EPA defende seus testes químicos para baixas doses quanto a efeitos hormonais.

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (nt.: U.S. Environmental Protection Agency/EPA) concluiu que os seus atuais testes para produtos químicos que alteram hormônios estão adequados para detecção dos efeitos em baixas doses que podem por em risco a saúde pública. Esta afirmativa veio em resposta a um relatório feito no ano passado por 12 cientistas que criticaram a antiga estratégia governamental de décadas atrás quanto aos testes que estariam ultrapassados em relação a muitos químicos encontrados tanto no ambiente como em produtos de consumo. Os cientistas focaram especialmente no fenômeno chamado de “dose resposta não monotônica” (nt.: ver quadro colocado abaixo de todo o texto), significando que químicos que mimetizam hormônios não agem de forma típica. Eles podem ter efeitos sobre a saúde em baixas doses, enquanto isso podem não apresentar efeitos ou mesmo serem diferentes quando em altas doses. A conclusão da EPA foi elogiada pela indústria química que chamou esta evidência de “no máximo, muito frágil”. No entanto, uma cientista da Universidade de Tufts, em Boston, diz que esta visão do governo ‘viola todo o nosso conhecimento de como os hormônios atuam”.

 

http://www.environmentalhealthnews.org/ehs/news/2013/epa-low-dose

 

By Brian Bienkowski
Staff Writer
Environmental Health News

27 de Junho  de 2013.

European Commission

Robert Kavlock, secretário assistente substituto para ciência da EPA, que assinou o relatório que considerou os atuais testes para químicos que alteram hormônios adequados para detecção dos efeitos em baixas doses.

A  EPA frequentemente avalia os riscos das substâncias químicas com testes que expõem os animais de laboratório a altas doses e então extrapolam para doses mais baixas que são detectadas tanto na população em geral como na vida selvagem.

Dezenas de substâncias que mimetizam ou bloqueiam o estrogênio, a testosterona ou os hormônios da tiroide são detectados no ambiente, no alimento, nos agrotóxicos e nos produtos de consumo. A ideia de que estes químicos lesionam a população em doses minúsculas, permanece controvertida.

O trabalho esboçado pela EPA draft “State of the Science” report (nt.: http://www.environmentalhealthnews.org/ehs/news/2013/pdf-links/EPA%20draft%20report.pdf), completado em junho último (nt.: 2013), encontrou que tais respostas em baixas doses não monotônicas “ocorrem nos sistemas biológicos, mas geralmente não são comuns”.

“Atualmente não há nenhuma evidência reprodutível” de que os efeitos em baixas doses vistos em testes de laboratórios “são prenúncio de resultados com efeitos adversos que podem ser vistos em seres humanos e populações da vida selvagem para os pontos finais quanto aos estrogênios, androgênios e hormônios da tiroide”, afirma o relatório da EPA.

“Logo, as estratégias atuais de avaliação são improváveis de descaracterizar … um químico que tenha um potencial para perturbações adversas das vias dos estrogênios, andrógenos ou dos hormônios da tiroide”.

O relatório escrito por funcionários da EPA com dados de uma equipe de cientistas e executivos da Food and Drug Administration/FDA, do National Institute of Environmental Health Sciences e do National Institute of Child Health and Development revisaram a pesquisa e a ciência quanto às substâncias químicas que causam disfunção endócrina. Ele foi assinado por Robert Kavlock, secretário assistente substituto para ciência da EPA.

formalfallacy @ Dublin (Victor)/flickr

Atrazina, o agrotóxico mais utilizado em milho, tem sido conectado a alterações hormonais em baixas doses em animais.

A equipe federal foi constituída em junho último em resposta a um relatório publicado por cientistas há poucos meses atrás com a liderança autoral de Laura Vandenberg, uma pesquisadora da Universidade de Tufts, em Boston, além de outros colegas. Pete Myers (nt.: um dos autores do livro “O Futuro Roubado”), fundador da Environmental Health News e cientista chefe do departamento estatal Environmental Health Sciences, foi o autor sênior do relatório.

O esboço de relatório da EPA será revisado por um painel da National Academies of Sciences.

O American Chemistry Council, o ‘lobby’ que representa as companhias químicas, aplaudiu as conclusões da EPA.

A EPA “conclui o que a maioria dos cientistas vem afirmando por anos: a pretendida evidência científica para a curva não monotônica para exposições de baixas doses, leva à disfunção endócrina e efeitos adversos é, na melhor das hipóteses, muito fraca”, diz o lobby das indústrias em uma declaração já articulada previamente.

A pesquisadora Vandenberg disse que apesar do debate de como se avaliar o risco destes químicos permanece, só o reconhecimento da EPA que a dose resposta não monotônica existe já é um passo a frente, o que culmina com anos de pesquisa científica.

No entanto, acrescenta ela, a EPA tomou algumas “decisões estranhas e possivelmente de cunho político” neste novo relatório.

Laura Vandenberg, Universidade de Tufts, foi a autora líder do relatório que criticou os atuais métodos de avaliação da EPA.

A EPA acreditar de que os testes para altas doses podem predizer o mesmo tipo de segurança quanto às baixas doses “viola todo nosso conhecimento de como os hormônios atuam”, contou a cientista Vandenberg ao Enviromental Health News em um email. “Eles [os químicos disruptores endócrinos] são declaradamente tóxicos em altas doses, mas como agem como hormônios, com ações completamente diferentes quando em baixas doses”.

No relatório de 2012, Vandenberg e seus colegas apontavam para substâncias químicas tais como o bisfenol A (BPA) – que é detectado nas resinas plásticas policarbonato e em alguns alimentos enlatados e mesmo em notas de compras termo-impressas – e a atrazina, um agrotóxico muito usado em plantio de milho, como exemplos de substâncias químicas que são inadequadamente testados no sentido de proteção da saúde humana.

“Se os compostos em baixas doses influem em distúrbios na saúde humana já não é só uma conjuntura, como os estudos epidemiológicos mostram de que exposições ambientais estão associadas com doenças e deficiências nos seres humanos”, dizem os cientistas em seu relatório publicado no periódico Endocrine Reviews.

Eles citaram evidências de uma vasta gama de efeitos sobre a saúde das pessoas – desde a fase fetal à terceira idade – incluindo conexões com a infertilidade, doenças cardiovasculares, obesidade, cânceres e outros distúrbios.

Vandenberg disse que a EPA utilizou estudos desatualizados quanto à atrazina, quando deveriam ter usado uma nova publicação com dezenas de autores de várias partes do mundo mostrando os “efeitos consistente das baixas doses deste químico em anfíbios, répteis, peixes, pássaros e mamíferos”.

Sua argumentação dos efeitos de baixas doses de Bisfenol A/BPA sobre a próstata “é também de uma década e ultrapassada e ainda dá credibilidade a estudos financiados pela indústria que teve falhas tanto de projeto experimental como dos controles positivos”, diz ela.

 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2013.