Poucos de nós sabemos que vinil é o outro nome para a resina de PVC. E então, como o monômero MVC é cancerígeno, imagina-se o polímero formado por muitos deles. Ou seja, imagine-se agora o quão perigoso esse disco é.
https://www.bbc.com/news/technology-62426472
Shiona McCallum – Technology reporter
21.08.2022.
O atraso na indústria do vinil desde o início da pandemia significa que os artistas e alguns fãs de música estão tendo que esperar cerca de um ano para receber seus discos.
A demanda global por álbuns é a mais alta em 30 anos, enquanto a maioria das fábricas ainda usa os mesmos métodos de prensagem implantados na década de 1980.
Mas uma empresa holandesa está oferecendo, segundo ela, uma solução mais sustentável – mas mais cara – para o acúmulo.
E está fazendo isso sem o material plástico que deu nome ao disco de vinil.
Harm Theunisse, dono da Green Vinyl Records, em Eindhoven/Holanda, acredita que é o “novo padrão” para a indústria.
Sua equipe passou os últimos sete anos desenvolvendo uma nova máquina de prensagem em larga escala que usa até 90% menos energia do que a produção típica de vinil e que pode ser monitorada em tempo real e não retrospectivamente.
“Esta máquina pode fazer quase 40% mais capacidade do que as plantas tradicionais também”, disse Theunisse. “A prensagem aqui é mais rápida e melhor para o nosso planeta.”
A máquina em Eindhoven evita o uso de PVC (polivinil cloreto ou cloreto de polivinila – que deu nome ao vinil) – o plástico mais prejudicial ao meio ambiente, segundo o Greenpeace (nt.: importantíssimo se conhecer a constatação da EPA de que o Vinil Cloreto/VC é sim cancerígeno. Nós no Brasil desconhecemos completamente essa constatação da agência norte americana. É uma lástima!).
Em vez disso, usa tereftalato de polietileno (Pet) – um plástico mais durável e mais fácil de reciclar.
Theunisse disse que queria fazer algo para permitir que as gerações futuras ouvissem música em vinil sem se preocupar com o impacto ambiental.
“É para as crianças”, disse ele. “Nosso mundo está esquentando.”
A barreira para encontrar alternativas ecológicas ao PVC sempre foi o desejo de combinar a mesma qualidade de som rica, mantendo a dureza e a durabilidade do plástico, diz Sharon George, professora sênior de sustentabilidade na Keele University.
O método da Green Vinyl Records é “um verdadeiro passo na direção certa”, diz ela.
“Precisamos parar de pensar no custo no caixa e pensar nesse custo para o planeta e para a nossa saúde”, acrescenta.
Atualmente, a demanda mundial por vinil é estimada em cerca de 700 milhões de discos por ano, como resultado de um ressurgimento da popularidade que coincidiu com problemas na cadeia de suprimentos durante a pandemia de Covid.
As grandes fábricas estão tendo que recusar negócios.
“É bom ter uma carteira de pedidos tão cheia”, disse Ton Vermeulen, executivo-chefe da empresa de fabricação de vinil Record Industry, em Haarlem, perto de Amsterdã.
Mas há problemas, diz ele, com as pessoas “sempre fazendo pedidos excessivos ou insuficientes”.
“Quando eles lançam um novo álbum, eles pedem 1.000 [cópias] e, quando chegam, já precisam de 1.500.”
Vermeulen diz que sua empresa está lidando com clientes frustrados que têm planos de álbuns e shows agendados perto das datas de lançamento. Ele está tendo que dizer às gravadoras e artistas para esperar.
“Eles estão dispostos a pagar mais. Eles dizem ‘custe o que custar, não importa’ – mas, infelizmente, não funciona assim. É toda a cadeia que precisamos percorrer”, disse ele à BBC News.
Diligente
O vinil é fabricado na fábrica de Vermeulen desde 1957 e a empresa se orgulha de seus métodos tradicionais, usando as mesmas 33 prensas, que são cuidadosamente mantidas.
Primeiro, um disco mestre é feito de metal e convertido em um carimbo. Em seguida, os pellets de PVC são carregados na máquina, derretidos e pressionados no molde.
As máquinas permanecem ligadas por 17 horas e produzem 50.000 discos de PVC por dia.
O áudio aqui é feito e embalado para as três grandes gravadoras: Sony, Universal e Warner Music; negócios que existem há décadas.
A fabricante de vinil Record Industry também está tentando ter consciência do planeta – desde a reciclagem de resíduos até o investimento em energia solar.
Então, o que seu chefe acha de um futuro mais ecológico para a prensagem de discos?
“Recebi ligações dizendo: ‘Ei, você pode prensar discos de plástico do oceano?'”, disse Vermeulen. “Podemos tentar e pode parecer um disco – mas se precisar soar como um disco normal, é aí que temos um problema”.
“Quando você quer manter a qualidade do produto como está agora, isso é impossível”, diz ele.
Acredita-se que os atributos moleculares do plástico tenham um impacto significativo na qualidade de como a música soa – portanto, as plantas de prensagem querem evitar o uso de materiais impuros.
Alto custo
O Sr. Vermeulen estava envolvido com o projeto Green Vinyl quando começou, mas ele levanta preocupações sobre os custos.
“Acho que são os aspectos desconhecidos e os custos envolvidos para investir alto – porque essas máquinas são muito mais caras do que as impressoras que usamos aqui”, disse ele. “Não estou dizendo que não há espaço para uma técnica tão nova, mas tenho dúvidas se as empresas vão fazer isso.”
Mas parece que alguns estão dispostos a correr o risco. O novo álbum de Tom Odell está sendo prensado na Green Vinyl Records.
E Harm Theunisse acaba de assinar seu primeiro pedido da Warner também.
O empresário reconhece os custos iniciais, mas estima um retorno do investimento em cerca de 18 meses.
“Você tem que comprar um e depois ouvir você mesmo”, diz ele.
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Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, setembro de 2022.