Estamos Entrando num Tempo de Extinção em Massa?

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Devastação Queimada Amazonia

Queimadas e secas. Destruição progressiva dos mares e dos lençóis hídricos. Elimina-se as fontes de vida.

https://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2020/01/07/are-we-entering-a-mass-extinction-event.aspx

Analysis by Dr. Joseph Mercola

January 07, 2020

Resumo da história

  • Uma análise da e da população animal retrata um quadro sombrio sobre a extinção biológica;
  • A extinção em massa rouba, dos seres humanos, ecossistemas cruciais empregados desde a polinização de plantas, ao controle de pragas e mesmo à purificação das águas; as tecnologias e a de certas práticas agropecuárias levaram ao aumento do volume da produção de barato;
  • A falência da pequena propriedade aumentou no Centro-Oeste norte americano em 12% e em 50% no Noroeste. A dívida agrícola nunca esteve tão alta, com mais da metade dos agricultores relatando perdas todos os anos, desde 2013;
  • Instabilidade financeira e falência, alimentadas pelas guerras comerciais com a China, podem também estar sendo responsáveis pelo crescente número de suicídios entre os agricultores;
  • A perda das pequenas propriedades também afeta as comunidades do entorno que dependem dos negócios dos agricultores. Podemos causar impactos sobre este quadro ao adquirimos produção de agricultores locais, tanto de carnes como produtos lácteos oriundos de uma regenerativa e orgânica (nt.: vale ressaltar que. guardadas as devidas proporções e realidades, é o mesmo que acontece no meio rural brasileiro. Parece que o que vale nos , está valendo aqui).

Como o corpo humano, o ambiente envolve múltiplos sistemas e inter-relações complexas entre eles. É praticamente impossível exercer um efeito sobre um só dos sistemas sem isso afetar vários outros. Desde o menor dos organismos viventes dos solos e nas águas, até os maiores mamíferos presentes nos mares, um efeito desencadeante, em cascata, é muitas vezes sentido através da cadeia alimentar com quaisquer tipos de mudanças ocorridas.

A população mundial duplicou de 3,03 bilhões em 1960 para 6,06 bilhões em 1999.1 Durante o mesmo período a população urbana cresceu de 1,02 bilhões para 2,14 bilhões de pessoas; alguns acreditam que o número de pessoas que vivem em áreas rurais é afetado pelas imensas corporações que assumem pequenas propriedades.

O crescimento da população e o seu movimento em direção às cidades, levou ao desenvolvimento do que muitos veem como uma sociedade descartável, criando mais lixos do que poderiam ser destinados. Plásticos (plastics), substâncias químicas, toxinas e tecidos/fibras sintéticas (fabric fibers) estão se imiscuindo nas vias hídricas locais e por fim nos onde todos estes produtos industriais impactam a reprodução da vida selvagem e, finalmente, toda a cadeia alimentar.  

As corporações agroquímicas fornecem fertilizantes nitrogenados (nt.: e outros nutrientes solúveis, em formulações do célebre NPK = nitrogênio, fósforo-phosphorus- e potássio-kalium-), sementes transgênicas e agrotóxicos — tudo isso impactando a biodiversidade dos solos e, gradualmente, reduzindo, pela erosão, o solo superficial agriculturável e fértil. Tanto o nitrogênio como os venenos químicos são erodidos para as águas superficiais e os lençóis freáticos, resultando na agressão à vida selvagem (nt.: e consequentemente a outros seres vivos como nós, os humanos).

Os dejetos (nt.: fezes em profusão, contaminadas com medicamentos e antibióticos) são erodidos dos espaços criatórios dos animal confinados (concentrated animal feeding operations/CAFOs), envenenando os cultivos agrícolas (poisons croplands). Mudanças na forma como as propriedades rurais são administradas e manejadas bem como a maneira como os produtos agrícolas são manufaturados e a vida tem sido vivida, todas estas situações estão gerando efeitos devastadores sobre todo o Planeta.

As Pequenas Propriedades Estão Enfrentando a Falência com o Aumento das Taxas de Suicídio

Os pequenos agricultores sempre foram os esteios da nação, desde a fundação dos Estados Unidos. Por séculos, as propriedades vem sendo passadas de geração a geração, tendo sobrevivido secas, enchentes e variações de preços de seus produtos agrícolas. No entanto, a crise atual não é nada parecido com tudo o que aconteceu anteriormente.

