Covid-19 e obesidade: o papel do jejum intermitente no combate a duas pandemias concomitantes

https://portugues.medscape.com/verartigo/6507089

Dr. Fabiano M. Serfaty

19 de novembro de 2021

Ao contrário da rápida disseminação da covid-19, a pandemia de vem aumentando progressivamente há décadas. A prevalência global de obesidade triplicou entre 1975 e 2016. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2016, havia mais de 650 milhões de adultos (≥ 18 anos) com obesidade no mundo. [1]

A obesidade é um fator de risco de doença grave e morte por covid-19, visto que o excesso de tecido adiposo é a principal fonte de fatores pró-inflamatórios, o que contribui para a inflamação sistêmica crônica. [1]

As complicações graves da infecção pelo SARS-CoV-2 e a tempestade de citocinas são mais pronunciadas em indivíduos com índice de massa corporal (IMC) elevado, sugerindo que a inflamação e a disfunção metabólica associadas à obesidade exacerbam a gravidade da doença, culminando assim na perigosa interseção de duas pandemias globais. [1]

Além disso, pandemias anteriores mostram evidências de que pacientes com obesidade muitas vezes apresentam resposta insatisfatória à vacinação, ou seja, as vacinas são menos eficazes em indivíduos obesos. Ainda não se sabe ao certo se a administração da vacina anticovídica nesta população gerará uma resposta imune satisfatória contra a doença.

Com base nesses dados e como já comentei em outro artigo publicado no Medscape , o mundo pode se beneficiar da implementação de mudanças no estilo de vida que aumentem a saúde metabólica e imunológica para mitigar os impactos da covid-19. [1]

O jejum intermitente é uma estratégia promissora para melhorar a saúde metabólica e a função imunológica, potencialmente reduzindo os riscos da covid-19. O jejum intermitente está associado a perda de peso, melhora dos parâmetros metabólicos e fortalecimento das respostas imunológicas. [1]

A restrição calórica tem efeitos benéficos na saúde humana, incluindo aumento da expectativa de vida e proteção contra doenças crônicas. Por lidar com a dificuldade de adesão às dietas hipocalóricas convencionais, o jejum intermitente ganhou popularidade como uma alternativa prática e eficaz. O jejum intermitente envolve períodos recorrentes de jejum, alternando com o consumo de alimentos.

Evidências científicas convincentes provenientes de estudos em animais e seres humanos indicam que o jejum intermitente promove vários benefícios metabólicos, incluindo perda de peso, redução da adiposidade, melhora da homeostase da glicose e diminuição do estresse oxidativo. 

O jejum intermitente também ativa as vias envolvidas na autofagia – enquanto a obesidade está associada à atenuação dos processos autofágicos. A autofagia melhora a capacidade de o organismo lidar com o estresse celular e prepara o sistema imunológico do hospedeiro, aumentando a sobrevida e as respostas das células T e B, bem como das células apresentadoras de antígenos, o que pode prevenir complicações graves da infecção pelo SARS-CoV-2. [1]

Estudos pré-clínicos demonstram o efeito benéfico do jejum intermitente na imunidade adaptativa, nas células T de memória, na redefinição do sistema imunológico e na saúde intestinal, que são parâmetros importantes da imunidade antiviral, levantando, portanto, a possibilidade do efeito positivo desta estratégia na melhora da imunidade antiviral.

Com o aumento da prevalência de obesidade e o potencial de surtos contínuos de covid-19 em todo o mundo, é mais importante do que nunca desenvolver estratégias que possam reduzir a inflamação, melhorar o controle glicêmico e aumentar a saúde imunológica dos nossos pacientes em todo o mundo. 

O jejum intermitente é uma estratégia dietética simples e eficaz, que pode melhorar a saúde metabólica e a resposta imune antiviral, bem como reduzir o peso corporal e os marcadores inflamatórios dos pacientes.