O alumínio não é mais nosso

Será que sabemos onde está o alumínio na nossa casa e no nosso dia a dia?

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Lúcio Flávio Pinto, jornalista e sociólogo

23-11-2023

[NOTA DO WEBSITE: Essa matéria mostra na sua última frase que nós, o chamado ‘povo brasileiro’, não temos nenhuma noção do que na verdade existe no nosso país. E mais triste é a postura daqueles que têm acesso ao que temos como nação, estarem sempre de costas para que as riquezas que recebemos da Vida sejam desfrutadas por nós, mas sim por ‘outros’. E é por nossa submissão e subserviência geradas pela prática emocional, em cada um de nós, da ideologia da colonialidade. Ou seja, tudo que tem aqui pertenceu, pertence e pertencerá aos Impérios Coloniais. Nunca ao ‘povo brasileiro’. Simplesmente porque, inclusive sem ter ideia, entregamos tudo. E ‘os outros’? Nem precisam nos ‘tomar’!].

“A desnacionalização desse polo [alumínio] culminou com o controle absoluto do setor por multinacionais, efetivada neste ano”.

A trajetória da implantação na Amazônia do maior polo de alumínio do Brasil, de grandeza mundial, seguiu a trajetória de um bumerangue. Começou sob o controle do cartel internacional, que se lançaram na frente da corrida ao minério. Passados meio século, a desnacionalização desse polo culminou com o controle absoluto do setor por multinacionais, efetivada neste ano.

Em 1974, a Mineração Rio do Norte reformulou seu projeto para o aproveitamento econômico das jazidas de bauxita do vale do rio Trombetas, no Pará, com 500 milhões de toneladas de minério. O projeto original foi elaborado pela empresa canadense Alcan, que possuía sozinha o empreendimento.

Prints‘ agregados pela coordenação de nosso website para que os leitores possam ter uma ideia de como essas ‘minerações’ ocorrem dentro da Amazônia, em sua dimensão espetacular. Ver os textos do link, sobre as outras minerações de bauxita na Amazônia.

A multinacional canadense iniciou suas pesquisas no vale do rio Trombetas, no Pará, em 1958. Seu interesse na época era apenas manter o controle da jazida. A sua cubagem da jazida foi concluída 10 anos depois, quando foram medidos de 500 a 600 milhões de toneladas.

Só em 1972, a Alcan apresentou seu projeto para a exploração da mina, o maior empreendimento até então aprovado pela Sudam. Alguns meses depois, a companhia suspendeu a implantação do projeto, alegando a queda no preço da bauxita no mercado internacional.

Na verdade, o impacto resultou da tentativa iniciada pelos maiores produtores do minério, a maioria do terceiro mundo, de criar uma organização semelhante à Opep, proposta pela Venezuela e apoiada pelos países árabes, para a defesa do preço do petróleo.

As “seis irmãs” anunciaram a implantação de várias minas, a maior delas no Pará, que aumentariam expressivamente a produção mundial, derrubando os preços. Assim conseguiram impedir o surgimento da Opep da bauxita.

Foi por isso que a Alcan se antecipou, apresentando sozinha o projeto do Trombetas. Alertada para a manobra, uma ala militar nacionalista no governo pressionou para impedir a Alcan de ser a única proprietária de uma das maiores jazidas de manganês do mundo (como fizera em Carajás, impondo a inclusão da CVRD na sociedade com a United States Steel, que também desejava “sentar” na mina).

Companhia Vale do Rio Doce entrou no projeto, sendo esta a sua primeira incursão no setor de não-ferrosos, assumindo o controle acionário da empresa constituída em conjunto, a Mineração Rio do Norte. Para uma produção de 3,35 milhões de toneladas de bauxita, que seria alcançada em 1980, o investimento foi calculado em 280 milhões de dólares.

