Health and Environment Alliance (HEAL)
08 de junho de 2022
Revela novo relatório que evidência de glifosato e câncer foi descartada na avaliação em andamento da União Europeia/UE.
Um relatório do HEAL publicado hoje mostra que as evidências científicas que provam que o glifosato é cancerígeno até agora, foram descartadas na avaliação científica da UE que formará a base para a discussão de reaprovação de sua licença de mercado da UE [1]. As graves deficiências científicas e distorções na interpretação das normas científicas da UE e internacionais destacadas no relatório também colocam em questão a validade da avaliação e suas conclusões preliminares.
A HEAL alerta que o não reconhecimento do potencial de carcinogenicidade da substância marcaria um retrocesso na luta da Europa contra o câncer.
Como as instituições europeias e os estados membros iniciaram o processo de reavaliação do glifosato tendo em vista uma possível renovação, a Health and Environment Alliance (HEAL) examinou de perto os 11 estudos em animais fornecidos por empresas de agrotóxicos em 2019 como parte do dossiê de aplicação. Juntamente com dois renomados especialistas, o HEAL encontrou a ocorrência de tumores estatisticamente significativos, o que claramente apoia a classificação do glifosato pela Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC/International Agency for Research on Cancer) como um “provável carcinógeno” [2]. O Prof. Christopher Portier, especialista independente na concepção, análise e interpretação de dados de saúde ambiental com foco em carcinogenicidade, disse: “Linfomas malignos, tumores renais e hepáticos, ceratoacantomas cutâneos… o glifosato alimenta o câncer e a lista continua. Em dez dos 11 estudos em animais que fizeram parte do dossiê de re-aprovação do glifosato, observamos que os animais desenvolveram tumores. Não importa como você olhe, há evidências mais do que suficientes de carcinogenicidade, e essas evidências atendem aos critérios para classificar o glifosato como uma substância que se presume ter potencial carcinogênico para humanos”.
De acordo com a legislação da UE sobre agrotóxicos [3], as substâncias que cumprem os critérios de classificação como presumivelmente cancerígenas para a saúde humana (categoria 1B na UE) devem ser retiradas do mercado da UE.
No entanto, o Grupo de Avaliação do glifosato (o AGG) e o Comitê de Avaliação de Risco (RAC) da Agência Europeia de Produtos Químicos (ECHA/European Chemicals Agency) declararam publicamente que não há evidências suficientes de que o glifosato cause câncer [4]. Quaisquer indicações de incoerências e inconsistências científicas apresentadas pelo HEAL em conjunto com cientistas independentes e outros grupos da sociedade civil durante as discussões do ECHA RAC foram completamente rejeitadas [5].
Dr. Peter Clausing, toxicologista e co-autor do relatório, disse: “Os animais expostos ao glifosato desenvolveram tumores com incidências significativamente maiores em comparação com o grupo controle não exposto, um efeito considerado como evidência de carcinogenicidade pelas diretrizes internacionais e europeias. No entanto, os avaliadores de risco da UE descartaram todos os achados de tumores de sua análise, concluindo que todos ocorreram por acaso e que nenhum deles estava realmente relacionado à exposição ao glifosato”.
Dra. Angeliki Lyssimachou, Oficial Sênior de Política Científica do HEAL e coautora do relatório, disse: “A prova científica que mostra que o glifosato pode causar câncer e, portanto, é perigoso para a saúde humana continua se acumulando – mas a avaliação da UE continua a se basear principalmente com base nos próprios argumentos da indústria, resultando em substâncias químicas nocivas, como o glifosato, a serem comercializadas como seguras. As instituições da UE e os estados membros não podem mais confiar nessa avaliação científica disfuncional para tomar suas decisões. A missão da UE para vencer o câncer começa aqui e agora com a proibição do glifosato”.
A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA/European Food Safety Authority), responsável pela revisão por pares da avaliação do risco de agrotóxicos – glifosato, anunciou um atraso significativo para a divulgação de suas conclusões [5]. Isso significa que a licença atual do glifosato será inevitavelmente estendida por mais um ano, deixando grupos vulneráveis em risco de exposição ao agrotóxico nocivo. Com base nos pareceres da ECHA e da EFSA, a Comissão Europeia e os estados membros da UE tomarão uma decisão sobre a licença de renovação de 15 anos solicitada para o glifosato.
Contato:
Nathalie Parès, consultora de mídia da Health and Environment Alliance (HEAL), [email protected], +34 691 825 067
Notas ao editor:
1 – Clique aqui para baixar o relatório completo.
Clique aqui para baixar o sumário executivo.
Clique aqui para baixar o infográfico ‘Processo de renovação do glifosato – uma linha do tempo’
2 – https://www.iarc.who.int/featured-news/media-centre-iarc-news-glyphosate/
3 – Regulamento (CE) n.º 1107/2009 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de outubro de 2009, relativo à colocação de produtos fitofarmacêuticos no mercado e que revoga as Diretivas 79/117/CEE e 91/414/CEE do Conselho; Anexo II, secção 3.6 ‘Impacto na saúde humana’; https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:32009R1107
6 – https://www.efsa.europa.eu/en/news/glyphosate-efsa-and-echa-update-timelines-assessments
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, julho de 2022.