O grito indígena na Cúpula dos Povos.

“Após a realização de centenas de atividades autogestionadas, começou hoje, na Cúpula dos Povos o segundo momento que é das plenárias de convergência. Os povos indígenas acabaram mantendo uma atividade do Acampamento Terra Livre, procurando construir um documento e preparando suas mobilizações. Estão cansados de palavras, buscam respostas a seus clamores”, escreve Egon Heck ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/510539-o-grito-indigena-na-cupula-dos-povos

 

Eis o artigo.

Ao intercalarem rituais e clamores, em centenas de tons, línguas e cores, os povos indígenas estão indignadamente fazendo seus desabafos, conclamando para a união para a luta comum contra esse sistema que lhes decretou a morte e travestiu de verde a destruição. São em torno de mil e trezentos indígenas de mais de cem povos do Brasil e das Américas, presentes na mobilização, conclamação, debate e grito nativo no espaço do Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos.

Essa diversidade, raiz e futuro do continente, se manifesta de maneira contundente. Não aguentam mais o avanço dos projetos de morte e saque de seus territórios, sob o discurso verde da sustentabilidade e preservação. Querem dizer isso ao mundo. Que os ensurdecido se insensíveis chefes de Estado e governantes sejam atingidos pelas flechas  de futuro, que exige imediata e radical mudança nos rumos dos projetos de desenvolvimento e a devolução e garantia dos territórios dos povos indígenas e o reconhecimento de sua autonomia e seus projetos de vida.

Confiam na força da união dos povos indígenas do mundo em aliança com todos os setores da sociedade que lutam contra o devastador sistema capitalista global, para interromperem o caminho de morte, que ameaça a vida todos os seres vivos e do próprio Planeta. Denunciaram o assassinato de dezenas de lideranças indígenas e a total impunidade em que permanecem esses crimes.

Estão cansados de denunciar a violação constante dos seus direitos. Porém não se cansam de anunciar seus projetos de Bem Viver como contribuição e alternativa aos projetos do grande capital global, que tem a serviço de seus interesses os Estados nacionais e o sistema financeiro mundial.

Ao inferno Belo Monte

Entre as inúmeras denúncias foi ressaltado, por diversos povos e lideranças indígenas, a situação e consequências calamitosas do mega projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte. Raoni e Megaron deixaram claro sua posição e dos povos indígenas contra essa monstruosa obra que irá impactar mortalmente vários povos indígenas, populações ribeirinhas, com um rastro de destruição.

Está sendo unânime o rechaço dos povos indígenas a todo tipo de desenvolvimento baseado nessas grandes obras a serviço do grande capital e contra os direitos e vida dos deste continente.

 

Demarquem nossas terras. Os povos indígenas na Cúpula dos Povos.

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/510519-demarquem-nossas-terras-

 

 

“Faço um primeiro registro aqui da Cúpula dos Povos, que teve intensa mobilização ontem (sexta-feira, dia 15-06-2012). Os povos indígenas, vindos de todas as regiões do país, tambémderam início às atividades do Acampamento Terra Livre. Os vistosos cocares, as belas pinturas corporais, colares e outros ornamentos chamam atenção. O que se espera que essa visibilidade se traduza em solidariedade concreta com as lutas e direitos desses povos, especialmente no tocante da garantia de seus territórios e recursos naturais. O recado começou a ser dado. Hoje (sábado, 16-06-2012) terá processeguimento com exposições e debates dos temas centrais do encontro mundial dos povos”, informa Egon Heck, CIMI-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

Eis o artigo.

Após a abertura do Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro, um batalhão de fotógrafos  estava seguindo uma pessoa que adentrava ao Auditório 33 onde estavam algumas centenas de indígenas de todo o Brasil. Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores, veio dar uma olhada apenas no evento. Mas foi convidado pelos índios a dar uma palavra aos presentes. Deixou escapar o que parece ser a grande preocupação do governo: tentar convencer o mundo de que no Brasil é possível conjugar desenvolvimento com proteção ambiental.

Para os povos indígenas esse esforço do governo brasileiro é em vão. É apenas  uma retórica fantasiosa (para não dizer mentirosa) onde a onda de desenvolvimentismo, uma vez mais tem os povos indígenas como maiores vítimas. Basta olhar o descalabro e o caos  em que estão a saúde e educação indígena e mais grave ainda a total falta de uma política de produção de alimentos, de acordo com a lógica das economias indígenas.  Prefere-se institucionalizar a dependência através das cestas  básicas.

Logo após as breves palavras do ministro Antonio Patriota, Otoniel Kaiowá Guarani do Mato Grosso do Sul pegou o microfone para dizer exaltado. “Demarquem nossas terras. É bom o senhor estar aqui. Queremos a demarcação de nossas terras urgente. Não adianta falar em economia e proteção ambiental para nós, o que queremos e precisamos que o governo demarque as nossas terras”.

Acampamento Terra Livre

“A salvação do planeta está na sabedoria ancestral dos povos indígenas”, consta no folder da programação do IX Acampamento Terra Livre, organizado pela Articulação dos Povos Indígena do Brasil, e que se integra com agendas, participação e contribuições dos povos indígenas do continente Abya Yala. Durante uma semana serão debatidos os grandes temas que desafiam a humanidade hoje e em especial os povos indígenas do mundo. Serão feitos mobilizações, rituais, debates e elaborado um documento que expressa a posição do movimento indígena mundial diante da grave crise em que o sistema capitalista é uma ameaça à sobrevivência da vida no planeta.

“O respeito aos povos indígenas requer valorizar a sua contribuição na formação social do Estado nacional e reconhecer o papel estratégico que os territórios indígenas tem desenvolvido milenarmente na preservação do meio ambiente, na proteção da biodiversidade e na solução dos problemas que hoje ameaçam a vida no planeta”

Essas atividades dos povos indígenas previstas para os próximos dias fazem parte dos mais de 3 mil eventos que estão previstos.

Mandantes do assassinato de Nisio Gomes, na cadeia

Foi deflagrada operação de prisão  dos mandantes e envolvidos no assassinado do cacique Nisio Gomes, conforme noticiou a imprensa de Campo Grande. O cacique foi assassinado em novembro último passado na Terra Indígena Guayviri, no município de Aral Moreira, no Mato Grosso do Sul. Mesmo que o anúncio da operação tenha  sido estrategicamente feito no decorrer da Cúpula dos Povos e Rio + 20, o que se espera é agilidade da justiça para  punir os responsáveis de dezenas de lideranças assassinadas e que permanecem na total impunidade. Além do mais não se tem ainda informações sobre o corpo do Nisio e do professor Rolindo. Que a prisão dos mandantes abra caminho para a localização dos corpos.