https://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2017/09/19/our-bodies-becoming-plastic.aspx
Resumo da hiStória
- Globalmente, 83% das amostras de água de torneira analisadas, tinham fragmentos de microplásticos;
- Nos EUA, 94% das amostras de água das torneiras continham plástico — na maioria dos locais analisados;
- Grandes quantidades de microplásticos estão provavelmente sendo transferidos para as áreas agrícolas pelo lodo dos esgotos sanitários.
By Dr. Mercola
Foi triste dia em outubro de 2015 quando pesquisadores do Alfred Wegener Institute, Helmholtz Centre for Polar and Marine Research (AWI) anunciou que eles haviam detectado resíduos plásticos nas águas superficiais do Ártico.1 Os tubarões da Groenlândia e as aves marinhas que vivem na área mas já são conhecidos por ingerirem detritos ,2 mas o surgimento, que seja, de 31 pedaços de fragmentos plásticos flutuantes neste ambiente tão primevo e distante deste tipo de intervenção, desenha uma imagem perturbadora de problemas de poluição que só piorará se as quantidades de lixo que entram nos oceanos não forem reduzidas.
Com plásticos agora atingindo os rincões mais distantes do globo, o que isso significa para os ambientes onde estes poluentes são sabidos que se acumulam? O mau gerenciamento dos lixos é particularmente problemático em lugares como China, Indonésia, Vietnam, Tailândia e as Filipinas, que juntos são os cinco países que estão no topo da poluição de plásticos (plastic pollution3 ). Nos USA, um dos países que mais geram lixo no mundo, o descartável é o maior fato, especialmente na forma de materiais plásticos de uso único e descartável como refrigerantes, canudinhos e embalagens de salgadinhos e batata chips.
De acordo com o grupo de defesa ambiental Ocean Conservancy, certo produtos plásticos persistem tanto tempo, mesmo em água salgado do mar, que ainda serão reconhecíveis além dos 400 anos.4 Entretanto, um problema igualmente alarmante são os plásticos que se fragmentam e vão se tornando pequenos pedaços, pequenos fragmentos. Partículas microscópicas que são menores do que 5 milímetros, estão literalmente nublando a superfície e a subsuperfície marinha em manchas, ilhas, quinhões dos oceanos.
Carregadas junto com as correntes oceânicas, os vórtices que se transformam em ilhas (nt.: ver – http://observador.pt/2017/09/19/a-ilha-de-lixo-que-quer-ser-reconhecida-como-pais/) de “poluição plástica”5 agora cobrem em torno de 40 % das superfícies os oceanos do planeta.6 Estas partículas, de todos os tamanhos, estão sendo ingeridos por peixes e outros animais marinhos — o que já é mundialmente sabido. No entanto, só recentemente fizeram o nexo lógico para determinar que não são só os animais marinhos estariam ingerindo estas partículas plásticas — mas ninguém mais ninguém menos do que cada um de nós!
94 % da água de torneira nos EUA Contém fibras Plásticas
Pesquisa encomendada pelo meio de comunicação Orb (nt.: https://orbmedia.org/stories/Invisibles_plastics) revelou dados alarmantes sobre a poluição plástica na água que chega às residências, sendo 83% de amostras analisadas no mundo tidas como contaminadas. Nos EUA a percentagem é de 94% das amostras da água da torneira mostrarem conter plástico — na maioria de todos os locais avaliados. De acordo com a Orb:7
“Fibras na água das torneiras … são tanto uma descoberta como um marcador — um sinal visceral de quão longe as moléculas das resinas plásticas já penetraram tanto na vida dos seres humanos como em sua própria anatomia. Não podemos ver a longa cadeia molecular de poluentes como os químicos polifluoralquil (nt.: aqueles que formam os produtos antiaderentes) e apesar disso eles estão incrustados em mais do que 98% da população. Mas quando são filtradas no laboratório e aumentadas pelo microscópio, a contaminação torna-se real.
As primeiras pesquisas quanto aos efeitos sobre a saúde dos seres humanos dos microscópicos fragmentos plásticos, somente agora estão começando; não se tem ideia se ou quando os governos irão estabelecer algum limite ‘seguro’ para a presença de plásticos tanto na água como nos alimentos. Ainda está muito longe de haverem estudos sobre a contaminação humana às nanopartículas de plástico, onde sua medida é em milionésimos de milímetro.”
