O retorno (para ficar) da embalagem retornável

As garrafas de vidro para leite estão de volta: embalagens sustentáveis ​​e recicláveis. STEPHEN RITHCHIE VIA FLICKR / CREATIVE COMMONS

https://elpais.com/elpais/2020/02/26/alterconsumismo/1582710303_780088.html

ANNA ARGEMI

Paris, 02 DE MARÇO DE 2020 (nt.: Matéria do início deste ano, mas importante ser compartilhada a qualquer tempo.)

[Nota do website: este tipo de embalagem era conhecida e utilizada não só noutros países, mas também no Brasil. Foi principalmente a chegada dos sacos plásticos, depois as garrafas PET e as embalagens Tetapak que mudaram este hábito. Este último método modificou não só esta forma de embalamento, mas pior, degradou a qualidade original do leite, e de outros produtos, como um alimento vivo, dinâmico e passível de ‘azedar/estragar’, por ser perecível, demonstrando de que o microbioma do produto agrícola estava presente. E sua ingestão nos agregaria esta vida microbiana que faria do leite, principalmente, um produto praticamente probiótico. Ressalta-se que em São Paulo e no Rio de Janeiro já existem alguns laticínios retornando ao vidro como na Europa. Ainda não são retornáveis, mas é muito mais ‘saudável’ descarta vidro do que plástico.]

Este circuito fechado de consumo – denominado “loop” pelo mercado francês – permite que você compre no supermercado e aposte no desperdício zero ao mesmo tempo

Lembro-me que, quando criança, o dono da leiteria sob a casa nos trazia uma vez por semana uma caixa de garrafas de leite. Ele os colocava em um armário na cozinha e, em seguida, coletava e levava embora os vazios. Esta imagem que para muitos parece projetar-nos ao século passado está voltando e se tornando o auge da modernidade.

Loop é uma iniciativa de origem americana que desembarcou na França em maio do ano passado graças a uma parceria com o Carrefour . Trata-se de oferecer ao cliente do supermercado os mesmos produtos da gôndola convencional, mas acondicionados em embalagens sustentáveis ​​e retornáveis: garrafas de vidro para bebidas, caixinhas de metal para biscoitos, enfim, um retorno ao passado (nt.: desconsideramos como um pejorativo ‘retorno ao passado’, mas sim como um reconhecimento de resgatar o que se fazia de mais ‘inteligente’ do que o ‘progresso’ do descartável -moderno – fincado nos interesses perniciosos industriais, incluindo aqui as agroindústrias.).

A compra é pedida em plataforma online e entregue em casa nas sacolas com a marca comercial Loop, reutilizáveis ​​e especialmente projetadas para evitar o desperdício de tanto material de entrega descartável que acaba no lixo, ou no conteiner da reciclagem. Para cada produto adquirido, uma pequena quantia é paga como um depósito por esta embalagem retornávell e reutilizável, quantia que não precisa ser paga novamente quando o mesmo produto é comprado novamente.

Depois de consumido o produto, o sistema Loop recolhe os recipientes vazios, limpa-os e reutiliza-os para outra encomenda. Uma garrafa de azeite, por exemplo, pode ser reutilizada cerca de cem vezes: o e-commerce inscreve-se na economia circular do retornável. No momento, o serviço está disponível em várias áreas metropolitanas de Paris, bem como na cidade de Lille (no norte da França) e tem cerca de 10.000 usuários. Eles esperam se espalhar por todo o território francês no curto prazo. Na verdade, a plataforma Loop (que significa circuito fechado em inglês) também está disponível em uma parte dos Estados Unidos e será implementada este ano na Austrália , Reino Unido, Canadá e Japão e em 2021 na Alemanha.

O catálogo online da Loop na França oferece alimentos, produtos de higiene, utensílios domésticos, papelaria e produtos de origem animal. Entre as marcas que aderiram ao sistema, 25 clássicos da agroindústria como Coca-Cola, Milka e Tropicana (nt.: na visão da tradução, produto como a Coca-Cola, com maioria de ingredientes químico-sintéticos, ser confundido com os que realmente vêm do processamento da , é uma confusão urbana pelos produtos oferecidos pelos supermercados, não parece?). 

Essa pequena revolução (ou involução dependendo de como você olha para ela) nos hábitos de compra é um grande investimento e também uma pequena grande revolução para o setor (nt.: reforça-se aqui a mesma visão de ‘economia’. Para quem? quando se vê os oceanos, os solos e todos os mananciais hídricos plenos de microplásticos, sendo, até o momento, impossíveis de serem retirados até das células de todos os seres vivos, será mais ‘barato’ para quem? para nossos filhos e netos?).

De repente, você tem que repensar os recipientes dos produtos (nt.: inclusive pela contaminação dos disruptores endócrinos presentes nas resinas plásticas, incluindo as tetapak, que se imiscuem nos produtos alimentícios). Se a lógica antes de “entrar em um loop” era conceber embalagens o mais barato possível, a nova dinâmica nos força a repensá-las para que tenham um ciclo de vida o mais longo possível; que podem ser limpas de acordo com os mais altos padrões, mas usando o mínimo de água e energia; e que uma vez que cheguem ao fim da vida, possam ser, realmente, reciclados. De acordo com o site deles, para limpar os recipientes, usam uma tecnologia semelhante à usada para esterilizar dispositivos médicos.

Na semana passada comentamos aqui que a Intermarché havia decidido no final do ano passado modificar o conteúdo de 900 de seus produtos alimentícios para melhorar a pontuação no aplicativo Yuka. Hoje escrevo sobre como as grandes marcas da produção agroalimentar já estão modificando o continente, as embalagens para, também neste caso, satisfazer as novas expectativas dos consumidores. Poderíamos concluir que toda essa mudança entre os dois não é tão relevante quanto parece porque responde apenas a interesses comerciais, o que ainda é verdade. Na minha opinião, você tem que comemorar que a mudança aconteça, por qualquer motivo, porque em si é ótimo e fala do poder do consumidor com poder. Não há nada.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2020.