Oceano Ártico se divide entre a exploração econômica e a ecologia.

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O oceano Ártico se tornou um campo de prospecção petrolífera e, em longo prazo, a navegação e a pesca podem ser desenvolvidas em suas águas, uma evolução com duras consequências ecológicas que precisa ser controlada, afirmam especialistas reunidos em Mônaco nesta terça-feira (9).

 

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O futuro do Ártico e a pesca predatória, além dos recursos genéticos e de mineração de suas profundezas, representam os novos desafios econômicos dos , que pedem uma regulamentação para que os ecossistemas sejam preservados, explicaram em Mônaco os participantes de um colóquio no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, 30 anos depois de sua adoção.

O oceano Ártico é “um exemplar típico” de colisão entre um desejo de desenvolvimento econômico e a inquietação em proteger a natureza, explicou Philippe Valette, oceanógrafo e diretor do Centro Nausicaá, de Boulogne-sur-Mer, no norte da França.

O progressivo recuo da calota polar modifica radicalmente os ecossistemas da fauna, da flora e das populações locais, e permite prever a longo prazo uma futura via marítima direta entre Europa e Ásia, enquanto as reservas de hidrocarbonetos no subsolo são cobiçadas pela indústria.

“O derretimento da calota polar pode tornar as explorações muito mais fáceis do que hoje em dia”, afirmou Jean-Pierre Beurier, professor de Direito Marítimo da Universidade de Nantes (oeste da França). “Quando se fala em explorações minerais ou fósseis estamos falando de importantes contaminações, se não houver exigências drásticas sobre os atores econômicos”, advertiu.

No Ártico, o apetite pelos recursos se inscreve em um âmbito ao mesmo tempo frágil e desconhecido. A calota polar, que ocupa boa parte do oceano Ártico, se vê afetada pelo . Sua extensão de gelo chegou a registrar este ano sua menor superfície, equivalente à metade do que era há 30 anos.

“Conhecemos muito pouco este meio, assim como a grande maioria dos oceanos”, reforça Valette, que defende a ideia de uma moratória sobre o desenvolvimento econômico no Ártico. “Uma moratória seria prudente”, também avalia Beurier, advertindo que “a exploração do Ártico é inevitável”.

O estabelecimento de um tratado semelhante ao do oceano Antártico, espaço consagrado à pesquisa científica, não se apresenta como uma possibilidade.

O Greenpeace luta pela proibição da pesca industrial e das atividades petroleiras e gasíferas. Nesta terça-feira, encerramento do colóquio, o príncipe Albert II de Mônaco fez uma defesa neste sentido, desejando “ver a parte do oceano Ártico situada mais além das zonas exclusivas como uma área protegida e dedicada à pesquisa”.

“Os países costeiros (Rússia, Canadá, Noruega, Dinamarca e Estados Unidos) não aceitarão nunca que se crie uma reserva como na Antártida, o que está em jogo é muito importante. Então, por que não uma convenção regional à imagem do que se fez em 1974 para o mar Báltico ou o Mediterrâneo?”, propôs Beurier.

(Fonte: UOL)

 

Degelo acelerado na Groenlândia cria indústria de mineração no Ártico.

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À medida que os icebergs no Porto Kayak estalam e assoviam enquanto derretem, esta remota cidade ártica e sua cultura também estão desaparecendo com a mudança climática.

O maior empregador de Narsaq, uma empacotadora de camarões, fechou há alguns anos depois que os crustáceos foram para o norte em busca de águas mais frias.

Onde antes havia oito navios de pesca comercial, hoje não há nenhum. Como resultado, a população da cidade, uma das maiores do sul da Groenlândia, foi reduzida para 1.500 habitantes em apenas uma década. Os suicídios estão em alta. “A pesca é o coração desta cidade”, disse Hans Kaspersen, um pescador de 63 anos. “Muitas pessoas perderam seu sustento.”

