O relatório que mudou a Amazônia de lugar.

A região de maior desenvolvimento econômico da América do Sul seria um imenso deserto sem a floresta amazônica e a Cordilheira dos Andes. Inclui-se nesta área abaixo do equador toda a faixa entre os paralelos 20 a 30, que corresponde ao Sudeste, Sul e grande parte do Centro-Oeste do Brasil, além de porções consideráveis do Paraguai e o norte da Argentina, além de incluir toda a Bacia do Rio Prata. O desmatamento da maior floresta tropical do mundo levaria a essa região, que produz 70% do Produto Interno Bruto (PIB) desta porção continental, ao imenso risco de tornar-se inabitável por falta de água.

 

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por Júlio Ottoboni*

Foto: Alex Silveira/WWF BrasilUm imenso deserto, escassez hídrica, calor calcinante, falência do modelo econômico, empobrecimento irreversível dos habitantes, populações inteiras flageladas, conflitos sociais, fome generalizada, violência em larga escala, cidades sendo abandonadas e o caos instaurado na porção mais rica e próspera da América Latina. Longe de ser ficção, essa é uma possibilidade plausível e que já pode estar em curso e seus efeitos já sentidos desde o final do ano passado.

Apesar da gravidade, essa ainda não é a principal conclusão do recém divulgado Relatório de Avaliação Científica “O Futuro Climático da Amazônia”, desenvolvido pelo cientista Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entretanto, é uma informação que alarmou desde o meio científico, passando por empresários, governos até os  habitantes da região afetada pela mais severa estiagem de que a meteorologia brasileira tem registro no sudeste brasileiro, particularmente em São Paulo.

O impacto desta e de outras tantas informações contidas 42 páginas do relatório mudou a de lugar, a tirou da faixa do equador, no Norte do Brasil e dos outros oito países pan-amazônicos, e a inseriu definitivamente como um ser planetário de crucial para vida como conhecemos na Terra. E que teve coragem de dizer claramente que “pelas evidencias de alterações, o futuro climático da Amazônia já chegou”. E são sombrios, muito mais do que o meio científico supunha. A maior floresta tropical do planeta pode desaparecer.

Essa nova posição geopolítica e universalizada da floresta está, em muito, vinculada a credibilidade de quem formulou o trabalho para a Articulación Regional Amazônica (ARA), entidade formada pelos países pan-amazônicos. Atualmente, o engenheiro agrônomo e doutor de biogeoquímica planetária pela University of New Hampshire, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Antonio Nobre, é o mais respeitado especialista em sistemas amazônicos e reverenciado até mesmo colegas de grandes instituições internacionais, algo difícil de galgar no meio científico.

“Acabou o tempo, não posso afirmar que já ultrapassamos o ponto de não retorno. O que dá para falar é que a situação é terminal, na UTI e meu dei conta quando li os trabalhos dos colegas. Não dá para cortar mais nenhuma árvore. Eu mesmo já tinha dito que a situação era gravíssima, mas as pessoas não conseguem modificar seus comportamentos pela falta de identificar o fator de risco. O conforto ambiental treinou o cérebro desta gente para acreditar de que não se precisa fazer nada, que a natureza controla tudo e São Pedro está aí para enviar a chuva, que não vai ter problema. Tenho uma convicção, para mudar isso é necessário termos um desastre, infelizmente não tem outra forma para elas despertarem”, comentou o cientista.

Para essas conclusões foram lidos e analisados 200 trabalhos científicos transdisciplinares, como o estudo que foi publicado há menos de dois anos na Revista Nature, no qual se mostra que os ventos que passam sobre uma floresta  provocam até 60% mais chuvas que os que vem pelo oceano. O volume de dados gerados nas pesquisas sobre a Amazônia era de tal magnitude que Antonio Nobre reconhece ser praticamente impossível alguém dominar todo conhecido produzido, inclusive por sua diversidade.

Isto criou uma dificuldade inerente ao processo e que cria mais barreiras que caminhos.  E sobram críticas até para a estrutura do conhecimento científico, cada vez mais estratificado e hermético. “ A ciência se organizou de uma maneira muito fragmentária. Fazer um trabalho como o que eu fiz é preciso ter muita coragem, é muito difícil até para mim que sou cientista, pois você acaba tendo que entrar em diversas áreas e precisa dominar os detalhes”, afirma com uma sinceridade crua, sem meias palavras.