Para nacionalizar a empresa, além dos 41% do capital em poder da CVRD, a Companhia Brasileira de Alumínio, do grupo Votorantim ficou com 10%, assegurando os 51% brasileiros. A Alcan, já então mais interessada em garantir o suprimento de bauxita para sua indústria no Canadá e economizar capital próprio, reduziu a sua participação a 10%.

As outras multinacionais foram o espanhol Instituto Nacional de Indústria (5%), Reybolds Alumínio do Brasil (5%), Mineração Rio Xingu (5%), Rio Tinto Zinc do Brasil (5%), A/S Aardal Og Sunndal Verk (5%) e Norsk Hydro (5%).

Após muitas alterações desde então, nesta semana a multinacional Glencore foi liberada pelo Cade, o conselho que controla a concorrência econômica, para assumir o controle acionário da Mineração Rio do Norte e a participação de 30% na refinaria de alumina Alunorte, em transação avaliada em 1,1 bilhão de dólares (quase 6 bilhões de reais).

A gigante suíça das commodities também recebeu autorizações dos órgãos reguladores de diferentes países envolvidos na questão e a previsão é de que o negócio avaliado em US$ 1,11 bilhão seja concluído na próxima semana.

Foi no ano passado que a Hydro assinou acordo com a Glencore para lhe vender 30% da refinaria brasileira de alumina Hydro Alunorte e os 5% pertencentes à Hydro na MRN. A Glencore adquiriu ainda uma participação adicional de 40% na MRN, que atualmente pertence à Vale. Este percentual será adquirido da Vale pela Hydro e imediatamente vendido para a Glencore, consecutivamente.

Consumadas essas transações, a Hydro não terá mais participação societária na MRN. Mas continuará sendo a maior acionista da Alunorte, com 62% de participação. A Glencore deterá 30%, enquanto os quatro acionistas minoritários restantes deterão coletivamente 8%.

A refinaria de alumina da Alunorte tem uma capacidade nominal anual de 6,3 milhões de toneladas de alumina e é uma importante fonte de matéria-prima para as operações de fundição da Hydro, incluindo a Albras, fundições primárias norueguesas e clientes externos. A transação não terá impacto nos contratos de fornecimento físico ou custo para a Hydro Aluminium Metal.

A bauxita da MRN supre um terço das necessidades da Alunorte, enquanto o restante é fornecido pela mina de bauxita de Paragominas, de propriedade integral da Hydro. Após a transação, a MRN continuará a ser operada de forma independente com a Glencore como a maior acionista, com 45%. Os 55% restantes serão de propriedade da South 32, Rio Tinto e CBA.

“Esta transação é um passo importante para cumprir a estratégia da Hydro. Os recursos da transação serão usados para crescimento estratégico e para distribuição aos acionistas. A Alunorte continua sendo um ativo estratégico essencial para a Hydro e é uma fonte fundamental de fornecimento de alumina de baixo carbono para as nossas fundições primárias de alumínio. A Hydro continuará presente no setor de alumina, mas agora mais equilibrada em relação à demanda de nosso portfólio de fundições de alumínio”, afirmou na ocasião a presidente e CEO da HydroHilde Merete Aasheim.

A estratégia 2025 da Hydro, lançada em 2020, delineou uma ambição clara de aumentar a lucratividade e impulsionar a sustentabilidade em toda a empresa. Parte da estratégia tem sido desenvolver a Alunorte, alocando capital para sustentar e melhorar as operações, e esforços contínuos para fortalecer o custo do primeiro quartil e a posição de baixo carbono da refinaria, além de aumentar o engajamento com a comunidade.

“Nossa área de negócios de Bauxita e Alumina fez progressos significativos nos últimos anos, para reduzir a pegada da produção de alumina, o que permite à Hydro fortalecer nossa posição em alumínio de baixo carbono. Esperamos nos tornar parceiros da Glencore e de sua ampla experiência industrial em metais e mineração para avançar ainda mais no desenvolvimento da Alunorte”, disse Aasheim.