Porém, mesmo com as temperaturas mais quentes afetando a vida tradicional na Groenlândia, elas também oferecem intrigantes novas oportunidades para este estado de 57 mil habitantes – e talvez em nenhum lugar isso seja mais aparente do que em Narsaq.

Vastos novos depósitos de minerais e pedras preciosas vêm sendo descobertos com o recuo da maciça calota polar da Groenlândia, formando uma indústria de mineração potencialmente lucrativa. Um dos maiores depósitos mundiais de metais raros – essenciais para a fabricação de , turbinas eólicas e carros elétricos – fica exatamente ao lado de Narsaq.

Isso pode ser oportuno para a Groenlândia, que sempre dependeu de meio bilhão de dólares em pagamentos de previdência social da Dinamarca, país ao qual pertence. Os lucros da mineração podem ajudar a Groenlândia a se tornar mais autossuficiente, e algum dia podem até mesmo transformá-la na primeira nação soberana criada pelo aquecimento global. “Uma de nossas metas é obter a independência”, afirmou Vittus Qujaukitsoq, importante líder sindical trabalhista.

Nova atividade econômica, novo impacto social – Mas a rápida transição de uma sociedade de pescadores e caçadores individuais a uma sustentada pela mineração corporativa levanta questões complexas. Como os assentamentos insulares da Groenlândia lidariam com um influxo de milhares de operários chineses ou poloneses, como foi proposto? Será que a mineração afetaria um ambiente essencial à identidade nacional da Groenlândia – as baleias e focas, os silenciosos fiordes de gelo, os míticos ursos polares? Conseguiriam os pescadores reinventar-se como mineiros?

“Acho que a mineração será o futuro, mas esta é uma fase difícil”, declarou Jens B. Frederiksen, ministro de habitação e infraestrutura da Groenlândia e vice-premiê. “É um plano que nem todos querem. Estamos falando de tradições, a liberdade de um barco, profissões de família.”

O Ártico está aquecendo ainda mais rápido do que outras partes do planeta, e o derretimento do gelo vem causando alarme, entre cientistas, a respeito do nível do mar. No nordeste da Groenlândia, a temperatura média anual subiu 2,5 graus Celsius nos últimos 15 anos, e cientistas preveem que a região poderia se aquecer de 7,8 a 11,7 graus até o fim do século.

O bloco de gelo que cobre os fiordes já não é mais estável o bastante para tráfego de trenós ou motoneves em muitas regiões. A pesca de inverno, essencial para alimentar as famílias, vem se tornando perigosa ou impossível.

Sempre se soube que a Groenlândia fica sobre enormes veios minerais, e o governo dinamarquês os mapeou durante décadas. Niels Bohr, físico nuclear dinamarquês que ganhou o prêmio Nobel e é membro do Manhattan Project, visitou Narsaq em 1957 por seus depósitos de urânio.

Mas as tentativas anteriores de explorar a mineração fracassaram, mostrando-se caras demais nas condições adversas. Agora, o aquecimento alterou a equação.

Em busca de ouro, zinco… – O Gabinete de Minerais e da Groenlândia, responsável por administrar o crescimento, atualmente possui 150 licenças ativas para exploração mineral; há dez anos eram apenas 20. No total, as empresas gastaram US$ 100 milhões explorando os depósitos da Groenlândia no ano passado, e várias outras estão solicitando licenças para iniciar a construção de novas minas – de ouro, ferro, zinco e outros metais raros. Há também empresas estrangeiras explorando o petróleo offshore.

“Por mim, eu não ligaria se toda a camada de gelo desaparecesse”, declarou Ole Christiansen, presidente da NunamMinerals, maior mineradora da Groenlândia, enquanto caminhava por um possível local para mineração de ouro perto de Nuuk, a capital. “Conforme o gelo derrete, estamos vendo novos lugares com geologias bem atraentes.”

