Especialistas renovam denúncias contra comercialização de leite em pó

Uma mãe amamenta seu bebê como parte de um dia de saúde em Caracas. A OMS realiza campanhas em defesa dessa amamentação e denuncia o marketing sob falsas premissas realizado pela indústria de substitutos do leite materno. Foto: Eduardo Párraga/Unicef

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Por correspondente IPS

08 de fevereiro de 2023

As táticas de marketing da indústria de fórmulas infantis são exploradoras e enganosas, e medidas drásticas devem ser tomadas contra elas, afirmaram especialistas em uma série de artigos na revista científica The Lancet, sob aplausos da Organização Mundial da Saúde (OMS).

GENEBRA – As táticas de marketing da indústria de fórmulas infantis são exploradoras e enganosas, e medidas drásticas devem ser tomadas contra elas, afirmaram especialistas em uma série de artigos na revista científica The Lancet, sob aplausos da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Esta nova pesquisa destaca o enorme e político das grandes empresas de fórmulas, bem como as graves falhas de políticas públicas que impedem milhões de mulheres de amamentar seus filhos”, disse o cientista da OMS Nigel Rollins, autor de um dos trabalhos.

O primeiro artigo da série no The Lancet documenta como a propaganda enganosa e as alegações de marketing exploram diretamente as ansiedades dos pais sobre os comportamentos infantis normais. Com eles, sugere-se que os laticínios comerciais aliviem a irritabilidade ou o choro, por exemplo, que ajudem nas cólicas ou prolonguem o sono noturno. Os autores enfatizam que, quando as mães recebem apoio adequado, essas preocupações parentais podem ser gerenciadas com sucesso por meio da amamentação exclusiva.

“A indústria de fórmulas usa ciência pobre para sugerir, com poucas evidências de apoio, que seus produtos são soluções para problemas comuns de saúde e desenvolvimento infantil”, disse a professora Linda Richter, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul.

Essa técnica de marketing “viola claramente o Código de 1981, que diz que os rótulos não devem romantizar o uso de fórmulas para vender mais produtos”. Em 1981, a Assembleia Mundial da Saúde adotou o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno -que também incluía mamadeiras e bicos-, que estabelecia que esses produtos deveriam estar disponíveis quando necessários, mas não promovidos .

A série da The Lancet, revista médica britânica publicada desde 1823, explica como a comercialização de leite em pó explora a falta de apoio ao aleitamento materno por parte dos governos e da sociedade, ao mesmo tempo em que faz uso indevido de políticas de gênero para vender seus produtos. Isso inclui enquadrar a defesa da amamentação como um julgamento moralista, enquanto apresenta a fórmula como uma solução conveniente e empoderadora para as mães que trabalham. A série também chama a atenção para o poder da indústria de fórmulas para influenciar as decisões políticas nacionais e interferir nos processos regulatórios internacionais. Em particular, as indústrias de leite e fórmula estabeleceram uma rede de associações comerciais não responsáveis ​​e grupos de frente que fazem lobby contra medidas políticas para proteger a amamentação ou controlar a qualidade da fórmula infantil.

De acordo com esses estudos, o marketing intensivo de fórmulas infantis continua inabalável, com as vendas desses produtos chegando a US$ 55 bilhões por ano.

Apenas um em cada dois recém-nascidos é amamentado na primeira hora de vida, enquanto menos da metade dos bebês menores de seis meses são amamentados exclusivamente, conforme recomendado pela OMS. A amamentação oferece “benefícios imensos e insubstituíveis para bebês e crianças pequenas. Ajuda-os a sobreviver e desenvolver todo o seu potencial, proporciona grandes benefícios nutricionais, reduz os riscos de infecção e diminui as taxas de obesidade e doenças crônicas na idade adulta.

Entre os maiores fabricantes de substitutos do leite materno estão a suíça Nestlé, a americana Abbott, a britânica Reckitt Benckiser, a francesa Danone, a chinesa Feihe e a cooperativa holandesa de laticínios Royal FrieslandCampina (nt.: destaque dado pela tradução para que cada um de nós, consumidores, podermos não só deixar de comprar seus produtos mas e principalmente promover um boicote a essas corporações que criminosamente comprometem mães e destacadamente os nenês que são os habitantes do planeta do futuro).

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2023.