Exposição pré-natal a tóxicos pode atrasar o desenvolvimento do cérebro da criança

Bárbara Demeniex, pesquisadora inglesa que exerce seu trabalho na França, foi quem tornou pública a questão da relação da deficiência do hormônio da tiroide, tiroxina, materna no início da gestação e retardo mental do feto.

https://www.ehn.org/children-chemicals-exposure-environmental-health-2656711596.html

Grace van Deelen

18 de fevereiro de 2022

Novas pesquisas mostram que 54% das mulheres grávidas são regularmente expostas a níveis de produtos químicos disruptores endócrinos que podem retardar o desenvolvimento da linguagem em seus filhos.

Os níveis diários de exposição de uma mulher grávida a misturas de produtos químicos disruptores endócrinos, como bisfenol A (BPA), ftalatos e substâncias per e polifluoroalquil (PFAS), colocam seu filho em risco aumentado de atraso no desenvolvimento da linguagem, de acordo com uma nova pesquisa.

Como os hormônios regulam grande parte do desenvolvimento humano, os produtos químicos desreguladores hormonais – que interrompem suaa atividades – podem criar problemas no desenvolvimento, já a partir dos primeiros dias de vida. No estudo, publicado hoje na Science, os pesquisadores determinaram que mais da metade das mulheres grávidas estudadas foram expostas a produtos químicos disruptores endócrinos em um nível que levanta preocupações sobre o desenvolvimento de seus filhos.

“É muito desconcertante”, disse Barbara Demeneix, professora do Museu Nacional de História Natural de Paris e autora do estudo, à EHN.

Exposição generalizada 

Demeneix e seus colaboradores usaram dados de mais de 2.000 mulheres grávidas da Suécia para identificar uma mistura de disruptores endócrinos que estava associada a um atraso subsequente no desenvolvimento da linguagem da criança. Eles então expuseram girinos, peixes-zebra e organoides cerebrais – pequenos “protótipos” cerebrais feitos de células-tronco humanas – à mesma mistura de substâncias químicas que haviam sido medidas no sangue dessas mães. Em todos os três organismos, eles viram resultados semelhantes: uma interrupção da regulação dos genes responsáveis ​​pelo desenvolvimento da linguagem em crianças.

Eles concluíram que 54% das mulheres tiveram exposição suficiente para colocar seus filhos em risco de atraso no desenvolvimento. Embora isso não signifique que 54% dos bebês nascidos se desenvolverão mais lentamente, mostra que mais da metade das mulheres no estudo tinham níveis preocupantes de produtos químicos disruptores endócrinos em seu sangue.

Misturas de produtos químicos 

A pesquisa, disseram Demeneix e Joëlle Rüegg, professora de toxicologia da Universidade de Uppsala e autora do estudo, destaca a importância de estudar misturas de produtos químicos em vez de individualmente, já que é assim que a exposição acontece na vida cotidiana. “Quando fazemos essa abordagem de mistura, é muito mais preocupante do que se olhássemos para produtos químicos únicos”, disse Rüegg.

Como esses produtos químicos são tão difundidos e diferentes países os regulamentam de maneira diferente, Demeneix e Rüegg disseram que seria difícil para uma mulher grávida limitar sua exposição significativamente. Em vez disso, eles incentivam uma ação mais sistêmica, incluindo a classificação de produtos químicos. Em alguns países, os disruptores endócrinos são testados e regulamentados individualmente, o que dificulta a proibição ou regulamentação de todos os PFAS, por exemplo.

Regulamentar os disruptores endócrinos como classes, disse Demeneix, seria um passo na direção certa.

“É uma escolha pessoal controlar sua comida, controlar seu ambiente”, disse Demeneix à EHN. “É um problema de um regulador, um problema de um formulador de políticas, garantir que todos estejamos protegidos.”

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, abril de 2022.