Não, as Gigantescas Monocultoras Não Estão Alimentando o Mundo

As fazendas industriais proclamam de que estão eliminando a fome nos países pobres—no entanto 99,5% da produção de alimentos exportados pelos EUA, vão para as nações mais ricas e bem nutridas do Planeta.

Uma menina e sua mãe em um campo de trigo na Rwanda, um país que depende das fazendas dos EUA em pelo menos 01% de seu abastecimento alimentar.

Se por um acaso o leitor vem acompanhado os debates, por todos os EUA, sobre a questão da agricultura norte americana durante toda a década passada, certamente deve ter ouvido isso: ‘nossas fazendas, em escala industrial, podem estar poluindo (pollute), sobrecarregando o uso das águas (overusewater), contaminando a atmosfera (foul air), destruindo o solo (destroy soil), prejudicando as economias locais (harm local economies) e abusando dos trabalhadores (abuse workers), mas este é só o preço a pagar para se promover um serviço humanitário fundamental: o de alimentar o mundo (feeding the world)‘ (nt.: destaque dado pela tradução).

As sementes transgênicas e os agrotóxicos, ambos originários de patentes das gigantes transnacionais MonsantoDuPont acabam construindo versões para estes argumentos; e para tal contam com o próprio ministro da agricultura dos EUA (USDA secretary Tom Vilsack), a federação dos fazendeiros da Califórnia (California Farm Bureau) e o lobby dos latifundiários e de interesses industriais ligados ao cultivo da soja (American Soybean Association).

Mas podem realmente as exportações dos EUA auxiliar a “nutrir os famintos e os mal-nutridos dos países em desenvolvimento ao redor do mundo”? É adequado o que afirma o website financiado pelas indústrias do agronegócio, Facts About GMOs, quando trata deste tema (puts it) ?

 

Trabalhadores rurais colhendo alface na Califórnia na região do Salinas Valley.

Um novo relatório (new report) da ONG norte americana Environmental Working Group/EWG basicamente destrói esta pretensão. Aqui estão as conclusões mestras, num único quadro:

Environmental Working Group

Na coluna esquerda do quadro acima, está resumido de que as 20 maiores destinações das exportações de alimentos dos EUA no último ano, representando 86% delas. Aqui estão seus destinatários (nt.: nas colunas estão: 1. a escala por volume de exportação; 2. o índice de desenvolvimento humano tido pela ONU; e 3. nível de fome de sua população, de acordo com a FAO):

 

Assim, a maioria dos países que compram volumes dos alimentos produzidos nos EUA—e especialmente os que estão no topo da lista mais acima—são altamente desenvolvidos (baseado nas medidas feitas pela ONU sobre a expectativa de vida, renda e nível educacional) e têm baixas taxas de fome em suas populações.

Enquanto isso, as 19 nações com os maiores e mais desastrosos problemas de fome, importam muito pouco do alimento originário dos Estados Unidos—eles representam os acachapantes 0,5% do total das exportações agrícolas dos EUA em 2015, conforme reporta a EWG. Mesmo contando com ajuda alimentar, majoritariamente os gigantescos conglomerados dos EUA contribuem muito pouco para alimentar os mais pobres dos países do mundo. Este quadro desnuda quanto os países mais arrasados pela fome dependem das exportações de alimentos norte americanas no percentual de seus suprimentos de alimentos. Conclusão: praticamente nada (nt.: destaque dado pela tradução).

 

(NOTA DA TRADUÇÃO: Vale o destaque de toda a chamada ‘modernização da agricultura‘ proposta nos anos do pós 2ª guerra, com o advento dos tratores, dos adubos solúveis, dos agrotóxicos, da explosão dos latifúndios, das fazendas industriais e das gigantesca e tirânicas-palavra cunhada pelo pensador norte americano Noam Chomsky- transnacionais, que vinha para “acabar com a fome no mundo”, demonstra que tudo não passou de uma artimanha para esta nova forma do capital de colonizar todo o planeta !! Todo este processo ficou conhecido pela expressão “Revolução Verde“).

 

 

Por que então nossas exportações de alimentos passam tão longe dos pobres do mundo? A resposta se funda no que está no primeiro quadro acima. Observa-se que em torno da metade de nossas exportações são destinados para 20 dos maiores compradores e está aí carnes e produtos lácteos bem como produtos para ração animal. A carne é considerado um produto de luxo. E como o relatório da EWG afirma, “a maioria das exportações agrícolas dos Estados Unidos vai para países nos quais os cidadãos podem arcar com maior preço.”

Há muito a ser feito para aliviar a fome de uma população global crescente somada à continuação dos efeitos que as trazem de ameaças de estragos na agricultura. No entanto, plantar mais e mais soja no estado do Iowa ou mesmo amêndoas na Califórnia será completamente irrelevante para o enfrentamento destes desafios (irrelevant to those challenges).

 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2016.