Pampa perdeu 3,4 milhões de hectares de vegetação nativa em 35 anos

Pampa gaúcho.

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CRISTIANE PRIZIBISCZKI 

14 de outubro de 2022

Área é quase do tamanho da Suíça. Remanescentes ocupam apenas 43,2% de todo bioma, mostra estudo do MapBiomas lançado na quinta-feira (13).

O Pampa foi o bioma brasileiro que mais perdeu vegetação nativa entre 1985 e 2021, em termos proporcionais. No período, 3,4 milhões de hectares de diferentes tipos de campos deram lugar para a agricultura e silvicultura, o que representa uma perda de 29,5% de vegetação. Em termos comparativos, para o Cerrado, segundo bioma que mais perdeu cobertura original, a porcentagem de perda foi de 20,9%. Os números fazem parte da coleção 7 do MapBiomas e foram divulgados na última quinta-feira (13).

Segundo o levantamento, em 1985, as áreas de vegetação nativa ocupavam 61,3% do Pampa. Em 2021, essa participação foi de 43,2%. Por outro lado, a ação do homem avança sobre o bioma: as áreas antropizadas somam 46,7%, sendo que 41,6% é somente para a agricultura. 

Dentre os tipos de vegetação do Pampa que mais sofreram transformação, a campestre está no topo da lista: 36% a menos de área coberta por campos no período, majoritariamente para dar lugar às monoculturas. As praias e dunas perderam 28% de sua área e as formações florestais, cerca de 3%.

Em contrapartida, a silvicultura – plantação de espécies madeireiras para exploração, a exemplo do pinus e do eucalipto – teve um salto no bioma: nos últimos 37 anos, a área ocupada para a atividade aumentou 1.641% e, hoje, já ocupa 3,8% do Pampa.

A agricultura aumentou sua área em 54,2% e hoje ocupa 2,8 milhões de hectares do bioma (41,6%, como citado anteriormente).

“A gente vê que está havendo uma troca de áreas de vegetação campestre, historicamente utilizada para uso pecuário, pela agricultura, e o que mais impressiona é que essa transformação tem sido cada vez mais intensa”, disse o pesquisador Eduardo Velez, da empresa de Tecnologia da Informação GeoKarten e parceiro do MapBiomas, durante live de apresentação dos dados.

Segundo a análise da organização, essa transformação de uso da terra se manteve estável entre 1985 e 1997, mas viu uma intensificação a partir do final dos anos 1990. Entre 1998 e 2009, a taxa de conversão de vegetação campestre para agricultura era de 106 mil hectares por ano. Entre 2010 e 2020, ela subiu para 157 mil hectares/ano.

“O avanço exagerado da agricultura, especialmente da soja, sobre as áreas de vegetação campestre deve servir de alerta sobre qual será o futuro do bioma. Estamos deixando de lado a pecuária sustentável, que é a vocação natural do bioma – e que permite produzir e ao mesmo tempo conservar a natureza, e apostando tudo em poucas commodities, como a soja e a silvicultura”, explica Heinrich Hasenack, pesquisador da UFRGS. “Uma economia pouco diversificada aumenta os riscos de prejuízos recorrentes com as perdas de safras, como vimos nos últimos anos, especialmente num cenário de mudanças climáticas”, diz.

Soja avança sobre os campos do Pampa no Brasil. Foto: Silvio Avila/AFP

O trabalho também mostrou que 1 em cada 4 hectares de vegetação nativa no Pampa é vegetação secundária – aquela que já foi suprimida ao menos uma vez e acabou se regenerando. Atualmente, dos 43,2% de cobertura vegetal, 25% já foi derrubada alguma vez no período analisado.

Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow.