Corporações: CEOs petroleiros alinham narrativa contra transição energética

Amin Nasser.petroleiras

Amin Nasser, presidente e executivo-chefe da Saudi Aramco, fala em Houston, Texas, em 18 de março de 2024. Fotografia: Mark Felix/AFP/Getty Images

https://climainfo.org.br/2024/03/20/ceos-petroleiros-alinham-narrativa-contra-transicao-energetica

ClimaInfo, 21 de março de 2024.

[NOTA DO WEBSITE: A desfaçatez é tanta que chega a dar um ímpeto de indignação pelo escárnio frente o sofrimento da maioria da população global. O dinheiro os cega completamente e como falam de si para si mesmos, todos ficam convencidos de que a realidade planetária se restringe aos seus olhares e aos seus bolsos!].

Para surpresa de ninguém, executivos do setor minimizam pressão e defendem seus salários milionários com novos investimentos em energia suja durante conferência em Houston (EUA).

Enquanto o mundo se incendeia em recordes de calor e eventos climáticos cada vez mais frequentes e potentes, a indústria dos combustíveis fósseis vive em um universo à parte. Para os executivos do setor, nada disso é problema deles e não há porque essas empresas modificarem um “ai” em seu modelo de negócio, mesmo que isso signifique condenar bilhões de pessoas a lidar com os efeitos perigosos de suas operações.

Essa é a impressão que se tem ao analisar algumas falas de CEOs e diretores de petroleiras reunidos nesta semana em Houston, nos EUA, em uma conferência anual do setor. Discurso após discurso, o tom é o mesmo: para eles, quem defende o fim dos combustíveis fósseis é quem vive em uma “fantasia”.

“Devíamos abandonar a fantasia de eliminar gradualmente o petróleo e o gás e, em vez disso, investir neles de forma adequada”, defendeu Amin Nasser, executivo-chefe da Saudi Aramco, a maior empresa de petróleo do mundo. De acordo com Nasser, é a demanda por uma descarbonização acelerada do setor energético “está visivelmente falhando na maioria das frentes” (não está).

A crítica também pautou a fala de Meg O’Neill, presidente-executiva da Woodside Energy. Para ela, a transição não pode “acontecer a um ritmo irrealista”. “[A transição energética] tornou-se algo passional. E quando as coisas são passionais, fica mais difícil ter uma conversa pragmática”, afirmou (NOTA DO WEBSITE: incrível como se pode ouvir uma fala de uma mulher tão emocional, negativamente, e acusando os que defendem provavelmente até seus filhos e netos, se os tiver, que são ‘passionais’. Lógico, frente a essa loucura do dinheiro acima de todas as coisas, inclusive da vida humana, como não ser ‘passional’?).

Os executivos petroleiros também afirmaram que o mercado ainda tem muita margem para ampliar seu consumo de combustíveis fósseis, a despeito das projeções de entidades do próprio setor energético, como a Agência Internacional de Energia (IEA), que alertam para o risco de novos investimentos em petróleo e gás não terem perspectiva de retorno financeiro.

“[A demanda por combustíveis fósseis] ainda é muito, muito saudável (NOTA DO WEBSITE: o cinismo é tal que esquecem, até porque estão no ar condicionado em todas as dependências por onde transitam, até nos carros, como saber o que é ter a sensação térmica do Rio de mais de 60º??). A política e grande parte da narrativa tem se concentrado muito no lado da oferta da equação, sem olhar para a demanda. Se o custo da conversão e da mudança para uma sociedade de baixo carbono for demasiado elevado para os consumidores, eles não o pagarão”, observou Darren Woods, CEO da ExxonMobil (NOTA DO WEBSITE: esse é o personagem da outra matéria sobre o mesmo tema e evento!).

Essas falas mostram que os principais players da indústria dos combustíveis fósseis seguem com suas cabeças enfiadas na areia e seus bolsos pesados de dólares, menosprezando qualquer demanda ou necessidade de mudança em seus modelos de negócios para fontes energéticas renováveis. Ao final, quem está preso em um “mundo de fantasia”, desconectado da realidade dura da crise climática, é quem deveria estar fazendo o máximo para evitar o pior.

O blá-blá-blá das petroleiras em Houston foi destacado pelas AxiosBloombergCNBCGuardian e  NY Times, dentre outros veículos.