Hydro anunciou que ela e a Glencore continuarão os esforços para reduzir as emissões de carbono da Alunorte, por meio do projeto de troca de combustível, que visa substituir o óleo combustível por GNL, e a eletrificação das caldeiras a carvão, levando a Alunorte à primeira redução na curva global de carbono já em 2025, posicionando a Alunorte como líder no fornecimento de alumina de baixo carbono.

Além da descarbonização da Alunorte, os parceiros mantêm o compromisso de continuar desenvolvendo projetos sociais para melhorar a vida e colaborar para o desenvolvimento sustentável das comunidades próximas às operações.

Todos esses bons compromissos antecipados parecem ter desviado a opinião pública do que será de maior importância e repercussão: todo o segmento bauxita/alumina/alumínio está agora sob controle absoluto do capital internacional, em poder de algumas das maiores multinacionais.

Até essas transações, a MRN, uma das maiores produtoras de bauxita do mundo, tinha 52,5% das suas ações em poder de empresas nacionais (Vale e CBA). Agora, restam apenas os 12,5% do grupo Ermírio de Moraes, ficando 40% com a Glencore, 30% South32 Minerals e 12,55 com a Alcan.

A multinacional norueguesa Hydro, que tinha 62,13%, ficou com 93,13% da Alunorte, a maior produtora de alumina do mundo, mais 4,8% para quatro acionistas japoneses e apenas 3,03% para a CBA. A Glencore, que possuía 30%, saiu da Alunorte.

Qual o significado desses complicados movimentos de capital e o que representam de bom ou ruim para o Brasil? Totalmente à margem dos acontecimentos, é de se prever que a sociedade nacional não encontrará as respostas para essas grave questões. Se é que as buscará.

Quem são?

Glencore International AG

Glencore é uma subsidiária integral da Glencore Plc., que é constituída sob as leis de Jersey com sede em Baar, na Suíça.

Glencore Plc (e suas subsidiárias, em conjunto consideradas “Grupo Glencore”) é uma empresa global que atua como produtora e comercializadora de mais de 60 commodities. Suas operações diretas e indiretas compreendem cerca de 65 sites de mineração, metalurgia e ativos de produção e extração de petróleo. O Grupo Glencore fornece uma ampla gama de commodities e matéria-prima para clientes de indústrias em todo o mundo, incluindo metais, minerais, petróleo e derivados, e carvão.

Grupo Glencore auferiu, no Brasil, no ano anterior à operação, faturamento acima de R$ 750 milhões (superior aos dois patamares de notificação obrigatória de 2011, alteradas em 2012).

Norsk Hydro ASA

Hydro é uma empresa que atua nos mercados de alumínio e de energia, sendo a controladora do Grupo Hydro (a Hydro e suas subsidiárias serão doravante denominadas, em conjunto, como “Grupo Hydro”), que compreende aproximadamente 190 sociedades localizadas em 40 países.

Grupo Hydro atua em diferentes segmentos dos mercados energia, reciclagem de metais, energia renovável e baterias; sobretudo na cadeia de valor do alumínio, desde a mineração de bauxita e passando pelo refino de alumina, alumínio primário, extrusões de alumínio e reciclagem de alumínio. O Grupo Hydro auferiu, no Brasil, no ano anterior à operação, faturamento acima de R$ 750 milhões (conforme os padrões da nota anterior).
(Esses dados foram extraídos do processo no Cade)

CONFORME O TEXTO ‘Crucial para uma economia de energia limpa, a pegada de carbono da indústria do alumínio é enorme‘, TAMBÉM PUBLICADA HOJE, O AUTOR DIZ QUE OS EUA TRAZEM A BAUXITA DA JAMAICA, POR ISSO ANEXAMOS UM ‘PRINT’ DA ILHA PARA SE TER UMA IDEIA DAS MINAS QUE APARECEM (NÃO SE SABE SE NÃO TEM OUTRAS):