Sem medo de vulgarizar a ciência

Temores como críticas de seus pares por ‘vulgarizar a ciência’, como os mais conservadores tratam o papel da popularização do conhecimento científico não faz o menor sentido. Antonio Nobre a enfrentar esses e outros desafios, não como um Quixote moderno e lancetar moinhos de ventos, mas quebrar de vez paradigmas que imobilizaram , pelas mais diversas razões e interesses, ações práticas para estagnar o desmatamento amazônico.

É a fala dos que reconhecem a urgência e tem pressa em conseguir eco no que identificou. Ao concluir o relatório,  Antonio Nobre fez questão a afirmar  seu trabalho é  voltado para o leigo, para a sociedade e não para os seus pares ou mesmo autoridades. Sua função agora é divulgar ao máximo a necessidade de mudança, a quebra de paradigmas forjados ao longo de centenas de anos e criar ‘um esforço para a guerra do bem’ para preservar o que resta da floresta amazônica.

Em seu relatório ele abre a ‘caixa de Pandora’ da Amazônia e a sacode para que não sobre nenhum segredo em seu fundo. Entre as cinco verdades desvendadas. O primeiro deles, a floresta mantém úmido o ar em movimento, o que leva chuva para o continente adentro. O segundo: A formação de chuvas abundantes em ar limpo só é possível pelas árvores emitirem substâncias voláteis que condensação o vapor d’água.

Terceiro segredo: a sobrevivência da Amazônia a cataclismos climáticos e sua competência em sustentar um ciclo hidrológico mesmo em condições desfavoráveis se dá a Bomba Biótica. Quarto: a porção meridional da América do Sul não ser desértica se deve a exportação de umidade pelos rios aéreos. E quinto e último: a região amazônica e oceanos próximos não criam condições para furacões e tornados, além de outros extremos climáticos, por distribuir e dissipara a energia dos ventos.

Para ele, falar com a sociedade é a melhor maneira de se criar uma nova ordem preservacionista, da qual a classe política está a margem. Antonio Nobre crê que esse segmento foi julgado e condenado pela própria sociedade. Os dados científicos e as assessorias necessárias sempre estiveram a disposição das autoridades de nada valeram, mesmo que a quase totalidade das pesquisas ou é financiada integralmente ou tem dinheiro público. E o uso deste conhecimento é ignorado pelos locatários do poder, muitas vezes até sob a desculpa que existe dificuldade em se compreender as pesquisas e seu vocabulário hermético. Isso não passaria de uma desculpa com o propósito de manter o mesmo status quo das relações vigentes.

“O júri popular já condenou as nossas autoridades por procrastinação e negligência, poderiam ter exigido como fizeram com o INPE sobre o desmatamento, que criou vários mecanismos de vigilância e de aferição,  e que estamos perdendo graças ao novo Código Florestal que anistiou os desmatadores e o desmatamento está novamente explodindo.  O que estou pedindo nesta relatório é o mínimo minimorum , não temos mais opção, nós temos essa capacidade de reverter o quadro, como foi feito em poucas semanas para salvar diversos bancos privados com trilhões de dólares”, ressalta.

Produtora de vapor e chuva

Uma árvore grande pode evaporar mais de 1 mil litros de água por dia. Estima-se que a floresta toda, cerca de  5,5 milhões de km² que restaram, consiga ainda proezas inimagináveis. Para se ter uma ideia da dimensão da evaporação no território florestal, o volume diário do Rio Amazonas atinge 17  trilhões de litros. Enquanto a vegetação lança à atmosfera 20  trilhões de litros por dia em moléculas de água. Algo, inclusive, já cientificamente comprovado, ser maior que o próprio índice de vapor de água existente  na mesma faixa no Oceano Atlântico.

Um dia da energia despendida nesta evaporação – que forma as nuvens e auxilia na circulação atmosférica – representa o esforço feito pela Usina de Itaipu, em carga plena, durante 145 anos. E pensar que no ano de 1500 esse volume de evaporação em toda porção sul continental e suas florestas intactas chegavam aos expressivos 25 trilhões de litros diários. Hoje, mesmo com a Mata Atlântica reduzida a 10% de seu tamanho original, na faixa equatorial americana cerca de 22 trilhões são levados a atmosfera todos os dias.

Na floresta, um metro quadrado alcança no dossel até 10 metros quadrados, o que dá esse índice fantástico de evaporação, como “geiser” com tronco, raízes profundas, galhos e folhas. Enquanto no oceano, um metro quadrado corresponderá ao mesmo volume evaporado. O termo oceano verde veio dos estudos feitos pelo experimento que reuniu o mundo cientifico debruçado na Amazônia, o LBA. Isso se deu ao baixíssimo índice de poeira existente na baixa troposfera, um nível semelhante ao registrado nos oceanos.

