“O ESPÍRITO DA FLORESTA” TRAZ LEGADO DO POVO YANOMAMI

Print Friendly, PDF & Email
KOPENAWA David TR 1920x1080

Davi Kopenawa e Bruce Albert. Beto Ricardo/ISA

https://elle.com.br/cultura/o-espirito-da-floresta-traz-legado-do-povo-yanomami

CAROL SGANZERLA

29 de março de 2023

Livro traz nova parceria entre o líder indígena Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert e conta com fotos de Claudia Andujar.

Não existe tema mais urgente hoje no do que a proteção aos povos indígenas e a . Em meio ao combate do garimpo ilegal no território do povo yanomami e a crise sanitária a qual estavam submetidos com a desassistência do governo anterior, o xamã e líder indígena Davi Kopenawa, junto ao antropólogo francês Bruce Albert, lançam o livro O espírito da floresta (Companhia das Letras, 232 págs).

O compilado de reflexões e saberes sobre a floresta, seus encantos, seus ancestrais, sobre o que não enxergamos da natureza e as tradições ameaçadas pelo homem branco e pelo desmatamento é um instrumento poderoso para quem deseja se aprofundar na história, na cultura e no legado dos indígenas Yanomami.

o espirito da floresta

“A terra da floresta possui um sopro vital, wixia, que é muito longo. O dos seres humanos é curto: vivemos e morremos depressa”, escreve Kopenawa no primeiro capítulo do livro. “Se não a desmatamos, a floresta não morre. Ela não se decompõe. É graças a seu sopro úmido que as plantas crescem. Quando estamos muito doentes, em estado de fantasma, esse sopro também nos ajuda a nos curarmos… Você não vê o sopro dela, mas a floresta respira”, continua.

As palavras do também presidente fundador da Hutukara Associação Yanomami (HAY) são um convite para adentrarmos a floresta, de peito aberto, sentirmos sua potência e possibilidades, e para entendermos a condição sine qua non de estarmos vivos. “É ela que nos faz mexer”, diz o xamã.

Na obra, Davi Kopenawa e Bruce Albert repetem a parceria de oito anos atrás, quando escreveram a quatro mãos A queda do céu (Companhia das Letras), um impactante relato sobre a vida do povo Yanomami e um manifesto contra a Amazônica.

“É possível que vocês tenham ouvido falar de nós. No entanto, não sabem quem somos realmente. Não é uma boa coisa” Davi Kopenawa

O livro é dividido em 16 capítulos com textos intercalados entre os autores. O antropólogo francês relembra sua primeira incursão a Roraima, em 1975, com os Yanomami do rio Catrimani, quando fazia doutorado em antropologia. Nessa mesma época em que se deu o encontro com Kopenawa, Albert conheceu a fotógrafa Claudia Andujar – muitas das imagens do livro são de autoria dela –, da onde surgiria uma amizade e parceria. Os dois estiveram juntos em 1978, na criação da Comissão Pró-Yanomami (ccpy), a primeira campanha internacional de apoio aos direitos territoriais daquele povo – em 1992, houve a demarcação e a homologação da Terra Indígena Yanomami.

Além de seus relatos biográficos, o antropólogo destila seu conhecimento sobre as particularidades da dinâmica da floresta, proveniente de décadas de estudo e trocas com os Yanomami.  “… essas vozes xamânicas nos fazem entender que a proteção das e o futuro da vida no planeta passam por uma renúncia ao nosso mito utilitarista de uma ‘natureza' separada da humanidade, da qual seríamos ‘donos e possuidores' até transformá-la em deserto enquanto, por remorso, museificamos alguns de seus últimos fragmentos ‘selvagens'”, escreve.

A gente só preserva o que, de fato, conhece, daí a importância de ler Kopenawa. “É possível que vocês tenham ouvido falar de nós. No entanto, não sabem quem somos realmente. Não é uma boa coisa. Vocês não conhecem nossa floresta e nossas casas. Não compreendem nossas palavras. Assim, era possível que acabássemos morrendo sem que vocês soubessem”, alerta ele.

Gosta do nosso conteúdo?
Receba atualizações do site.
Também detestamos SPAM. Nunca compartilharemos ou venderemos seu email. É nosso acordo.