A instituição de informações Orb detectou, por exemplo, 16 fibras na água de torneira tomada em um centro de visitantes do Capitólio, Congresso dos EUA, em Washington, D.C., juntamente com fibras em amostras pegas na Trump Tower em New York. Fibras plásticas foram também encontradas em água da Indonésia, Índia, Equador, Uganda, Inglaterra e Líbano.
onde estão as fontes primárias do microplástico?
A Orb observou seis fontes primárias de “plásticos invisíveis”,8 uma delas são as fibras sintéticas de roupas artificiais (synthetic microfibers from synthetic clothing) como as fleeces, as acrílicas e as de poliéster. Estas microfibras são liberadas das roupas quando lavadas (microfibers from clothing), em torno de 1 milhão de toneladas por ano. São desconhecidos os efeitos ambientais que a poluição por microfibra pode gerar, mas seus formatos irregulares podem se tornar mais difíceis de serem excretados dos organismos da vida marinha do que outros microplásticos (como as microcontas que se tem usado como emolientes).
De acordo com o Projeto Mermaids /Mitigation of Microplastics Impact Caused by Textile Washing Processes (nt.: Mitigação do Impacto dos Microplásticos causados pelos processos de lavagem de roupas), que tem por objetivo cortar a liberação de microfibras durante a lavagem – em torno de 70% – a indústria do vestuário tem sido muito lenta em responder e dar passos para parar com a poluição com microfibras.9
Um relatório do Mermaids sugeriu que houvesse revestimentos especiais que viessem a auxiliar a interromper a perda de microfibras pelos tecidos durante a lavagem, bem como também recomendou que os sabões em pó fossem reformulados para minimizar a liberação destas fibras das roupas. No entanto, assim como está, a Orb estimou que mais da metade dos microfibras liberadas durante a lavagem são perdidas pelas estações de tratamento de água e acabam no ambiente.
Microcontas (microbeads) — aqueles pequenos peletes plásticos que podemos vir tanto no creme facial como no sabão para as mãos — são outra fonte primária. Microcontas são tão pequenas que podem ir diretamente para o ralo do banheiro e transitarem através das estações de tratamento de esgotos (wastewater treatment plants) facilmente. Isso porque os filtros empregados são insuficientes para capturá-las. Somente agora pesquisas estão sendo feitas para revelarem a extensão da poluição ambiental que estas partículas plásticas estão causando.
Numa pesquisa em 2012 nos Grandes Lagos, foi encontrado de que a área estava “como as de mais altas concentrações de microplásticos detectados no ambiente, sendo as microcontas as prevalentes.”10 Um teço dos peixes capturados no English Channel também continham microcontas, como 83 % dos camarões empanados vendidos no Reino Unido. 11 Banimentos de microcontas aconteceram nos EUA e no Canadá, mas ainda não na União Europeia. A Orb estimou que mais do que 8 trilhões de microcontas terminaram nos lençóis freáticos dos EUA e mananciais hídricos em 2015. Outras fontes observadas no relatório da Orb incluem:12
- Poeira de pneus, que contém borracha sintética/elastômero de estireno-butadieno (nt.: em inglês é styrene butadiene rubber/SBR). De acordo com a Orb, “os carros e os caminhões emitem mais do que 20 gramas de poeira por cada 100 quilômetros de percurso.”13
- Tintas: Microplásticos são distribuídos no pó das tintas, que provém das pinturas das casas, de navios, sinalização de rodovias e muito mais.
- Fontes secundárias de microplásticos: O uso de descartáveis plásticos de mão única como talheres, sacos, canudinhos (forks, bags, straws) e embalagens de ‘deliveries‘ de alimentos também contaminam o ambiente com as 8 milhões de microfibras que são oriundas da lavagem das roupas e que vão para os mananciais hídricos a cada ano. E finalmente, estes materiais acabam se transformando também em microplásticos.