Entretanto, sem aerossóis, que são partículas em suspensão, não há formação de gotas de chuva. Por isso que os oceanos tendem a aridez.  O que levou a outra descoberta fantástica.  A inteligência da floresta resolveu a questão. Ela passou a emitir gases aromáticos que são capazes de induzir as chuvas. Em outro processo, gases nocivos são retirados do ar também por mecanismos de autorregulação ambiental produzidos pelas árvores.

O conceito de ‘ bomba biótica’, surgido pelos cientistas Anastassia Makarieva e Victor Gorshkov, ambos pertencentes ao núcleo de pesquisas do Instituto de Física Nuclear de São Petersburgo, na Rússia, em colaboração com Antonio Nobre, do Inpa, mostra que quando a evaporação gera um fluxo de vapor – maior inclusive que do  rio Amazonas –  a pressão atmosférica na Floresta Amazônica cai. Isso cria uma aceleração que “suga” os ventos alísios vindos do Oceano Atlântico  e carregados de umidade. Esse efeito é semelhante ao de uma bomba de água, cuja função é puxar os ventos úmidos do oceano para adentrarem à bacia Amazônica.  Sem a floresta isso não ocorre e as chuvas desaparecem.

O conjunto de árvores atuam em sintonia, como um ar-condicionado e produzem um rio suspenso de vapor. Essa formação maciça de nuvens abaixa a pressão atmosférica da região e puxa o ar que está sobre os oceanos para dentro da floresta. Algo, segundo Antonio Nobre, que desafio tanto modelos climáticos como o senso comum. Neste bombeamento biótico de umidade se cria uma correia transportadora. As árvores imensas e antigas têm enraizamento profundo, que buscam água a mais de 20 metros até 40 metros abaixo do solo, num rico lençol freático. E traz essa água estocada no oceano de água doce, retroalimentado toda vez que chove.

Rios Aéreos

Outra novidade são os ‘rios aéreos’, um sistema capaz de transportar imensas quantidades de água em forma de vapor e provocar chuvas em grande parte do porção mais austral do América do Sul. A faixa dos desertos existente no hemisfério sul do planeta atravessa enormes áreas continentais, como os desertos australianos de Great Sendy, Gibson e Great Victoria, na plataforma africana surgem as áreas desertificadas da Namíbia e do Kalahari e na América do Sul, o do Atacama.

Sem qualquer coincidência, ambos desertos africanos, inclusive em expansão, estão alinhados frontalmente, dentro das margens latitudinais, com as regiões de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O que leva aos cientistas suporem que somente uma combinação de fatores envolvendo a Amazônia tornaram essa área próspera, com um regime de chuvas estabelecido e florestas, e não um deserto inóspito.

“Fiz esse relatório sobre a Amazônia e não sobre São Paulo, apesar de ter ligação. Não seria algo totalmente impensável que essa região seria desértica se não fosse a circulação do ar úmido que sobe da floresta, bate nos Andes e acaba vindo para o sudeste. Essa é a única referência que eu faço. Mas num sistema autorregulado, você só percebe o dano quando ele entra em colapso. Como o sistema tem uma capacidade muito grande de absorver abusos, durante as últimas décadas tínhamos um certo conforto. Só que chegamos agora no nível de saturação”, reforça.

Além do Brasil, também são afetados por esse sistema, oriundo da Floresta Amazônica, os territórios da Bolívia, Paraguai e parte da Argentina. Isso ocorrer  principalmente nos meses de verão, de novembro a março. E é justamente nesse período que chegam ao início destas latitudes médias os fluxos dos chamados rios aéreos. As frentes frias que procedem do sul do continente e chegam nessas regiões em outros períodos do ano, sendo massas de ar frio que transportam pouca umidade.

“Isso foi comprovado pelo pesquisador Enéas Salati, o pioneiro sobre reciclagem da umidade na Amazônia. Ele e o aviador Gerard Moss, perseguiram o caminho deste rio aéreo em meados dos anos 2000. Coletas de chuvas no Rio de Janeiro mostram que as águas vinham também do interior do continente e haviam passado pela Amazônia. Constatou-se  em estudos, como o de Dominick Spracklen e seus colaboradores, que a floresta é a cabeceira dos mananciais aéreos da maior parte das chuvas na América do Sul”, salientou.