A mina de chumbo e zinco Black Angel, fechada em 1990, está tentando reabrir neste ano, disse Jorgen T. Hammeken-Holm, que supervisiona os licenciamentos no gabinete de mineração do país, “pois o gelo está recuando e há muito mais para explorar”.

O governo groenlandês espera que essa mineração gere uma nova renda. Ao conceder o governo local à Groenlândia, em 2009, a Dinamarca congelou seu subsídio anual – que está programado para diminuir ainda mais nos próximos anos.

Mas a Groenlândia também pretende usar o poder proporcionado por seus novos recursos minerais para exercer “influência política em questões que importam para nós”, explicou Frederiksen, o vice-premiê.

Muitos moradores se ressentem pelo fato de dinamarqueses mais instruídos administrarem as poucas empresas do pequeno país. O governo também quer persuadir a União Europeia a suspender sua proibição sobre as importações de produtos de foca, de 2009, que devastou um negócio crucial para o povo inuíte e resultou num acúmulo de 300 mil peles – cerca de cinco para cada habitante.

Garimpos pelos próximos cem anos – Em Narsaq, um conjunto de casas com cores vivas e cercadas por fiordes espetaculares, duas empresas estrangeiras estão solicitando permissão ao governo para atuar na mineração.

“Isso é importantíssimo; podemos garimpar isso pelos próximos 100 anos”, afirmou Eric Sondergaard, geólogo da empresa australiana Greenland Minerals and Energy, que estava nos arredores de Narsaq recentemente. Ele cutucava rochas num planalto parecido com a lua, onde se estima haver 9,5 milhões de toneladas de minério de terras raras.

Essa proximidade promete empregos e a empresa já está treinando alguns jovens em perfuração e inglês, o idioma internacional das operações de mineração. Eles pretendem construir uma planta de processamento, um novo porto e mais estradas (atualmente, a Groenlândia não possui nada disso fora das áreas povoadas).

O minúsculo aeroporto de Narsaq, antes ameaçado de fechamento pela falta de tráfego, poderá ser ampliado. Um proprietário de terras local está pensando em converter um bloco de apartamentos abandonado num hotel.

“Haverá muita gente vindo de fora, e isso será um grande desafio, já que a cultura groenlandesa sempre foi isolada”, disse Jasper Schroder, estudante de Universidade da Dinamarca que veio passar férias em casa, em Narsaq.

Ainda assim, ele apoia a mina e espera que ela gere empregos e contenha a onda de suicídios, especialmente entre seus colegas; a Groenlândia tem uma das maiores taxas de suicídio do mundo.

“As pessoas desta cultura não querem ser um fardo para suas famílias se já não podem contribuir”, explicou ele. Mas nem todos estão convencidos dos benefícios da mineração.

“Claro que a mina vai ajudar a economia local e a Groenlândia, mas não tenho certeza se ela será boa para nós”, declarou Dorothea Rodgaard, que administra uma pousada local. “Estamos preocupados com a perda da natureza.”

Muitas decisões políticas importantes estão pendentes junto ao governo da Groenlândia. O sindicato nacional dos trabalhadores quer proibir o uso de tripulações estrangeiras com baixos salários, pois não quer ver o nível salarial local reduzido ou empregos perdidos para trabalhadores estrangeiros. Mas não existem trabalhadores nativos suficientes para construir as minas sem ajuda externa.

E para que o desenvolvimento vá adiante, o governo terá de revisar uma antiga política de “tolerância zero” contra a mineração de material radioativo – um reflexo da rígida postura antinuclear dinamarquesa. Minérios de terras raras ficam quase sempre entremeados com alguns elementos radioativos.

Simon Simonsen, prefeito da Groenlândia do Sul (que inclui Narsaq), afirmou que a maioria dos residentes da região já superou o medo inicial e aceitou os níveis de radioatividade envolvidos. “Se não conseguirmos essa mina”, completou ele, “Narsaq continuará ficando cada vez menor”. (G1)

 

 

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