- Fibras plásticas transportadas por via aérea: Uma nova área de pesquisa, mas que está pensada de como o movimento do nosso corpo vestido com material sintético já não fosse o suficiente para liberar fibras sintéticas no ar e que podem ser tanto inaladas como se dispersarem e passarem a contaminar o ambiente. Em Paris, estas partículas de microplásticos, dispersas na atmosfera e que se precipitam no chão estão em níveis de mais do que 10 toneladas ao ano.14
Microplásticos tóxicos podem se translocar para as fazendas
Muitas das pesquisas quanto à poluição com microplásticos focam-se em ambientes marinhos, mas os fragmentos tóxicos estão possivelmente se acumulando sobre os solos. De acordo com pesquisa publicada no periódico Science of the Total Environment (nt.: ver – https://www.journals.elsevier.com/science-of-the-total-environment/), “o plástico liberado anualmente sobre a terra é estimado ser de 4 a 23 vezes mais do que o liberado nos oceanos.”15 O uso de lodo de estação de tratamento de esgoto sanitário, ou bio-sólidos, como fertilizante pode ser realmente problemático. Ele é basicamente feito com tudo aquilo que sobra depois que o esgoto é tratado e processado.
Escrevendo no periódico Environmental Science & Technology (nt.: setor pertencente à American Chemical Society/ACS), pesquisadores relataram que na Europa e nos EUA, em torno de 50% do lodo dos esgotos é usado para fins agrícolas. Usando dados das áreas agrícolas, das populações e do emprego de lodo do esgoto, juntamente com as estimativas de emissões de microplásticos, eles detectaram que entre 125 e 850 toneladas destes microplásticos por milhão de habitantes, podem estar sendo agregados, a cada ano, aos solos agrícolas europeus.
Ao avaliar o alcance das taxas de aplicação do lodo de esgoto e assumindo os dados de determinados países com uso comparável de plásticos, a pesquisa detectou um “acréscimo total por ano de 63.000 a 430.000 e 44.000 a 300.000 toneladas de microplásticos aos solos agrícolas europeus e dos Estados Unidos, respectivamente…
Isso seria um acréscimo extremamente alarmante”, observaram os pesquisadores. “De forma abrangente, isso excede a carga total acumulada de 93.000 a 236.000 toneladas de microplásticos atualmente estimadas estarem presentes na água superficial dos oceanos da Terra.” 16 Em publicação relacionada, os pesquisadores invocaram por uma investigação urgente para “salvaguardar a produção de alimentos,” considerando a descoberta de que grandes quantidades de microplásticos estão possivelmente sendo transferidas para os solos agrícolas via o uso do lodo dos esgotos. 17,18
Partículas plásticas cheiram como alimento para os peixes
Já faz tempo que se sabe que os peixes estão ingerindo fragmentos plásticos, mas um estudo perturbador revelou que isso não está ocorrendo por acaso. Em lugar disso, os peixes podem estar ativamente procurando partículas de plástico nos oceanos para se alimentarem. Estão sendo confundidas como se fossem comida por causa de seu odor. Quando estas partículas plásticas estão nos oceanos, elas formam uma cobertura biológica feita de algas e outros materiais que cheiram como se fosse o alimento que os peixes normalmente ingerem. 19
Este estudo é o primeiro a revelar não somente que a anchova usa o odor para foragem, mas também que o odor do microplástico no oceano induz a comportamentos de forrageamentos para os peixes em aprendizado para se alimentarem. O Center for Biological Diversity observou que os peixes no Pacífico norte são conhecidos por ingerirem de 12.000 a 24.000 toneladas de plástico a cada ano e, noutro estudo sobre peixes no mercado tanto na Califórnia como na Indonésia, num quarto deles foram detectados que tinham plásticos nos seus intestinos. 20
Plásticos e outros fragmentos artificiais também foram observados em 33% de amostras de moluscos. 21 O relatório da organização Orb até mesmo revela que as partículas plásticas menores do que 50 nanômetros de comprimento mostraram estarem sendo coletados por plâncton, que potencialmente bloqueia seu trato gastrointestinal, como também se acumulam em muitas criaturas que dependem do plâncton como sua fonte alimentar. Esta é uma outra rota de contaminação com plásticos para os seres humanos, em razão dos peixes ingerirem plástico, assim também outras criaturas que terminam sendo ingeridas pelos peixes.