Pequenos produtores de leite estão acumulando grandes dívidas para manterem seus estábulos funcionando. A revista norte americana Time 2 relata que uma família tem quase US 300.000 dólares de dívidas nas mãos de credores, cobrando regularmente. Isto está acontecendo com muitas famílias que administram, há décadas, suas fazendas com sucesso. Como exemplo destes disparates, o preço do leite despencou quase 40% nos últimos seis anos e, como conseqüência, mais agricultores estão perdendo suas propriedades de herança de seus antepassados.

A Time também relata que as falências de pequenas propriedades aumentaram 12% no Centro-Oeste de julho de 2018 a junho de 2019. Isso fica pálido ao se comparar com o aumento de 50% observado no Noroeste do país, durante o mesmo período. De 2011 a 2018, 100.000 fazendas fecharam suas portas. A dívida agrícola está no nível mais alto de todos os tempos, com mais da metade delas, relatando perdas todos os anos desde 2013.

Os pequenos plantadores de milho e também estão sentindo o aperto, pressionados ela guerra comercial com a China (nt.: situação que se reflete no por estarmos plantando as mesmas ‘commodities', soja e milho, fonte das rações dos animais confinados) e pelas .3 Fortes chuvas na primavera e uma nevasca no início do outono interromperam as operações de alguns agricultores. Suas vendas caíram, o que abriu aos mercados na América do Sul (nt.: Brasil e Argentina, plantam as mesmas mercadorias dos EUA) expandirem sua produção (nt.: tragédia da invasão e destruição tanto do como da , no Brasil e das áreas férteis argentinas, pelo e os imensos latifúndios).

Conforme relatado por um produtor de milho e soja de quarta geração, isso é lamentável, pois o mercado na China levou anos para se desenvolver e a guerra comercial causa agora esta instabilidade.4 Visão sobre esta questão: de janeiro a agosto de 2019, a China importou US 8 bilhões de dólares em produtos agrícolas dos EUA. Muito menos do que os US 19,5 bilhões comprados em 2017 antes do início da guerra comercial (nt.: foi aqui que o Brasil e a Argentina entraram com seus produtos baratos e devastadores).

Um efeito muitas vezes subdimensionado na perda das fazendas é o crescente número de suicídios. A área federal, ligada à saúde, informou que a taxa de suicídio para os que vivem no campo é 1,5 vezes maior que a média nacional. A mídia convencional relata que a renda agrícola no estado de Wisconsin (nt.: estado do Centro-Oeste dos EUA, grande produtor de cerais. Foi na universidade deste estado que, nos anos sessenta/setenta, os técnicos ligados à agricultura no Brasil foram aprender como implantar o ‘pacote tecnológico' da ‘modernização da agricultura' com suas máquinas, venenos e adubos solúveis) caiu 50% em seis anos, culminando em um recorde de 915 suicídios em 2017.6

Randy Roecker é um produtor de laticínios de Wisconsin.7 Ficou com depressão e viu seu vizinho cometer suicídio depois que ser forçado a vender suas 50 vacas de leite. Roecker disse, “Isso te atinge tão fortemente quando tu sentes que precisas te desfazer de uma herança que teus antepassados começaram.” (nt.: fato que também aconteceu no sul do Brasil, mesmo sem esta flagrante e trágica ação suicida). Ele avalia que sua propriedade está perdendo US 30.000 dólares, a cada mês.

A América do Norte Rural Desaparece Enquanto o Agribusiness/Agronegócio Compra as Pequenas Propriedades

A administração Trump alocou US 16 bilhões de dólares como assistência financeira para os agricultores que sofreram as consequências do comércio com a China. No entanto, os pequenos agricultores não tem esperanças de salvarem suas fazendas já que a maioria do recurso foi destinado aos grandes latifundiários que relataram grandes perdas.8

A severidade da atual crise enfrentada pelos agricultores sugere que a agricultura independente (independent farming) pode ser uma coisa do passado. Em 2017, as pequenas propriedades contribuíram com 25% da produção de alimentos, uma redução de quase 50% em relação a 1991. A indústria de laticínios é ainda menor, contribuindo com apenas 10% da produção.9 (nt.: no Brasil existe alguma controvérsia sobre a real presença da agricultura familiar pela confusão que a mídia -‘agro é tech'- vem fazendo, misturando ‘commodities‘ com alimento, assim como a soja. Ela sim, pode usada como óleo e então ser um ‘alimento', mas para o nosso site, ALIMENTO é algo muito mais amplo do que o negócio do agro).

