Como a rede bilionária dos Koch financia e alimenta o movimento contra a saúde pública

Kochbrothers Onpage

https://www.democracynow.org/2021/12/23/koch_hijacked_war_on_covid

Democracy Now

23 DE DEZEMBRO DE 2021

Um novo relatório intitulado “Como a rede Koch sequestrou a guerra contra COVID” revela como uma rede de direita ligada ao bilionário Charles Koch desempenhou um papel fundamental no combate a medidas de saúde pública durante a pandemia, incluindo máscara e vacinas, rastreamento de contato e ‘lockdowns’ (nt.: importante relembrar outros movimentos globais como desse documentário que trata de forma mais ampla, interferências planetárias preocupantes).

Transcrição

Esta é uma transcrição rápida da conversa entre Amy Goodman (democracy now) e o repórter Walker Bragman.  A cópia pode não estar em sua forma final.

AMY GOODMAN : Aqui é democracia agora!, democracynow.org, na série The War and Peace Report. Quem fala é Amy Goodman.

How The Koch Network Hijacked The War On COVID.” Essa é a manchete de um novo relatório que examina como uma rede de direita ligada ao bilionário Charles Koch desempenhou um papel fundamental na luta contra as medidas de saúde pública postas em prática pelos governos durante a pandemia, incluindo máscara e vacinas, rastreamento de contato e ‘lockdowns‘. As instituições com laços com Koch incluem ALEC/American Legislative Exchange Council; o Instituto Americano de Pesquisa Econômica; Donors Trust; a Instituição Hoover; e Hillsdale College.

Estamos agora acompanhados pelo repórter Walker Bragman do The Daily Poster. Ele e Alex Kotch co-escreveram a nova investigação, que foi produzida pelo The Daily Poster em parceria com o Center for Media and Democracy.

Então, descreva, Walker, o que você encontrou.

WALKER BRAGMAN : Obrigado por me receber em seu programa.

Bem, na nossa ação descobrimos que essa vasta rede opaca e de direita de organizações sem fins lucrativos tem financiado e promovido várias ações contra lockdown, o ativismo em saúde pública, pesquisa e ativado o envio de mensagens. Eles empregaram o mesmo modelo que foi usado há alguns anos na política norte americana numa forte ação da direita que ficou conhecida como ‘Tea Party‘. Esse modelo foi estabelecido por Jeff Nesbit, um ex-ativista das comunicações do FDA/Food and Drugs Administration e da Casa Branca no governo de George HW Bush. E isso inclui uma rede de pessoas ligadas à academia no intuito de apoiar o movimento intelectualmente, bem como redes de políticas em cada estado, além uma aliança de base, um braço de propaganda e um grupo de coordenação nacional para fazer tudo funcionar sem problemas. Então, nosso foco foi principalmente na rede acadêmica, mas também conversamos um pouco sobre o movimento popular.

Então, já em abril de 2020, você vê grupos como o FreedomWorks, que foi fundamental nos protestos do Tea Party em 2009, começando a promover protestos contra os ‘lockdowns‘ Movimentos como o Americans for Prosperity/AFP, o American Legislative Exchange Council estavam convocando Trump para manter o país aberto. O AFP começou em março de 2020, logo depois que o vírus chegou aos Estados Unidos. E Trump foi receptivo a essas mensagens. Em 24 de março, ele disse que queria reabrir a América na Páscoa.

Além desses esforços, grupos apoiados por Koch têm financiado e apoiado pesquisas acadêmicas que são contra lockdowns e outras medidas de saúde pública. A Declaração de Great Barrington, que surgiu em outubro de 2020, saiu de uma conferência organizada pelo American Institute for Economic Research, apoiado por Koch. 

AMY GOODMAN : Em Great Barrington, Massachusetts.

WALKER BRAGMAN : Exato. Esse documento recomendava que países e governos ao redor do mundo adotassem uma estratégia de imunidade de rebanho por meio de infecção natural, onde apenas a proteção é focada e implementada para proteger os mais vulneráveis, mas, caso contrário, o vírus deve atingir os mais jovens, as populações mais saudáveis.

Esse documento foi extremamente influente em vários países, incluindo os Estados Unidos. Obviamente, Trump estava muito interessado na solução rápida que prometia para seus problemas pandêmicos durante sua campanha de reeleição. E seus altos funcionários na Casa Branca estavam promovendo o documento para ele, como Scott Atlas, seu conselheiro do COVID.

AMY GOODMAN : De Stanford.

WALKER BRAGMAN : Sim, Scott Atlas era um professor de Stanford. Ele é um neurorradiologista, não um especialista em saúde pública, mas era o chefe daequipe COVID de Trump. E ele promoveu a Declaração de Great Barrington e sua mensagem.

E você sabe, vimos essa estratégia meio que funcionar e falhar em todos os lugares onde foi implementada, aqui nos Estados Unidos, e no Reino Unido. Boris Johnson – o primeiro-ministro foi muito lento para reagir ao vírus. Isso foi atribuído ao seu apoio à imunidade de rebanho por meio de infecções. A Suécia adotou uma estratégia de imunidade de rebanho por infecção. E em todos esses lugares, eles viram um número extremo de mortes e casos. Flórida e Texas, dois estados em particular, empurraram a reabertura muito rapidamente. Foram responsáveis ​​por um terço de todas as mortes de COVID nos EUA neste verão. Um novo relatório do Parlamento do Reino Unido concluiu que a resposta lenta de Boris Johnson ao COVID causou milhares de mortes desnecessárias. A Suécia viu mais mortes e casos do que seus vizinhos imediatos. Até agosto, 11 em cada cem pessoas na Suécia foram infectadas com o vírus.

AMY GOODMAN : Walker Bragman…

WALKER BRAGMAN : Sim.

AMY GOODMAN : Você pode falar sobre Hillsdale College, a instituição cristã conservadora com conexões com a administração Trump?

WALKER BRAGMAN : Com certeza. Hillsdale College é uma faculdade pequena e conservadora em Michigan. Foi fundado em 1844 e tem sido um baluarte do pensamento conservador desde então. E o juiz Clarence Thomas realmente a chamou de “cidade brilhante em uma colina”. E o presidente do Hillsdale College presidiu a Comissão de 1776 (nt.: ano da declaração da independência dos EUA) de Donald Trump, que, como você deve se lembrar, foi o esforço para elaborar currículos de história americana em torno dos pontos fortes da América, em oposição a seu passado sombrio. Foi uma espécie de resposta ao Projeto 1619 (nt.: data da chegada dos primeiros escravos nos EUA e muitos querem destacar essa data como fundamental na fundação do pensamento que move os norte americanos).

Então, Hillsdale College está agora estabelecendo uma nova Academia para Ciência e Liberdade, que apresenta como seus bolsistas iniciais dois dos autores da Declaração de Great Barrington, bem como Scott Atlas, aquele conselheiro de Trump que empurrou a imunidade de rebanho através de estratégia de infecção. E sim, é aí que estamos. É o esforço mais recente para fornecer uma cobertura acadêmica a esse tipo de teoria marginal da saúde pública.

AMY GOODMAN : E o Mercatus Center, onde se encaixa?

WALKER BRAGMAN : Então, o Mercatus Center é outra instituição financiada pela Koch, fora da George Mason University. E em junho, a Mercatus começou a financiar a pesquisa da professora Emily Oster, uma professora de economia da Brown University e blogueira que tem se destacado durante a pandemia, conclamando as escolas a reabrir. Postura ampliada pelos The Atlantic e Rolling Stone que fizeram reportagens sobre ela. Suas opiniões são controversas. Ela estava defendendo em trazer as crianças de volta às salas de aula antes mesmo de vacinarmos os professores, dizendo que o risco é muito baixo e não se espalha nas escolas. E, você sabe, as ideias dela também, quero dizer, se mostraram erradas. Quando a variante Delta chegou pela primeira vez aos EUA, um dos primeiros lugares onde ela se espalhou foram as escolas. E agora estamos vendo Oster ressurgir novamente. E sua pesquisa está sendo financiada por esta instituição apoiada por Koch.

