Depois do desastre nuclear de Fukushima, volta discussão sobre a solução do destino do lixo atômico.

O desastre nuclear de , no Japão, no início do ano levou muitos países a repensarem seu apetite por energia atômica. Ele também está alterando, de forma mais sutil, a discussão atormentada do que fazer com o lixo das usinas nucleares.

 

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Publicado em novembro 30, 2011

 

Um exemplo importante é a Alemanha, que decidiu fechar todas as suas usinas nucleares até 2022, após o derretimento parcial do reator em Fukushima. A decisão está tornando mais fácil para os alemães terem uma discussão calma e focada sobre um local para a armazenagem permanente do lixo das usinas, dizem os analistas. Matéria de Kate Galbraith, International Herald Tribune.

Antes, os opositores da temiam que, se defendessem uma solução permanente para os dejetos, tornariam mais fácil a continuidade das usinas nucleares, disse Michael Sailer, diretor executivo do grupo de pesquisa e consultoria focado em sustentabilidade Oko-Institut em Berlim.

Os políticos que eram contra a energia nuclear achavam que, se defendessem um local para armazenagem permanente, “estariam ajudando as pessoas a favor da energia nuclear porque iam resolver o problema do lixo”.

Os protestos sobre a armazenagem do lixo radioativo têm uma longa tradição para a Alemanha. Nos últimos dias, ativistas anti-nucleares na França e na Alemanha confrontaram a polícia quando um trem levando lixo dirigiu-se para uma instalação na Alemanha. O lixo, originado na Alemanha e reprocessado na França, estava retornando para ser guardado na Alemanha.

Ainda assim, a Alemanha agora está avançando na questão do lixo. No início do mês, os líderes do país se reuniram para discutir uma solução permanente. Eles concordaram em estudar uma série de possíveis locais no país, de acordo com Sailer, e eventualmente tomar uma decisão com base científica.

Esse desdobramento representa um “gigantesco” avanço sobre os esforços anteriores, disse Sailer.

Outros países também estão estudando a questão do lixo radioativo de outra forma no mundo pós-Fukushima. Neste instante, no mundo todo, a maior parte do combustível usado é guardado na usina que o produziu, em piscinas de combustível usado e depois, quando eventualmente esfria, em barris secos fechados. Especialistas dizem que a armazenagem dispersa é cara e que a armazenagem central seria mais segura.

Poucos países, além da Suécia e Finlândia, chegaram a criar pontos centrais de armazenagem do lixo, profundos na terra, desenhados para guardar o lixo permanentemente.

A França está avaliando um local permanente para o combustível usado, perto da vila remota de Bure, no Nordeste. O país obtém cerca de três quartos de sua energia de usinas nucleares e reprocessa seu combustível, uma técnica que reduz a quantidade de lixo, mas é cara e também gera plutônio, que pode ser usado em armas nucleares.

O Japão também espera escolher um local e construir uma instalação geológica de armazenagem nas próximas décadas.

Enquanto isso, cada aspecto da energia nuclear no Japão –inclusive a armazenagem do lixo- foi revirado de cabeça para baixo pelo desastre de Fukushima em março, que ocorreu após um potente terremoto e tsunami. Como resultado do acidente, o Japão “dobrou ou triplicou” a quantidade de combustível não gasto e lixo de alto nível de radioatividade, de acordo com Murray Jennex, especialista em energia nuclear da Universidade Estadual de San Diego. Até mesmo os prédios que abrigam a turbina estão contaminados, observou.

“Então, isso realmente aumentou a demanda deles por uma lixeira, e não estou certo do que vão fazer”, disse Jennex.

O Japão também está considerando o que fazer com o solo contaminado na área afetada da usina.

Especialistas dizem que a renovada atenção a todos os aspectos da segurança nuclear após Fukushima afetará as discussões de como e onde guardar o lixo.

“Acho que as pessoas vão reexaminar se há ou não uma forma melhor de armazenar com segurança o combustível usado”, disse Dale Klein, do Instituto de Energia da Universidade do Texas que foi diretor da Comissão Regulatória Nuclear dos EUA.

Os EUA há muito contemplam um local de armazenagem permanente na montanha de Yucca, em Nevada, mas esse plano foi frustrado, talvez para sempre, pela oposição local. Nevada tem uma das primeiras primárias presidenciais e, neste outono, vários candidatos presidenciais republicanos em um debate em Las Vegas criticaram as propostas de usar o local. O líder da maioria no Senado, senador Harry Reid, democrata de Nevada, também é contra usar a montanha de Yucca.

Klein, que expressou desapontamento que a Comissão Regulatória Nuclear “não teve a oportunidade” de avaliar se a montanha de Yucca era segura, também disse que Fukushima está levando “muitas empresas e agências reguladoras” a pesarem os prós e os contras de transferir mais cedo o combustível usado para a armazenagem seca, porque uma situação de emergência pode levar as piscinas do combustível usado a vazar.

Alguns países estão começando a lidar com a questão da disposição do lixo porque não podem mais adiá-la. Isso acontece no Reino Unido onde “o problema está sem solução há muito tempo e há tanto lixo”, disse Ian Hore-Lacy, diretor de comunicação da Associação Nuclear do Mundo, que tem sede em Londres.

Jennex, de San Diego, disse que nos EUA e em certa medida no resto do mundo “nossos reatores estão ficando cheios, em termos do que podem armazenar”.

Na Alemanha, o novo diálogo pode aliviar a pressão sobre a aldeia de Gorleben, às margens do rio Elba, no Norte da Alemanha. Parte do lixo está armazenada ali de forma temporária há anos, gerando protestos. (O trem que os ativistas tentaram bloquear na semana passada ia para Gorleben).

A região em torno de Gorleben contém uma formação de sal que a Alemanha há muito vê como potencial depósito de lixo. Agora, porém, as autoridades alemãs vão considerar outros locais.

O fechamento programado para todas as usinas nucleares alemãs abriu um “espaço político” necessário para se considerar uma solução para o lixo, disse R. Andreas Kraemer, diretor do Instituto Ecológico de Berlim.

“Por enquanto, contudo, grande parte do lixo radioativo continua nas instalações das usinas nucleares, que não foram desenhadas para isso”, disse Kraemer por email.

“Os riscos de armazenar o lixo nuclear nas usinas ficou mais claro com a sequência de eventos em Fukushima e as preocupações de segurança associadas com a atual armazenagem estão acrescentando pressão para que se encontre uma solução permanente, na forma de um depósito nacional de lixo atômico”.

Tradução: Deborah Weinberg

Matéria do International Herald Tribune.