Qual o futuro para nossas crianças?
por Tara Lohan
5 de março de 2021
Um novo estudo revela que certos tipos de peixes são mais propensos a ingerir plástico do que outros – incluindo centenas de espécies das quais usamos para nos alimentarmos.
A cada ano, a quantidade de plástico que giram nas ilhas de plásticos nos oceanos e navegando na maré em direção às praias costeiras, parece só aumentar. O mesmo ocorre com a quantidade de partículas de plástico (nt.: conhecidas agora como microplásticos) que são consumidas pelos peixes – incluindo espécies que ajudam a alimentar bilhões de pessoas em todo o mundo.
Um novo estudo publicado na revista Global Change Biology revelou que a taxa de consumo de plástico por peixes marinhos dobrou na última década e está aumentando em mais de 2% ao ano.
O estudo também revelou novas informações sobre quais espécies são mais afetadas e onde os riscos são maiores.
Os pesquisadores fizeram uma análise global de uma série de estudos sobre poluição de plásticos nos oceanos e encontraram dados sobre a ingestão de plástico por 555 espécies de peixes marinhos e estuarinos. Os resultados mostraram que 386 delas – dois terços de todas as analisadas – tinham ingerido plástico. E dessas, 210 eram espécies pescadas comercialmente.
Não surpreendentemente, locais com abundância de plástico em águas superficiais, como o Leste Asiático, aumentaram a probabilidade de ingestão pelos peixes.
Mas o tipo e o comportamento dos peixes, descobriram os pesquisadores, também desempenham um papel importante. Predadores ativos – aqueles no topo da cadeia alimentar, como os membros da família Sphyrnidae, que inclui tubarões martelo e de cabeça-dura ou de-pala – ingeriram a maior parte do plástico. Os herbívoros, pastadores de algas e outros vegetais, e os filtradores consumiam menos.
“No geral, a probabilidade de ingestão de plástico diminui com a profundidade”, descobriram os pesquisadores.
Embora a bioacumulação de plástico e seus produtos químicos associados (nt.: importantíssimo sabermos que esses ‘produtos associados’, nada mais são do que os plastificantes que são agressivos ao nosso sistema endócrinos, os disruptores endócrinos) possa causar problemas de saúde, isso não está causando problemas perceptíveis na população de peixes – ainda. A pesquisa revelou que a maioria das espécies que eles descobriram ter ingerido plástico, contínua e abundantemente.
Mas, ao mesmo tempo, 35 espécies foram listadas como ameaçadas ou quase ameaçadas. Outras 26 espécies são vulneráveis à pesca predatória. Os autores identificaram o tubarão azul, o atum rabilho do Atlântico e o salmão chinook como “espécies de grande preocupação devido ao seu status de ameaça, vulnerabilidade à pesca excessiva e ingestão frequente de plástico”.
Enquanto isso, os pesquisadores descobriram que três quartos das espécies pescadas comercialmente ingeriam plástico, incluindo aqueles comuns na pesca recreativa e na aquicultura que “têm a maior probabilidade de fazerem parte da cadeia de abastecimento”. O linguado comum foi considerado “muito preocupante”.
Ainda mais preocupante é que ainda há muito que não sabemos porque algumas áreas são mais bem estudadas do que outras.
Algumas áreas próximas à costa estão entre aquelas onde faltam pesquisas. “Apenas quatro estudos foram conduzidos dentro da Zona Econômica Exclusiva dos Estados Unidos, apesar de haver mais plástico marinho originário dos Estados Unidos do que qualquer outro país desenvolvido”, escreveram os pesquisadores.
As conhecidas ilhas oceânicas, aqueles redemoinhos rodopiantes de plástico no oceano aberto, também são um buraco negro quando se trata de pesquisa. “Não descobrimos nenhum estudo dos giros ou ilhas da Índia, do Atlântico Sul ou do oeste do Pacífico Norte, embora haja amplo conhecimento do acúmulo de detritos na superfície nessas regiões”, eles descobriram. “Da mesma forma, havia uma escassez de dados dos mares de alta latitude e nenhum do Oceano Antártico, embora os oceanos polares sejam um sumidouro de detritos que se tornam microplásticos, com novas pescarias se desenvolvendo nessas regiões como recuo do gelo e mudanças climáticas.”
Em comparação, as águas costeiras – incluindo os estuários – são bem estudadas, assim como os mares ao redor da Europa. E eles encontraram uma “onda recente de estudos” do Leste Asiático.
Mesmo com uma quantidade crescente de pesquisas, o escopo e a gravidade do problema provavelmente ainda estão subestimados.
Preencher essas lacunas de conhecimento será crucial para entender melhor a extensão do problema, mas os pesquisadores dizem que também precisaremos estudar mais os principais predadores para aprendermos como o plástico se bioacumula na cadeia alimentar e como esses predadores móveis podem redistribuir o plástico através do oceano enquanto viajam.
Pouco se sabe sobre como o plástico ingerido afeta os peixes e os ecossistemas marinhos, e menos ainda sobre como a saúde humana poderia ser afetada quando peixes comedores de plástico acabassem na mesa de jantar.
“As evidências atuais de que humanos ingerem plástico diretamente de peixes permanecem escassas, mas há uma preocupação crescente”, escreveram os pesquisadores. “Em particular, a agregação e análise contínuas de informações sobre a ingestão de plástico por peixes marinhos é vital, pois esses dados estão visceralmente ligados ao ecossistema e à saúde humana.”
Tara Lohan é editora adjunto do The Revelator e trabalhou por mais de uma década como editora digital e jornalista ambiental com foco nas interseções de energia, água e clima. Seu trabalho foi publicado por The Nation, American Prospect, High Country News, Grist, Pacific Standard e outros. Ela é editora de dois livros sobre a crise global da água.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, março de 2021.