Como resultado da tecnologia e da globalização, os preços começaram a cair em 2013, e os pequenos agricultores começaram a vender suas produções para as grandes empresas do agronegócio. A tecnologia tornou os grandes produtores mais eficientes, aumentando a escala. Enquanto muitas fazendas desapareceram de 1948 a 2015, a produção total das fazendas americanas mais que dobrou.

Isso inundou o mercado com uma oferta crescente de alimentos que continuou a baixar os preços e prejudicar os pequenos agricultores restantes que não podiam competir. Embora a transição para a agricultura orgânica possa ajudar a salvar algumas fazendas locais, alguns pequenos agricultores estão tão endividados que a troca não é uma opção. Alguns pecuaristas do estado de Wyoming estão tentando orientar o agricultor familiar, mudando a maneira como cultivam a terra.

Eles estão experimentando variedades de sementes e métodos sustentáveis de agricultura para combater os efeitos de secas e inundações provocadas pelas mudanças climáticas. Para ajudar, eles fizeram parceria com grupos de defesa e política social em todo o país, como a Family Farm Alliance. Este grupo faz parceria com agricultores e pecuaristas no fornecimento de água em questões de irrigação.

Outros grupos estão trabalhando com os agricultores para combater os efeitos que a prática agrícola possa ter sobre o aquecimento climático bem na liberação de dióxido de carbono para a atmosfera. Uma alternativa de cultivo usada é o cânhamo, pois não é suscetível às oscilações abruptas do , como o milho e a soja.

Colapso da Agricultura Familiar Fragiliza a Cadeia Alimentar

A perda da agricultura familiar afeta mais do que a do produtor rural. Como os produtores vendem para grandes empresas do agronegócio, as empresas locais dependentes da negociação dos agricultores também devem fechar suas portas. Farmácias, restaurantes, consertos de equipamentos agrícolas e outras pequenas empresas fecharam quando os pequenos agricultores faliram.

De 2011 a 2015, quase 4.400 escolas em distritos rurais tiveram que fechar suas portas, pois não tinham mais os estudantes ou o dinheiro dos impostos para apoiá-los. Por outro lado, as áreas da periferia das grandes cidades adicionaram quase 4.000 escolas. Os agricultores que costumavam ter vizinhos que eles conheciam, agora vivem perto de fazendas administradas por grandes corporações.

Estima-se que quase 70% dos norte americanos viverão em 15 estados até 2040, com grande parte da população concentrada nas áreas metropolitanas. Jim Goodman, presidente da National Family Farm Coalition, contempla como pode ser o futuro da América rural.10

“Temos que pensar sobre como realmente queremos que a América do Norte rural se pareça. Queremos que seja um local de pequenas cidades abandonadas e agricultores que não conseguem sobreviver e muitos latifúndios realmente grandes que poluem as águas subterrâneas?”

A Perda da Biodiversidade que Precipita a Extinção

A perda das propriedades familiares tem um grande impacto nos ambientes locais, pois os grandes agronegócios capturaram o coração dos Estados Unidos e destroem os ambientes locais com sementes transgênicas (genetically engineered seed), aplicações pesadas de agrotóxicos (pesticides) e com o escoamento dos dejetos animais confinados.

Outros efeitos negativos incluem perdas de biodiversidade, degradação generalizada dos sistemas de terra e água e um suprimento crescente de alimentos baratos, responsáveis por reduzirem os preços e pelos pequenos agricultores fecharem seus negócios. Essas mudanças contribuíram para a perda fenomenal da biodiversidade ambiental em apenas uma área da natureza.

A floresta da Amazônia está queimando, destruindo a vida vegetal e animal na maior floresta tropical do mundo, normalmente responsável por desacelerar o ritmo da mudança climática global.11 As queimadas são usados para limpar a mata sendo que, embora atualmente esteja em vigor uma proibição de queimar, o nível de desmatamento não diminuiu.