Impactos atuais e futuros

O volume de desmatamento e suas proporções colossais, que além de se tornar o maior biocídio (no sentido lato da palavra, exterminar a vida)  de ação antrópica na história do planeta, os efeitos e impactos desta destruição são sentidos em diversos pontos do país. Se antes da destruição se dizia que na região amazônica havia duas estações, a úmida e a mais úmida. Depois com o avanço do desmatamento temos agora uma estação seca pronunciada e a estação úmida diminuindo progressivamente.

“Não resta a menor dúvida de que os impactos do desmatamento e da degradação florestal, além de seus efeitos associados, já afetam a chuva próxima e distante da Amazônia. Já causa efeitos hoje e prometer ser ainda mais severos no futuro, a ponto de que a única opção responsável é agir vigorosamente no combate às causas. Como ação principal impõe-se a universalização e facilitação de acesso às descobertas científicas, que podem reduzir a pressão da principal causa do desmatamento: a ignorância”, observou Antonio Nobre.

Formada há 400 milhões de anos, a Amazônia primordial nasceu de organismos que saíram do oceano e vieram para a terra. O tapete multicolorido, estruturado e vivo, além de extremamente rico em organismo prosperou. Dentro das folhas ainda existem condições semelhantes às da origem marinha. O processo que trouxe a floresta continental e seus habitantes se formou nos últimos 50 milhões de anos.

O cientista calcula que a ocupação da Amazônia já destruiu nas últimas quatro décadas, cerca de 42 bilhões de árvores, ou seja, 7 árvores para cada habitante da Terra. São mais de 2 mil árvores por minuto, de forma ininterrupta.  Na somatória entre desmatamento e a degradação – áreas verdes, mas inutilizadas -, a destruição da Amazônia alcança mais de 2 milhões de km². Se contabilizar apenas o desmatamento até 2013 se chegará a marca 763 mil km², área equivalente ao território de três estados de São Paulo. Em área degradada, mais 1,2 milhão de km². Detalhe, isso somente no Brasil.

Para se ter noção, entre mais de 200 países apenas 13 deles tem uma área maior que a devastada. A porção brasileira da floresta já pode aniquilado 29,44% da cobertura original e somada ao corte-raso, o percentual alcança os 47, 34% de todo complexo impactado diretamente por atividade humana desestabilizadora do clima.

A física peculiar gerada pela floresta e que está alterando os modelos climáticos que envolvem a Amazônia, também revelam um novo ponto de saturação e de conversão para o reequilíbrio ambiental. Com a remoção de 40% da floresta denominada ‘oceano verde’ poderá se deflagrar a transição em larga escala para ao equilíbrio de savana, liquidando com o tempo até a porções de mata que não tenham sido alvo da ação dos desmatadores.

O relatório mostra que o nível atual de degradação teria perturbado a floresta remanescente em variados graus e afeta adicionalmente mais de 20% da cobertura original.  As secas em áreas avizinhadas, combinadas com outras vetores, acabam por reduzir a capacidade regenerativa da floresta. O primeiro e principal desses fatores  é o próprio desmatamento.

“ Sem floresta, desaparecem todos os seus serviços para o clima, o que, por sua vez, afeta a parte de mata que restou. Remover florestas quebra a bomba biótica de umidade, debilitando a capacidade de importar ar úmido e chuvas para a região. No processo de remoção com queima, a fumaça e a fuligem causam pane no mecanismo de nucleação  de nuvens, criando nuvens poluídas e dissipativas que não produzem chuvas”, concluiu.

Esforço de Guerra

Esta hipótese levantada por Antonio Nobre cria uma situação inusitada e nova neste momento. Ela indica que somente proteger o que sobrar da cobertura vegetal não impedira seu desaparecimento. As consequências, por força da mudança climática criada neste cenário, trará um novo equilíbrio. E sob essa nova ótica, o cientista questiona as políticas adotadas, pois se apenas prevalecer a preocupar na manutenção de uma porção intacta será totalmente ineficiente. A necessidade é restabelecer o todo e com o máximo de urgência.

“Eu digo o quanto tempo ainda temos: nenhum! Acabou-se o prazo para negligência e procrastinação em relação ao desmatamento. Eu não saberia dizer se já passamos do ponto de não-retorno, isso ninguém sabe, pois trata-se de algo altamente complexo, mas se percebe claramente que estamos as margens deste desastre climático. Mas quero crer que temos ainda a oportunidade de mudar de curso, para isso ocorrer é necessário  um “esforço de guerra”.