Agora, a razão pela qual os irmãos Koch estão tão – ou não os Kochs, desculpe – Charles Koch está tão interessado em manter tudo aberto é porque a demanda por petróleo caiu no início de 2020 quando tudo isso – quando a pandemia atingiu pela primeira vez e tudo mais dessas medidas de saúde pública foram postas em prática. Então, isso não funciona para o negócio dele. E de outro lado, há o aspecto ideológico, onde se o governo faz o que deveria ter feito o tempo todo, o que muitos dos epidemiologistas com quem conversei sugeriram abordagem mais intervencionista do governo federal, incluindo o pagamento para que as pessoas fiquem em casa, fornecendo subsídio de periculosidade a trabalhadores essenciais, concedendo licença médica remunerada – se essa abordagem fosse adotada pelo governo federal, toda a base para a ideologia neoliberal que Koch empurra, desapareceria. Você sabe, Reagan disse que as nove palavras mais terríveis na língua inglesa eram “I’m from the government, and I’m here to help.” (nt.: “Eu sou do governo e estou aqui para ajudar”). Mas vimos, por meio dessa pandemia, que a verdade é que as nove palavras mais assustadoras da língua inglesa são: “I’m from the government, and you’re on your own.” (nt.: “Eu sou do governo e cada um por si”.)

AMY GOODMAN : Walker, você pode falar mais especificamente sobre a abordagem da rede Koch aos trabalhadores, aos direitos dos trabalhadores também durante a pandemia?

WALKER BRAGMAN : Sim. Então, a rede Koch, obviamente, se opõe fortemente a medidas que beneficiem os trabalhadores, que eliminariam um pouco da insegurança que muitos trabalhadores na América sentem. Hoje, as pessoas precisam decidir entre arriscar sua saúde e ganhar uma renda. Essa é uma situação que fomenta – que as pessoas estão meio presas. Eles se opõem a qualquer tipo de intervenção, licença médica remunerada, mandatos de vacinas. Qualquer coisa que possa eliminar um pouco dessa insegurança, eles se opõem. Não tenho certeza se respondi sua pergunta.

AMY GOODMAN : Sim, você respondeu à pergunta. Finalmente, o que mais o chocou em sua investigação, Walker?

WALKER BRAGMAN : Sabe, fiquei surpreso ao ver o nome de Oster surgir. Obviamente – e não estamos dizendo que todos que estão sendo apoiados pelos Kochs estão fazendo isso – estão defendendo os pontos de vista que defendem porque estão sendo financiados. Mas é interessante para mim que todas essas pessoas que estão empurrando uma espécie de retorno à normalidade, voltando ao normal pré-pandemia, estão sendo apoiadas por esta rede.

E vemos isso meio que – novamente, através das lentes de tentar manter o lucro corporativo às custas da vida humana. Quer dizer, perdemos 800.000 norte americanos, pela contagem oficial, e esses números são, de acordo com os epidemiologistas com quem falei, uma contagem inferior. E eu acho que o CDC também diz que esses números estão – provavelmente há 30% – que eles estão 30% abaixo. 

AMY GOODMAN : Walker, queremos agradecê-lo por estar conosco. Faremos um link para o artigo que você escreveu para o The Daily Poster . Além disso, você é cofundador da OptOut. A nova peça intitulada “How The Koch Network Hijacked The War On COVID”, a investigação produzida com o The Daily Poster em parceria com o Center for Media and Democracy. Quando voltamos, a greve dos Kellogg terminou com os trabalhadores declarando vitória. E então examinamos as novas diretrizes militares para lidar com a supremacia branca. Fique conosco.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2021.