O diretor de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), sem fins lucrativos, acredita que o nível de perda em 2019 é provavelmente 30% superior aos estimados 7.747 quilômetros quadrados (2.991 milhas quadradas) de floresta tropical desmatada.

O Cerrado, também no Brasil, abriga 40% dos animais e plantas não encontrados em outras áreas do mundo. Segundo o Ipam, quase 50% da terra foi perdida para o cultivo de soja.

Um estudo 12 de 2017 conduzido por cientistas da Universidade de Stanford mostra um quadro sombrio da aniquilação biológica. Os pesquisadores acreditam que o desaparecimento de milhares de espécies seja apenas parte da história do impacto que os seres humanos estão tendo sobre a Terra.13

A perda de populações animais e da biodiversidade da Terra, é importante, pois rouba dos seres humanos ecossistemas cruciais que, há séculos, polinizam plantas, controlam pragas e purificam as águas nos pântanos. Os cientistas acreditam que a perda destas redes complexas levará ao desenvolvimento de sistemas menos resilientes.

Oportunidade Perdida na Recente COP25: O quê fazer agora?

De acordo com a International Union for Conservation of Nature (nt.: União Internacional para Conservação da Natureza), nos últimos 10 anos, 467 espécies foram objetivamente extintas.14 Uma equipe de pesquisadores europeus estimou que levaria de 3 a 7 milhões de anos para a evolução substituir 300 espécies de mamíferos extintos. Os pesquisadores de Stanford acreditam que o atual evento de extinção em massa é mais grave do que é percebido. Eles escrevem:15

Nossos dados indicam que, além das extinções globais de espécies, a Terra está passando por um enorme episódio de declínio e extirpação populacional, o que terá consequências negativas em cascata no funcionamento do ecossistema e nos serviços vitais para sustentar a civilização.

A perda maciça de populações já está danificando os serviços que os ecossistemas fornecem à civilização. Ao considerar esse ataque assustador aos fundamentos da civilização humana, nunca se deve esquecer que a capacidade da Terra de sustentar a vida, incluindo a vida humana, foi moldada pela própria vida.

Assim, enfatizamos que a sexta extinção em massa já está aqui e a janela para uma ação efetiva é muito curta, provavelmente duas ou três décadas no máximo. Todos os sinais apontam para ataques cada vez mais poderosos à biodiversidade nas próximas duas décadas, pintando uma imagem sombria do futuro da vida, incluindo a vida humana.

Após duas semanas de negociações em Madri, delegados de quase 200 países encerraram a 2019 United Nations Framework Convention on Climate Change/COP25 (nt.: Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima/COP25). A cúpula planejada de 12 dias foi convocada para definir as regras do acordo climático de Paris de 2015.

A reunião terminou em decepção, pois muitos dos itens mais prementes da agenda foram adiados até 2020.16 O chefe da , António Guterres, ficou decepcionado com os resultados, mas pediu que a comunidade global não desistisse, dizendo que está:17

“mais determinado do que nunca a trabalhar para 2020, para ser o ano em que todos os países se comprometam a fazer o que a ciência nos diz que é necessário para alcançarmos a neutralidade do carbono em 2050 e um aumento de temperatura de no máximo 1,5 graus.”

Podemos ter efeito positivo em nosso ecossistema local e contribuirmos com a comunidade global por meio de nossas compras. Consideremos adquirir os produtos, carne e laticínios, de agricultores orgânicos e regeneradores locais (regenerative farmers), onde o processo de produção de alimentos reduz o impacto geral sobre o meio ambiente e também não contribui para isso; sendo então a comida mais segura e saudável.

Embora o plástico tenha se tornado parte integrante de nossas vidas, seu uso está em níveis perigosos ao considerarmos nossa saúde e o meio ambiente. Um giro pela história do supermercado revela a extensão da dependência da sociedade em relação ao plástico.

A maioria dos plásticos não é reciclada e acaba nas vias hídricas, afetando negativamente o meio ambiente. Descubramos dicas sobre como reduzirmos nossa dependência do plástico no meu artigo, “Por que os alimentos são embrulhados em plástico dentro de plástico?” (Why Is Food Wrapped in Plastic Inside Plastic?).

Fontes e Referências

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2020.

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