Uma modificação feita por cientistas no vírus da gripe aviária tem gerado polêmica no mundo científico. Dois laboratórios, da Holanda e dos Estados Unidos, criaram um vírus mutante do H5N1 e o tornaram transmissível entre humanos. A novidade acendeu o debate sobre biossegurança, já que, em mãos erradas, a descoberta pode se tornar uma arma biológica capaz de provocar pandemias letais.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1215453&tit=Descoberta-torna-virus-mais-letal
Publicado em 22/01/2012 | Juliana Gonçalves, correspondente
Uma modificação genética no vírus da gripe aviária deixou-o transmissível entre seres humanos e impulsionou o debate sobre biossegurança.
Com medo de que a informação comprometa a segurança pública e caia nas mãos de terroristas, o governo americano solicitou às duas revistas mais prestigiadas na área científica – a americana Science e a britânica Nature – que não divulguem o estudo na íntegra. As publicações anunciaram que estão avaliando o pedido, mas destacaram a preocupação em censurar informações importantes para os estudiosos da gripe.
Benefícios
Estudo ajuda a prevenir epidemia
Embora a pesquisa carregue consigo alguns perigos, ela pode ser útil e ajudar a comunidade científica a se preparar para uma possível epidemia. Se os cientistas conseguiram aumentar a capacidade de contágio do H5N1 em laboratório, essa mutação talvez possa ocorrer também de forma espontânea na natureza. “Tendo acesso prévio a essa modificação, os cientistas já podem começar a desenvolver uma vacina contra o vírus mutante”, pondera a virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios do Instituto Oswaldo Cruz.
Para ela, no entanto, o risco não é válido porque implica em uma situação bastante perigosa para a saúde pública. “Não acho que a ciência tem de ser bloqueada, mas isso foi feito em dois centros de pesquisa, quando deveria estar em unidades governamentais, onde o acesso e o controle seriam muito mais eficientes.” Além disso, a pesquisadora lembra que a mutação descoberta não é a única que pode ocorrer para aumentar o poder de transmissão do vírus.
O H5N1 já provocou surtos em toda Ásia e alguns países da Europa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o H5N1 infectou até agora 570 pessoas no mundo (nenhum caso no Brasil) e matou 331 – uma taxa de mortalidade de quase 60%.
Por enquanto, o vírus que circula é transmitido apenas entre as aves e delas para seres humanos, sem poder de contágio de uma pessoa para outra.
Com a modificação recém-criada, no entanto, o vírus passa a ser transmissível pelo ar, como um vírus da gripe comum, o que o torna extremamente contagioso para os humanos. “Esse vírus modificado está dentro de dois laboratórios e de lá pode escapar acidentalmente ou acabar caindo em mãos que não estão interessadas na parte de pesquisa”, explica a virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Outro risco em divulgar detalhes do estudo é que, segundo ela, com as informações da mutação gênica do H5N1, outros laboratórios podem desenvolvê-lo, aumentando as chances de se perder o controle sobre ele.