de EDCs

Os capítulos do relatório resumiram as informações mais recentes sobre a ciência dos EDCs e suas ligações com doenças endócrinas e exposição no mundo real. Incluía uma seção especial sobre “EDCs ao longo do ciclo de vida dos plásticos” e um resumo das ligações entre EDCs e alterações climáticas.

O relatório analisou três agrotóxicos, incluindo o herbicida mais aplicado no mundo, o glifosato. As exposições podem ocorrer diretamente do ar, água, poeira e resíduos de alimentos. Dados recentes associaram o glifosato a resultados adversos para a saúde reprodutiva.

Dois produtos químicos plásticos tóxicos, ftalatos e bisfenóis, estão presentes em produtos de higiene pessoal, entre outros. Evidências emergentes os associam ao comprometimento do neurodesenvolvimento, levando ao comprometimento da função cognitiva, aprendizagem, atenção e impulsividade.

O arsênico tem sido associado há muito tempo a problemas de saúde humana, incluindo o câncer, mas evidências mais recentes revelam que pode perturbar múltiplos sistemas endócrinos e levar a problemas metabólicos, incluindo diabetes, disfunção reprodutiva e problemas cardiovasculares e neurocognitivos.

A seção especial sobre plásticos observou que estes são feitos a partir de combustíveis fósseis e produtos químicos, incluindo muitas substâncias tóxicas que são conhecidos ou suspeitos de serem EDCs. As pessoas que vivem perto de instalações de produção de plástico ou de lixões podem estar em maior risco, mas qualquer pessoa pode ser exposta ao usar qualquer produto plástico. A eliminação de resíduos plásticos é cada vez mais problemática e muitas vezes imposta aos países de rendimento baixo e médio.

‘Educação adicional e conscientização entre as partes interessadas continuam necessárias’

As políticas destinadas a reduzir os riscos para a saúde humana causados ​​pelos EDCs incluíram o Tratado dos Plásticos de 2022, uma resolução adotada por 175 países na Assembleia Ambiental das Nações Unidas que “pode ​​​​ser um passo significativo em direção ao controle global dos plásticos e à eliminação das ameaças decorrentes da exposição aos EDCs nos plásticos”, dizia o relatório.

Os autores acrescentaram: “Embora tenham sido feitos progressos significativos nos últimos anos, conectando os avanços científicos sobre os EDCs com as políticas de proteção da saúde, a educação adicional e a sensibilização entre as partes interessadas continuam a ser necessárias para alcançar um ambiente mais seguro e sustentável que minimize a exposição a estes produtos químicos nocivos.”

O documento foi produzido com contribuições financeiras do Governo da Suécia, da Fundação Tides, da Fundação Passport e de outros doadores.

Miriam E. Tucker é jornalista freelance e mora na área de Washington, DC. Ela é colaboradora regular do Medscape Medical News, com outros trabalhos publicados no Washington Post, no blog Shots da NPR e no Diatribe. Ela está no X: @MiriamETucker.

Embalagens de fast-food nos EUA dizem adeus aos “produtos químicos para sempre”

https://www.ehn.org/us-fast-food-packaging-says-goodbye-to-forever-chemicals-2667396909.html

Curadores da EHN

29 de fevereiro de 2024

Numa medida significativa, os EUA já não vendem embalagens de fast-food que contenham produtos químicos nocivos PFAS, com o objetivo de proteger a saúde pública.

Jonel Alexia reporta para a Associated Press.

Resumidamente:

  • A FDA colaborou com sucesso com fabricantes de alimentos para eliminar os PFAS das embalagens de alimentos, devido à sua natureza não degradável e aos riscos para a saúde.
  • Gigantes do fast-food como o McDonald’s já pararam de usar essas embalagens antes do cronograma de eliminação.
  • A exposição aos PFAS está associada a graves problemas de saúde, incluindo impactos no colesterol, na função hepática, no sistema imunitário e nos riscos de câncer.

Citação chave:

Livrar-se dos produtos químicos nas embalagens é um “grande passo na direção certa”.

– Dr. Sheela Sathyanarayana, professora de pediatria, University of Washington School of Medicine

Por que isso é importante:

Embora esta iniciativa seja um desenvolvimento positivo para a saúde pública, reduzindo uma importante fonte de exposição alimentar ao PFAS, sua presença em miríades de outras fontes ambientais continua a ser um desafio mais amplo. Use este guia para entender o PFAS e como limitar sua exposição.

Traduções livres, parciais, de Luiz Jacques Saldanha, março de 2024.