Quais efeitos, sobre a saúde humana que isso tudo terá ao final, permanecem desconhecidos, mas a contaminação química é uma preocupação real. Uma vez na água, os microplásticos facilmente absorvem substâncias químicas como os disruptores endócrinos e os geradores de cânceres como são os PCBs (nt.: ver – https://nossofuturoroubado.com.br/como-a-monsanto-promove-a-infertilidade-global/). Os plásticos podem concentrar tais tóxicos a níveis de 100 mil a 1 milhão de vezes maiores do os níveis detectados na água do mar. 22 É mesmo possível que as partículas plásticas possam terminar em certas partes de nosso organismo além de nossos intestinos. Conforme relato da Orb: 23
“ Se as fibras plásticas estão em nossas torneiras, dizem os especialistas que devem estar da mesma forma em nosso alimento — papinha infantil, macarrão, sopa e molhos, seja de nossa própria cozinha, seja oriundo do comércio. As fibras plásticas podem fermentar com nossa massa da pizza, e um estudo a ser editado diz que possivelmente na cerveja artesanal que iremos beber com nosso aperitivo também estarão. E fica cada vez pior.
O plástico é quase indestrutível, significando que os lixo plástico não são biodegradáveis; ou seja, somente se fragmentam em pequenas partes de si mesmo, mesmo chegando na escala nanométrica — um milionésimo de um milionésimo de um milímetro (nt.: 10 na menos 9, ou 0,000000001). Pesquisas mostram partículas que têm esta dimensão e que podem migrar através das paredes intestinais e transitarem até os gânglios linfáticos , indo a outros órgãos do corpo.”
Seja Parte da Solução Em vez de Parte do Problema
Em escala global, uma variedade de empreendimentos estão em andamento, tentando reduzir o lixo plástico e a poluição. Desde transformar o lixo plástico em combustível líquido até criação de fibras sintéticas que não se despreendam (ou mesmo gerar roupas de moda como seda de teia de aranha). Empreendedores estão buscando meios para impedir que os plásticos cheguem no ambiente. Alguns fabricantes estão também tentando ver como criam materiais para embalagem que, ao contrário da maioria deles atualmente no mercado, possam ser facilmente reciclados. 24
Podemos também tomar uma posição em um nível individual e fazermos escolhas conscientes para usar menos plástico. Considerando a amplitude de seu uso e a maneira como ele persiste no ambiente, o plástico tem um potencial de ser o maior desastre ambiental jamais visto em todos os tempos. Para ser parte da solução em vez de ser do problema, a organização Orb recomenda-nos seguir os passos abaixo: 25
Evitar sacolas plásticas (incluindo para salgadinhos/lances e guarda de alimentos) | Evitar canudinhos descartáveis (usar canudos reutilizáveis feitos de aço inox, bambu e mesmo de vidro. todas as opções amplamente disponíveis) |
Lavar roupas sintéticas (synthetic clothes) com menos frequência e quando fizer, usar o programa mais suave para reduzir as fibras liberadas; considerar o uso de produtos que capturem na máquina de lavar, suas fibras | Escolher escovas de dente que sejam feitas de bambu, linho ou mesmo de notas de dólares recicladas |
Evitar garrafas plásticas descartáveis; em vez disso levar sempre nossa própria reutilizável |
Quando lavar o pincel de tinta, coletar a água que escorrer em uma jarra e dispô-la em um aterro sanitário, em locais designados para descarte de tinta (não deixá-la escoar pelo ralo)
Podemos nós mesmo fazer nossa própria tinta com leite em lugar de látex ou acrílicas, que têm base em plásticos— para fazer isso “adicione suco de limão ao leite desnatado e filtre a coalhada, acrescentar pigmento natural ao que restar.”26 |
- 1Polar Biology October 21, 2015
- 2AWI October 22, 2015
- 3The Huffington Post April 27, 2017
- 4Ocean Conservancy, Stemming the Tide
- 5Huffington Post May 24, 2017
- 6,20The Center for Biological Diversity, Plastics Pollution
- 7,8,12,13,23,24,25,26Orb, Invisibles: The Plastic Inside Us
- 9The Guardian May 13, 2017
- 10,22Microbeads – New York Attorney General – New York State
- 11Daily Mail August 28, 2016
- 14SETAC Europe 2015
- 15Science of the Total Environment May 15, 2017
- 16Environmental Science & Technology September 29, 2016
- 17Nature September 21, 2016
- 18The Guardian September 6, 2016
- 19Proceedings of the Royal Society B August 16, 2017
- 21Scientific Reports September 24, 2015
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, setembro de 2017.
Gravíssimo, isso.