Entre o meio-fio e a calçada, num bairro de classe média baixa repleto de lojas de bebida, fast food e terrenos baldios, o estilista americano Ron Finley plantou uma horta. Cansado de dirigir 45 minutos para encontrar alimentos saudáveis e convicto de que hortas urbanas são um antídoto para problemas de saúde, pobreza e violência da cidade, resolveu dar um destino melhor à faixa de grama seca na frente de sua casa.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/526192-jardineiro-clandestino-muda-a-lei-da-cidade-para-plantar-comida
A reportagem foi publicada no sítio Sampa Criativa, 15-11-2013.
Em Los Angeles, a responsabilidade pela manutenção da calçada e de sua vegetação é de cada morador, mas a lei antiga não permitia o plantio de alimentos no local. Alguém então denunciou a horta clandestina de Finley, que acabou recebendo a seguinte notificação da prefeitura: se não limpar o terreno, o próximo passo será um mandado de prisão. O estilista, determinado, fincou o pé e desafiou a burocracia. Não só não derrubou a horta, como conseguiu o apoio de outros jardineiros e simpatizantes da ideia e conseguiu uma alteração na lei: agora é permitido plantar alimentos pelas ruas da cidade.
Por acreditar que plantar comida é uma ferramenta de educação e transformação do bairro, Finley fundou uma rede de jardineiros voluntários, a LA Green Grounds. Ele tem planos de ocupar todos os terrenos baldios de Los Angeles com jardins comestíveis, formando uma “floresta de comida”. Neste vídeo (com legendas em português), ele conta um pouco mais:
As nossas hortas urbanas
O Hortelões Urbanos é talvez o maior e mais conhecido grupo dedicado ao cultivo de alimentos na cidade. Conta com mais de 5 mil participantes e se encontra no Facebook para trocar experiências sobre o cultivo doméstico e organizar mutirões nas hortas comunitárias da cidade. Para plantar alimentos em áreas públicas de São Paulo, como praças, canteiros e terrenos abandonados, é simples: basta solicitar autorização da subprefeitura. No jardim de casa ou no vaso do apartamento, não custa nada.
Andrea e Ariel, participantes ativos do grupo Hortelões Urbanos, contam como vêem o processo de sensibilização para a criação de hortas urbanas em São Paulo e por que isso é importante para eles e para a cidade:
As hortas urbanas, a meu ver, têm um incrível poder transformador. Na horta das Corujas, pequenos milagres acontecem todos os dias. Às vezes estamos cavando um canteiro novo e aparece uma nascente borbulhando. Às vezes vemos pica-paus, insetos coloridíssimos que ninguém nunca conhecia, borboletas e maritacas em bandos. De repente uma muda que parecia morta começa a verdejar, vinga, e cresce diante de nossos olhos.
Quando você se dá conta, está com um monte de estranhos carregando esterco, instalando uma cacimba, cavando a terra, e mais gente se junta pra ajudar, e no fim do dia você ganhou um monte de amigos. Sentimos juntos as agruras da seca, o calor do sol, o vento gelado do inverno e vivenciamos cada estação com suas cores, cheiros, sabores. Comemoramos juntos a primavera, a água pura que brota farta, a abundância das colheitas, aprendemos e ensinamos tudo o que sabemos e sempre há algo novo a ser aprendido e ensinado. Doamos nosso tempo e ganhamos vida, amigos, alimento fresco, esperança.
A porteira da Horta das Corujas está sempre aberta para quem quiser plantar ou colher.
Andrea Valencio Pesek, designer
Tem muitos objetivos e inclusive mudam para cada pessoa. Os que eu enxergo são:
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- Sensibilizar a população sobre temas como a crise alimentar e a importância de promover modelos de produção de alimentos justos e sustentáveis.
- Promover e buscar maior contato com a terra e a reconexão com os ciclos da natureza.
- Empoderar cada vez mais cidadãos para cultivar seu próprio alimento de forma orgânica e agroecológica e sensibilizar sobre a importância de fortalecer cadeias e empreendimentos de pequenos produtores agroecológicos e de comércio justo.
- Criar comunidades solidárias e com maior coesão social.
O processo de encher as cidades de concreto tem uma inércia grande, são muitas cadeias produtivas envolvidas e um paradigma de desenvolvimento instaurado, mas as cidades, sobre tudo as grandes, perceberam que precisam mudar, e cada vez com mais urgência. O desafio está nas pequenas e médias, elas precisam entender que podem fazer as coisas de uma forma diferente.
Ariel Kogan, engenheiro