Pequenos produtores estão cientes de riscos dos agrotóxicos.

A maior parte dos pequenos agricultores que utiliza agrotóxicos em suas plantações tem consciência dos riscos causados pelo uso dos produtos, mas ainda assim negligencia o perigo que eles representam, segundo pesquisa da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. O estudo trabalhou com a população rural do município de Bom Repouso, em Minas Gerais.

 

http://www.ecodebate.com.br/2012/02/23/pequenos-produtores-estao-cientes-de-riscos-dos-agrotoxicos/

 

Apesar de terem consciência dos malefícios, eles continuam usando os produtos, como mostra pesquisa da EESC

Grande parte dos agricultores sabia que mexia com um produto perigoso, mas mesmo assim não tomava os devidos cuidados

 

A maior parte dos pequenos agricultores que utiliza agrotóxicos em suas plantações tem consciência dos riscos causados pelo uso dos produtos, mas ainda assim negligencia o perigo que eles representam, segundo pesquisa da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. O estudo trabalhou com a população rural do município de Bom Repouso, em Minas Gerais.

A pesquisa Análise da percepção de risco do uso de agrotóxicos em áreas rurais: um estudo junto aos agricultores no município de Bom Repouso (MG), que pretendia fazer um levantamento para saber se os produtores tinham noção dos riscos à saúde e ao meio ambiente trazidos pelo uso intensivo de agrotóxicos, constatou que cerca de 50% dos entrevistados classificava o manuseio de agrotóxicos como “muito perigoso”, e 40% deles diziam não receber nenhuma orientação técnica, mas somente a de amigos, vizinhos ou parentes, o que faz com que determinadas práticas de aplicação dos produtos químicos sejam perpetuadas. A autora da pesquisa, a assistente social Evellyn Espíndola, utilizou uma Planilha de Percepção de Riscos a Saúde e ao Meio Ambiente em uma mostra de 50 pessoas. Para responder à planilha, o próprio entrevistado ou alguém de sua família já deveria tinha sofrido intoxicações em decorrência do uso de agrotóxicos. Por este método, eles indicaram o grau de perigo para determinadas situações (como “nada perigoso”, “pouco perigoso” e “muito perigoso”).

Quando perguntados se conseguiam entender a indicação de toxicidade do produto e o que está escrito na bula, grande parte dos produtores disse que não consegue, o que se deve principalmente à sua baixa escolaridade. “A maioria deles cursou até o ensino fundamental, então mesmo que saibam ler, não conseguem entender a bula, que é cheia de termos técnicos”, diz Evellyn. Dos entrevistados por ela, 70% admitiram ser extremamente perigoso o fato de não conseguirem entender a bula. Para a pesquisadora, a dificuldade na interpretação da bula reafirma a necessidade de intervenção de um técnico ou agrônomo.

Segundo a assistente social, os agricultores sabem que manuseiam um produto perigoso, mas ignoram esse perigo por três fatores principais: a ausência de informações, a baixa escolaridade e a perpetuação de antigas práticas de cultivo. Fora isso, ainda há o sentimento de imunidade ao perigo e a questão financeira. A orgânica (que não usa agrotóxicos), por exemplo, foi uma das alternativas propostas por pesquisadores de um projeto anterior, mas os produtores a consideram mais cara, com menos retorno e com exigência de mais cuidados. Em seu-dia-a-dia, os agricultores costumam usar roupas comuns para a aplicação dos tóxicos (a pesquisa constatou que 86% deles não usam os Equipamentos de Proteção Individual [EPIs] no momento da aplicação), além de muitas vezes misturá-los com outros produtos de forma inadequada.

O morango e a batata são os principais cultivos de Bom Repouso

 

Projeto Mogi-Guaçu
Entre 2004 e 2006, o projeto Mogi-Guaçu, da Petrobras Ambiental, fez estudos na área e detectou elevado índice de utilização dos agrotóxicos e de intoxicações decorrentes desse uso na região. Os agricultores relataram 81 tipos diferentes de compostos químicos usados em suas plantações. O estudo de Evellyn Espíndola, orientado por Evaldo Luiz Gaeta Espindola, deriva desse projeto, que na época entrevistou 160 pessoas. A mostra selecionada pela pesquisadora se refere somente àqueles que se declararam intoxicados pelos agrotóxicos. “As conclusões que o Mogi-Guaçu e outros projetos da época trouxeram já sugeriam um resultado como o encontrado, então não foi uma surpresa para nós quando verificamos que os agricultores sabiam do risco que corriam, mas não faziam nada a respeito”, afirma a pesquisadora. Para ela, os agricultores são os agentes e as próprias vítimas de sua prática.

Bom Repouso
A cidade de Bom Repouso tem como principais produtos cultivados a batata e o morango. O alto uso de agrotóxicos nesses cultivos pode contaminar, além dos próprios hortifruti, o solo e a água da região, o que implica em problemas de saúde mais sérios e abrangentes.

Cerca de 50% da população de Bom Repouso reside em áreas rurais, e dada a importância e o peso da agricultura para o município, é ainda mais importante atentar para o manuseio dos agrotóxicos na região, já que práticas intervencionistas podem ter impactos na economia da cidade. “Ações como desenvolvimento de projetos comunitários com ênfase social, econômica e ambiental são sempre boas alternativas, pois podem contribuir para a formação das novas gerações”, acredita Evellyn.

A pesquisadora acredita que, justamente por isso, sua pesquisa é importante para a comunidade, já que dá informações a respeito da opinião e dos costumes da população, e o que pensam sobre o uso de agrotóxicos, o que pode facilitar ações futuras. “É necessária uma mudança de hábitos”, completa.

Mais informações: email [email protected], com  Evellyn Espíndola

Reportagem de Mariana Soares, da Agência USP de Notícias.