O filtro em nossos protetores solares que acelera o branqueamento dos corais

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Viola Rita, publicada por La Repubblica, tradução é de Luisa Rabolini.

06-05-2022

Alguns compostos presentes nos protetores solares comumente usados podem ser muito nocivos para os corais.

Hoje, um grupo de pesquisa da Universidade de Stanford, na Califórnia, aponta o dedo para a oxibenzona, um composto frequentemente encontrado em cremes. A equipe identificou um mecanismo pelo qual a oxibenzona é capaz de danificá-los: a chave estaria em uma reação química que torna a substância potencialmente perigosa para as anêmonas do mar (ou actínias) e para alguns tipos de corais, já sujeitos ao processo de branqueamento devido ao aquecimento dos oceanos. Em vista da temporada de verão do hemisfério norte, o estudo, publicado na Science, chama a atenção para o problema dos protetores solares prejudiciais ao ecossistema marinho e em particular aos recifes de coral.

Oxibenzona, um controle especial

oxibenzona (também conhecido como benzofenona e com a sigla Benzofenona-3) é um composto orgânico que absorve os raios UVB e UVA curtos, defendendo a pele dos efeitos nocivos dessas radiações. No entanto, o seu impacto ambiental não é indiferente e já existem algumas evidências de potenciais consequências negativas para os corais.

Em um artigo de 2015, por exemplo, um grupo de cientistas destacou possíveis danos aos corais no Mar Morto, no Caribe e no Havaí. Atualmente o regulamento europeu n. 1223/2009 sobre cosméticos estabelece um limite de 10% para a oxibenzona, enquanto no Havaí a partir de janeiro de 2021 é proibida a venda e distribuição de cremes que o contenham, exceto no caso de indicações médicas específicas.

Como a oxibenzona afeta

recife de coral é um ecossistema complexo, que inclui muitos animais da micro e macro fauna, entre os quais corais, anêmonas do mar (actinias), esponjas e algas vermelhas chamadas Corallinales. Hoje os autores, coordenados por Djordje Vuckovic, da Universidade de Stanford, estudaram como a oxibenzona atua num tipo de corais e nas anêmonas do mar. A partir das análises perceberam que o composto se transforma em fototoxinas, ou seja, substâncias que se tornam tóxicas ou mais tóxicas na presença de luz.

Isso torna os animais já expostos à luz solar mais suscetíveis a consequências negativas. As anêmonas do mar e os corais vivem em simbiose com algas, que geralmente sequestram e retêm as fototoxinas. O aumento das temperaturas da água pode causar a perda de algas e sua preciosa proteção: os animais ficam assim expostos ao branqueamento, estresse oxidativo – portanto, potencialmente a danos estruturais – e a um maior risco de algumas infecções.

Danos a ecossistemas já sob estresse

Nas anêmonas do mar não protegidas por algas e branqueadas, os autores observaram, em um experimento de laboratório, que as fototoxinas podem ter efeitos negativos. O mesmo pode ser verdade para os corais, de acordo com os autores. “O resultado segundo o qual a oxibenzona é mais tóxica para as anêmonas do mar branqueadas parece sugerir que possa ser mais tóxica também para os corais branqueados – eles explicam – e esse fenômeno poderia piorar os efeitos do aquecimento [nos corais ndr] em áreas onde há atividade humana”.

Em um artigo de comentário, também na Science, a cientista Colleen M. Hansel, da organização sem fins lucrativos estadunidense Woods Hole Oceanographic Institution, destaca que será cada vez mais importante entender esses mecanismos e estabelecer o limite de toxicidade para os corais. O problema dos protetores solares faz parte de um quadro mais amplo de mudanças ambientais e climáticas. “Diante das mudanças que afetam o oceano – escreve Hansel – mesmo ações cujo impacto percebido parece reduzido podem agravar os efeitos negativos dentro de ecossistemas comprometidos“.