Indígena Krimej O cacique Kadjyre Kayapo, da comunidade indígena Kayapó, observa uma trilha feita por madeireiros. (Foto AP/Leo Correa, arquivo)
11 de janeiro de 2023
Imagens de satélite traçam um caminho para a proteção da Amazônia. Novo estudo sugere que três ingredientes são necessários para conter as perdas florestais: dar aos grupos indígenas o controle sobre a terra, designar áreas protegidas – e fazer cumprir a lei.
O retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência brasileira foi bem recebido por ambientalistas que fazem campanha para salvar o que resta da selva amazônica. Agora, uma nova pesquisa ressalta como sua vitória eleitoral sobre o atual presidente Jair Bolsonaro, pode ser uma boa notícia para a maior floresta tropical do mundo.
Nas últimas duas décadas, a quantidade de florestas oficialmente protegidas na Amazônia brasileira quase dobrou, abrangendo metade das florestas da região. Durante grande parte desse tempo, incluindo a presidência de Lula, as florestas se saíram melhor dentro dessas zonas protegidas. Mas imagens de satélite mostram que o destino dessas terras mudou de rumo durante o mandato de quatro anos de Bolsonaro, que durou de 2019 até o final de 2022. Entre 2018 e 2021, as florestas dentro dessas supostas áreas protegidas desapareceram mais rapidamente do que em outras partes da Amazônia.
“As designações legais são importantes, mas se a lei não for cumprida, a proteção pretendida das florestas e da biodiversidade será ilusória”, disse Fabio de Sá e Silva, especialista em políticas públicas brasileiras da Universidade de Oklahoma (OU). “Esta é uma área em que o Brasil está falhando conscientemente.”
O destino dessas terras é de importância global. A Amazônia abriga um dos maiores números de espécies diferentes do planeta. Árvores e arbustos somam a maior concentração mundial de biomassa acima do solo. Isso a torna importante para combater tanto a crise de extinção quanto a mudança climática.
Mas a mesma terra é cobiçada para o desenvolvimento econômico de um país que compõe a 12ª maior economia do mundo, mas onde mais de um quarto da população vivia na pobreza em 2020, ganhando menos de US$ 6,85 por dia. As florestas da Amazônia são derrubadas e queimadas para dar lugar à mineração de ouro, à pecuária e ao cultivo de soja.
Nos últimos anos, pesquisadores da Universidade de Oklahoma rastrearam o desaparecimento dessas florestas usando dois tipos de imagens geradas por satélite. As fotos aéreas convencionais mostram quais lugares mudaram de floresta verde para solo marrom ou pastagens. Mas nuvens e fumaça de incêndios florestais bloqueiam sua visão. Assim, os cientistas combinaram essas imagens com as obtidas por radares montados em satélites, que espreitam através desses obstáculos. Uma revisão das imagens tiradas todos os anos entre 2002 e 2021 mostra que 280.000 quilômetros quadrados – o suficiente para cobrir o estado do Colorado – desapareceram ao longo dessas duas décadas, relataram os cientistas em 2 de janeiro na Nature Sustainability. Isso representa uma perda de 7%, caindo para 3,7 milhões de quilômetros quadrados.
Mas nem todas as partes da selva sofreram igualmente. Durante grande parte desse tempo, os pesquisadores descobriram que as florestas foram derrubadas muito mais lentamente em locais designados para proteção como reservas naturais ou como territórios indígenas, onde alguns dos mais de 300 grupos étnicos indígenas do país podem exercer algum controle sobre o uso da terra. Essas terras, 52% da Amazônia brasileira, foram responsáveis por apenas 5% da perda florestal nas últimas duas décadas, mostraram as imagens de satélite. A cada ano, as florestas fora das áreas protegidas perdem, em média, 14 vezes mais floresta. A grande diferença “destaca o papel vital dos territórios indígenas e das áreas protegidas para a conservação da floresta na região”, disse Yuanwei Qin, do Centro de Observação e Modelagem da Terra da Universidade de Oklahoma.
Mas nos últimos anos essas proteções vacilaram. No que os cientistas chamaram de “sinal de alarme”, entre 2018 e 2021, imagens de satélite mostraram que a taxa de perda florestal mais do que triplicou dentro de áreas protegidas (3,6 vezes), mais que o dobro do aumento do ritmo de desmatamento em locais com menos restrições legais (1,6 vezes).
Para explicar essas mudanças, os cientistas apontaram o governo Bolsonaro, que era aliado do agronegócio e dos colonos e criticado por minar os direitos indígenas e a fiscalização ambiental.
Disse Xianming Xiao, cientista da Universidade de Oklahoma que trabalhou na pesquisa: “Como reconstruir políticas eficazes e reduzir a perda de área florestal na Amazônia brasileira nos próximos anos será um dos grandes desafios para o governo Lula e as comunidades internacionais”.
Qin, et. al. “ Conservação florestal em terras indígenas e áreas protegidas na Amazônia brasileira. ” Nature Sustainability. 02 de janeiro de 2023.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2023.