O documento traz explicito a urgência dentro das atividades para se reverter o quadro trágico que se manifesta, o esclarecimento da sociedade como o combate incisivo ao desmatamento. Mas somente zerar o desmatamento para ontem não é suficiente. Pois está em curso a cobrança pela natureza de um déficit ambiental.  Outro ponto destacado é a premência em se replantar e restaurar as florestas por todo o país, principalmente a Amazônica. Como Antonio Nobre define, “essa é a melhor apólice de seguro que podemos comprar”.

Ao contrário que os céticos e os empresários do agronegócio argumentam, a recuperação da Amazônia não passa pela segregação da   e outras atividades econômicas nas zonas rurais. Todas elas podem ser otimizadas, aumentando sua capacidade produtiva e liberando espaço para o reflorestamento com espécies nativas. Pois as áreas abandonadas na região são também enormes e essa atividade econômica precisa de água e é abastecida pela floresta.

Os empresários do agronegócio, hoje o principal esteio da balança comercial do país e que recebe especial atenção do governo federal, ainda contam com a vantagem de terem ao alcance das mãos e da boa vontade a tecnologia e conhecimento para essa guinada. Basta procurarem a Embrapa e conhecerão diversos estudos sobre como intensificar a produção pecuária e agrária, reduzindo a demanda por novas áreas.

A desertificação decorrente do desmatamento progressivo, prevista pela teoria da bomba biótica, aniquilaria tudo, inclusive a maioria das atividades humanas na Amazônia e a própria mata entraria em colapso, num  ação irreversível, dando espaço inclusive para que a biomassa ressecada existente no solo fosse condutora de imensos incêndios.

“O clima inóspito é uma realidade, não é mais previsão. Tinham que ter parado com o desmatamento há 10 anos. E parar agora não resolve mais. Agora só se resolve com uma ação de guerra, um combate para e pelo o bem da floresta e das pessoas. São anos de abusos que estão sendo respondidos agora, a natureza está apresentando a conta”, observou o cientista, um tanto pessimista quanto a capacidade de reação natural amazônica num futuro próximo.

Como a maior parte da água que irriga a porção produtiva na America do Sul meridional é oriunda das florestas da Amazônia, o futuro clima do continente a previsão é que no futuro todo essa região  poderia secar consideravelmente Num quadro extremo, ela chegaria a se assemelhar o estado climático da Austrália. O país tem um imenso deserto interior e é cercado em uma parte por locais úmidos nas proximidades da costa oceânica.

No caso do Brasil, se daria o mesmo processo. Uma pequena faixa costeira, como ocorre hoje no Nordeste, teria condições de abrigar vegetação e um clima menos hostil. Entretanto, algumas centenas de metros adentro o flagelo da seca e de terras estéreis pelo Sol calcinante. Isto tomaria o território nacional de norte a sul, num processo de desertificação irremediável.

Apesar do relatório não apresentar quais são os maiores devastadores da floresta, segundo Um estudo realizado pelo Instituto do Meio-Ambiente de Estocolmo, Suécia, o ranking é composto por grandes pecuaristas, com 70% da destruição, seguido pelos cultivadores de soja, tantos pequenos como médios proprietários, com 10% e os restantes 20% estão distribuídos em exploradores ilegais de madeira e outros cultivos e atividades ligadas a terra, como grilagem.

* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, pós graduado em jornalismo científico. Tem 29 anos de profissão, atuou em diversos jornais e revistas, tem cursos de ‘Águas Atmosféricas”, “ Mudanças Climáticas”, “Magnetismo Terrestre” entre outros. Foi professor universitário no primeiro curso de jornalismo do mundo com orientação pedagógica para jornalismo científico, na Univap, entre 2002 e 2003.

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Anversos da crença

Não vislumbro um futuro humano plástico, mas muito plástico no futuro desumano. E não falo de monturos, falo de montanhas de plástico impuro. Falo de futuro suástico, inseguro, iconoclástico. Plásticos grandes e pequenos, moles e duros, que se amontoam. Nanoplástico que se respira, que se bebe e se come, se adoece, se morre e se consome. Presente fantástico de futuro hiperplástico, plástico para sempre, para sempre espúrio, infértil e inseguro. Acuro todos os sentidos e arrepio em presságios. Agouros de agora, tempos adentro, mundo afora. Improvável um futuro fúlguro! Provavelmente escuro e obscuro. Assim, esconjuro e abjuro!

João Marino